Artur Queiroz*, Luanda
José de Carvalho era um ginasta do outro mundo. Quando os mais velhos tinham aulas de educação física no ginásio do liceu Salvador Correia eu “fugava” à minha aula só para os ver saltar no plinto e darem saltos mortais à frente e à retaguarda. O Lucas, o Cuco Rosa, o Espírito Santo e o Leandro também eram grandes ginastas. Eu treinei, insisti, treinei e quando tentei saltar o plinto em voo, ia partindo o pescoço.
Nunca fui dos que desistem à primeira e fui insistindo até conseguir. Depois passei para os saltos mortais sob orientação do professor Daniel Leite. Nunca atingi a perfeição do nosso Herói Nacional Hoji ia Henda (José de Carvalho) mas na praia dos Rotários fiz muito flic flac com um salto mortal encarpado no fim, para impressionar as meninas sanguitas. Um quarto que aluguei no Bairro Operário, não tinha cama. O senhorio pôs dois luandos no chão e por cima um colchão de pano riscado, cheio com folhas de milho e algodão descaroçado. Para impressionar a minha amada Canducha começava a fazer flic flacs no quintal e só acabava no colchão, já pronto para amar.
Não sei o que se passa com os outros ginastas mas eu não tinha noção dos limites. Um dia estávamos na esplanada do Majestic e para impressionar umas miúdas mistícias na mesa ao lado, afastei-me e comecei a fazer flic flacs à retaguarda. Acabei com um mortal. Era suposto ficar sentado na cadeira, mesmo de frente para as moreninhas. Falhei e fiquei todo amachucado. Acontece aos melhores. O Ninito (Banga Ninito!)disse que não devemos praticar ginástica de alto risco e beber ao mesmo tempo. Foi isso que me levou ao falhanço. Desde então abandonei a ginástica. Beber dá quase tanto prazer como a música e a poesia.
Isto para vos falar dos desastres dos portugueses no Norte de África. A primeira investida contra Ceuta e Tânger deu resultado. Depois as coisas complicaram-se e o infante D. Fernando, o Santo, organizou uma cruzada contra os infiéis. Entrou em Marrocos com a espada numa mão e a cruz na outra. Aquilo correu mal e foi feito prisioneiro, corria o ano de 1437. Levaram-no para Fez e lá morreu santificado. Foi o primeiro grande desastre no Norte de África.
O segundo foi mais trágico. O rei português D. Sebastião avançou com muita tropa para Marrocos e no dia 4 de Agosto de 1578, participou na batalha de Alcácer Quibir. Desapareceu sem deixar rasto. O mais provável é que tenha morrido. Os fidalgos portugueses que o acompanharam e foram presos em combate, disseram que o jovem rei foi muito maltratado. Nunca apareceu, nem morto nem vivo. Nem como fantasma. Nem a sua alma se apresentou nas noites mais tenebrosas, reclamando o trono.
Na época, começou a circular, em
segredo, que o rei ia voltar de Marrocos, numa noite envolta em espeço
nevoeiro. Ainda hoje quando a névoa não deixa ver um palmo à frente do nariz,
muita gente fica alerta esperando sua majestade. Parece que o Tio Célito até
montou um posto de vigia