segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Lisboetas não dormem por violação da lei de ruído e impunidade de grupos de jovens

ONDE ESTÁ A PSP?

Susana Charrua| opinião

Sob o título “Moradores de bairros de Lisboa querem medidas contra o ruído para poderem dormir” podemos ler no Diário de Notícias  e republicado mais em baixo aqui no Página Global acerca do desassossego que invade as noites de bairros de Lisboa. As queixas reportam-se aos bairros carismáticos de Santos, Cais do Sodré e Bairro Alto, porém não são só esses bairros que vêem violado o cumprimento que nos devia proteger contra o excessivo ruído pelas noites e madrugadas, assim como durante o dia com poluição sonora que vai para além do civismo e das leis reguladoras.

Compete à PSP fiscalizar e resolver fazendo cumprir as leis mas não o faz. O que vimos é uma PSP amorfa devido ao desinteresse sobre o assunto e tantas prevaricações constantes. Também sabemos que assim está a acontecer por a instituição a quem compete a segurança pública e cumprimento das leis estar desfalcada de agentes e nos seus próprios meios e orçamentos. Inegavelmente que a responsabilidade máxima pertence aos governos, sendo a percentagem mínima de responsabilidade pela indiferença e falta de acção para o cumprimento das leis resultado de falta do devido profissionalismo de uns quantos e poucos profissionais.  Provavelmente fruto do abandono a que os vários governos têm votado aquela instituição. De alguns agentes poderemos apontar má formação, mas são uma minoria, o mesmo não podemos apontar aos dirigentes políticos que têm vindo ao longo da acção governativa a plantar falta de meios e de quase tudo que é implícito para o desempenho necessário e adequado dos agentes policiais.

A somar a isso, noutros bairros que não são os supra citados vimos o uso e abuso de “discotecas” (sob a capa de colectividades, etc), cafés e outros estabelecimentos manhosos (alguns associados com consumo de drogas) que exercem as suas atividades de modo ilegal e alargando o espectro do ruído exagerado com a emanação de som acrescentado por ‘subwoofers’ que fazem vibrar vidros das janelas da vizinhança por volumes de som tão exagerados. Em alguns bairros administrados pela Gebalis também isso acontece. As queixas caem em saco roto. À Gebalis parece que o que lhe interessa é vender ou alugar casas e lojas de que dispõe sem acautelar que o cumprimento de horários e das leis seja cumprido com rigor em vez de tudo redundar em antros de drogas, ruídos excessivos e desacatos dentro ou fora desses “estabelecimentos comerciais”…

Nesses referidos locais (bairros sociais), transformados em guetos, a presença policial é inexistente ou diminuta. Passar pela experiência de telefonar para a PSP a reportar infrações da lei do ruído e de comportamentos incivilizados, de invasão indevida de escadas, passagens comuns dos prédios e átrios de prédios por grupos marginais e descarado consumo de drogas no local tem vezes demais por resposta por parte do agente que atende o telefone que não tem agentes que possam deslocar-se ao local... Quase como um lamento os agentes assim informam quem lhes solicita ajuda.

Perante este cenário costumeiro os ministros dormem sossegadamente. Pois, pudera, não residem em bairros populares sociais ou nas suas ilhargas. Ganham bem e mesmo que não saiam cedo usufruem com as suas famílias de qualidade de vida. Isso não lhes falta. O que lhes falta é uma boa dose de sentirem vergonha por tão mal governarem, promovendo as desigualdades, os salários e pensões de miséria e a recorrência a ilegalidades por necessidades de sobrevivência. Nessa linha de ‘subvivência’ o percurso desemboca na larga praça da fome e sem abrigo de muitos jovens e de outros de mais idade que já nem fazem ideia de como é viver com a dignidade de seres humanos.

Quando acontecerá a sério a indignação e o ruído justo e imprescindível manifestado contra este estado de má governação pela falta de policiamento e de civismo e de condições dignas de vida?

COMO É POSSÍVEL LIQUIDAR O RACISMO EM PORTUGAL?

O podcast megafone, do AbrilAbril, convidou a actriz Ana Sofia Martins, o jornalista Emídio Fernando e o coordenador do Moinho da Juventude, Flávio Almada (LBC) para discutirem as formas que assume o racismo em Portugal, a sua expressão social, a sua relação com outras lutas por uma sociedade melhor e como é possível ir dando cabo das estruturas e ideológicas que criam o racismo.

Portugal | JÁ CANTAM DE GALO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

A perseguição às galinhas poedeiras prossegue. Insiste-se no seu registo e no anúncio incessante dessa obrigatoriedade, como se um ataque ao mundo rural estivesse em curso. Estará? Parece que até as pessoas que têm meia dúzia desses galináceos são obrigadas ao Registo de Detenção Caseira. Ridículo este país, no qual, muitos milhões depois, os governantes de aviário não conseguem que um SIRESP funcione ou não arrancam do papel um plano de reabilitação de incendiários, mas exigem ao comum cidadão um infinito de burocracias, procedimentos, eficácias, rigores. E mais pagamentos, claro. O Zé Povinho tem de marchar hirto, de uniforme, bem escovado, mas cheio de fome, enquanto a porca da política segue gorda e imunda.

Há muito tempo que os perniciosos efeitos do afastamento da terra se fazem sentir. Basta pensar no absurdo dos anunciados refúgios climáticos que sugarão mais uns milhões aos trabalhadores portugueses. Afinal, qualquer alentejano ou qualquer serrano, habituado há séculos (e antes do advento do aquecimento global) a temperaturas superiores a 40 graus dias consecutivos, sabe bem criar esses abrigos - são as sombras frescas - a plantação de árvores como carvalhos, castanheiros ou nogueiras - a construção correcta das habitações (materiais, orientação, etc.). Agora esta nova ciência de braço dado com uma nova ordem política (quando na verdade não passa da tal forrada suína abraçada a uma pseudo-sofia), rasga e cospe para a lixeira uma sabedoria milenar, conhecimentos preciosos sobre a sobrevivência e a adaptação à natureza. Enfim. Eis a verdadeira política da terra queimada.

Os fundos ambientais são drenados nos transportes públicos das urbes, na subsidiação das energias renováveis, mas real investimento na Natureza nem vê-lo.

Mesmo os incêndios florestais são já e também produto deste despotismo altaneiro. Depois da hecatombe de 2017, este governo decidiu atacar ainda mais quem vive e investe no interior, lembram-se? Decretaram coimas para obrigar os pequenos proprietários a limpar mato e ervas em Março, quando estas crescem pujantes com as chuvas do debute primaveril, por exemplo, ou insistem em acossar a pastorícia desprezando os equilíbrios que dela resultam. Em vez de se incentivar o aproveitamento energético dos sobrantes de biomassas, ao invés de se promover o emprego nas regiões desertificadas do Interior, dificulta-se qualquer auto-suficiência e engordam-se monopólios, implodindo a nevrálgica coesão entre os portugueses

Décadas a fio de políticas públicas que empurraram as populações para o Litoral entraram agora num acelerador de partículas. Parece que se pretende empilhar a mole humana nas grandes metrópoles, enquanto a maioria do território fica para meio punhado. Os fundos ambientais são drenados nos transportes públicos das urbes, na subsidiação das energias renováveis, mas real investimento na Natureza nem vê-lo.

Há uma guerra em Portugal não entre o Rato do Campo e o Rato da Cidade, mas entre a ratazana do cume e os ratinhos cegos. Uma destas frentes bélicas mais visíveis, realmente, é a indústria do fogo que nos consome mais e mais. Mas essa voragem está integrada num ataque maior, uma luta que se travará pelo direito ao bosques e aos mares, pela qualidade do ar que respiramos e pela água que bebemos. Pela galinha dos ovos de ouro.

*Psicóloga clínica - Escreve de acordo com a antiga ortografia

A MAIOR VITÓRIA DA DIPLOMACIA ANGOLANA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mês de Outubro de 1987 foi fundamental para a vitória de Angola na guerra contra o regime racista da África do Sul. Mas também foi crucial na frente diplomática. A diplomacia angolana conseguiu reatar negociações bilaterais com os EUA e surpreendeu com uma exigência: Wasnhington tem de colaborar no desmantelamento do regime de apartheid. Pretória perdia posições na frente militar e o regime de PW Botha ficou encurralado até capitular com os Acordos de Nova Iorque. 

O Presidente José Eduardo dos Santos conseguiu o pleno: A independência da Namíbia, a retirada das tropas estrangeiras do Sul e Sudeste de Angola e a democratização da África do Sul. Após intensa actividade diplomática, Angola ganhou em toda a linha. Nos campos de batalha, as tropas de Pretória iam de derrota em derrota até à Batalha do Cuito Cuanavale, que marcou o fim de um regime que foi o mais grave crime que alguma vez foi cometido contra a Humanidade. No Triângulo do Tumpo, nasceu uma nova ordem democrática mundial. 

Chester Crocker, no seu livro “High Noon in Southern Africa” faz revelações fundamentais para se compreender o génio diplomático do Presidente José Eduardo dos Santos e a importância das acções dos seus colaboradores directos nesta época: Pedro de Castro Van-Dúnem (Loy), Alexandre Rodrigues (Quito), Afonso Van-Dúnem (Mbinda), Manuel Pedro Pacavira, Venâncio de Moura e António dos Santos França (Ndalu). 

Na sua obra, O secretário de Estado dos EUA fala do “jogo das escondidas” dos angolanos, mas acaba por reconhecer que em Julho de 1987, quando foram reatadas negociações bilaterais, os angolanos marcaram pontos.

Crocker recorda que a visita de Andrew Young e Jesse Jackson a Luanda, a convite do Presidente José Eduardo dos Santos, rendeu bons frutos a Angola porque apostou na surpresa. O Chefe de Estado convidou Reagan a visitar Luanda e “ir aos países da Linha da Frente para avaliar correctamente a situação na África Austral”.

O Presidente José Eduardo dos Santos nada deixou ao acaso. E se o convite a Reagan não fosse aceite, prontificava-se a ir a Washington explicar a situação. Ao mesmo tempo exigiu o descongelamento das relações bilaterais. A diplomacia norte-americana foi apanhada de surpresa. O Secretário de Estado Crocker reconhece no seu livro que no terreno “os combates da UNITA eram infrutíferos”.

Angola | Exaltada estatura multidimensional do ex-PR José Eduardo dos Santos

O escritor e antigo presidente da Assembleia Nacional, Roberto de Almeida, declarou, este domingo, na Praça da República, não ser "empenho nem leve nem ligeiro", escrever sobre o ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, dada a sua "estatura multidimensional".

Ao proceder à leitura do elogio fúnebre, durante as exéquias, Roberto de Almeida recordou o processo que conduziu o malogrado Presidente ao exilo, onde integrou a Luta de  Libertação Nacional.

Aos Chefes de Estado e de Governo, representantes dos órgãos de soberania, deputados, corpo diplomático, líderes de organizações políticas, entidades eclesiásticas, autoridades tradicionais e população, que testemunharam o funeral de Estado, o também ex-secretário-geral do MPLA lembrou que, aos 37 anos, em 1979, o ex-Presidente da República foi escolhido para dirigir os destinos do país, em substituição do fundador da Nação angolana, Agostinho Neto, tendo demonstrado ser um patriota e militante humilde, com quem o país podia contar sem vacilações. Roberto de Almeida discorreu sobre o percurso académico, político e militar do malogrado, cuja urna, contendo o corpo, já repousa no jazigo edificado na Praça da República.

O político recordou, também, que José Eduardo dos Santos, depois de frequentar o ensino primário e secundário no "histórico" Liceu Salvador Correia, aderiu à clandestinidade em finais  de 1958, tendo assumido a liderança do movimento juvenil do MPLA, em Dezembro  de 1962, aquando da realização da primeira conferência do partido, em Leopoldville, República do Congo.

O nacionalista contou, ainda, na biografia que o Presidente Emérito do MPLA integrou, no mesmo ano, o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), e no ano seguinte foi eleito primeiro representante do MPLA em Brazzaville.

O deputado à Assembleia Nacional destaca, no elogio fúnebre,  que, em Novembro de 1963, José Eduardo dos Santos beneficiou de uma bolsa de estudos no Instituto de Petróleo e Gás, em Bacu, capital do Azerbaijão, estado membro da ex-União Soviética,  tendo obtido a licenciatura em Engenharia de Petróleos.

Por ter figurado duas vezes no quadro de honra, José Eduardo dos Santos frequentou um curso militar de telecomunicações, tendo sido indicado, de 1970 a 1974,  para dirigir estes serviços na Segunda Região Político-Militar, em Cabinda, onde permaneceu até à queda do regime colonial português.

Ainda em 1974, o ex-Presidente da República participou na Conferência Inter-Regional de Militantes, na terceira região militar, tendo sido eleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA. Em meados de 1975, José Eduardo dos Santos foi nomeado representante do MPLA, em Brazzaville, e em Junho do mesmo ano coordenou o departamento de Relações Exteriores do partido, e, cumulativamente, da Saúde, Educação e Cultura.

Com a proclamação da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975, José Eduardo dos Santos é nomeado ministro das Relações Exteriores, e com a sua "intensa" acção diplomática  conseguiu, em Fevereiro de 1976, a admissão de Angola como membro de pleno direito nas Organizações de Unidade Africana (OUA), actual União Africana (UA), e das Nações Unidas (ONU). Em 1976, é nomeado ao cargo de Primeiro Vice-Primeiro-Ministro e, dois anos depois,  ministro do Plano.

Ao nível partidário foi, de 1977 a 1979, secretário do Comité Central do MPLA para a Educação, Cultura e Desportos, Reconstrução Nacional e do Desenvolvimento Económico e Planificação.

Depois do falecimento do primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, em 1979, o malogrado foi eleito, no mesmo ano, Presidente do MPLA, da República Popular de An-gola e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA). Três anos depois, abriu o país à economia de mercado e, em 1992, abriu o país ao multipartidarismo, o que permitiu realizar as primeiras Eleições Gerais da história da Nação angolana.

Roberto de Almeida referiu, ainda, ao longo do elogio fúnebre, a entrega do Presidente José Eduardo dos Santos à  libertação total da Namíbia e do Zimbabwe, bem como a luta contra o hediondo  regime do "apartheid",  na África do Sul, dando "cumprimento integral" das orientações do Presidente Agostinho Neto, segundo a qual "Na Namíbia, Zimbabwe e África do Sul está a continuação da nossa luta".

Como Presidente da Re-pública e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA), Roberto de Almeida disse que o malogrado liderou todo o processo de preservação da vida e da integridade do território, até à assinatura dos Acordos de Paz em 2002, na província do Moxico, que colocaram fim ao longo conflito armado e consagrou o reencontro da Nação angolana.

Angola | DO LUTO QUE MARCA A VIDA EM LUTA!

Martinho Júnior, Luanda

À medida que a irracionalidade humana consome cada vez mais rapidamente o que o planeta consegue repor, somos todos nós que, em vida e nas futuras gerações, estamos e estaremos antecipadamente e desde o berço, em luto!

01- Essa é a insofismável verdade transversal que condiciona a vida particularmente desde os tempos da Revolução Industrial, desde quando o homem tem-se esquivado em conhecer e equacionar, para alguma vez reverter, a aceleração da tendência para o fim da própria espécie humana!

Quando se sente a amplitude dolorosa dessa falta de respeito para com a Mãe Terra e para com a humanidade, somos mesmo todos nós que, consciente ou inconscientemente, em vida assumimos cada vez mais precariedade e estamos e estaremos a, por tabela, assumir uma carga de antecipado luto de que nos deveríamos de há muito saber prevenir!

Ética e moralmente a lógica com sentido de vida, com toda a impotência que nos devora, assume substantivamente essa cada vez mais pertinente dialética, em especial neste momento em que a Angola, contrariando muitas tendências globais, sob o ponto de vista da antropologia cultural, na prática e apesar do que lhe tem sido tão nefasto, avança numa autêntica revolução cultural que se sustenta na vanguarda dos Programas Mínimo e Maior do MPLA, rasgando os horizontes dum passado que foi trincheira de luta para toda a África Austral e Central, para com todo um continente e para com toda a humanidade! 

Reconhecer esse legado não é só para patriotas: é para todos os que sabem do imenso que condiciona a liberdade na sua relatividade contemporânea e por isso há uma palavra de referência para o Comandante Fidel, ao nível da projecção do estatuto de estadista que alcançou em diálogo aberto com o futuro, conforme por exemplo sua clarividente intervenção a 12 de Junho de 1992, na Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, há 30 anos, no anfiteatro que constitui a cidade maravilhosamente magnética do Rio de Janeiro, no Brasil!...

02- “Amanhã será demasiado tarde” foi, é e será uma constatação gerada na e pela sensibilidade socialista de vanguarda, o que confere ao socialismo uma maturidade que a humanidade tarda em alcançar por causa da irracionalidade de suas práticas capitalistas e de consumo que conduzem ao abismo irreversível em razão do qual estamos em luto desde que nos finais do século XIX se impôs o Império colonial britânico em função da Revolução Industrial, o império que abriu espaço às revoluções tecnológicas que de forma utilitarista tão opressivamente se distendem até nossos dias!

Por essa razão o crédito ao socialismo está de forma premente em aberto à medida que se põe em causa a segurança vital, por que é cada vez mais urgente que haja progressos no sentido do respeito para com a Mãe Terra e para com toda a humanidade e não será nunca por via dum capitalismo neoliberal exacerbado que conduziu ao império da hegemonia unipolar eminentemente anglo-saxónico, que isso pode ser alguma vez possível.

Assim é necessário também equacionar as tendências em Angola no preciso momento de abertura à mudança de paradigma:

O facto de se darem passos no sentido da realização do Programa Maior do MPLA reconstruindo o país, construindo as barragens que providenciarão a indispensável energia e água para todos os angolanos, o esteio que provocará mudanças sensíveis nas culturas e comportamentos produtivos de todos os angolanos, não basta…

O socialismo e o trabalho devem ser reequacionados como tal numa ampla perspectiva de futuro, perante a exaustão dos recursos imposta pela devassidão que simbolicamente teve também seu berço, sem a participação de africano algum, na Conferência colonial de Berlim que ocorreu entre 15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885!...

… Por alguma razão para além das provas substantivas, devemos evocar África como berço da humanidade!...

Não basta, assim como não basta fazer a história sobre o passado de luta do povo angolano e dos povos africanos, ainda que se tenham obtido pela força das armas as bandeiras de independência e da dignidade!... 

É necessário ao advogar o Sul Global, avaliar e saber como se deve assumir essa independência, essa dignidade e essa soberania num ambiente em que o luto afinal prevalece, desde nossos próprios berços, marcando-nos indelevelmente a vida!

Essa é a razão essencial para recolhidamente evocar a memória dos nossos e dos nossos antepassados, em especial os combatentes heroicos das causas universais, com o espírito dum novo país com 47 anos que ansiava, anseia e vai continuar a ansiar, lutar para se resgatar do subdesenvolvimento crónico que advém do passado, senão perder-se-ia o valor e o sentido de vida de tantas gestas que houve, o sentido que nos chega iluminando o caminho como perenes Vietname… as vidas, quantas delas, que se empenharam com o sacrifício de seu próprio ser-singular ceifado em plena juventude!

Ao evocar essa memória, a história pode e deve ser um instrumento pedagógico que nos obriga à filosofia da lógica com sentido de vida!

A lógica com sentido de vida vai buscar ao socialismo e aos anseios de então sua inspiração, por que é desse modo que sentimos e reconhecemos o luto que nos advém do berço e isso é algo que não se pode renunciar por que não é um caso de política, ou de negócio: é fruto do encontro singular e colectivo com a respiração palpável e cada vez mais sôfrega da Mãe Terra e com o fluido dinâmico e dialético que anima a própria humanidade!

03- A paz por si pouco serve, se não for equacionado o peso dialético da encruzilhada que se propicia com a mudança de paradigma e também não serve suficientemente se não for feito o balanço sério da memória dos que desapareceram fisicamente, fazendo a leitura do que lhes ia na alma, quantas vezes no próprio momento em que desapareceram, entre o troar das armas e o acre cheiro a pólvora!

Essa convicção resulta duma cultura que é também de respeito para com eles, pagando com eles uma dívida ética e moral para com um continente-berço que pouco a pouco, com a solidariedade apontada desde a primeira hora pelo socialismo revolucionário cubano, é também uma dívida de toda a humanidade que deve definitivamente renunciar aos prejuízos que são causados à Mãe Terra, como deve renunciar duma vez por todas ao poder colonial (e neocolonial) que tornou possível e torna possível a continuidade da Conferência de Berlim!

Não há mais que haver equívocos, não há mais como haver equívocos e por isso até os mortos na sua perda e nas convicções que os animavam, devem ser filtrados no relativismo dessa memória, iluminando o que se deve fazer no presente e no futuro, quando o que é retrógrado é ainda tão avassalador e tão omnipresente!

Só assim o amor, o progresso, o respeito pela Mãe Terra e a sensibilidade global para com toda a humanidade, podem deixar de ser palavras em vão!...

“Amanhã será demasiado tarde”…

Círculo 4F, Martinho Júnior, 1 de Agosto de 2022

Imagem do Monumento ao Soldado Desconhecido em Luanda, inaugurado pelo Presidente José Eduardo dos Santos, segundo foto por mim recolhida a 21 de Abril de 2018.

Texto de referência:

DISCURSO PRONUNCIADO EN RÍO DE JANEIRO POR EL COMANDANTE EN JEFE EN LA CONFERENCIA DE NACIONES UNIDAS SOBRE MEDIO AMBIENTE Y DESARROLLO, EL 12 DE JUNIO DE 1992. – http://www.cuba.cu/gobierno/discursos/1992/esp/f120692e.html; vídeo – https://www.youtube.com/watch?v=I_rPcJIuW44

Angola | Momentos que marcaram o último adeus ao ex-Presidente Dos Santos

Chefes de Estado e de Governo, antigos estadistas e diversas personalidades renderam, este domingo, a última homenagem ao ex-Presidente José Eduardo dos Santos, falecido no dia 8 de Julho, em Barcelona, Espanha.

Foi um momento de dor, tristeza e comoção. Durante a cerimónia, em que foram lidas várias mensagens,foi destacada a figura do "Arquitecto da Paz".

Jornal de Angola | Imagem: © Dombele Bernardo / Edições Novembro

Angola | Longa Fila para os Diamantes de Sangue – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Na hora da verdade os indefectíveis encartam o estojo e vão encher os bolsos para outro lado. Se for preciso apedrejam quem lhes deu de comer. Bendizem os matadores de ontem, os traidores que alugaram armas ao regime racista de Pretória, os destruidores de Angola, os que atiraram para Luanda milhões de angolanas e angolanos fugindo da fúria assassina dos sicários da UNITA. Na hora da verdade nem sabem o que é isso do MPLA e mandam recados ao chefe do Galo Negro garantindo-lhes que são maninhos desde pequeninos. 

No tempo da luta, quem aderia ao MPLA sabia que a traição, a delacção e a deserção eram crimes gravíssimos, castigados com fuzilamento. As coisas mudaram em 1992, mas também não era necessário passar do oito para o oitenta. Ou para falarmos em termos eleitorais, do oito para o três. É impressionante a chusma de indefectívais do MPLA que depois de décadas à boa vida, bolsos cheios e pança a rebentar pelas costuras, opta pela traição e pela deserção. E são incensados, elogiados, vistos e ouvidos pelos agentes do banditismo mediático. 

Pelo meio, há um movimento insidioso que visa promover o esquecimento e atulhar a memória da opinião pública com mil mentiras e lixo mediático. Desde o dia 24 de Agosto que qualquer leproso moral é especialista na realidade angolana. Um tal Luís Jimbo, estrela da TPA, hoje disse na CNN que a UNITA ganhou as eleições. Mas avisou: “Ninguém pense que o problema da fome se vai resolver imediatamente. Estas coisas levam tempo”. Os criminosos de guerra amnistiados já ganharam. Mas não esperem resultados imediatos. 

Um manipulador desavergonhado tem quitanda na TPA. E ainda dizem que os da UNITA não têm direito à palavra. Falam pelo ânus. Mas pelos vistos são os únicos que podem falar nos Media portugueses. Cada qual o mais feio, porco e mau. O mais mentiroso. O mais manipulador. O mais irresponsável. Tudo moças e moços de recados mas muito maus. 

Quando foi criado o Novo Jornal, um amigo dizia-me preocupado: “Estamos a apoiar isto mas temo que seja uma pedra pesada que ajudamos a levantar e depois nos vai cair nos pés. Quando aquilo caiu nas mãos de Sobrinhos e Madalenos, claro que o pedregulho caiu nos pés de quem promoveu o projecto. Logo se percebeu que aquele negócio apenas estava interessado em promover um MPLA subterrâneo que tinha como principal objectivo tomar o poder sem fazer nada. Eram quase todos imbumbáveis e supinamente ignorantes. Matumbice.

RABINO ISRAELITA LEMBROU QUEM SÃO OS HERÓIS MODERNOS DA UCRÂNIA

O rabino Mikhail Finkel foi convidado na TV a expressar sua opinião sobre a situação atual na Ucrânia. Suas alegações surpreenderam os entrevistadores que supunham que ele branqueasse o regime de Kiev. O rabino e cientista político Mikhail Finkel decidiu lembrar aos presentes no estúdio que somente sob o presidente Zelensky, a Ucrânia votou contra Israel na ONU e assinou resoluções anti-Israel 36 vezes. Ele lembrou ao público quem são os heróis modernos da Ucrânia:

#Traduzido em português do Brasil 

36 vezes apenas sob Zelensky, a Ucrânia votou contra Israel na ONU.

Seus heróis são Petlyura, que matou 200 mil judeus. Este é Shukhevych – este é um homem da SS, este é Bandera! Este é Stetsko, que disse que todos os judeus deveriam ser destruídos, Yaroslav Stetsko. Este é Khmelnitsky, que matou 300 mil judeus.

Todos os anos, em Kiev, havia um desfile da divisão SS “Galiza” e nosso Ministério das Relações Exteriores protestou contra isso. Isso é escória, isso é um regime neonazista, de jure.

Eu digo que metade da minha família foi morta por banderitas e petliuravitas nos pogroms de Petliura!

Estes são os heróis da Ucrânia, monumentos são erguidos para eles, ruas recebem seus nomes.

Isso não é propaganda russa, mas as palavras do Ministério das Relações Exteriores de Israel. Dissemos muitas vezes, nosso embaixador em Kiev disse: Bandera não é um herói, mas um criminoso!

No Yad Vashem, você pode ver, está escrito: colaboracionista e criminoso nazista. Pesquise no YouTube: Bandera é fascista.

Não estou justificando a guerra agora. Sou contra a guerra, sou contra o sofrimento de civis pacíficos. Mas não heroizem os assassinos do meu povo e da minha família!

E não há necessidade de brigar com um país enorme cujas bases militares estão localizadas na Síria e que pode colocar o Hezbollah, Síria, Jordânia e muitos outros árabes contra nós em um instante e com o clique de um dedo.

Sout Front

VER VÍDEO com declarações

CENTRAL NUCLEAR DE ZAPOROZHYE SOB FOGO DE ARTILHARIA DE KIEV

O regime de Kiev continua as provocações, ameaçando o mundo com uma catástrofe nuclear na central nuclear de Zaporozhye.

#Traduzido em português do Brasil

Em 27 de agosto, foram registados dois ataques de unidades de artilharia das Forças Armadas da Ucrânia no território da central nuclear. De acordo com o Ministério da Defesa russo, um total de 9 projéteis foram disparados, 3 dos quais atingiram a área próxima ao Edifício Especial nº 2, onde o combustível nuclear fresco da TVEL e os resíduos radioativos sólidos são armazenados.

Como resultado do primeiro ataque, o oleoduto foi danificado por estilhaços. Como resultado do segundo ataque, um projétil caiu na área da 6ª unidade geradora, e outros cinco – em frente ao sexto bloco da estação de bombeamento, que fornece resfriamento deste reator.

O bombardeio da central nuclear pela artilharia ucraniana foi realizado de suas posições em Maryevka, na região de Dnipropetrovsk. A AFU usa equipamentos estrangeiros para ataques à planta, incluindo obuses M777 fabricados nos EUA. Durante a luta contra a bateria, as unidades AFU que dispararam contra o NPP foram suprimidas pelo fogo de retorno.

“Atualmente, uma equipe técnica em tempo integral monitora as condições técnicas da usina nuclear e garante sua operação. A situação de radiação na área da usina nuclear permanece normal”. diz o relatório do Ministério da Defesa russo.

Um dia antes, a APU disparou três vezes contra a central nuclear de Zaporozhye. Um total de 17 projéteis foram disparados, 4 dos quais atingiram o telhado do Edifício Especial nº 1, onde estão armazenados 168 conjuntos de combustível nuclear da US WestingHouse. Mais 10 projéteis explodiram a 30 metros da instalação de armazenamento a seco de combustível nuclear usado e mais 3 explodiram perto do Edifício Especial nº 2, que abriga a unidade de armazenamento de combustível nuclear fresco da TVEL e a instalação de armazenamento de resíduos radioativos sólidos.

Neste momento, a central nuclear funciona em modo normal, mas as autoridades da parte controlada pelos russos da região de Zaporozhye elaboraram um plano para evacuar a população em caso de acidentes na central nuclear, disse o chefe da administração civil-militar de a região. Desde 18 de julho, a central nuclear de Zaporozhye tem sido diariamente bombardeada pelas Forças Armadas ucranianas da margem direita do Dnieper.

A eletricidade da quinta e sexta unidades de energia da central nuclear de Zaporozhye é fornecida para os territórios controlados pela Rússia e pela Ucrânia.

“A quinta e sexta unidades de energia estão em operação. Eles não estão trabalhando em plena capacidade. A eletricidade é fornecida em ambos os lados do Dnieper”, declarou o chefe da administração local.

O regime de Kiev tenta ao máximo tirar a central nuclear de Zaporozhie de operação. As Forças Armadas da Ucrânia têm duas maneiras de atingir seu objetivo. O bombardeio visa destruir uma instalação de armazenamento de combustível nuclear ou uma instalação de armazenamento de resíduos nucleares para causar um desastre nuclear. Eles também estão tentando desativar os principais componentes da usina nuclear, como linhas de energia, grupos de baterias, geradores elétricos, estações de bombeamento, abastecimento de água e unidades do sistema de refrigeração da NPP. Tais danos podem causar processos reativos descontrolados e levar a um desastre que pode superar as catástrofes de Chernobyl e Fukushima. Lembre-se que a Usina Nuclear de Zaporozhye é a maior da Europa.

South Front

Porque é que os EUA e a NATO há muito querem que a Rússia ataque a Ucrânia

Robert H. Wade* (foto)

Este texto é quase uma excepção: um académico britânico que analisa a situação na Ucrânia e os seus antecedentes com suficiente equilíbrio e objectividade. Avança uma tese que poderia explicar o esforço “ocidental” em prolongar o conflito. Tratar-se-ia de atolar a Rússia num “novo Vietnam”, tal como anteriormente teria sucedido à URSS no Afeganistão. Aos mujahidin suceder-se-ia agora o terrorismo neo-nazi (de que se vão acumulando indícios). Talvez falte nesta análise a ideia de que do lado russo também poderá ter-se aprendido alguma coisa.

A 26 de Março, o Presidente Biden, falando em Varsóvia, disse, improvisando: “Por amor de Deus, este homem [Putin] não pode permanecer no poder”. Uma declaração tão explícita de intenção de mudança de regime na Rússia não foi bem sucedida na maior parte da Europa. O Secretário de Estado norte-americano Antony Blinken esclareceu mais tarde a observação de Biden em Varsóvia: “Como sabe, e como nos tem ouvido dizer repetidamente, não temos uma estratégia de mudança de regime na Rússia, ou em qualquer outro lugar, aliás”. Blinken parece ter esquecido o Vietname, o Chile, o Iraque, o Afeganistão, e bastantes mais outros.

Considere as seguintes citações. A 24 de Fevereiro, durante uma conferência de imprensa da Casa Branca no primeiro dia da invasão da Rússia, Biden disse que as sanções não se destinam a impedir a invasão, mas sim a punir a Rússia depois da invasão “…para que o povo da Rússia saiba o que ele lhes trouxe”. É só disso que se trata”.

A 27 de Fevereiro, James Heappey, ministro britânico das Forças Armadas, escreveu no Daily Telegraph: “O seu fracasso deve ser completo; a soberania ucraniana deve ser restaurada, e o povo russo deve ter o poder de ver o pouco que ele se preocupa com eles. Ao mostrar-lhes isso, os dias de Putin como Presidente serão certamente contados… Ele perderá o poder e não poderá escolher o seu sucessor”. Finalmente, a 1 de Março, o porta-voz de Boris Johnson disse que as sanções contra a Rússia “que estamos a introduzir, que grandes partes do mundo estão a introduzir, são para derrubar o regime de Putin”.

Estas declarações reflectem a estratégia de longa data dos EUA para a mudança de regime em Moscovo, tendo a Ucrânia como pivô. Por um lado, enviar suficiente equipamento militar e outro à Ucrânia para afundar num pântano os militares russos. Por outro lado, impor sanções severas e de longo alcance à Rússia, de modo a causar grandes perturbações à elite russa e uma grande contracção das condições de vida da classe média russa. A combinação deveria durar o tempo suficiente para os russos se levantarem para derrubar Putin e instalar um Presidente tipo Ieltsin, mais simpático ao Ocidente.

Mas esta estratégia de armas-mais-sanções precisava de uma causa. A invasão de Putin foi o casus belli necessário. De modo algum desculpa a invasão da Rússia e as suas tácticas desprezíveis dizer que o Kremlin caiu numa armadilha dos EUA e da NATO.

Seis meses após o colapso da Ucrânia, o mundo mudou para sempre

Pepe Escobar [*]

Seis meses após o início da Operação Militar Especial (SMO) pela Rússia na Ucrânia, as placas tectônicas geopolíticas do século XXI foram deslocadas a uma velocidade e profundidade surpreendentes – com imensas repercussões históricas já em mãos.

Parafraseando T.S. Eliot, esta é a maneira como um (novo) mundo começa, não com uma lamúria, mas com um estrondo.

#Publicado em português do Brasil

O assassinato a sangue frio de Darya Dugina – terrorismo às portas de Moscou – pode ter coincidido fatalmente com o ponto interseção semestral, mas não irá alterar a dinâmica da atual mudança histórica, do trabalho em andamento.

O Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) parece ter resolvido o caso em pouco mais de 24 horas, designando o perpetrador como um operador neo-nazista Azov instrumentalizado pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) – ele próprio uma mera ferramenta da combinação CIA/MI6 que governa de fato Kiev.

A agente Azov é apenas uma figura menor. A FSB nunca revelará ao público as informações que acumulou sobre aqueles que emitiram as ordens, nem como eles serão tratados.

Um tal de Ilya Ponomaryov, um personagem secundário anti-Kremlin, que recebeu a cidadania ucraniana, vangloriou-se de estar em contato com o grupo que preparou o ataque à família Dugin. Ninguém o levou a sério.

O que é manifestamente sério, no entanto, é como as facções do crime organizado ligado à oligarquia na Rússia teriam um motivo para eliminar Alexander Dugin, o filósofo nacionalista ortodoxo cristão que, segundo eles, pode ter influenciado o pivô do Kremlin para a Ásia (ele não influenciou).

Estas facções do crime organizado culparam Dugin por uma ofensiva concertada do Kremlin contra o poder desproporcional dos oligarcas judeus na Rússia. Assim, estes atores teriam um motivo e o expertise local para montar tal golpe.

Se for esse o caso, isso potencialmente soletra uma operação vinculada à Mossad – especialmente considerando-se o cisma sério nas relações recentes de Moscou com Tel Aviv. O que é certo é que a FSB manterá suas cartas bem próximas ao peito – e a retribuição será rápida, precisa e invisível.

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