sábado, 11 de fevereiro de 2023

Portugal | Mais de 150 mil pessoas na manifestação de professores em Lisboa

Professores voltaram a participar em mais uma manifestação nacional, em Lisboa. Segundo a organização, quando os primeiros manifestantes começaram a chegar ao Terreiro do Paço, os últimos ainda não tinham saído do Marquês de Pombal.

O secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, estimou este sábado em mais de 150 mil os participantes na manifestação de professores, em Lisboa, a "maior de sempre" no país.

"Hoje estamos a apontar, sem medo de errar, para dizer que nas ruas, [entre] professores, as famílias e gente solidária, esta manifestação teve mais de 150.000 a descer a Avenida [da Liberdade] ", disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), no discurso de encerramento do protesto, no Terreiro do Paço.

O dirigente sindical disse que esta foi "provavelmente" a "maior manifestação de sempre de professores e educadores em Portugal".

Segundo a organização, quando os primeiros manifestantes começaram a chegar ao Terreiro do Paço, os últimos ainda não tinham saído do Marquês de Pombal.

Os professores voltaram este sábado a participar em mais uma manifestação nacional, em Lisboa, convocada pela Fenprof, mas também com a participação da Federação Nacional de Educação (FNE) e outras sete organizações sindicais, bem como da Associação de Oficiais das Forças Armadas e de representantes da PSP.

As duas últimas grandes manifestações em Lisboa aconteceram em janeiro e foram organizadas pelo S.TO.P., levando milhares de docentes para as ruas gritar por "Respeito" e "Melhores Condições de Trabalho".

“Governo tem de perceber que não pode andar atrás de contas certas”

A secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, também marcou presença no protesto e, em declarações aos jornalistas, a caminho do Terreiro do Paço, sublinhou que, "a cada reunião com o Ministério [da Educação] os professores estão a vir ainda em maior numero à luta, às manifestações, à greve".

“Que se mudem as opções, o Governo tem de perceber que não pode andar atrás de contas certas, deixando que a escola pública, a saúde e um conjunto de serviços que é o Estado que tem de garantir estejam a perder qualidade, que haja um desinvestimento e subfinanciamento à conta de umas contas certas que só são contas certas para as grandes potências da União Europeia, não são contas certas para os portugueses, para o desenvolvimento do nosso país”.

SIC Notícias | Lusa

A SOCIABILIDADE CANIBAL

Não se está a falar das sociedades que se costuma chamar de primitivas. Não, de modo algum. Está-se a falar do capitalismo. “Capitalism is back” - diz a autora que cunhou o termo “cannibal capitalism”, tendo por referência os Estados Unidos da América do Norte.

Eleutério F. S. Prado [*]

Karl Marx, como se sabe, empregou a metáfora do “vampiro” para caracterizar a relação de capital, ou seja, o capital, porque ele suga o mais-valor dos trabalhadores, afirmando, ademais, que vem a ser um sujeito insaciável. Anselm Jappe denotou o capitalismo como uma sociedade autofágica para ressaltar que, se parece racional e é assim apreendido pelos economistas apologéticos, tende na verdade à desmedida e à autodestruição. Nancy Fraser, num livro recém-publicado, diz que o capitalismo é canibal pois ele, que atravessa agora o seu ocaso, está devorando a democracia, os cuidados reprodutivos, assim como as pessoas e o próprio planeta.

Em Cannibal capitalism (Verso, 2022), ela quer descobrir as fontes sociais desse destino infausto e aparentemente inesperado. Busca, assim, encontrar uma melhor caracterização do capitalismo contemporâneo que assoma como gerador de insegurança e desesperança, pois mantém e agrava uma coleção de impasses humanitários: dívidas impagáveis, empregos extenuantes, trabalho precário, violência racial e de gênero, pandemias assassinas, extremos climáticos etc., negando na prática o que fora prometido há pelos menos dois séculos e meio passados por meio do progresso e do iluminismo. Capitalismo canibal – diz a professora e filósofa da New School for Social Research de Nova York – “é o meu termo para designar um sistema social que nos trouxe a esse ponto”.

Se esse termo fora empregado pelo colonialismo predatório ocidental para designar os negros africanos e, assim, para menosprezar as suas sociedades e culturas, agora ele se afigura ironicamente adequado para se referir à sociabilidade especificamente capitalista que prosperou de modo extraordinário no próprio Ocidente. Sim, trata-se de um deboche. Não se consome aí carne humana, mas apenas em sentido literal. Eis que está ficando patente até para os positivistas – e mesmo (de modo implícito) para os negacionistas – que esse sistema social, para continuar subsistindo, canibaliza e tem de canibalizar (no sentido de predar) cada vez mais as famílias, as comunidades, os ecossistemas, os bens públicos etc.

Em particular, sem qualquer novidade histórica, o evolver desabalado do sistema do capital corrompe – agora, de maneira decisiva – os comuns mais importantes que permitem a existência da humanidade. Para apreender essa dimensão, Fraser emprega também a metáfora do euroboros, a serpente que abocanha a própria cauda. Segundo ela, trata-se de uma “imagem adequada, pois este vem a ser um sistema que está programado para devorar as bases naturais, sociais e políticas de sua própria existência” – e, assim, da existência humana.

Para Fraser – e essa é a sua contribuição original –, é preciso abandonar de modo radical o economicismo. Eis que, para ela, não basta afirmar que a estrutura econômica determina apenas em última instância a superestrutura; não é suficiente dizer que essa estrutura apenas condiciona o modo de ser das formas institucionais, sociais e culturais constitutivas da sociedade e que essas formas advêm por meio muitos graus de liberdade. Diferentemente, ela julga necessário reformular o próprio conceito de capitalismo.

Ao invés de tomá-lo como se referindo apenas ao sistema econômico, dever-se-ia considerar que apreende o sistema social de uma maneira bem abrangente: “neste livro” – diz – “capitalismo não se refere a um tipo de economia, mas a um tipo de sociedade” em que não apenas se explora os trabalhadores, mas também em que se pratica uma apropriação dos recursos em geral, sejam estes da natureza sejam eles das pessoas não agenciadas diretamente na produção e na circulação mercantil.

O capitalismo, sim, está baseado na propriedade privada dos meios de produção e nas transações por meio dos mercados e, assim, no trabalho assalariado e na geração continua de mais e mais, mais-valor. Eis que o circuito M – D – M, que forma a aparência do modo de produção, é apenas uma condição subordinada do circuito D – M – D’, que constitui a sua essência.

Sismo na Síria | SANÇÕES DO OCIDENTE VIGORAM NA AJUDA HUMANITÁRIA?

Enquanto Cuba, Venezuela, Irão e China estão apressando a ajuda à Síria atingida pelo terramoto, os EUA mantêm as sanções

O Tesouro dos EUA emitiu uma renúncia de 180 dias a certas sanções impostas à Síria para permitir alívio do terramoto. No entanto, os EUA e seus aliados ainda não ofereceram assistência significativa à Síria, mesmo quando Venezuela, China, Palestina e outros enviaram ajuda e especialistas.

Na quinta-feira, 9 de fevereiro, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos anunciou uma suspensão temporária de certas sanções impostas à Síria para facilitar os esforços de socorro e recuperação no país atingido pelo terramoto. A medida segue a crescente indignação internacional e apelos públicos, inclusive do governo sírio e de países como Venezuela e China, para remover as sanções brutais e ilegais que os EUA impuseram a Damasco.

Pelo menos 21.719 pessoas morreram - até 10 de fevereiro - depois que um terremoto de magnitude 7,8 em 6 de fevereiro devastou grandes partes do sul e centro da Turquia, bem como do norte e oeste da Síria. Mais de 79.000 pessoas ficaram feridas e mais de 3,7 milhões foram deslocadas desde então, com operações de resgate ainda em andamento em busca de sobreviventes em meio aos tremores secundários.

O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro dos EUA (OFAC)  emitiu  uma licença geral síria (GL) 23, “que autoriza por 180 dias todas as transações relacionadas ao alívio do terremoto que seriam proibidas pelos Regulamentos de Sanções da Síria (SySR). ”

Dirigindo-se a uma coletiva de imprensa conjunta na sede das Nações Unidas em 7 de fevereiro, o Representante Permanente da Síria na ONU, Bassam al-Sabbagh,  explicou  como as sanções estavam impedindo o acesso e a ajuda humanitária: “Muitos aviões de carga se recusam a pousar nos aeroportos sírios por causa das sanções europeias. Então, mesmo aqueles países que querem enviar ajuda humanitária, não podem usar a carga do avião por causa das sanções.”

O chefe do Crescente Vermelho Sírio, Khaled Hboubati,  afirmou  durante uma coletiva de imprensa na terça-feira que “não há combustível nem para enviar comboios [de ajuda e resgate], e isso é por causa do bloqueio e das sanções”.

PROPAGANDA MADE IN EUA: ÁGUIA ABATIDA OU OUTRO OBJETO VOADOR INVASIVO?


O último abate de outro objeto aéreo não tripulado pelos EUA provavelmente foi apenas um golpe publicitário

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

Ao realizar esta última façanha, o Pentágono e a Casa Branca gerariam publicidade positiva para ambos, com o primeiro sendo elogiado por detectar imediatamente um objeto muito menor e o segundo aplaudido por derrubá-lo imediatamente, em vez de esperar dias como da última vez.

Biden ordenou que os militares abatessem um objeto aéreo não tripulado na sexta-feira que estava sobrevoando o espaço aéreo do Alasca, o que representa o segundo abate dos EUA em menos de uma semana. Ao contrário do primeiro incidente, atualmente não está claro quem operou o segundo objeto, e um oficial americano não identificado disse que parecia não ter o equipamento de vigilância que o balão chinês supostamente possuía. De qualquer forma, ainda foi um evento dramático, embora suscite muitas perguntas sobre o que aconteceu.

Para explicar, é altamente improvável que este segundo objeto aéreo tenha sido tripulado pela China, cuja liderança política ficou constrangida com o primeiro incidente que uma facção linha-dura anti-EUA nas forças armadas provavelmente foi responsável por provocar com a intenção de sabotar o Novo Sino-Americano. Détente. A falta relatada de equipamento de vigilância também dá credibilidade à conjectura de que não foi operado por um ator estatal de qualquer tipo.

O secretário de imprensa do Pentágono, Brig. da Força Aérea. O general Pat Ryder disse que esse objeto aéreo muito menor e menos sofisticado foi abatido porque supostamente representava uma ameaça razoável à segurança dos vôos civis por voar a cerca de 40.000 pés, ao contrário da média de 60.000 do balão chinês. Esta é uma explicação plausível, mesmo que não possa ser verificada de forma independente, mas, no entanto, o momento deste incidente e a reação totalmente diferente a ele pelos EUA nos faz pensar se não foi uma façanha.

Afinal, não faz sentido que os EUA deixem um suposto balão de vigilância chinês flutuar livremente pelo continente sobre locais militares e, em seguida, apenas explodi-lo no céu depois de terminar sua jornada, abatendo imediatamente um objeto muito menor que não é suspeito de vigilância. Os cálculos que contribuíram para o primeiro incidente mencionado provavelmente manipulariam as percepções do público para voltá-lo contra a Nova Détente, mas o tiro saiu pela culatra em retrospectiva.

Uma pesquisa recente provou que 63,4% dos americanos desaprovavam a forma como Biden lidou com o incidente, enquanto 59,2% acreditavam que isso fazia seu país parecer fraco e o colocava em uma posição vulnerável. Esse resultado previsível pode ter sido o preço autoinfligido que a facção linha-dura antichinesa do Pentágono estava disposta a pagar para alcançar o grande resultado estratégico desejado, mas ainda assim obviamente ia contra os interesses políticos e de poder brando dos democratas no poder.

Foi talvez com a intenção de distrair o público do primeiro incidente e recalibrar parcialmente suas percepções resultantes que o segundo pode ter sido orquestrado em parceria entre o Pentágono e a Casa Branca. Ao realizar esta última façanha, eles gerariam publicidade positiva para ambos, com o Pentágono sendo elogiado por detectar imediatamente um objeto muito menor e Biden aplaudido por derrubá-lo imediatamente, em vez de esperar dias como da última vez.

Mesmo que esta não tenha sido a sequência de eventos que precedeu o último incidente, é, no entanto, uma descrição precisa do resultado do soft power para cada um aos olhos do americano médio. Isso por si só deve fazer as pessoas pensarem duas vezes antes de aceitar qualquer “narrativa oficial” que seja apresentada para explicar o que acabou de acontecer, sem mencionar fazê-los reconsiderar a “narrativa oficial” sobre o primeiro incidente mencionado à luz deste segundo.

*Andrew Korybko -- Analista político americano especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade

PROTESTOS NA IRLANDA – VARADKAR SERÁ FULL TRUDEAU?

Gavin O'Reilly | South Front | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Desde que a Rússia iniciou sua operação militar especial na Ucrânia há quase um ano, uma das principais características da resposta coletiva do Ocidente, juntamente com as sanções e a expulsão de diplomatas russos, tem sido a acomodação de refugiados que fogem do conflito, com milhões de ucranianos sendo alojados em toda a Europa desde fevereiro passado, incluindo mais de 70.000 no estado irlandês de 26 condados.

A primeira pergunta que vem à mente em relação a essa abordagem, no entanto, é que, se ela está sendo feita por uma preocupação genuína com aqueles que fogem do conflito na Ucrânia, por que não foi implementada em 2014, quando a guerra começou?

Em abril daquele ano, após cinco meses de violência instigada pelo Ocidente em resposta à decisão do então presidente Viktor Yanukovych de suspender um acordo comercial da UE para buscar laços mais estreitos com a vizinha Rússia, a região étnica russa de Donbass, no leste do O país se separaria para formar as Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk, seus residentes tendo pouca escolha para não enfrentar genocídio e limpeza étnica nas mãos dos elementos neonazistas anti-russos que compunham o novo governo de Kiev apoiado pelo Ocidente.

Seguiria-se uma guerra em ambas as repúblicas, envolvendo paramilitares neonazistas como o Batalhão Azov e o Setor Direita, que apesar dos esforços para resolver o conflito pacificamente por meio da solução de federalização oferecida pelos Acordos de Minsk, resultaria em 14.000 mortes no espaço de 8 anos.

Apesar dessa matança, nenhuma campanha popular existiu na Irlanda durante o mesmo período com a intenção de expulsar diplomatas ucranianos ou para acolher aqueles que fugiam do conflito no Donbass.

Da mesma forma, nenhuma campanha semelhante existiu para aqueles que fogem de outros conflitos, como o do Iêmen, classificado como a pior crise humanitária do mundo pelas Nações Unidas, com míseros 70 iemenitas tendo acesso a serviços sociais nos 26 condados no ano passado, em comparação com 72.609 ucranianos no mesmo período após a intervenção da Rússia.

Também devo perguntar se Leinster House realmente se importava com a situação dos refugiados que fogem do conflito, então por que contribuir para os conflitos que criaram esses refugiados em primeiro lugar, permitindo que aviões de guerra dos EUA pousassem no aeroporto de Shannon nos últimos 20 anos?

Desde que a operação russa começou na Ucrânia em fevereiro passado, as conversas sobre a adesão do Estado do Condado 26 a um exército da UE também aumentaram entre as vozes do establishment , com o objetivo declarado de tal aliança de "agir em complementaridade" com a OTAN, a coalizão tendo sido um um dos principais contribuintes para a crise dos refugiados nas últimas duas décadas, destruindo o Afeganistão, o Iraque, a Líbia e a Síria.

Com esses fatos estabelecidos, pode-se concluir com segurança que a 'preocupação' de Leinster House com os refugiados tem pouco a ver com ajudar aqueles que fogem da guerra, e muito parecido com o apoio do Ocidente aos 'combatentes da liberdade' ucranianos sendo um disfarce para usar a Ucrânia como um procurador . Para amarrar a Rússia em um pântano militar ao estilo afegão , a coalizão Fine Gael-Fianna Fáil está usando a cobertura emotiva da mídia sobre o conflito ucraniano como um meio de aumentar o mercado de trabalho e manter os salários estagnados em nome da classe empresarial.

De fato, protestos relacionados aos efeitos de tal movimento surgiriam no final de novembro, quando mais de 300 migrantes foram repentinamente transferidos para um bloco de escritórios abandonado em East Wall, uma área da classe trabalhadora no centro da cidade de Dublin. Os moradores começariam o que se tornariam manifestações semanais sobre a mudança, citando a falta de consulta prévia aos funcionários da comunidade, a adequação do bloco de escritórios para acomodação e a falta de transparência sobre se aqueles que haviam sido transferidos para o bloco de escritórios havia sido vetado.

Apesar de esses protestos receberem apoio dos próprios residentes do bloco de escritórios, a grande mídia irlandesa iria, em conjunto, denunciá-los como sendo 'protestos anti-refugiados' e 'organizados pela extrema direita', um rótulo que também seria aplicado a protestos semelhantes que surgiram em torno de Dublin e outros locais em resposta a outros locais totalmente inadequados escolhidos pela Leinster House para acomodar migrantes adultos, incluindo uma escola em Drimnagh, como East Wall, outra área da classe trabalhadora de Dublin.

Essa rejeição das preocupações das pessoas comuns da classe trabalhadora como "extrema direita" tem uma forte semelhança com as descrições da mídia tradicional do Freedom Convoy do ano passado no Canadá, quando em resposta a um mandato do governo exigindo que todos os motoristas de caminhão que voltam dos EUA tenham que ser vacinados, começaria um protesto nacional no segundo maior país do mundo.

O governo de Justin Trudeau – como Leo Varadkar , outro 'Jovem Líder Global' do Fórum Econômico Mundial – responderia de forma autoritária, congelando as contas bancárias dos organizadores do protesto e atacando os manifestantes com cavalos montados e gás lacrimogêneo . Uma abordagem, que com o chefe da força policial de 26 condados condenando os protestos atuais e unidades policiais secretas monitorando os organizadores, pode em breve se tornar uma realidade do outro lado do Atlântico.

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EUROPA TITÂNICA. ZELENSKY EXPLODE A ALIANÇA ENTRE PARIS, ROMA E BERLIM

Piero Messina* | South Front

A missão europeia do presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, é um sucesso sem precedentes. Conseguiu detonar as contradições entre os países europeus. O eixo Paris-Berlim comanda as operações e a Itália, que nos últimos meses havia sido a vanguarda da OTAN no apoio às políticas anti-russas e no aumento do fornecimento de armas a Kiev, recebe um estrondoso tapa na cara. A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni foi excluída da cimeira com Zelensky que foi celebrada em modo tríade: Zelensky, o presidente francês Macron e o primeiro-ministro alemão Olaf Scholz.

No entanto, Giorgia Meloni apoia a causa ucraniana há meses e está gastando bilhões de fundos públicos italianos para também fornecer mísseis antiaéreos ao exército ucraniano. No final, o líder teve que se contentar por alguns minutos com o líder em camuflagem militar.

A Itália é a grande derrota da turnê de Zelensky pela Europa. Giorgia Meloni tentou reagir: a Europa é como o Titanic, disse a política italiana, argumentando que “não deve haver uma Europa de Serie A e uma de Serie B. Se um navio afundar, não importa quanto você pagou pela passagem” .

Zelensky acredita que pode virar a maré da guerra. Ele está pedindo à Europa mísseis de longo alcance, caças e logística.

“Minha visita – disse Zelensky – trouxe resultados concretos, no que diz respeito ao treinamento de pilotos e mísseis de longo alcance. E assim o de Paris. Em vez disso, há um longo caminho para obter caças. Há muitas decisões tomadas, mas não tornadas públicas: quando acontecer, saberemos.”

Segundo fontes da NATO, a França e a Alemanha têm um acordo de princípio sobre a transferência de aviões de combate (Dassault Rafale ou Euroghter Thyphoon) a médio prazo (6-8 meses), a anunciar caso haja a temida ofensiva russa no no final de fevereiro e, acima de tudo, nesse ínterim, deram a aprovação franco-alemã (mas agora é necessária a aprovação americana) para a transferência de aeronaves de fabricação soviética para a Ucrânia até abril. Seriam pelo menos 11 Mig, 29 Eslovacos (de um total de 24) e 23 Mig 29 Monolugares Poloneses. Zelensky não quer que isso seja conhecido porque conta com esses aviões para a contra-ofensiva da primavera contra o ataque russo. A guerra continua. Mas alguém já perdeu: a Itália.

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Portugal - UE | LUTAS LABORAIS E DEMOCRACIA

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

O espaço da União Europeia é, desde há bastante tempo, o centro das políticas neoliberais que financeirizam a economia e subordinam o trabalho à finança.

Essa opção é confirmada nos passos do Banco Central Europeu (BCE) e, quase continuamente, através das políticas adotadas pela Comissão Europeia. Instrumentos preponderantes do Estado social de direito democrático estão a ser cilindrados por essas políticas. Este processo facilita a ascensão de forças ultraconservadoras e fascistas que, sorrateiramente, vão tendo parte dos seus programas executados.

Constata-se que a maioria dos governantes europeus, nomeadamente a Comissão, são capazes de ceder a reivindicações antidemocráticas e antissolidárias do senhor Viktor Orbán ou dos seus colegas polacos, mas quando se trata de responder a reivindicações dos trabalhadores e dos povos europeus que reclamam, com justiça, melhores salários e respeito por direitos laborais e sociais, respondem negativamente, de forma vincada.

Quando se diz a governantes (democratas) como os portugueses, que deviam esgrimir todos os argumentos no seio da UE em favor dos interesses específicos do país - testando os limites de tratados e disposições comunitárias - por forma a conseguirmos melhores condições para o nosso desenvolvimento, dizem-nos que isso não é possível; preferem a criatividade do fundamentalismo das "contas certas", que mais não é que a submissão àquela financeirização. Cheira à velha receita: "alimenta o tigre para ele não te comer". Normalmente esta via dá mau resultado. O bicho vai comendo os nossos recursos e acaba por fazer de nós a refeição seguinte.

A esperança que nos anima hoje é o crescimento das lutas laborais, das greves e da ocupação das ruas com fortes mobilizações em muitos países europeus, como é o caso de Portugal. Os sindicatos emergem na sua missão, que é historicamente de movimento social, mas, em democracia, também de instituição de intermediação. Será bom que este esforço dos trabalhadores e das populações se mantenha e reforce.

Estão errados alguns democratas que vão aconselhando moderação aos trabalhadores em luta, e às suas experimentadas organizações. Não se pode deixar o protesto e a rua entregues aos fascistas, para eles manipularem o desespero de quem há muito tempo não encontra respostas para os seus problemas. Vamos vendo, na rua e na Comunicação Social em regra hostil ao movimento sindical, que eles andam a tentar arregimentar. Urge, pois, secar o terreno propicio ao seu crescimento.

Esta semana, Luis de Guindos, o vice-presidente do BCE, antigo governante espanhol do Partido Popular, lá veio ameaçar, "Se entrarmos numa espiral entre os salários e os preços, o BCE vai ter de aumentar as taxas de juro, mais do que teria feito de outra forma". Isto é chantagem. Não foram nem são os salários que estão a provocar a inflação, mas a inflação já reduziu e continua a reduzir os salários. Entretanto, aumentando taxas de juros, o BCE degrada as condições de vida dos trabalhadores e da maioria dos cidadãos. E é o BCE que aposta na proteção da finança e dos lucros, em vez de apostar no investimento produtivo e no emprego.

As lutas laborais e sociais (feitas no respeito pelas regras democráticas) contra a pobreza e o trabalho quase escravo, contra a violação de direitos humanos, contra o desemprego, as desigualdades e as precariedades, pela proteção dos trabalhadores migrantes, pela melhoria da proteção social e por salários justos, reforçam sempre a democracia.

*Investigador e professor universitário

Portugal | Manifestação de docentes quer "Terreiro do Paço pequeno para tanta gente"

Os professores voltam a participar hoje em mais uma manifestação nacional, que a Fenprof acredita que poderá ser um dos maiores protestos de docentes de sempre, tornando o "Terreiro do Paço pequeno para tanta gente".

Vêm de todo o país e vão chegar a Lisboa em centenas de autocarros, mas também há quem venha de carro e até de barco, contou o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, na véspera da manifestação convocada por nove organizações sindicais.

O protesto de hoje em Lisboa é organizado pela Fenprof, mas conta também com a participação da Federação Nacional de Educação (FNE) e outras sete organizações sindicais.

O Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP), que ainda tem uma greve a decorrer nas escolas, não faz parte dos organizadores, mas já anunciou que irá estar presente.

As duas últimas grandes manifestações em Lisboa aconteceram em janeiro e foram organizadas pelo STOP, levando milhares de docentes para as ruas gritar por "Respeito" e "Melhores Condições de Trabalho".

Mário Nogueira acredita que o protesto de hoje poderá estar "ao nível de 2008", quando mais de 100 mil docentes saíram à rua contra as políticas da então ministra Maria de Lurdes Rodrigues, realizando aquela que foi considerada a maior manifestação de professores todos os tempos.

A INFLAÇÃO ESTÁ A ABRANDAR, MAS O MAL ESTÁ FEITO

«Vejo muitas pessoas na expectativa do abrandamento da inflação este ano, como se, nesse abrandamento, estivesse alguma solução para o problema que agora vivem e que se traduz na perda de poder de compra. A essas pessoas deve ser dito que a perda de poder de compra que agora sentem é definitiva, uma vez que não é previsível que venhamos a ter uma variação negativa da inflação. Enquanto os salários não aumentarem de forma proporcional à inflação que conhecemos no ano passado, e à deste ano, estaremos a empobrecer.»

Carmo Afonso* | opinião 

Eram dois homens embriagados que passeavam. Tropeçaram e, sem se aperceberem disso, caíram para a via férrea.

Diz um: “Caraças, vem aí um comboio!”

Responde o outro: “Calma, calma, que está a abrandar.”

Morreram os dois atropelados pelo comboio.

Vejo muitas pessoas aliviadas, porque a taxa de inflação está a abrandar, ou seja, continua alta, mas com uma taxa mais baixa do que a verificada nos meses anteriores. Vejamos: a taxa de inflação homóloga em Portugal abrandou para 8,3% e foi o terceiro mês consecutivo de desaceleração. Relativamente à inflação subjacente (que não conta com os preços dos produtos energéticos e alimentares não transformados) também abrandou para 7% em janeiro, o que representa uma descida de 0,3 pontos percentuais face à verificada em dezembro último.

O que significa?

Significa muito pouco. Os preços continuam a aumentar, embora um pouco menos do que há três meses. A questão é que mesmo que neste momento não houvesse inflação, ou seja, mesmo que os preços não estivessem a subir, ninguém nos poderia aliviar do que já aconteceu e que já se cristalizou na economia.

Este é um assunto que deveria ser clarificado de uma vez por todas. Vejo muitas pessoas na expectativa do abrandamento da inflação este ano, como se, nesse abrandamento, estivesse alguma solução para o problema que agora vivem e que se traduz na perda de poder de compra. A essas pessoas deve ser dito que a perda de poder de compra que agora sentem é definitiva, uma vez que não é previsível que venhamos a ter uma variação negativa da inflação – único cenário em que se reverteriam os novos preços. Atenção que um fenómeno de deflação seria catastrófico. A solução não está aí.

O POVO É QUE PAGA. ESTÁ TUDO BEM PARA AS ELITES GANANCIOSAS E AVARAS

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