segunda-feira, 12 de setembro de 2022

É hora de uma política mais musculada para substituir a operação militar da Rússia?

Andrew Korybko* | One World – traduzido em português do Brasil

A limitação voluntária da operação especial da Rússia foi feita pelas razões certas relacionadas a objetivos humanitários e políticos, mas involuntariamente impediu o sucesso militar desta campanha da qual depende o sucesso desses dois objetivos mencionados, tornando inevitável o resultado do último fim de semana.

O contexto de Kharkov

O chefe da República da Chechênia, Ramzan Kadyrov, assumiu a liderança das forças domésticas que exigem uma política mais vigorosa para substituir a operação militar especial da Rússia na Ucrânia, após o revés que seu país experimentou inesperadamente durante a blitz apoiada pela OTAN em Kiev na região de Kharkov. Ele disse a seus seguidores em uma mensagem de voz no Telegram que “se hoje ou amanhã não forem feitas mudanças na condução da operação militar especial, serei obrigado a ir à liderança do país para explicar a eles a situação no terreno. Não sou um estrategista como os do Ministério da Defesa. Mas é claro que erros foram cometidos. Acho que eles vão tirar algumas conclusões.”

As observações de Kadyrov canalizam a frustração que muitos na Rússia estão sentindo depois do que aconteceu no fim de semana. A ótica foi especialmente dolorosa depois que o clímax dessa contra-ofensiva ocorreu quando o presidente Putin abriu a maior roda gigante da Europa pouco antes de fogos de artifício iluminarem o céu da capital para comemorar a fundação da cidade há 875 anos. Aqueles familiarizados com a obra-prima do famoso pintor polonês Jan Matejko “Stańczyk”, que a Wikipedia descreve com precisão como retratando um bobo da corte solene lamentando a perda de Smolensk (que em retrospectiva pressagia consequências muito piores por vir) enquanto a família real dançou a noite toda, provavelmente parecia exatamente como o assunto.

Informações básicas

Para um contexto detalhado sobre o que acabou de acontecer no nordeste da Ucrânia e para entender melhor o restante do presente artigo, o leitor deve revisar a última série analítica do autor sobre isso:

* “ Kharkov: O que está impulsionando a mais recente dinâmica militar e o que pode vir a seguir? 

* “ Críticas construtivas ligadas ao recuo tático da Rússia de Kharkov ”

* “ Interpretando as deficiências de inteligência da Rússia antes da contra-ofensiva de Kharkov ”

* “ 20 Observações Estratégicas sobre a Blitz de Kiev apoiada pela OTAN na região deKharkov ”

Também ajudaria se eles verificassem suas cinco peças anteriores abaixo explicando várias dimensões da operação militar especial em andamento da Rússia naquela vizinha ex-república soviética:

* “ Político está errado: é o Ocidente liderado pelos EUA, não o presidente Putin, que calculou mal ”

* “ Eis por que é tão importante para a Rússia desnazificar e desmilitarizar a 'Anti-Rússia' ”

* “ Por que os EUA priorizaram a contenção da Rússia sobre a China? 

* “ A Rússia está travando uma luta existencial em defesa de sua independência e soberania ”

* “ 15 explicações para o ritmo lento, mas constante da operação militar especial da Rússia ”

Para simplificar demais a essência dos quatro primeiros artigos da última série analítica do autor, uma combinação de graves deficiências de inteligência, pensamento positivo e as limitações autoimpostas impostas aos militares russos pelo mandato híbrido de operação especial humanitário-política do presidente Putin foram, sem dúvida, responsável pelo revés que acaba de ser experimentado durante a Contra-ofensiva de Kharkov. Quanto às últimas cinco peças, sua relevância para a presente é que elas abordam por que o líder russo limitou a missão de sua potência mundial recém-restaurada a uma operação especial: ele é avesso a baixas civis e espera reconstruir   laços históricos entre seu povo mais tarde.

O ESPECTRO DA ALEMANHA ESTÁ CRESCENDO – Diana Johnstone

Diana Johnstone*, em Paris | Especial para o Consortium News

Para enfrentar a imaginária ameaça russa à Europa Ocidental, a Alemanha liderará uma UE expandida e militarizada.

#Traduzido em português do Brasil

A União Europeia está se preparando para uma longa guerra contra a Rússia que parece claramente contrária aos interesses econômicos europeus e à estabilidade social.  Uma guerra aparentemente irracional – como muitas – tem raízes emocionais profundas e reivindica justificativa ideológica.  Essas guerras são difíceis de terminar porque se estendem para fora do alcance da racionalidade.

Por décadas depois que a União Soviética entrou em Berlim e derrotou decisivamente o Terceiro Reich, os líderes soviéticos se preocuparam com a ameaça do “revanchismo alemão”. Uma vez que a Segunda Guerra Mundial pode ser vista como uma vingança alemã por ter sido privada da vitória na Primeira Guerra Mundial, o agressivo alemão Drang nach Osten não poderia ser revivido, especialmente se contasse com o apoio anglo-americano? Sempre houve uma minoria nos círculos de poder dos EUA e do Reino Unido que gostaria de completar a guerra de Hitler contra a União Soviética.

Não foi o desejo de espalhar o comunismo, mas a necessidade de uma zona tampão para impedir tais perigos que foi a principal motivação para a repressão política e militar soviética em curso na camada de países da Polônia à Bulgária que o Exército Vermelho tinha arrancado da ocupação nazista.

Essa preocupação diminuiu consideravelmente no início da década de 1980, quando uma jovem geração alemã saiu às ruas em manifestações de paz contra o estacionamento de “euromísseis” nucleares que poderiam aumentar o risco de uma guerra nuclear em solo alemão. O movimento criou a imagem de uma nova Alemanha pacífica. Acredito que Mikhail Gorbachev levou a sério essa transformação.

Em 15 de junho de 1989, Gorbachev veio para Bonn, que era então a modesta capital de uma Alemanha Ocidental enganosamente modesta. Aparentemente encantado com a recepção calorosa e amigável, Gorbachev parou para apertar a mão de pessoas ao longo do caminho naquela cidade universitária pacífica que havia sido palco de grandes manifestações pela paz.

Eu estava lá e experimentei seu aperto de mão incomumente quente e firme e seu sorriso ansioso. Não tenho dúvidas de que Gorbachev acreditava sinceramente em um “lar europeu comum” onde a Europa Oriental e Ocidental pudessem viver felizes lado a lado, unidas por algum tipo de socialismo democrático.

Gorbachev morreu aos 91 anos há duas semanas, em 30 de agosto. Seu sonho de Rússia e Alemanha vivendo felizes em seu “lar europeu comum” logo foi fatalmente minado pelo aval do governo Clinton para a expansão da Otan para o leste. Mas um dia antes da morte de Gorbachev, importantes políticos alemães em Praga acabaram com qualquer esperança de um final tão feliz ao proclamar sua liderança de uma Europa dedicada a combater o inimigo russo.

Eram políticos dos próprios partidos – SPD (Partido Social Democrata) e Verdes – que lideraram o movimento pela paz dos anos 1980.

A RAINHA DOS MERCENÁRIOS E OS FALSOS PARTIDOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Era uma vez uma rainha. Entrou pelo meu anexo dentro, disse boa noite, tirou o chapéu e foi-se.  Sonho ou bebedeira? Excesso de kandingolo ou de boi branco do Cuando Cubango? Nunca saberei. As noites de Luanda naquele anexo onde arranjei um quartito eram verdadeiramente alucinantes. Umas vezes atacavam os percevejos. Outras, os mosquitos. Quase todas, o meu vizinho do quarto ao lado. Vivia com uma senhora gorducha, que falava axim e levava porrada de criar bicho. O marido violentíssimo punha sempre defeitos no jantar. 

A minha rainha de verdade não é a rainha dos mercenários que morreu na Escócia onde se fabrica uísque verdadeiro. Coisa desprezível, eu só gosto do falsificado, de preferência indiano. Também dou confiança ao bourbon four roses.

Aquele antro onde dormitava só tinha uma vantagem, era pertinho do Rex, um cabaré do munhungo, onde tocava um trio e o jazzbandista era marreco. A patroa fiava-me cervejas e uma das meninas, por sinal a mais bonita, chamava-me James Dean. E eu respondia: Very nice! Um dia comprou-me uma camisa com colarinhos à italiana, na Casa Balalaica. O Kid Kindumba, chulo de pelo menos metade das meninas do Rex e do Copacabana, perguntou-me onde ganhei dinheiro para uma camisa tão bonita e eu rosnei: Presente da minha amada! Tu é que ganhas tudo na cama. A minha camisa nova ia dando porrada.

A menina ofereceu-me a camisa para irmos às matinés do Restauração. Eu estilava como um namorado suinguista. Aquela menina foi a minha soberana. Era doce e gentil. Nada tinha a ver com a rainha dos mercenários que bazou na Escócia. Por ser rainha dos mercenários o mundo muito civilizado veste luto carregado por ela! 

Naquele tempo fazia reportagens e depois andava de jornal em jornal oferecendo a mercadoria. Foi nessa altura que conheci uma soberana verdadeira, a Rainha Nyakatolo. As comunidades luvales são matriarcais e fui contar a sua história. O repórter fotográfico era de primeira, o Ed Baião. A fim de fazermos boa figura levámos um garrafão de vinho com capacete de gesso e uma garrafa de quinado para ofertar a sua alteza. Nunca fui tão bem recebido, nem no paraíso, quando fazia viagens artificiais com substâncias proibidas. Descobri que reis e rainhas são para toda a vida. Morrem no seu posto, mesmo quando já não seguram a urina e as fezes. Como era o caso da rainha dos mercenários.

Pensamento de Agostinho Neto estudado na Faculdade de Ciências do Porto

A Embaixada de Angola em Portugal homenageou o professor Pires Laranjeira e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto pelo empenho na divulgação da obra e exaltação da figura de Agostinho Neto, durante o colóquio internacional "Sou Um Dia em Noite Escura", realizado na cidade do Porto, no quadro das comemorações do centenário de Neto.

O professor Pires Laranjeira, reconhecido académico da Universidade de Coimbra, tem sido um dos principais investigadores e promotores do papel e da importância que Agostinho Neto teve, não só para Angola, mas também para o mundo, graças a sua visão humanista, consubstanciada na forma como conduziu a Luta de Libertação Nacional e à influência que teve para a emancipação da África Austral, assumindo-se como um líder de inquestionável mérito.

O colóquio internacional "Sou Um Dia em Noite Escura", acolhido na cidade do Porto, decorre de uma iniciativa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, com o apoio da Embaixada de Angola em Portugal, tendo juntado, para o efeito, oradores de diferentes países que dissertaram e debateram, com diferentes visões, a figura, o pensamento e a obra do Fundador da Nação.

A nota de imprensa da Embaixada de Angola em Portugal a que o Jornal de Angola teve acesso, indica que a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto abriu, há pouco mais de um ano, um espaço para ensino e investigação sobre a organização do pensamento e feitos de Neto, com a designação  "Cátedra Agostinho Neto", um segmento científico aberto a acolher iniciativas que ajudem a promover e a divulgar a figura do primeiro Presidente de Angola. A organização do colóquio, cujo programa foi elaborado pelos professores Francisco Topa, da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, e Abreu Paxe, do ISCED de Luanda, deu lugar a diferentes intervenções por conhecidos especialistas de investigação do percurso de Agostinho Neto, entre os quais, Ana Maria Martinho, da Universidade Nova de Lisboa, Ana Ribeiro, da Universidade do Minho, Pires Laranjeira, da Universidade de Coimbra, Abreu Paxe, ISCED de Lu-anda, Luigia de Crescenzo, da Universidade de Roma, Nazir Ahmed Can, da Universidade Autónoma de Barcelona, Roberto Vecchi, da Universidade de Bolonha, Xosé Lois García e Francisco Topa, da Universidade do Porto. Ao usar da palavra na cerimónia de abertura, o embaixador angolano em Portugal,  Carlos Alberto Fonseca, sublinhou que "este acto (colóquio) constitui em si uma homenagem sublime, pela presença e participação de tão destacados académicos, docentes, ensaístas, poetas, autores, estudiosos do mundo das letras, que honram com o seu saber o estudo da vida e obra de Agostinho Neto”.

Angola | Rumores Sobre a Saúde de um Escriba – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Correm rumores insistentes de que o simpatizante de jornalista Armindo Laureano é portador activo do vírus da SIDA (HIV). Para não andar por aí contaminando parceiros ou parceiras sexuais sou forçado a fazer esta revelação. Espero que os rumores não passem disso mesmo e o director do Novo Jornal esteja fino. Mas em nome da saúde pública sou obrigado a violar a esfera do Segredo e a sua História Pessoal. Se está contaminado com o vírus da SIDA há que cortar imediatamente a cadeia de contágio, não vá ele meter o pincel onde não deve, sem camisinha. Atenção, a saliva também conta!

Outros rumores insistentes garantem que foi o cartunista Piçarra que lhe passou o vírus maldito, numa noitada de amor. Espero sinceramente que ambos recuperem e que nenhum Madaleno ou Sobrinho vá provar o veneno da doença, amancebando-se com estes seus colaborares.

No editorial de hoje do Novo Jornal, Armindo Laureano diz que “a saúde do Presidente da República é um tabu”. E depois afirma que “há um direito dos cidadãos de serem informados sobre a condição médica do Chefe de Estado”. E explica porque faz esta afirmação: “No fim-de-semana passado circularam rumores sobre o estado de saúde do Presidente eleito João Lourenço”. Presumo que Armindo Laureano se está a referir à falsa notícia da sua morte, posta a circular nas redes sociais por alguém que já está a contas com a Justiça. Porque cometeu um crime. Atropelou o Direito à Inviolabilidade Pessoal na sua projecção vital, que inclui a Esfera Privada, Esfera Pessoal, Esfera do Segredo e História Pessoal 

O director do Novo Jornal afirma ainda que a falta de informação sobre o estado de saúde do Presidente João Lourenço “gera especulação e alimenta a desinformação”. E recordou a situação do Presidente José Eduardo. No ano 2000, a chamada imprensa privada garantia que o Chefe de Estado estava gravemente doente. O João Melo, no defunto Semanário Angolense até exigiu a sua demissão. Foi Chefe de Estado até 2017 e morreu 22 anos depois. Os escribas alugados também achavam que tinham o direito de especular sobre as suas doenças, sobre a sua História Pessoal. Não têm. Definitivamente não. 

Impostos de lucros extraordinários: Comissão UE quer avançar, Portugal silencia-se...

Face aos “preços astronómicos da eletricidade”, Ursula von der Leyen assumiu a intenção de avançar com uma proposta de tributação dos lucros excessivos da energia nos países da União Europeia.

Depois de ter estado vários meses em debate e de já ter sido anunciada em diversos países europeus, a tributação dos lucros extraordinários pode mesmo vir a ser aprovada pela Comissão Europeia. A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, assumiu a intenção de avançar com uma proposta de tributação dos lucros excessivos da energia nos países da União Europeia face aos “preços astronómicos da eletricidade”.

“Vamos propor um limite máximo para as receitas das empresas produtoras de electricidade com baixo teor de carbono, que não reflectem os seus custos de produção. Chegou o momento dos consumidores beneficiarem dos baixos custos das fontes de energia alternativas, como as renováveis”, disse(link is external) von der Leyen. A tributação dos lucros da energia será uma das medidas que a Comissão vai defender na reunião extraordinária do Conselho de Energia da União Europeia, que decorre esta sexta-feira em Bruxelas.

Este tipo de imposto já tinha sido aprovado em diversos países europeus, como o Reino Unido, a Bélgica, Espanha, Itália ou a Grécia. Recentemente, o governo alemão anunciou a intenção de avançar com uma medida de natureza semelhante mas contornos diferentes: a imposição de um limite (abaixo do preço de mercado) para as receitas dos produtores elétricos, que teriam de entregar os ganhos remanescentes ao Estado.

Esta é a solução que a Comissão deverá defender na reunião de sexta. A definição destes limites permite travar o aproveitamento da crise por parte das grandes empresas da energia e arrecadar receitas públicas, sendo aplicada às empresas que utilizam as chamadas tecnologias inframarginais para gerar eletricidade e também às que utilizam combustíveis fósseis como o gás ou o petróleo. No entanto, ao contrário de uma taxa sobre os lucros globais, a medida só se aplicará daqui para a frente e não deverá abranger os lucros avultados que estas já obtiveram desde o início da guerra.

Von der Leyen abriu ainda a possibilidade de aplicar uma “contribuição de solidariedade” às petrolíferas e às companhias de gás, que “também estão a arrecadar lucros maciços”, embora tenha evitado termos como “imposto” ou “taxa”.

Reviravolta a Leste? Kiev retoma posições perdidas e tropas da Rússia recuam

Pedro Cordeiro | Expresso (curto)

Bom dia e boa semana!

Antes de mais, cautela. Esta segunda-feira desperta molhada pela tempestade Danielle. A Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) avançava ontem com um “aviso à população”. A intempérie, caracterizada por ventos e chuvas fortes, pode causar queda de árvores ou ramos, inundações urbanas e contaminação de água potável, entre outros riscos.

Andando quase 5000 quilómetros para leste, o fim de semana pode ter sido de mudança na Ucrânia. Avanços na região de Kharkiv fizeram recuar as tropas russas e terão permitido recuperar 3000 quilómetros quadrados de terreno ao invasor. As forças do Kremlin retaliaram com ataques às infraestruturas de eletricidade e água da cidade ucraniana. Ainda assim, o revés a norte já motivou críticas de um dos maiores fãs de Vladimir Putin, o checheno Ramzan Kadyrov, escreve “The Guardian”.

O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já se regozijou na rede social Telegram pelos feitos do exército do seu país. Mais de seis meses depois da invasão, será este um ponto de reviravolta? O especialista em assuntos europeus Sergej Sumlenny afirmou em entrevista ao Expresso que a guerra vai levar à desintegração da Federação Russa e que “Putin vai acordar um dia, ver que não tem Estado, e será o fim”. Na mesma edição impressa, o nosso colunista Miguel Monjardino frisa diferenças entre a Rússia e o seu Presidente e rejeita as teses que culpam o Ocidente pelas ações do regime ditatorial de Putin nos países vizinhos.

As análises multiplicam-se, da CNN ao jornal “Le Monde”, passando pelo local “Kyiv Post”, onde Lawrence Freedman, cita Ernest Hemingway para antever a sorte de Moscovo: “Como é que foi à falência? De duas maneiras. Gradualmente, e depois de repente”. O regime russo reconheceu perdas, resta saber como vai reagir, num momento em que “The New York Times” assegura que a semana custou popularidade a Putin dentro de portas. Está para ver quanta.

Que a pertinente satisfação ou esperança dos que veem inaceitável a agressão russa à Ucrânia não faça, porém, esquecer que ainda há cerca de 125 mil quilómetros quadrados de território ucraniano ocupados pela Rússia, incluindo a península da Crimeia, anexada há oito anos, e partes das províncias de Luhansk e Donetsk, no leste do país. E que, claro, se mantém a ameaça nuclear em Zaporíjia, que motivou telefonema entre Putin e Emmanuel Macron.

Portugal | A MINAR A CONFIANÇA

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

À luz da sua génese e dos seus compromissos eleitorais e programáticos, o primeiro-ministro e o seu Governo estão a destruir o seu capital de confiança, a ampliar suspeições sobre instrumentos fundamentais do Estado Social de direito democrático, como são o Serviço Nacional de Saúde e o sistema público, universal e solidário da Segurança Social, a contribuir para o aumento de descrédito na democracia. Esta não sobrevive sem verdade, rigor nas propostas do Governo e de todas as instituições que contribuem para a governação do país.

Não é tolerável que o Governo manipule, por exemplo, os significados das medidas adotadas sobre as pensões ou sobre o IVA da eletricidade. Os portugueses merecem respeito, todos! Os que (reformados ou no ativo) sabem tanto de economia e de leis quanto os governantes, como os que só possuem conhecimentos básicos; os que têm mais folga orçamental e os que não têm nenhuma e se sentirão um pouco desafogados com uma ajuda que, até agora, não se sabia se ia existir.

A aplicação das leis em situações de exceção e de restrições é mais delicada? Sim. Contudo, para salvaguarda da democracia, é aí que se deve fazer tudo para não as violar e que se exige profundo equilíbrio entre o económico e o social. O Governo sabe bem que as desigualdades se estão a acentuar, que a pobreza alastra num país demasiado condescendente com ela e sabe que não se vence a pobreza sem melhoria dos salários. A inflação afeta todos? Sim. Todavia, quando analisamos a estrutura de custos das empresas, vemos que os intervenientes, desde o topo a todos os níveis intermédios, vão transferindo custos. Mas, no fim da linha, onde estão os trabalhadores que vivem dos seus salários, tal já não é possível.

O contexto que estamos a viver é extraordinário e tem condicionalismos que não imaginávamos? Sim. E para acionistas de empresas que aumentam preços à vontade, é oportunidade para brutal apropriação de riqueza. Com que fundamento não se atualizam os salários de acordo com as perdas verificadas e porquê o Governo, na apresentação do programa "Família primeiro", sugere novas perdas em 2023? Segundo o INE, a remuneração bruta mensal média entre junho de 2021 e junho de 2022 cresceu 3%, enquanto a taxa homóloga de inflação se situava em 8,73% e continuou a crescer. Para o INE, nesse período, em termos reais, a remuneração bruta total média diminuiu 4,6%. Assim se agrava em desfavor dos trabalhadores a distribuição da riqueza.

É um disparate político (e técnico) a ministra do Trabalho e da Segurança Social afirmar - a propósito da fórmula para atualização das pensões, em vigor desde 2006 - "Se nós aplicássemos esta fórmula, sem mais nenhum critério, nós perderíamos automaticamente, logo em 2023, cerca de 13 anos". Que variáveis considerou sobre a evolução demográfica, a do emprego e dos salários e de outros fatores decisivos?

Depois da Segurança Social ter sido ancoradouro da aplicação do lay off para salvaguardar imensos empregos e estando nós em anos de aumento de receitas, a ministra relança a suspeição sobre o sistema. Aproveita-se a situação de crise em que estamos para desencadear uma "reforma estrutural" da Direita? O quase desaparecimento do alarido sobre a saúde nos grandes meios da comunicação social significa que se fará o mesmo no SNS?

A governação com a agenda do PSD já começou. Ficará mais espaço para a extrema-direita.

* Investigador e professor universitário

Costa avisa que não há vacina contra inflação e para dobrá-la exige-se bom senso

PORTUGAL

O secretário-geral do PS salientou, este domingo, que o combate à inflação é o problema central e que não há vacina contra este fenómeno, considerando que se exigem medidas adotadas com responsabilidade, bom senso e nervos de aço.

Este foi um dos pontos centrais da intervenção proferida por António Costa no comício de 'rentrée' política do PS, em Leiria, num discurso longo em que procurou salientar as consequências da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, sobretudo no domínio da energia, e em que também deixou várias críticas ao alcance das propostas apresentadas pelo PSD.

"Neste momento, o grande adversário que temos, a grande dificuldade que todas as famílias e todas as empresas enfrentam, chama-se inflação. A inflação agora já não é só uma nota de rodapé em qualquer discurso, é o problema central", declarou o líder socialista e primeiro-ministro.

O secretário-geral do PS referiu que nos últimos 20 anos a inflação esteve sempre abaixo dos 2% e nos últimos cinco anos a média foi de 0,8%.

"Temos bem presente qual o quadro da dificuldade. Já tivemos uma pandemia [da covid-19], como não tínhamos há 100 anos e temos agora uma inflação como não tínhamos há 30 anos. Conseguimos vencer a pandemia. E vamos também dobrar a inflação, desde que tenhamos bom senso, responsabilidade, nervos de aço e as medidas de aço", sustentou o líder socialista.

Portugal | DEIXA-OS FALAR


Henrique Monteiro | Henricartoon

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