quarta-feira, 5 de outubro de 2022

NOTÍCIAS E CONSPIRAÇÕES -- Caitlin Johnstone

Acusar os EUA de sabotar os oleodutos Nord Stream e isso é chamado de teoria da conspiração. Acusar a Rússia de fazer exatamente a mesma coisa e isso se chama notícia.

Caitlin Johnstone* - CaitlinJohnstone.com | Consortium News

A classe política/mídia ocidental tem descartado como “teorias da conspiração” todas as alegações de que os EUA são provavelmente responsáveis ​​pela sabotagem dos gasodutos Nord Stream no mês passado, mesmo enquanto levantam exatamente as mesmas acusações contra a Rússia sem nunca usar esse termo. O que provavelmente diz muito sobre a maneira como esse rótulo foi usado ao longo dos anos, se você pensar bem.

#Traduzido em português do Brasil

Em uma  reunião do Conselho de Segurança da ONU  na sexta-feira, o enviado dos EUA Richard Mills acusou repetidamente a Rússia de promover “teorias da conspiração” em suas acusações do Nord Stream contra os Estados Unidos, dizendo que “nossos colegas russos decidiram instrumentalizar a reunião do Conselho de Segurança para espalhar teorias da conspiração. e desinformação”.

“É importante que usemos esta reunião não para fomentar teorias da conspiração, mas para focar nossa atenção na flagrante violação da Carta pela Rússia e seus crimes na Ucrânia”, argumenta Mills, depois de dizer que “os Estados Unidos negam categoricamente qualquer envolvimento neste incidente. ” e que não há justificativa para “a delegação russa levantar teorias da conspiração e desinformação em massa neste Conselho”.

Mills então passa o restante de suas observações insinuando que na verdade foi a Rússia quem perpetrou os ataques, mencionando a palavra “infraestrutura” nada menos que nove vezes em seus argumentos para estabelecer que na Ucrânia, a Rússia tem um histórico de ataque a infraestrutura civil crítica semelhante a os encanamentos.

“A sabotagem de infraestrutura crítica deve ser uma preocupação para todos nós”, diz Mills. “No contexto da agressão da Rússia contra a Ucrânia, vimos vários ataques russos danificando a infraestrutura civil. Testemunhamos a Rússia tomar de forma imprudente o controle da maior usina nuclear da Europa, arriscando um desastre nuclear na Europa. Vimos inúmeros ataques destruindo a infraestrutura de eletricidade civil.”

“Apesar dos esforços que ouvimos hoje para nos distrair da verdade, para distribuir mais desinformação e teorias um pouco malucas, os fatos na Ucrânia falam por si”, conclui Mills.

Business Insider tem um artigo: “ A sabotagem de gasodutos foi um 'tiro de advertência' de Putin para o Ocidente, e deve se preparar para mais subterfúgios, alertam especialistas russos. ” Os “especialistas” em questão são os seguintes:

O ex-diretor da CIA John Brennan, que foi pego  espionando os legisladores dos EUA e mentindo sobre isso  durante a investigação do Senado sobre as práticas de tortura da CIA.

A veterana da inteligência dos EUA Andrea Kendall-Taylor,  agora membro sênior  da  think tank belicista  Center for a New American Security,  cujos principais doadores  são o Pentágono e o fabricante de armas Northrop Grumman.

Cynthia Hooper, professora de história do College of the Holy Cross.

É isso; isso é tudo os especialistas. Dois belicistas mentirosos e um professor de história.

Portugal | O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO: CIÊNCIA OU VUDU IDEOLÓGICO?

Será o envelhecimento da população portuguesa uma ameaça real à sobrevivência da nossa sociedade, à sustentabilidade da segurança social e ao financiamento das pensões? Ou será apenas uma trapaça neomalthusiana?

Rui Viana Pereira* | Setenta e Quatro

A campanha contra os idosos foi um dos cavalos de batalha da governação de Pedro Passos Coelho no tempo da ingerência directa da Troika em Portugal e, em 2013, teve por epítome um queixume do deputado do PSD Carlos Peixoto (“a nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha”). Este episódio anedótico suscitou numerosos protestos, passou pelo crivo bafiento dos tribunais portugueses e acabou no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.

Passado esse ponto alto do espectáculo parlamentar, o debate sobre os idosos prosseguiu de forma mais discreta, sustentado por think tanks como a Fundação Francisco Manuel dos Santos e o seu braço digital Pordata, que de mão dada com a Agência Lusa produziu vários documentos para desencaminhar os jornalistas mais desprevenidos e o público em geral. Criaram o pânico do envelhecimento catastrófico da população.

Espanta-me que, artigo após artigo, tantos autores se prestem a ecoar esse grito de alarme neomalthusiano: que horror, já chegámos ao ponto de ter 182 idosos (pessoas com 65 anos ou mais) para cada 100 jovens (pessoas dos 0 a 14 anos)!

Em primeiro lugar, não percebo de onde saiu esta definição de jovens. Porquê dos 0 aos 14 anos? O que acontece com as pessoas dos 15 aos 18 anos? Fazem parte de que grupo? Não podem entrar legalmente no mercado de trabalho, ainda não votam, ainda não são “idosos”, mas já não são jovens? É mistério que a Pordata ainda não teve a bondade de explicar, deixando os pobres coitados no limbo.

Em segundo lugar, parece-me evidente que o horror perante aquele rácio de 182/100 entre idosos e jovens tem um cariz moral, ou ideológico. Porque é que 182/100 haveria de ser pior ou melhor do que 100/182? Não se vislumbra nenhuma razão lógica.

Ponhamos, entretanto, de lado as vozes mais disparatadas e ouçamos os alarmistas mais benignos, aqueles que dizem que é formidável as pessoas não morrerem tão cedo como dantes, terem tempo para gozar a vida após 40-50 anos a trabalharem que nem uns mouros, mas, acrescentam, pelo andar da carruagem, é preocupante no futuro não sobrarem adultos suficientes para produzir a riqueza necessária para alimentar os idosos.

É urgente desmontar todos estes sofismas, denunciar a mistificação do “envelhecimento da população”.

VAMOS BRINCAR ÀS PIRÂMIDES

A maneira mais fácil de apreender o que está em causa no debate sobre o “envelhecimento” consiste em olhar para a pirâmide etária da população. Trata-se de uma representação gráfica que nos diz instantaneamente quantas pessoas têm um ano de idade, dois anos, 30 anos, 85 ou mais anos.

Nas sociedades menos desenvolvidas, a representação gráfica da estrutura etária da população assume a forma aproximada de uma pirâmide, daí o seu nome. Um exemplo característico é o de Portugal na década de 1950 (gráfico 1)…

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Aqui tem o convite para continuar a ler o artigo e os gráficos (pirâmides) a que o autor recorre para nos proporcionar melhor entendimento do exposto.

*Rui Viana Pereira - Revisor, tradutor e sonoplasta. Fundador do CADPP (Comité para a Anulação da Dívida Pública Portuguesa) e membro da rede internacional CADTM (Comité para a Anulação das Dívidas Ilegítimas). Co-autor do livro "Quem Paga o Estado Social em Portugal?".

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Portugal | A ARTE DE DESPEJAR FAMÍLIAS EM ALMADA

Identificada «a necessidade de realojamento urgente de 60 famílias, residentes nas construções precárias localizadas sobre o túnel de descarga da vala», no Bairro do 2.º Torrão, na Trafaria, a Câmara Municipal de Almada (CMA), de executivo PS/PSD, decidiu agir e pouco ou nada fazer para apoiar uma parte significativa destas pessoas.

Em comunicado enviado ao AbrilAbril, a CDU de Almada retrata um cenário de total desorganização ao longo de todo o processo conduzido pela CMA. «Aquilo a que vimos assistindo no local nos últimos dias, desmente totalmente a vontade da CMA de proceder a um realojamento decente de muitas destas famílias», afirmam, «as demolições foram iniciadas sem que o realojamento de todas aquelas famílias fosse feito previamente».

«Muitas destas famílias estão a ser confrontadas com máquinas de demolição à porta das suas habitações», sem que a autarquia lhes tenha dirigido uma proposta de solução aceitável para realojamento.

Segundo alguns relatos, há famílias alojadas em hostels em Lisboa e bungallows em Monsanto, uma situação absolutamente precária num processo que se estima venha a durar três longos anos. A líder da bancada do PCP na Assembleia da República, Paula Marques, esteve presente nos primeiros momentos do processo.

PEDOFILIA: PREVENIR MAIS QUE REMEDIAR

Adalberto Dias De Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

A identidade de cada um de nós decorre em larga medida das experiências e representações da criança que fomos, sendo que, por isso, olhamo-nos e olhamos a nossa infância, também em larga medida, com os olhos da criança que fomos, a qual constitui o solo do nosso ser como pessoas.

A pedofilia, ao constituir uma usurpação dos sentimentos e das expectativas infantis, é um atentado contra a intimidade da criança. Atentado que perturba a harmonia psicológica, física e social da criança e, a partir daí, todo o processo de construção da estabilidade afetiva do adulto em formação. A criança surpreendida pela pedofilia é um ser indefeso, inclusive nos seus ímpetos afetivos que por vezes os pedófilos tentam usar como atenuante para os seus atos. Outras vezes, procuram a desculpa nos costumes de épocas passadas, mas sejamos claros: sabemos bem que os atos pedófilos são sempre protagonizados e encobertos por estratégias de dominação e corrupção.

O pedófilo é um indivíduo portador de graves desequilíbrios inatos e/ou adquiridos. Em qualquer das circunstâncias, a pedofilia, porque atinge a vida de inocentes, normalmente em situação de subalternidade, é um crime. No mínimo, perante as vítimas, não há justificação que a possa desculpar Trata-se de um crime sem perdão ou cujo perdão, mesmo que discricionariamente concedido, não iliba o crime.

Podemos, isso sim, fazer tudo o que for possível para prevenir o futuro.

O caso da Igreja Católica é aqui particularmente importante, atendendo não só ao extraordinário número de casos de que agora temos conhecimento, mas igualmente por se tratar da instituição que, pregando a moral que de uma forma ou de outra impregna a nossa cultura, tem como princípio o de que os outros, enquanto criaturas de Deus, sendo os nossos próximos, nos obrigam ao maior respeito para com eles.

Se é incontornável a necessidade de julgar os sacerdotes prevaricadores através das mesmas leis a que estão sujeitos todos os outros cidadãos, sem prejuízo da aplicação interna do direito canónico, é também fundamental que se ponderem, sem tabus, as condicionantes que possam favorecer a pedofilia. Referimo-nos desde os processos de seleção dos sacerdotes até à organização das práticas de ensino e doutrinação, passando pela imposição do celibato.

*Professor do ISCET - Instituto Superior de Ciências Empresariais do Turismo e investigador do Observatório da Solidão

5 de Outubro | COMEMORAR OS 112 ANOS DA REPÚBLICA EM PORTUGAL

Implantação da República Portuguesa - 1910

A Implantação da República Portuguesa foi o resultado de uma revolução organizada pelo Partido Republicano Português, iniciada no dia 2 de outubro e vitoriosa na madrugada do dia 5 de outubro de 1910, que destituiu a monarquia constitucional e implantou um regime republicano em Portugal.

ultimato britânico de 1890,[1] os gastos da família real,[2] o poder da igreja, a instabilidade política e social, o sistema de alternância de dois partidos no poder (o Partido Progressista e o Partido Regenerador), a ditadura de João Franco,[3] a aparente incapacidade de acompanhar a evolução dos tempos e se adaptar à modernidade — tudo contribuiu para um inexorável processo de erosão da monarquia portuguesa[4] do qual os defensores da república, particularmente o Partido Republicano, souberam tirar o melhor proveito.[5] Por contraponto, o partido republicano apresentava-se como o único que tinha um programa capaz de devolver ao país o prestígio perdido e colocar Portugal na senda do progresso.[a]

Após a relutância do exército em combater os cerca de dois mil soldados e marinheiros revoltosos entre 3 e 4 de outubro de 1910, a República foi proclamada às 9 horas da manhã do dia seguinte da varanda dos Paços do Concelho de Lisboa.[6] Após a revolução, um governo provisório chefiado por Teófilo Braga dirigiu os destinos do país até à aprovação da Constituição de 1911 que deu início à Primeira República.[7] Entre outras mudanças, com a implantação da República, foram substituídos os símbolos nacionais: o hino nacional, a bandeira e a moeda.[8][9]

VER MAIS NO ORIGINAL WIKIPEDIA

Brasil | O PROJETO AUTOCRÁTICO DE BOLSONARO VISTO EM DETALHE

O cientista político André Singer analisa como o “Mussolini à brasileira” carcomeu a democracia para concentrar poder. O controle da PF e da PGR. Os generais de coleira e a compra do legislativo. O ataque às urnas e as marchas fascistas

André Singer para A Terra é Redonda | em Outras Palavras

“A Itália, fascista ou não, continuava sendo meu país” (Primo Levi)

#Publicado em português do Brasil

Movimento e regime

A verdadeira natureza do fenômeno que transtornou a democracia brasileira, entre 2019 e 2021, só será verdadeiramente compreendida quando o governo de Jair Bolsonaro tiver completado o percurso que lhe couber e for devidamente colocado no contexto mundial que, em certa medida, o explica. Segundo o cientista político Larry Diamond, os indicadores democráticos globais estavam em declínio desde 2006. Na esteira do crash financeiro de 2008, o quadro se agravou e, no quinquênio após 2016, adquiriu caráter de urgência, refletindo-se diretamente no Brasil.

Os fatos são conhecidos. Declarado vitorioso em 8 de novembro de 2016, Donald Trump tornou-se, à frente dos EUA, difusor, assim como o Brexit, de uma era “pós-factual” que, rapidamente, se espalharia pelo mapa-múndi, entrando para a pauta prioritária da ciência política. Desde que Jair Bolsonaro, um ex-capitão paraquedista do Exército e deputado federal obscuro por trinta anos, foi eleito presidente da República, o Brasil viu-se submerso pela vaga vinda do norte, tornando-se um caso relevante a ser decifrado. Escrevendo antes do pleito presidencial, Diamond já identificava “declínio na qualidade e estabilidade da democracia” no Brasil e Stanley (2018) chamou Bolsonaro de “tropical Trump”.

Steve Bannon, principal ideólogo do trumpismo, articulou figuras de distintas origens numa espécie de comintern direitista (BBC, 2018), incluindo Bolsonaro no balaio. O inglês Nigel Farage, impulsionador do Brexit em 2016, a francesa Marine Le Pen, segunda colocada na disputa presidencial de 2017 e o italiano Matteo Salvini, vice-primeiro ministro da Itália em 2018, foram conectados pelo assessor da Casa Branca. Como Trump continuou a comandar uma porção do eleitorado estadunidense, mesmo depois de deixar a presidência, de maneira complementar prosseguiram as atividades de Bannon com o brasileiro ganhando projeção nelas. Bannon chegou a dizer que Bolsonaro e Salvini tinham se tornado “os políticos mais importantes do mundo” e que o pleito de 2022 no Brasil convertera-se no “mais importante da história da América do Sul”.

Teria sido o país atingido por um relâmpago neofascista intercontinental? Como qualquer fato emergente na sociedade, é raro compreendê-lo quando embrionário e incerto. Leon Trotsky registra que os italianos não vislumbraram “os traços particulares do fascismo” quando este apareceu pela primeira vez na face da terra, justamente na pátria de Dante Alighieri, em 1921. “Exceto Gramsci”, excepcional analista, os compatriotas nem mesmo admitiam “a possibilidade da tomada do poder pelos fascistas” e desconheceram que havia “um fenômeno novo que estava ainda em vias de se formar”. Gramsci, entre outras contribuições, notou o aspecto cesarista do monstro, com a personalidade de Benito Mussolini (1883-1945) centralizando as atenções (Antonini, 2021). Trotsky foi pioneiro ao diagnosticar o rasgo bottom-up do nazismo, inédito no campo reacionário.

Max Horkheimer e Theodor W. Adorno, dois pensadores alemães de inspiração marxista, mas incorporando ideias da psicanálise, perceberam que a capacidade nazista de mobilizar desde baixo relacionava-se com a ativação de camadas inconscientes dos indivíduos, o que transcendia as classes, embora de modo algum as eliminasse. Passadas sete décadas, o filósofo Jason Stanley, da Universidade Yale, observando Trump, fala no uso de táticas fascistas, as quais dispõem de técnicas específicas, entre elas as teorias da conspiração, para destruir os espaços de informação e ruptura com o real.

Na mesma trilha, um segundo filósofo, Peter E. Gordon, da Universidade Harvard, sublinha no trumpismo o método fascista de estimular a raiva contra quem supostamente usurpou a antiga grandeza do povo. Trata-se da estratégia do “scapegoating”, isto é, transformar um grupo específico, no caso os imigrantes, em bode expiatório. Na composição do roteiro aqui encetado, adotaremos estes dois marcadores como guias – a tática da ruptura com a realidade e a estratégia do bode expiatório –, sem pretender que eles esgotem uma definição de fascismo. Trata-se, somente, de destacar traços que, porventura, iluminem procedimentos atuais no Brasil.

O eventual uso de certos meios de agitação e propaganda, entretanto, não resolve o problema de saber a que tipo de regime elas conduzem. Conforme Fernando Henrique Cardoso, ainda pensando com categorias marxistas, “sem a definição de um espaço teórico para uma teoria dos regimes, acaba-­se correndo o risco de confundir […] a própria dominação de classe com o controle de partes do aparelho burocrático”. De acordo com Przeworski, a atual erosão da democracia – incremental, por dentro das leis e dirigida por líderes eleitos – pode resultar tanto em “autocracia, ditadura ou autoritarismo”. A indefinição explica a quantidade de neologismos surgidos nos últimos tempos: “democracia iliberal”, “democratura” e “neoditadura”, por exemplo.

As ações de Bolsonaro no plano do regime nos levaram a resgatar uma passagem de Norberto Bobbio, na qual o filósofo italiano assinala que, para Marx, as instituições representativas da França, depois de 1848, desembocaram no “governo pessoal, ou seja, em uma autocracia”. Referindo-­se à derrocada da Assembleia Nacional, Marx assinala que “na pessoa de Luís Bonaparte”, o Executivo colocou o Parlamento “para fora”, estabelecendo o Segundo Império, regime que o sobrinho de Napoleão encarnou por duas décadas.

A autocracia, entendida como forma de autoritarismo que se caracteriza pelo “governo pessoal”, pareceu-­nos corresponder ao norte de Jair Bolsonaro entre 2019 e 2021, período que analisamos nas linhas a seguir. Diferente dos regimes resultantes dos golpes militares dos anos 1960 e 1970, em que o aparelho estatal “podia também estar na mão de um grupo”, o presente projeto parece concentrar-­se em um indivíduo que, no vértice da máquina pública, substitui uma “convenção”, “assembleia” ou “partido revolucionário”.

Se uma vez, eventualmente vitorioso, tal regime adquiriria conotações fascistas, com o surgimento de um “partido único de massa hierarquicamente organizado”, de uma orientação imperialista e de uma “tentativa de integrar nas estruturas de controle do partido ou do Estado […] a totalidade das relações econômicas, sociais, políticas e culturais”, só o tempo, talvez, dirá. Por ora, as evidências nos parecem suficientes para falar em autocratismo, o que coincide com estudos internacionais que identificaram uma terceira “onda de autocratização”, começando em 2017 – a primeira teria ocorrido entre 1926 e 1942 e, a segunda, entre  1961 e 1977. Mas é claro que, ao usar técnicas fascistas de mobilização, as chances de conversão a tipos de governo que atualizem aqueles dos anos 1930, justificadamente, ligam os sinais de alerta históricos.

Este trabalho sugere que, na experiência brasileira entre 2019 e 2021, houve uma combinação entre pressão autocrática e mobilização fascista. Pesquisado e escrito enquanto o mandato de Jair Bolsonaro estava in fieri, buscou­-se extrair dos acontecimentos, tomados como base empírica, sentidos possíveis, sabendo que um verdadeiro esquema interpretativo terá que ser obra coletiva. Deixa­-se para pesquisas posteriores a necessária comparação com hipóteses concorrentes. O roteiro exploratório a que se refere o título, portanto, não exclui, necessariamente, outros.

Brasil – eleições | A IMPLUSÃO DE CIRO GOMES E O APOIO A LULA

Jean-Philip Struck | Deutsche Welle

Na quarta tentativa de chegar à Presidência, Ciro obteve só 3% dos votos com campanha que fez acenos à extrema direita. Agora, no 2° turno, diz que vai seguir o PDT em apoio a Lula, mas evita explicitar endosso.

#Publicado em português do Brasil

O candidato derrotado à Presidência Ciro Gomes divulgou nesta terça-feira (04/10) um vídeo em que afirma que pretende seguir a decisão do seu partido, o PDT, que mais cedo anunciou apoio ao petista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno contra Jair Bolsonaro.

Sem citar nominalmente Lula em qualquer momento, Ciro disse que "acompanha as decisões do partido" e que, "frente às circunstâncias", o caminho adotado pelo PDT é "a última saída".

No vídeo, Ciro evita especificar qual foi a "decisão" do seu partido – só é possível entender a mensagem graças à diretriz partidária divulgada mais cedo pela cúpula do PDT.

Ainda fazendo uso da linha adotada por sua campanha, Ciro também fez equivalências – indiretas – entre o social-democrata Lula e o extremista de direita Bolsonaro.

"Lamento que a trilha democrática tenha se afunilado a tal ponto que reste aos brasileiros duas opções, ao meu ver, insatisfatórias", disse Ciro.

O pedetista também afirmou não acreditar que "a democracia esteja em risco neste embate eleitoral". Na sequência, no que pareceu um recado ao PT, que na reta final do primeiro turno lançou uma campanha de "voto útil" para conseguir votos de eleitores de Ciro, o candidato do PDT afirmou que foi "vítima de uma campanha violenta" e que "nunca se ausentou".

Por fim, Ciro disse que não pretende pedir cargos em "eventual futuro governo" – novamente sem especificar de quem seria esse governo.

"Adianto que não pleiteio e não aceitarei qualquer cargo em eventual futuro governo. Quero estar livre ao lado da sociedade, em especial da juventude, lutando por transformações profundas, como as que propusemos durante a campanha", disse.

Antes que o vídeo fosse divulgado, o presidente do PDT, Carlos Lupi, afirmou que a candidatura de Lula é "a mais próxima" do PDT. Ele ainda disse que Ciro participou da reunião que discutiu o tema e que o ex-presidenciável concordou "integralmente" com a decisão.

Em 2018, Ciro foi criticado logo após o primeiro turno por divulgar apenas um endosso protocolar ao petista Fernando Haddad na disputa pela Presidência contra Jair Bolsonaro. Na ocasião, Ciro evitou participar de atos ao lado do petista e viajou para a Europa por três semanas, voltando apenas para votar.

Angola | MEMÓRIA DOS CONSELHOS DE REDAÇÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Ismael Mateus quer uma polícia de “várias entidades” dentro dos Media. As direcções devem passar pelo crivo dessas forças policiais. E acha que os Conselhos de Redacção só devem meter-se na nomeação das chefias. Mas eles nasceram para representarem os jornalistas, que os elegem, em três situações: Zelarem pelo cumprimento escrupuloso do Estatuto Editorial, darem parecer sobre a nomeação da Direcção e garantirem o respeito pelos preceitos éticos e deontológicos. 

Em vários países das chamadas “democracias representativas” foram desferidos violentos ataques contra os Conselhos de Redacção. O primeiro foi este: O seu parecer sobre a nomeação da Direcção é meramente formal, nunca vinculativo. Jornalistas combativos e honrados, eleitos pelos seus pares, levaram aos Tribunais esta questão em vários países. E ganharam! Vários Acórdãos definem que o parecer do Conselho de Redacção sobre os membros da Direcção dos Media é vinculativo. O patrão era obrigado a indicar outros nomes se o parecer fosse negativo. 

Aconselho vivamente que Ismael Mateus ou outros interessados consultem o Acórdão do Tribunal da Relação do Porto sobre o parecer negativo do Conselho de Redacção à direcção do Jornal de Notícias (na época o maior jornal português) nomeada pela entidade patronal. A Justiça decidiu: o parecer é vinculativo! E fez jurisprudência. Os patrões, com o senhor Murdoch à frente, cortaram o mal pela raiz e extinguiram os órgãos representativos dos jornalistas. Como? Correram com todos os profissionais das Redacções e só lá ficaram as moças e moços de recados. Quando lhes falam em Conselho da Redacção puxam logo da pistola. Ismael Mateus quer criar uma espécie de polícia dos véus islâmicos, armada com o chicote da censura. É impossível descer tão baixo.

Aqui anuncio que os jornalistas Artur, Orlando, Teixeira e Queiroz vão responder ao ataque descabelado do Ismael Mateus à independência dos jornalistas e seus órgãos representativos. Mas é um truque. Porque Artur Orlando Teixeira Queiroz sou apenas eu. Segui o truque dos EUA quando anunciaram que vão responder ao míssil disparado pela Coreia do Norte, que sobrevoou o Japão e aterrou no oceano Índico. A notícia saiu assim: EUA, Coreia do Sul e Japão anunciaram que vão dar resposta a Pyongyang. Acontece que Japão e Coreia do Sul são bases militares norte-americanas e meras colónias do estado terrorista mais perigoso do mundo. Tal como a Alemanha, motor da União Europeia. 

Pobreza extrema em Angola "vai além da realidade estatística" do Governo, diz estudo

O problema da pobreza extrema em Angola "vai além da realidade estatística" apresentada pelas autoridades, revela um estudo sobre a execução do programa governamental de combate à pobreza.

O estudo elaborado e apresentado esta terça-feira (04.10), em Luanda, pela Associação de Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), analisou a execução do Programa de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (Pidlcp) nos municípios de Cacuso, província de Malanje, do Bailundo, província do Huambo, e da Ganda, província de Benguela.

A pesquisa, a que agência Lusa teve acesso, conclui que "o problema da pobreza extrema é ainda mais forte" do que se imagina, "uma vez que vai além da realidade estatística frequentemente apresentada pelo INE [Instituto Nacional de Estatística]".

"Os angolanos, em particular os que vivem em áreas mais recônditas, sentem a pobreza e sentem-na numa proporção asfixiante", refere-se no estudo.

De acordo com o documento, os inquiridos consideram preocupante a intensidade da pobreza.

Pidlcp sem impacto?

"Mais de metade diz que o Pidlcp não impactou a sua vida e não resolveu a situação mais urgente das comunidades, que são a fome, saúde, energia, água, mobilidade e educação”, adianta-se no estudo.

O inquérito conclui que o Pidlcp "foi ineficaz na promoção da educação e também na melhoria da qualidade dos serviços de saúde”, recomendando o aumento da verba para a merenda escolar e distribuição regular para dirimir o problema da desistência escolar.

Relativamente à saúde, a recomendação vai no sentido de se construir um hospital de médio porte em cada comuna, com acesso a ambulância e uma logística que supra as necessidades dos cidadãos.

No que toca à fome e aos níveis de desnutrição crónica registados, devido à depressão da atividade agrícola, tendo como efeitos o êxodo rural das famílias à procura de outras áreas agricultáveis, os inquiridos pretendem que o Governo invista na agricultura e os ajude a cultivar.

Em declarações à imprensa, à margem da apresentação do estudo, o diretor da Unidade de Projetos e Desenvolvimento da ADRA, organização que realizou o estudo no âmbito da implementação do seu plano estratégico 2018-2022, de monitorização às contas públicas, referiu que a pesquisa teve como objetivo central analisar "até que ponto é que este programa está a contribuir para a erradicação da pobreza nas zonas rurais”.

"O que nós constatamos é o seguinte: o programa ainda tem enormes desafios. As comunidades, na sua maioria, dos 187 inqueridos, dizem que o programa não resolveu os problemas concretos que concorrem na sua maioria para a qualidade de vida”, realçou Abílio Sanjaia.

Mais envolvimento das comunidades

Segundo o representante da ADRA, as comunidades apresentaram como principais preocupações a melhoria de serviços básicos, tendo-se constatado que o programa "contribuiu muito pouco para atender às necessidades que eles colocaram”.

O responsável destacou também a necessidade de se assegurar o envolvimento das comunidades em todas as fases do planeamento das ações, todavia, "o que se constatou é que ainda é um desafio".

Abílio Sanjaia realçou que uma diretiva do Governo, com o apoio técnico do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), obriga que as administrações municipais consultem as comunidades para a elaboração orçamental, ação que conta igualmente com o apoio de organizações da sociedade civil.

"A ADRA foi uma delas, desencadeámos esse processo, ajudámos metodologicamente à recolha das principais prioridades em cada comuna, em sede da elaboração do orçamento, pensamos que este é o caminho, porque os municípios recebem mensalmente 25 milhões de kwanzas (53.376 euros), que anualmente totaliza os 300 milhões de kwanzas (640.521 euros). As necessidades são ilimitadas, mas os recursos são limitados, então é importante que este dinheiro que é disponibilizado responda, atenda, às principais prioridades das comunidades”, vincou.

Deutsche Welle | Lusa

FIDEL QUADÉ VIVE NA RÚSSIA E DIZ "A VIDA CORRE BEM" - pior é envio de dinheiro

Guineense diz que a vida na Rússia "corre bem", apesar da guerra na Ucrânia

A vida na Rússia "corre bem", admite Fidel Quadé, um guineense a viver no país. Apesar do aumento dos preços em fevereiro, a situação melhorou e a única dificuldade agora é o envio de dinheiro para o estrangeiro, diz.

Enquanto vários países ocidentais pedem aos seus cidadãos para saírem da Rússia, e numa altura em que as ameaças nucleares de Moscovo sobem de tom, o jornalista guineense Fidel Quadé, naturalizado russo e a viver na cidade de Ivanovo há 18 anos, diz-se "tranquilo".

Em entrevista à DW, o jornalista afirma que não teme a mobilização de mais pessoas para a guerra e acrescenta que as sanções do Ocidente quase não se notam no dia a dia na Rússia, mesmo depois de dezenas de empresas multinacionais terem saído do país. A vida na Rússia "corre bem", garante.

Segundo Quadé, os russos já aprenderam a viver com as sanções e a inflação está a baixar. Para ele, o único problema é o envio de dinheiro para o estrangeiro, uma situação que está a perturbar vários cidadãos a residir na Rússia.

DW África: Como estão os guineenses que vivem na Rússia após o início do conflito com a Ucrânia?

Fidel Quadé (FQ): Por enquanto, estamos todos bem. Você disse conflito, mas nós aqui somos obrigados a dizer "operação militar especial". Desde o seu início, no dia 24 de fevereiro, estamos bem, sem qualquer tipo de preocupação com o dia em que seremos chamados para fazer algo. A maioria dos guineenses que se encontram aqui são estudantes. Os estudantes não têm nada a ver com o que está a acontecer.

DW África: Mas a guerra mudou a rotina dos estudantes?

FQ: Desde o dia 24 de fevereiro até aqui, tudo continua da mesma forma. Quem tem aula presencial, vai à aula presencial. Quem tem aula online, assiste à aula online. Nenhuma instituição do Estado parou, nem os privados.

DW África: Como está o custo de vida? Os preços aumentaram? Sentiram alguma diferença?

FQ: Logo de início, no dia 24 de fevereiro, sim, houve um aumento dos preços e muitos produtos desapareceram das prateleiras das lojas. Fizeram tudo o que foi possível durante as duas primeiras semanas da operação militar, então tudo se restabeleceu. A única coisa que estamos a sentir é que, para quem tem filhos na Guiné-Bissau, por exemplo, estamos a ter dificuldades em enviar dinheiro para pagar os seus estudos, fazer as suas compras e [dar apoio financeiro noutras] coisas que estão a necessitar.

DW África: Na Alemanha, os preços dispararam. Aí na Rússia, está tudo normal?

FQ: Sim, por enquanto. Aqui tudo está razoável. Como eu disse, nas primeiras duas semanas, houve um aumento galopante. Mas houve esforços para que tudo isso fosse coberto com produtos aqui da terra [Rússia].

DW África: O que acham os russos sobre o que está a acontecer na Ucrânia e sobre estas sanções impostas pela União Europeia à Rússia?

FQ: Nunca encontrei ninguém nos transportes públicos ou privados a falar sobre esse assunto. Como digo sempre, os russos são um povo fechado, que não se abre com ninguém. Vocês discutem os assuntos nos comboios, nos transportes públicos, mas aqui não.

DW África: E com a mobilização de centenas de milhares de soldados por parte da Rússia, acha que poderá ser algum dia convocado para apoiar o Exército russo?

FQ: Se me chamarem, vou de braços abertos. Mas não espero isso. Sei que não vou ser chamado, independentemente da profissão que estudei, que é o jornalismo. O país não carece de homens no ativo, sem contar com os reservistas. Não acho que os estrangeiros possam ser chamados. Isso tem requisitos e depende da idade em que a pessoa se naturalizou, porque a lei russa diz que, ao naturalizar-se depois dos 27 anos de idade, não tem de cumprir o serviço militar.

Braima Darame | Deutsche Welle

ASSALTO NEOCOLONIAL ÀS MATÉRIAS-PRIMAS -- Martinho Júnior

Martinho Júnior, Luanda

NUM PLANETA ESGOTADO, REDUZ-SE A MARGEM DE MANOBRA DOS QUE “COMPETEM” EM CONFORMIDADE COM A HEGEMONIA UNIPOLAR.

… “O Ocidente está disposto a passar por cima de tudo para preservar o sistema neocolonial que lhe permite parasitar, de fato, saquear o mundo à custa do poder do dólar e dos ditames tecnológicos, cobrar tributos reais da humanidade, extrair a fonte principal de prosperidade imerecida, a renda do hegemon. 

A manutenção dessa renda é seu motivo principal, genuíno e absolutamente egoísta. É por isso que a total dessoberania é do seu interesse. 

Daí sua agressão aos Estados independentes, aos valores tradicionais e às culturas originais, tentativas de minar processos internacionais e de integração fora de seu controle, novas moedas mundiais e centros de desenvolvimento tecnológico. É fundamental para eles que todos os países entreguem sua soberania aos Estados Unidos”…

Extraído do texto do discurso de Putin, atacando o ocidente neocolonial – https://consortiumnews.com/2022/09/30/text-of-putins-speech-blasting-neo-colonial-west/https://paginaglobal.blogspot.com/2022/10/o-que-disse-putin-aos-que-compareceram.html.   

DA PIRATARIA À SABOTAGEM TERRORISTA

O choque e a terapia neoliberal têm servido, desde a era de Ronald Reagan & Margareth Thatcher no início da década de 90 do século XX, para que o império da hegemonia unipolar imponha ao Sul Global alargado as regras de seu interesse exclusivista e de sua conveniência elitista, eminentemente anglo-saxónica.

Isso começou a acontecer precisamente no momento do após Revolução Industrial em que a sede de poder e de lucro está a levar a humanidade a esgotar em meio ano o que a Mãe Terra só pode recompor num ano, forçando a profundas alterações climático-ambientais e atentando contra a vida, tal qual a conhecemos.

Nunca será por demais evocar esta conclusão que é também um alerta para a probabilidade do fim da espécie!

O neocolonialismo de carácter obsessivo assalta as matérias-primas como junca antes e por isso os que pretendem continuar com essa senda, inibem as oportunidades de desenvolvimento sustentável indispensável aos povos, algo que passou a ser completamente incompatível face à voracidade “do sistema” imperial.

Não havendo mais espaço ético, moral e substantivo para a “competividade” que serve à hegemonia unipolar, o assalto às matérias-primas intensificou-se desde o início do século XXI, explorando o êxito da queda da União Soviética, o fim do Pacto de Varsóvia, o abandono do socialismo e a imposição duma “ordem” mediante “regras”, que são garantidas para a sobrevivência de multinacionais que são detidas por “casas bancárias” ao serviço de 1% da humanidade, contra as mais legítimas aspirações de cooperação, solidariedade e socialismo de todos os demais…

Sendo, mesmo com o desaparecimento da União Soviética, a Federação Russa o maior depósito global de riquezas naturais (matérias-primas) à escala global, é lógico que fosse colocada com o alvo principal a abater, ou seja o alvo em que com toda a potência unipolar se tenta “dividir e dividir para melhor reinar”!

A Federação Russa todavia ganhou consistência emergente equacionada nas versatilidades da cooperação, da solidariedade, do diálogo sociocultural e político em busca de consensos multilaterais, com base na sua própria antropologia e história milenar e deixou de ser o alvo fácil decorrente da década de 90 do século XX (que marcou a devassa do fim da União Soviética).

Desse modo a Federação Russa passou a integrar o cortejo das resistências do Sul Global face ao imperialismo da hegemonia unipolar, não se deixando neocolonizar!

É esse o significado maior do que se pode já considerar como “doutrina Putin”, primeiramente enunciada quando no Médio Oriente Alargado o “hegemon” tentou o assalto da Síria!

Há que pôr termo à exploração desenfreada do planeta motivada pelo egoísmo exacerbado duns quantos, por que o planeta exige cada vez mais cooperação entre os povos, as nações e os estados e é incompatível desequilibrar ainda mais do que tem sido desequilibrado, não só sob pena de exaustão, mas sob pena de fim da espécie, quando a humanidade atinge a escala de mais de 7 mil milhões de seres!

Para não esquecer: da pirataria, roubo e extorsão dos produtos energéticos da Venezuela e do Irão, o “ocidente” passou à sabotagem terrorista dos dutos russos!...

Ocidente está desacreditando a OTAN ao alegar que a Rússia explodiu o Nord Stream

Andrew Korybko* | One World

A versão distorcida dos eventos implícitos nessa narrativa armada sugere que o Kremlin pode destruir a infraestrutura parcialmente de propriedade da OTAN com impunidade, o que expõe o bloco como um tigre de papel.

#Traduzido em português do Brasil

A alegação de notícias falsas da Western Mainstream Media (MSM) liderada pelos EUA de que a Rússia explodiu os oleodutos do Nord Stream é contraproducente para os interesses narrativos de seu próprio lado. Ao inventar a grande história de que essa potência mundial recém-restaurada atacou a infraestrutura da Alemanha aliada da OTAN nas mesmas águas que o próprio bloco controla e se safou impune, esses gerentes de percepção estão desacreditando as garantias de defesa mútua dessa aliança anti-russa. conforme consagrado no artigo 5 º .

A realidade é que “ O Eixo Anglo-Americano se Beneficia do Ataque Terrorista Ecológico no Mar Báltico ” pelas razões explicadas na análise de hiperlink anterior que foi compartilhada na semana passada. Cortou a última chance restante, por mais fraca que sempre tenha sido, de uma eventual reaproximação russo-alemã, ao mesmo tempo em que acelerava a ascensão da Polônia como uma grande potência regional para esse mesmo eixo explorar para dividir e governar ainda mais a Europa Continental. Além disso, também é óbvio que os EUA lucram econômica e estrategicamente ao se tornarem o maior fornecedor de GNL da UE .

Voltando à desinformação que seu lado está vomitando, no entanto, seguir esse fluxo falso levanta a questão de por que o Artigo 5 não foi invocado para responder de forma simétrica ou assimétrica ao que esses propagandistas afirmam persistentemente ser um chamado “ataque terrorista russo”. A versão distorcida dos eventos implícitos nessa narrativa armada sugere que o Kremlin pode destruir a infraestrutura parcialmente de propriedade da OTAN com impunidade, o que expõe o bloco como um tigre de papel.

Além disso, também levanta dúvidas sobre se a Rússia está realmente sendo derrotada “apenas” pela Ucrânia, como o MSM também afirmou, e não pelo que é realmente uma força totalmente apoiada pela OTAN, uma vez que não faz sentido que esse seja o caso se o O primeiro mencionado também é tão poderoso a ponto de explodir um oleoduto em águas controladas pela OTAN sem ser pego em flagrante. O público-alvo que caiu nessas duas alegações falsas pode, portanto, experimentar dissonância cognitiva.

É improvável que eles percebam que estão sendo enganados, mas os menos ingênuos entre eles podem eventualmente suspeitar que algo ruim está acontecendo e que confiar em tudo o que o MSM lhes diz só leva a mais confusão em vez de clareza que eles estão procurando. Também poderia inadvertidamente causar medo em seus corações se eles chegassem à conclusão de que todos os funcionários ocidentais mentiram consistentemente quando prometeram acionar o Artigo 5 se algo relacionado a qualquer um deles fosse atacado pela Rússia.

Há várias lições a serem aprendidas com essa prática desleixada de guerra de informação . Primeiro, essas narrativas armadas que são fabricadas artificialmente para conveniência de curto prazo não devem contradizer aquelas que são fabricadas artificialmente para fins estratégicos de longo prazo. Em segundo lugar, o próprio fato de que isso aconteceu no estudo de caso examinado prova que os gerentes de percepção dos HSH não são tão profissionais quanto alguns poderiam ter assumido anteriormente.

Terceiro, a falta de uma correção de curso (ainda que gradual) depois de quase uma semana mostra que mesmo aqueles profissionais entre eles no topo da hierarquia da guerra de informação ou não perceberam o quão contraproducentes as táticas mais recentes de seus subordinados foram para sua causa, podem não forçá-los a mudar de marcha sob demanda, ou simplesmente não se importam. Em quarto lugar, a última possibilidade é provavelmente a mais provável, já que aqueles no Ocidente que fazem guerra de informação assumem que seu público-alvo é estúpido.

E quinto, o presidente Putin estendeu a credibilidade precisamente a esse ponto ao declarar na sexta-feira durante seu discurso histórico que “A verdade foi afogada em um oceano de mitos, ilusões e falsificações, usando propaganda extremamente agressiva, mentindo como Goebbels. Quanto mais inacreditável a mentira, mais rápido as pessoas acreditarão – é assim que elas operam, de acordo com esse princípio.” A mentira sobre a Rússia explodir o Nord Stream é igualmente inacreditável, mas cair na verdade contraria os interesses da OTAN.

*Andrew Korybko -- analista político americano

Ler em Página Global:

ATO DE GUERRA CONTRA A UNIÃO EUROPEIA?

MAIS EVIDÊNCIAS APONTAM PARA A SABOTAGEM EUA-OTAN DO NORD STREAM

QUEM FOI?

O QUE DISSE PUTIN AOS QUE COMPARECERAM NO KREMLIN

OS LIMITES DA MUDANÇA NA GRÃ-BRETANHA

A mesma “disciplina de mercado” que atualmente dá ao novo primeiro-ministro britânico um nariz sangrando teria esmagado um programa de Corbyn se ele tivesse conquistado o poder, escreve Jonathan Cook. 

Jonathan Cook  -  Jonathan-Cook.net | em Consortium News

#Traduzido em português do Brasil

Há duas lições a aprender com a atual crise econômica do Reino Unido – e os comentaristas estão obscurecendo ambas

A primeira e mais óbvia conclusão é que a Grã-Bretanha tem um sistema político e de mídia completamente disfuncional. Permitiu que dois carreiristas medíocres e sem noção, como a primeira-ministra Liz Truss e a chanceler Kwasi Kwarteng, atingissem o ápice da pirâmide de poder – e depois destruíssem a economia porque se recusaram a ouvir conselheiros econômicos cujo único trabalho era impedi-los de sabotar um sistema cuidadosamente calibrado para manter um esquema Ponzi transatlântico projetado para enriquecer uma elite rica enquanto destrói o planeta.

Como Noam Chomsky observou com bastante frequência no contexto mais amplo das democracias ocidentais, o establishment britânico tem – ou pelo menos costumava ter – um sistema de filtragem muito eficiente para eliminar não apenas aqueles ideologicamente inadequados para apoiar a estrutura hierárquica de privilégio que ele tinham construído cuidadosamente, mas também aqueles que não tinham temperamento ou peso intelectual para fazê-lo. O sistema foi projetado para impedir que qualquer pessoa alcançasse uma posição de influência significativa, a menos que pudesse contribuir de forma confiável para manter o sistema em ordem para a elite.

Os sinais são que, à medida que o capitalismo em estágio avançado se depara com as frias realidades de um mundo físico com o qual está em conflito e do qual procura nos distrair – com políticas de identidade agressivas, a cultura do “É tudo sobre mim” e as redes sociais – a eficácia desses filtros está se deteriorando, para o bem e para o mal.

É por isso que narcisistas perigosos como o ex-presidente dos EUA Donald Trump e o ex-primeiro-ministro do Reino Unido Boris Johnson estão cada vez mais flutuando no topo. É também por isso que socialistas autênticos e moderados, como Jeremy Corbyn e Mick Lynch, do sindicato ferroviário, bem como Bernie Sanders nos Estados Unidos, ganharam mais dinheiro do que o establishment jamais pretendia.

A elevação de Truss a primeiro-ministro, imediatamente após o festival de compadrio e corrupção de Johnson, demonstra que esses filtros não funcionam mais. O sistema está desmoronando ideologicamente com a mesma certeza que a infra-estrutura das cadeias de suprimentos e gasodutos está se desintegrando materialmente. Estamos preparados para um passeio difícil nas mãos de trapalhões e vigaristas em série nos próximos anos.

Mais de 330.000 mortes em excesso na Grã-Bretanha ligadas à austeridade - estudo

Mortes adicionais nos oito anos anteriores à pandemia de Covid podem refletir pessoas morrendo prematuramente devido à redução de renda, problemas de saúde, má nutrição e moradia e isolamento social. Fotografia: Guerilla/Alamy

Pesquisa surge quando governo sinaliza nova rodada de cortes de gastos públicos

Patrick Butler – The Guardian - Quarta-feira, 5 de outubro de 2022 00.01 BST

Mais de 330.000 mortes em excesso na Grã-Bretanha nos últimos anos podem ser atribuídas a cortes de gastos em serviços públicos e benefícios introduzidos por um governo do Reino Unido que busca políticas de austeridade, de acordo com um estudo acadêmico.

#Traduzido em português do Brasil

Os autores do estudo sugerem que mortes adicionais entre 2012 e 2019 – antes da pandemia de Covid – refletem um aumento de pessoas que morrem prematuramente após sofrerem redução de renda, problemas de saúde, má nutrição e moradia e isolamento social.

As tendências de mortalidade que anteriormente melhoraram começaram a mudar para pior após as políticas de austeridade introduzidas em 2010, quando dezenas de bilhões de libras começaram a ser cortadas dos gastos públicos pelo governo de coalizão liderado pelos conservadores, segundo o estudo.

O estudo, publicado no Journal of Epidemiology and Community Health, descobriu que houve 334.327 mortes em excesso além do número esperado na Inglaterra, País de Gales e Escócia durante o período de oito anos.


As conclusões surgem quando o atual governo conservador sinalizou uma nova rodada de grandes reduções de gastos públicos após a crise financeira precipitada por seu miniorçamento, incluindo propostas para impor um corte em termos reais nos benefícios para milhões de pessoas em idade ativa.

O documento, liderado pela Universidade de Glasgow e pelo Centro de Saúde da População de Glasgow, concluiu que havia uma “necessidade clara e urgente” de reverter essas políticas e implementar novas estratégias que protejam os mais vulneráveis ​​da sociedade.

O professor Gerry McCartney, professor de economia do bem-estar da Universidade de Glasgow e coautor do artigo, disse: “À medida que o governo do Reino Unido debate a direção econômica atual e futura, ele precisa entender e aprender com os efeitos devastadores que os cortes à segurança social e serviços vitais tiveram sobre a saúde da população em todo o Reino Unido.”

A coautora Ruth Dundas, professora de epidemiologia social da Universidade de Glasgow, disse: “Este estudo mostra que no Reino Unido é provável que muito mais mortes tenham sido causadas pela política econômica do governo do Reino Unido do que pela pandemia de Covid-19. ”

O excesso total de mortes incluiu 237.855 entre homens na Inglaterra e País de Gales e 12.735 entre homens na Escócia. Houve 77.173 mortes femininas em excesso na Inglaterra e no País de Gales e 6.564 na Escócia.

As taxas de mortalidade entre as mulheres que vivem nas áreas 20% mais carentes da Inglaterra aumentaram 3% após um declínio de 14% na década anterior. Na Escócia, as mortes prematuras nas quintas áreas mais carentes aumentaram de 6% a 7% entre homens e mulheres, após reduções anteriores de 10% a 20%.

Estudos anteriores associaram políticas de gastos de austeridade em saúde e assistência social ao excesso de mortes na Inglaterra , bem como a uma desaceleração da expectativa de vida entre os indivíduos mais carentes.

Um porta-voz do governo do Reino Unido disse: “Nosso plano de crescimento proporcionará crescimento econômico em todo o Reino Unido – que é a melhor maneira de elevar os padrões de vida para todos. Também estamos apoiando famílias com preços crescentes por meio de nossa garantia de preço de energia, economizando cerca de £ 1.000 por ano para a família média nos próximos dois anos e fornecendo pelo menos £ 1.200 de custo de vida adicional para 8 milhões dos mais vulneráveis ​​​​do Reino Unido lares.”

O secretário de saúde escocês, Humza Yousaf, disse: “Esta é uma descoberta chocante que sublinha o verdadeiro custo humano da austeridade e reforça a necessidade urgente de o governo do Reino Unido mudar o rumo de suas atuais propostas orçamentárias”.

A secretária-geral do sindicato Unison, Christina McAnea, disse: “A austeridade nunca pode ser uma solução. Foi um experimento fracassado que teve repercussões terríveis para as comunidades em todo o Reino Unido e custou muitas vidas.”

Patrick Butler - Editor de política social

Gabinete de Truss em guerra aberta sobre políticas-chave e acusações de golpe

A disciplina ministerial é interrompida quando o secretário do Interior acusa colegas conservadores de tentar derrubar o governo

Rowena Mason Jessica Elgot Rajeev Syal Peter Walker | The Guardian

O gabinete de Liz Truss está em guerra aberta sobre a reviravolta fiscal de 45 centavos e os cortes de benefícios, com o secretário do Interior acusando outros parlamentares conservadores de um golpe contra o primeiro-ministro.

#Traduzido em português do Brasil

Em outro dia caótico na conferência do Partido Conservador, a disciplina ministerial entrou em colapso, com colegas do gabinete discordando sobre as principais políticas e acirradas disputas internas sobre a decisão de abandonar os planos de abandonar a taxa máxima de impostos.

Em alguns dos comentários mais provocativos, Suella Braverman disse que estava “decepcionada” com a reviravolta – e sugeriu que os parlamentares conservadores estavam tentando derrubar o governo de Truss.

O ministro do Interior foi apoiado por Simon Clarke, o secretário de nivelamento, mas criticado por Kemi Badenoch, o secretário de Comércio, que disse que a conversa sobre um golpe era “inflamatória”.

Braverman parecia estar mirando nos ex-ministros Michael Gove e Grant Shapps, que dominaram o primeiro dia do evento de Birmingham ao criticar a abolição da taxa de imposto de 45p .

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