sábado, 11 de março de 2023

O OCIDENTE VISTO DO MUNDO -- Boaventura

Em novo sintoma de crise do eurocentrismo, pesquisa global mostra um planeta dividido. Nações hegemônicas há cinco séculos já não despertam sentimentos positivos, nem suscitam esperanças. Quais os motivos? Que brechas se abrem?

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras

Entre 2011 e 2016 realizei um projeto de investigação financiado pelo Conselho Europeu de Investigação. Intitulava-se ALICE – Espelhos Estranhos, Lições imprevistas: Definindo para a Europa um novo modo de partilhar as experiências do Mundo. Nesse projeto, tentei mostrar que a Europa, depois de cinco séculos a procurar ensinar o mundo, se confrontava com um mundo que não tomava em grande conta as lições da Europa e que, em face disso, em vez de propor isolacionismo progressivo, entendia que a Europa devia disponibilizar-se a aprender com o mundo e usar essa aprendizagem para resolver alguns dos seus problemas. A guerra da Ucrânia veio mostrar que as propostas da minha investigação de pouco serviram aos políticos europeus, uma experiência que não é nova para os cientistas sociais.

Em outubro de 2022, oito meses depois da invasão da Ucrânia, um conhecido instituto da Universidade de Cambridge harmonizou e fundiu 30 inquéritos globais sobre atitudes em relação aos EUA, à China e à Rússia. Os inquéritos cobriam 137 países do mundo e 97% da população mundial, tendo sido realizados em 75 países depois da invasão da Ucrânia. O resultado principal deste estudo é que o mundo está dividido entre uma pequena minoria da população do mundo, que tem uma opinião positiva sobre os EUA e uma atitude negativa sobre a China e a Rússia (1,2 bilhão de pessoas), e uma grande maioria em que o inverso ocorre (6,3 bilhões). Embora o estudo se refira aos EUA, não é arriscado especular que, sobretudo depois da guerra na Ucrânia, a Europa seja associada aos EUA ainda mais intensamente que antes. A essa associação podemos chamar o Ocidente. Isto significa que, se tomarmos o mundo como unidade de análise, o Ocidente está mais isolado do que nunca, e isso explica que a grande maioria dos países do mundo se tenha recusado a aplicar sanções à Rússia decretadas pelos EUA e UE. É importante conhecer as razões deste fato. Vejamos algumas delas.

Angola | OS PORTOS NO TEMPO DOS NOSSOS AVÓS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Corredor do Lobito é um instrumento de desenvolvimento e progresso se estiver ao serviço das comunidades locais. Tal como o Caminho-de-Ferro de Benguela desempenhou um papel vital entre o mar e o Luau, até no modelo de povoamento do território que atravessa.  

Este “corredor”  é o fim da linha num percurso que começou em Março de há 91 anos. Os portos de Angola, durante séculos, apenas serviram para o comércio de escravos. Para isso não precisavam de grandes infra-estruturas. Mas nas primeiras décadas do século XX pouco ou nada tinha mudado, ainda que a escravatura tivesse sido abolida no último quartel do século XIX. 

No final da segunda década do século XX, depois da assinatura do “Tratado de Loanda”, entre Portugal e a Bélgica, que permitiu definir definitivamente as fronteiras Norte e Leste, o porto do Lobito foi ampliado e transformado numa verdadeira infra-estrutura portuária. Hoje o Corredor do Lobito é uma realidade e dele se espera que seja o motor económico de todas as províncias a Sul do rio Cuanza e também da Região Austral de África.

Os portugueses negligenciaram a costa angolana e esse erro podia ter-lhes saído muito caro. Cabinda, Lândana, Noqui, Matadi e Banana só recebiam barcos negreiros. Os portos do Ambriz e Nzeto (Ambrizete) serviam igualmente para “exportar” escravos. Os ingleses decidiram reclamar a posse de todo o noroeste de Angola, entre o Ambriz e o extremo norte. Por isso ocuparam os portos. Os portugueses consideravam toda a região como parte da colónia de Angola e exigiram a retirada dos ocupantes.

Ante a indiferença aos seus argumentos, os portugueses fizeram a Londres uma longa exposição na qual enumeravam todos os seus direitos, inclusive os históricos. Face à intransigência dos ingleses, partiu de Luanda para o porto do Ambriz uma força naval capitaneada pela fragata D. Fernando II e Glória. A guerra estava por um fio. Para evitar o derramamento de sangue, Lisboa propôs a arbitragem internacional como forma de dirimir o conflito.

Angola adere à iniciativa de combate à fraude e evasão fiscal da OCDE

Angola juntou-se ao Fórum Global sobre Transparência e Troca de Informação Fiscal (Fórum Gobal), sendo o 166.º país, e o 35.º membro africano, a aderir a esta iniciativa da OCDE de combate à evasão fiscal

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Angola vai juntar-se ao grupo de países que inclui todos os membros do G20, o grupo das 20 nações mais industrializadas, todos os países membros da OCDE, todos os centos financeiros internacionais e um grande número de países em desenvolvimento.

“Estamos muito felizes de dar as boas-vindas a Angola como o mais recente membro do Fórum Global”, disse o presidente desta entidade, Gaël Perraud, acrescentando que “o crescente número de adesões ao Fórum mostra a importância que está a ser dada à transparência orçamental pela comunidade internacional e demonstra o empenho dos governos em juntarem esforços na luta contra a fraude e evasão fiscais”.

Tal como os outros membros, Angola vai participar em pé de igualdade e está empenhada em combater a evasão fiscal feita através de paraísos fiscais no estrangeiro e na implementação dos padrões de troca de informação internacionalmente acordados mediante pedidos específicos (EOIR) e troca automática de informação financeira contabilística (AEOI), aponta-se no site da OCDE.

Angola | COMUNICAÇÃO CHUMBADA E TIROTEIO NOS PÉS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Eugénio Quintas (Man Gena) é o novo herói de Luzia Moniz, a espantosa escritora (escreve com os dois pés) que foi a Moçambique lançar a sua “obra” e ninguém desmaiou com o cheiro a chulé que se liberta do livro em ondas suaves. A azougada pezuda diz que o traficante de droga foi perseguido pelo regime angolano e agora é exilado político em Maputo, cidade que já foi um lugar bem frequentado. A Luzia e o Man Gena ao mesmo tempo na capital moçambicana é carga a mais de banditismo! Deve ter caído aquele letreiro onde está escrito“reservado o direito de admissão”. Acontece.

O Novo Jornal faz hoje manchete com uma “notícia” bombástica segundo a qual o “Projecto de Rui Falcão foi reprovado pela cúpula do BP”.O título é mais preciso: “João Lourenço chumba estratégia ultrapassada de comunicação do MPLA”. Reparem bem. No antetítulo o projecto foi reprovado pelo Bureau Político. No título já foi João Lourenço. Intrigalhada à moda da UNITA ou coisa pior? Há momentos em que Sobrinhos e Madalenos conseguem ser mais rasteiros que a associação de malfeitores. 

Um aviso. Os membros do Bureau Político do MPLA foram eleitos pelos militantes delegados ao congresso. Não podem ser afastados com uma carta do líder partidário sugerindo-lhes a sua demissão. Por enquanto, o partido ainda é um colectivo e todos os dirigentes respondem exclusivamente às estruturas partidárias e não ao Presidente da República, que só está no cargo enquanto tiver a confiança da direcção do MPLA que o escolheu para cabeça de lista. 

Nada de confusões. Acontece que o presidente do MPLA não tem poderes sobrenaturais. De qualquer forma alguém abriu a caça a Rui Falcão. Mau sinal. O mobutismo de Kinkuzu conseguiu colocar um embaixador em Madrid que nem para porteiro serve. Devem querer mudar a direcção do MPLA no mesmo sentido. O mal dos oportunistas é que não têm a noção dos limites e um dia acabam por bater estrondosamente contra o muro da realidade. 

Quem sabe umas coisinhas de comunicação tem uma certeza. O Bureau Político do MPLA faz autênticos milagres a apagar fogos ateados pelos órgãos de Soberania eleitos e aos quais tem o dever de dar todo o apoio. É muito tiroteio nos pés, muito fogo amigo, muito estilo Miala. Tratem bem Rui Falcão. Não devem ter outro com a sua capacidade e o seu nível. João Lourenço sabe isso melhor que ninguém.

Mulheres saharauis lutam por conquistar a independência contra opressão marroquina

CHAHID EL-HAFEDH (campos de refugiados saharauis) – APS.dz.- O secretário-geral da União Nacional das Mulheres Saharauis (UNMS), El-Chaba Seini, afirmou quinta-feira que as mulheres saharauis estão empenhadas em conquistar o seu direito à liberdade e à independência , apesar da opressão do ocupante marroquino, e estão prontos, se necessário, para ir à frente para libertar a pátria.

Em declarações à APS, a senhora Seini sublinhou que "após o recomeço da luta armada, todo o povo saharaui está mobilizado para expulsar o ocupante que continua com os seus abusos, opressão e pilhagem de recursos nos territórios ocupados", salientando que "atualmente está sendo feito um trabalho para aplicar as conclusões do 16º Congresso da Frente Polisario em todas as áreas."

Neste contexto, a dirigente da União Nacional das Mulheres Saharauis confirmou "uma mudança importante na resistência contra a ocupação marroquina, que se recusa a obedecer às leis internacionais", sendo que no próximo período haverá, segundo ela, "uma escalada da luta armada”, na sequência das conclusões do último congresso da Frente Polisario realizado em Janeiro.

Nesse sentido, afirmou que “a mulher saharaui estará ao lado do homem, nesta batalha e em todos os âmbitos, e se for preciso, irá à frente como soldado e combatente para fazer valer o seu direito à liberdade e independência” .

"A história regista que a mulher saharaui acompanhou a revolução saharaui desde os seus primórdios até hoje, esteve também no centro da batalha para a construção das instituições da República saharaui", afirmou.

Marrocos é denunciado por manipular o III Fórum Mundial sobre Direitos Humanos

Marrocos é denunciado por manipular o III Fórum Mundial sobre Direitos Humanos para justificar a ocupação ilegal do Sahara Ocidental

porunsaharalibre 

CONTRADIÇÕES ÉTICAS, POLÍTICAS E JURÍDICAS DE UM PRÉ-FÓRUM SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO PRÉ-FÓRUM SOBRE OS DIREITOS HUMANOS NO REINO DE MARROCOS

DECLARAÇÃO PÚBLICA INTERNACIONAL DA PLATAFORMA LATINO-AMERICANA E CARIBENHA DE SOLIDARIEDADE COM O POVO SAHARAUI. (PLACSO)

Considerando:

Que se realize um Pré-Fórum em Rabat, Marrocos, nos dias 17 e 18 de Fevereiro, no âmbito do 3º Fórum Mundial dos Direitos Humanos, que terá lugar em Buenos Aires, Argentina, de 20 a 24 de Março de 2023.

Que compreendemos que os Fóruns de Direitos Humanos e Pré-Fóruns são espaços para as organizações da sociedade civil, incluindo associações e comités de amizade e solidariedade com o povo saharaui, para expor as nossas causas e tecer alianças para a promoção e defesa dos direitos humanos, a nível regional e global.

Angola | AUTARQUIAS E MANDATOS PRESIDENCIAIS -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os embaixadores não podem ficar no seu posto mais do que três ou quatro anos anunciou o Presidente da República na tomada de posse dos diplomatas colocados em vários países. E deu-lhes como missão zelarem pela imagem de Angola, captarem investimento estrangeiro e fomentarem o turismo internacional. Melhor e mais claro é impossível. A democracia é assim. Os cargos não são para toda a vida. E os eleitos sabem quanto tempo tem o seu mandato, antes dos votos entrarem nas urnas das mesas e assembleias.

Os ditadores fazem tudo para se eternizarem no poder usando como argumento que “ainda têm muito para fazer pelo povo”. Um jovem do MPLA difundiu um texto de opinião no qual defende que o Presidente João Lourenço deve ter um terceiro mandato de cinco anos. O argumento é mais velho do que o Sol: “Temos que convir que em dez anos não é possível fazer reformas em todos domínios e deixar os alicerces para que Angola, consiga estar no patamar das grandes nações do mundo, acompanhe a dinâmica de desenvolvimento dos países como a África do Sul, Nigéria ou mesmo Ruanda”. 

Este argumento serve para as deputadas e os deputados exigirem o alargamento dos mandatos porque em dez anos ninguém consegue fazer nada que se veja. As ministras e os ministros exigem ficar nos cargos pelo menos 15 anos para cumprirem cabalmente as suas missões. As embaixadoras e os embaixadores exigem ficar duas décadas nos postos, porque em três ou quatro anos nem sequer conseguem reconhecer o caminho de casa para o trabalho. É assim, os muitos mandatos tocam a todos. E se a moda pega, lá se vai a democracia.

Dois mandatos presidenciais dão para o que derem. O que ficar por fazer é acabado pelo sucessor, devidamente eleito. Se tiver bom senso. Porque se adoptar o mesmo estilo de João Lourenço, é tudo arrasado, duto demolido, tudo preso, tudo amarfanhado em nome do combate à corrupção. O seu antecessor esteve numa espécie de prisão domiciliária em Barcelona, até morrer. 

Claro que a opinião do jovem do MPLA não tem eco na direcção do partido e muito menos no Chefe de Estado, tão cioso no cumprimento das regras do jogo democrático. João Lourenço nunca aceitará ficar mais um dia que seja no poder, quando acabar o seu mandato presidencial. Nós, os do MPA, vamos eleger um novo Presidente da República e Titular do Poder Executivo, nas eleições de 2027. Limpinho.

OS EUA AMEAÇAM A ÁFRICA DO SUL

Carlos Lopes Pereira*

Washington aumenta o acosso e assédio aos países africanos. Aponta à aplicação de medidas unilaterais punitivas aos que não aceitam as suas imposições imperiais e defendem, com dignidade, a independência e soberania. Agora vai ao Congresso dos EUA um projecto de lei que pretende punir a República da África do Sul por ter participado em conjunto com a China e a Rússia em exercícios navais militares. A decadência dos EUA em todas as frentes, em vez de as moderar, faz pelo visto aumentar as suas pretensões coloniais. Mas os povos africanos não estão dispostos a voltar à era da dominação.

No quadro da sua estratégia de hegemonia mundial, os Estados Unidos da América aumentam cada vez mais as pressões sobre África, tentando prejudicar ou mesmo impedir as relações dos países do continente com a China e a Rússia.

Esta ofensiva, com o objectivo confesso de neutralizar a «influência» de Moscovo e Pequim, foi reforçada a partir de finais do ano passado com a cimeira EUA-África em Washington. Desde então, sucedem-se as deslocações de dirigentes norte-americanos a capitais africanas – ainda esta semana a primeira dama, Jill Biden, esteve em Windhoek –, onde não só repetem antigas e incumpridas promessas de grandes e múltiplos investimentos como não se coíbem de ameaçar com sanções governos e empresas que se «atrevam» a manter laços de cooperação com parceiros russos e chineses.

Os interesses dos EUA não são certamente o bem-estar e o desenvolvimento dos povos africanos, com os quais nunca antes se preocuparam – antes pelo contrário, apoiaram sempre os seus piores inimigos –, mas antes a tentativa de impedir importantes projectos como o de A Franja e a Rota da Seda, que a China está a implementar, ou contrariar acções mais a curto prazo, como a segunda cimeira Rússia-África, prevista para Junho deste ano, em São Petersburgo.

Portugal | ESMIFRANDO O POVO

Carvalho da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

Os dados revelados esta semana, quer pela Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) e pelo ministro da Economia, quer pela Deco/Proteste, confirmam, com dados muito concretos sobre preços no setor alimentar, aquilo que as portuguesas e portugueses sentem há muito tempo. O surto inflacionista está a atingir, de forma muito dura, as pessoas e famílias de mais baixos rendimentos agravando brutalmente a pobreza, e a generalidade dos trabalhadores e pensionistas vão ficando mais pobres, dado que as atualizações salariais e de pensões (os que delas beneficiam) ficam a léguas do valor da inflação. Mas, as maldades estendem-se a outros setores, como o financeiro.

Quando, por má gestão ou por negociatas fraudulentas, os bancos entram em crise, os cidadãos pagam a fatura. Quando os cidadãos ficam prisioneiros de "crises" como acontece no presente, em que a guerra e a inflação "justificam" todos os sacrifícios, os bancos aproveitam para aumentar escandalosamente os seus lucros. Os dados publicados ontem, neste jornal, são elucidativos: "as seis maiores instituições financeiras a operar no país alcançaram um resultado líquido superior a 2,5 mil milhões de euros" em 2022. Um aumento nos lucros "de quase 70%", obtido à custa de altas taxas de juros, de comissões diversas, da não remuneração de depósitos e através de despedimentos.

No comércio a retalho, os portugueses são todos os dias roubados. Aos preços de produtos de primeira necessidade são impostas escandalosas margens de lucro. Segundo a ASAE "no retalho, registámos margens médias de lucro bruto, referentes ao ano de 2022, entre: 20% e 30% (açúcar branco, óleo alimentar, dourada); 30% e 40% (conservas de atum, azeite, couve-coração); 40% e 50% (ovos, laranja, cenoura, febras de porco); e mais de 50% (cebola)". Este roubo prossegue em 2023. A denúncia, tardiamente assumida pelo Governo, vai ter consequências e serão adotadas medidas que travem este escândalo?

O presidente da República, na entrevista que concedeu à RTP e "Público" na noite de quinta-feira, reconheceu haver, por parte de empresários de vários setores, "aproveitamento da conjuntura como oportunidade de negócio inaceitável". Todavia, considerou que o combate à inflação apenas "depende da economia" e ele "espera" que "haja fatores que a façam descer". Direi que se ficarmos à espera de solução por essa via, será melhor esperar sentados. Os parasitas vão sugar o povo até ao limite.

O Governo promete ser inflexível e o ministro da Economia, num exercício de retórica, ameaçou recorrer a "medidas musculadas". Há muito tempo que o Governo conhece e devia combater esta ignóbil especulação. Agora, vamos assistir a discussões sobre os conceitos contabilísticos de "lucro bruto" e "lucro líquido", designadamente nos poucos casos que chegarem a tribunal. E teremos setores empresarias a tentarem ganhar contrapartidas, em nome do pretenso esforço que terão de fazer para praticarem preços minimamente justos

O Parlamento já aprovou um diploma para tributar os lucros excessivos (que deixou o setor financeiro de fora). O Governo tem de agir, de proteger preços de bens essenciais, de impor ação fiscalizadora em tempo útil e penalizações de forma a evitar que o crime compense, de proteger preços de bens essenciais. Mas, acima de tudo, deverá promover o aumento dos salários e assegurar atualização das pensões em conformidade com a inflação.

*Investigador e professor universitário

Ler em Página Global:

ENTRAMOS NOS SUPERMERCADOS E SABEMOS QUE VAMOS SER ROUBADOS

Lucros agregados dos cinco maiores bancos aumentaram 1000 milhões em 2022

PORTUGAL

A Caixa Geral de Depósitos foi o banco que conseguiu os maiores lucros no ano passado: 843 milhões de euros.

Os cinco maiores bancos que operam em Portugal obtiveram lucros agregados de 2.583 milhões de euros em 2022, mais 1.000 milhões de euros do que em 2021, segundo as contas da Lusa.

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) foi o que conseguiu os maiores lucros, de 843 milhões de euros em 2022, mais 45% do que em 2021. O banco público anunciou ainda que pretende dar ao seu acionista, o Estado, os "maior dividendo" da sua história, de 350 milhões de euros.

O Santander Totta foi o segundo banco com melhores resultados positivos em 2022 (sendo o banco privado com mais lucros), de 606,7 milhões de euros, mais 90% do que no ano anterior. O resultado do banco detido pelo espanhol Santander foi o maior da sua história.

Já o Novo Banco triplicou os lucros. Depois de em 2021 ter tido pela primeira vez resultados positivos, de 184,5 milhões de euros, em 2022 ascenderam a 560,8 milhões de euros. O ano passado foi também o primeiro, desde 2017, em que o banco nascido na resolução do BES não pediu nova injeção de capital ao Fundo de Resolução bancário.

Por fim, os lucros do BCP subiram 50% para 207,5 milhões de euros (num ano ainda muito impactado pelas provisões para créditos hipotecários na operação na Polónia) e os do BPI cresceram 19% para 365 milhões de euros.

Em termos agregados, os cinco maiores bancos que operam em Portugal tiveram lucros de 2.583 milhões de euros em 2022, mais 71% do que em 2021, quando o valor agregado foi de 1.511,7 milhões de euros.

Nos resultados de 2022 os bancos contaram já com a ajuda da subida das taxas de juro, que melhorou a sua margem financeira (a diferença entre o que os bancos cobram pelos créditos e o que pagam pelos depósitos), já que aumentaram os juros dos créditos mas os juros dos depósitos continuam baixos (o que tem motivado críticas).

A subida das taxas de juro (e que deverá continuar pois já foi sinalizado pelo Banco Central Europeu que continuará a subir as taxas diretoras) tem agravado as prestações dos créditos.

Para ajudar os clientes com crédito à habitação, o Governo criou uma lei que força a renegociação dos empréstimos preenchidas determinadas condições. Além disso, os bancos estão também a fazer reestruturações por decisão própria para evitar incumprimentos de clientes.

Segundo informações dadas nas apresentações de resultados, a CGD já reestruturou contratos de crédito à habitação com 3.600 clientes. O BCP disse que tinha 4.000 clientes em processo que pode levar a reestruturação de crédito e já o BPI afirmou que tinha cerca de 2.000 créditos à habitação de clientes elegíveis para reestruturação ao abrigo do regime legal.

O Novo Banco está a renegociar cerca de 5.500 créditos à habitação e, por fim, o Santander Totta disse está a analisar cerca de 2.000 casos no âmbito da lei (mas que não significa que todos serão reestruturados).

Os bancos têm considerado que, por agora, há situações de clientes difíceis mas que, no panorama geral, não há motivo de alarme. Ainda assim, mostram-se preocupados com o que poderá acontecer se as taxas de juro continuarem a subir e se também houver degradação da economia (sobretudo com aumento do desemprego).

TSF | Lusa | imagem: Sede da Caixa Geral de Depósitos © Rodrigo Antunes/Lusa

Presidente executiva da TAP deverá exigir indemnização de três milhões de euros

PORTUGAL

Christine Ourmières-Widener quer receber salários a que teria direito até 2026 e o bónus que lhe foi prometido.

A presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener deverá exigir mais de três milhões de euros de indemnização pela demissão na sequência do caso Alexandra Reis.

O Governo invoca justa causa para demitir a gestora francesa, mas o Correio da Manhã adianta este sábado que Christine Ourmières-Widener deverá reclamar o pagamento de tudo a que teria direito até ao final do mandato, em 2026.

Além do valor dos salários no valor de 1,58 milhões de euros, a ainda presidente executiva da TAP quer receber o bónus que lhe seria pago caso concluísse o plano de reestruturação da companhia aérea, que poderia ser superior a dois milhões de euros.

Esta quinta-feira, questionado sobre este bónus, o ministro das Infraestruturas João Galamba reiterou o que já tinha sido afirmado por Fernando Medina: "O Governo cumprirá a lei e, portanto, será pago o que tiver de ser pago e não será pago o que não tiver de ser pago".

O Governo decidiu demitir a presidente executiva e o presidente do Conselho de Administração da TAP, Manuel Beja, na sequência do relatório da Inspeção-Geral de Finanças que apontou falhas graves no processo de rescisão da TAP com Alexandra Reis.

O Governo escolheu Luís Rodrigues para substituir Manuel Beja e Christine Ourmières-Widener, acumulando os dois cargos, que deverá chegar à companhia aérea em abril, depois de sair da SATA.

Carolina Rico | TSF | Imagem: Christine Ourmières-Widener © Gerardo Santos / Global Imagens

A CIA E JULIAN ASSANGE -- assista

Consortium News | # Traduzido em português do Brasil (vídeo em inglês)

A advogada de Assange, Jennifer Robinson, disse ao Tribunal Belmarsh em Sydney que a própria CIA que conspirou para matar o editor do WikiLeaks também teria uma palavra importante nas condições de sua prisão se ele fosse condenado nos EUA.

Tribunal Internacional Progressivo de Belmarsh, Great Hall, Universidade de Sydney.

TRANSCRIÇÃO 

Estou muito feliz por me juntar a vocês neste Tribunal de Belmarsh na Austrália e lamento não poder estar em casa para me juntar a todos vocês pessoalmente. Um enorme obrigado ao Progressive International por seu trabalho em todo o mundo, inclusive por esta importante iniciativa para aumentar a conscientização sobre a perseguição a Julian Assange.

Como advogado de Julian, pediram-me que falasse brevemente sobre (1) a acusação dos EUA e a ameaça que ela representa à liberdade de expressão; (2) o caso de extradição e onde estamos com o recurso de Julian; (3) o abuso de processo que vimos neste caso.

A acusação

Julian enfrenta 175 anos de prisão por cometer atos de jornalismo e pelas mesmas publicações pelas quais ganhou prêmios em todo o mundo – incluindo o Prêmio Walkley de Contribuição Mais Extraordinária ao Jornalismo e a Medalha do Prêmio da Paz de Sydney.

A acusação inclui 17 acusações separadas sob a Lei de Espionagem para recebimento, posse e publicação de informações.

Como o New York Times e o Washington Post deixaram claro, a acusação criminaliza o jornalismo de interesse público. A Freedom of the Press Foundation a chamou de a ameaça mais terrível à liberdade de expressão no século 21 .

E isso é.

O caso de extradição

Sobre o caso da extradição: em suma, estamos jogando um jogo de espera.

Julian ganhou seu caso em janeiro de 2021. A evidência perante o tribunal era que, se extraditado para os EUA, ele seria colocado em condições de prisão conhecidas como Medidas Administrativas Especiais – ou SAMs. Isso foi descrito como o buraco negro mais escuro do sistema prisional dos EUA. O magistrado decidiu que a extradição de Julian seria opressiva porque as evidências médicas mostram que, se extraditado e colocado sob os SAMs, ele se suicidaria. Então ela barrou sua extradição.

Mas o governo Trump apelou – e em seus últimos dias, procurou contornar a decisão do tribunal e mudar as balizas, oferecendo uma garantia de que Julian não seria colocado sob SAMs.

Como disse a Amnistia Internacional, as garantias dos EUA não valem o papel em que estão escritas.

Mas no caso de Julian é ainda pior porque a garantia dos EUA era condicional: os EUA apenas prometeram não colocá-lo sob SAMs  a menos  que eles decidissem que ele merecia isso mais tarde.

E quem decidiria? A CIA E ele não teria o direito de apelar de sua decisão.

Como muitos de vocês devem se lembrar, soubemos por meio de importante jornalismo investigativo que a CIA planejava sequestrar e matar Julian.

E esta é a agência de inteligência que tem o poder de colocar Julian, uma vez extraditado para os EUA, em condições de prisão que os médicos dizem que poderiam causar seu suicídio.

Mas os tribunais britânicos aceitaram a garantia dos EUA – sem que Julian tivesse a oportunidade de contestar essa garantia com provas no julgamento – e em junho do ano passado o Ministro do Interior ordenou sua extradição.

Um recurso foi interposto em agosto, mas ainda não ouvimos do Tribunal Superior se ele terá permissão para apelar.

E não temos ideia de quando essa decisão virá. Pode ser amanhã, pode ser em meses.

Enquanto isso, Julian definha na prisão de Belmarsh, tendo já cumprido mais tempo na prisão do que os promotores americanos afirmam que ele cumprirá se for extraditado para os EUA.

Abuso de processo

Os organizadores me pediram para abordar por que o devido processo não está funcionando e por que o caso nunca deveria ter começado em primeiro lugar.

Deixe-me tomar esses pontos na ordem inversa.

Este caso nunca deveria ter começado. Desde 2010 venho dizendo, como um disco quebrado, que o processo criminal contra Julian Assange abrirá um precedente perigoso que será usado para criminalizar o restante da mídia.

O governo Obama abriu a investigação, mas optou por não processar por causa do “problema do New York Times” – o problema exato sobre o qual havíamos alertado – porque você não consegue distinguir entre o que Julian faz e o que o New York Times faz .

Trump não teve tais escrúpulos. E ficou claro que ele usaria o precedente contra o restante da mídia – que ele chamou de “inimiga do povo”.

Mas agora Biden continua a acusação, apesar de violar sua própria política de não processar a mídia.

Portanto, existem razões de princípios e liberdade de expressão pelas quais este caso nunca deveria ter sido levado adiante – e deveria ser encerrado imediatamente.

Mas fica pior.

Deixando de lado as preocupações com a liberdade de expressão, as violações do devido processo devem interromper o caso. O abuso de processo no caso de Julian é muito pior do que qualquer coisa que vimos na acusação do denunciante dos Papéis do Pentágono, Dan Ellsberg, sob o governo Nixon. No caso de Dan, a acusação foi descartada com preconceito porque funcionários do governo invadiram o consultório de seu psiquiatra.

No caso de Julian, ele foi espionado, suas consultas médicas foram espionadas e suas reuniões conosco como seus advogados foram espionadas, e material legalmente privilegiado foi apreendido. Como o próprio Dan disse em evidência no desafio de extradição de Julian, o que Julian enfrentou é muito pior do que o abuso de processo que ele enfrentou.

Na minha opinião, todos nós deveríamos estar nos perguntando: se o abuso que ocorreu sob Nixon foi suficiente para que o processo de Daniel Ellsberg fosse arquivado na década de 1970, então o que isso diz sobre nossa democracia em 2023 se o processo de Juliano continua?

Para concluir, quero reconhecer e prestar homenagem a Dan Ellsberg – um denunciante profundamente baseado em princípios e ativista anti-guerra, que arriscou tudo para garantir que o público tivesse as informações necessárias sobre a Guerra do Vietnã – e ajudou a pôr fim a essa guerra sem esperança. . Com sua autoridade moral, Dan tem sido um dos defensores mais importantes de Julian e não posso agradecê-lo o suficiente por seu trabalho. Ele acaba de saber que tem 6 meses de vida e compartilhou essa notícia com coragem e dignidade características. Ele continua a me inspirar. E ele deixará esta vida como um herói.

Como o próprio Dan disse no processo de extradição de Julian, a história vai refletir. Dan explicou que foi vilipendiado após vazar os Documentos do Pentágono e que foi apenas muitos anos depois – e hoje – que ele é reconhecido como um herói. Ele acredita que Julian foi difamado, assim como ele foi, e que a história também se lembrará de Julian como um herói.

Mas como a história refletirá sobre o fato de Julian ter passado quase 13 anos sob restrições à sua liberdade?

A resposta não está bem.

Então, vamos todos fazer tudo o que pudermos para garantir sua liberdade.

Obrigado a todos por fazerem o que podem e por estarem aqui hoje.

*O Tribunal Belmarsh foi apresentado por Mary Kostakidis e Mark Davis; organizado pela Progressive International & Wau Holland Foundation e co-patrocinado pela Search Foundation, Jacobin, PEN Sydney, PEN International, Declassified Australia, NSW Council for Civil Liberties, Consortium News & The Walkley Foundation

O DESAPARECIMENTO DE JULIAN ASSANGE: MORTE PARA UMA HISTÓRIA


Caitlin Johnstone | CaitlinJohnstone.com | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil 

Este é o segundo vídeo da minha série de arte em andamento, The Disappearing of Julian Assange, sobre como a imagem de Assange está sendo deliberadamente apagada da consciência do público: 

Ver vídeo em Youtube - em inglês

Transcrição:

Como um loop esticado de fita VHS, se você fizer uma pesquisa no Google Image para Julian Assange hoje, você obterá apenas páginas e páginas de fotos obsoletas e desatualizadas, repetidas indefinidamente.

Isso porque não há imagens oficiais dele desde 1º de maio de 2019, quando os paparazzi tiraram várias fotos de Assange pela janela da van da prisão, incluindo esta foto icônica dele, olhando diretamente para o cano da câmera, segurando um punho desafiador.

Mas isso foi há quase quatro anos. Em uma cultura ávida por novidades, isso é a morte de uma história.

Porque se você trabalha para um meio de comunicação e vai a uma biblioteca de imagens profissionais como Getty, AP ou Reuters e não consegue encontrar nada de novo para publicar sua história, essa história será enterrada.

Mais do que nunca, a internet exige imagens novas e frescas o tempo todo e inibir o acesso da imprensa a elas é um pequeno, mas significativo ato de sabotagem.

Se bem-sucedido, o caso contra Julian Assange abrirá um precedente legal que permitirá aos Estados Unidos sequestrar e prender qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, que escreva ou publique fatos que constrangem os Estados Unidos.

As ramificações são enormes para praticamente todos no planeta Terra, mas especialmente para jornalistas estrangeiros que podem querer escrever sobre o que a máquina de guerra dos EUA está fazendo com seu país.

Mas com apenas essa fita desgastada de imagens cada vez mais antigas para apresentá-los, as histórias que defendem Assange e alertam sobre o que esse precedente significa muitas vezes não são vistas.

Isso é deliberado? Não sei. Mas para a máquina de guerra dos EUA, certamente é muito conveniente.

Caso você tenha perdido, aqui está In My Wallet, o primeiro vídeo da minha série The Disappearing Of Julian Assange:

Ver vídeo em Youtube - em inglês

* Meu trabalho é totalmente suportado pelo leitor, então, se você gostou deste artigo, considere compartilhá-lo, seguir-me no Facebook, Twitter, Soundcloud ou YouTube, jogar algum dinheiro no meu pote de gorjetas no Patreon ou Paypal, ou comprar uma edição do meu mensal zine. Se você quiser ler mais, pode comprar meus livros. A melhor maneira de garantir que você veja o que publico é se inscrever na lista de e-mail do meu site ou no Substack, que receberá uma notificação por e-mail para tudo que eu publicar. Todos, exceto as plataformas racistas, têm minha permissão para republicar, usar ou traduzir qualquer parte deste trabalho (ou qualquer outra coisa que eu tenha escrito) da maneira que quiserem gratuitamente. Para mais informações sobre quem sou, onde estou e o que estou tentando fazer com esta plataforma, clique aqui. Todos os trabalhos são em coautoria com meu marido Tim Foley. 

Israel-Palestina: O partido Likud de Netanyahu, uma organização terrorista?

Hans Stehling* | Global Research | # Traduzido em português do Brasil

Certamente é correto que o Reino Unido proscreva o IRGC sob um processo legal formal da Lei do Terrorismo de 2000, como uma organização terrorista, conforme agora proposto pelo governo britânico. No entanto, pelos mesmos critérios, também deve ser correto conceder uma distinção tão dúbia ao partido Likud de Binyamin Netanyahu, cujo IDF matou mais de 100 civis palestinos principalmente desarmados desde janeiro de 2022. Isso também é terrorismo, pois um árabe palestino também é um ser humano, assim como um judeu israelense ou um cristão inglês.

As forças israelenses mataram mais palestinos nos territórios ocupados em 2022 do que em qualquer ano desde 2005, quando a segunda intifada terminou, de acordo com o Middle East Eye (MEE), que se baseia em dados da ONU, palestinos, israelenses e de grupos de direitos humanos. O relatório constatou que pelo menos 220 palestinos foram mortos, incluindo 48 crianças, 167 delas na Cisjordânia e Jerusalém Oriental e 53 em Gaza. Cerca de 9.000 ficaram feridos na Cisjordânia, afirmou o MEE, citando fontes da ONU. Afirmou que 95 civis palestinos foram baleados por tropas israelenses durante ataques ou enquanto participavam de protestos anti-ocupação, 21 combatentes palestinos foram mortos durante confrontos com tropas israelenses; e nos casos de mais 20 pessoas mortas em ataques israelenses, não ficou claro se eram civis ou combatentes.

Definições

Qualquer força armada que mata civis desarmados é uma organização terrorista que emprega o terror como arma política; muitas vezes usa a religião como disfarce para suas atividades terroristas.

Um indivíduo em uma força armada, ou de outra forma, que comete um ato ou atos de violência ou ameaça violência em busca de objetivos políticos, religiosos ou ideológicos, incluindo a aquisição forçada de terras alheias por meio de violência e anexação ilegal.

*Hans Stehling (um pseudônimo) é um colaborador regular da Global Research.

Imagem intermédia em destaque: Uma criança palestina, Omar Alhadeede, o único sobrevivente de sua família, olha para uma foto de seus irmãos, mortos pelo recente bombardeio israelense em Gaza. (Imagem twittada por Aya Isleem)

A fonte original deste artigo é a Global Research

Copyright © Hans Stehling , Global Research, 2023

Solução política para a guerra do Iêmen deve restaurar independência do Iêmen do Sul

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

Seria louvável se o Irã e a Arábia Saudita recentemente reconciliados enterrassem simbolicamente a machadinha ao se unirem para resolver politicamente a Guerra do Iêmen, mas apenas se eles garantissem o direito à independência do Iêmen do Sul, consagrado pela ONU, como um dos resultados de qualquer acordo que mediarem. Qualquer coisa menos do que isso pode levar a essa guerra interconectada de procuração civil se transformando em outra forma que pode ser tão desestabilizadora quanto a atual, se não mais no pior cenário.

“A retomada dos laços iraniano-saudita mediada pela China é um desenvolvimento notável” por si só, que também pode catalisar o progresso em uma solução política para a Guerra do Iêmen. Esse conflito sempre foi de fato uma guerra por procuração entre Irã e Arábia Saudita, e é por isso que é razoável esperar que esses ex-rivais possam tentar enterrar simbolicamente a machadinha ao finalmente encerrar essa dimensão de sua competição regional também. Esse resultado seria aplaudido em princípio, mas com uma ressalva crucial.

Ou seja, qualquer solução política para a Guerra do Iêmen deve restaurar a independência do Iêmen do Sul, caso contrário, há um risco muito real de que essa guerra interconectada de procuração civil possa se transformar em outra forma. Atualmente, a última fase do conflito é mais complicada do que apenas os houthis apoiados pelo Irã contra o governo iemenita apoiado pela Arábia Saudita e reconhecido pela ONU. Agora também inclui o Conselho de Transição do Sul (STC), apoiado pelos Emirados, que representa os interesses legítimos do Iêmen do Sul.

Este ex-país tem o direito consagrado pela ONU de restaurar a soberania que foi induzido a ceder ao Iêmen do Norte em 1990 e que se arrependeu poucos anos depois, em 1994, o que levou à breve guerra civil que terminou com a total ocupação do Sul. As três décadas seguintes não esmagaram a identidade sociocultural e política separada do Sul, no entanto, que permaneceu forte e acabou se reafirmando com entusiasmo nos últimos anos ao longo do último conflito.

No cenário em que o Irã e a Arábia Saudita se unem para resolver politicamente a Guerra do Iêmen, que está sendo travada mais diretamente pelos Houthi e pelos parceiros do governo iemenita reconhecidos pela ONU, respectivamente, eles devem incluir absolutamente os Emirados Árabes Unidos e seus aliados STC neste processo. Deixar de fazê-lo por qualquer motivo, seja devido a uma “conveniência política” equivocada ou talvez algo mais sinistro, poderia transformar e, assim, perpetuar esse conflito em vez de encerrá-lo decisivamente.

A mediação pela China dos laços iranianos-sauditas é um desenvolvimento notável

Este desenvolvimento notável remove um dos fatores mais desestabilizadores na segurança regional por décadas, a rivalidade iraniana-saudita, que foi explorada pelos EUA para dividir e governar a Ásia Ocidental. Washington ainda pode tentar sabotar sua reaproximação, mas é improvável que consiga algo a esse respeito, especialmente porque Teerã e Riad provavelmente estão cientes de suas intenções. Embora nunca admita isso publicamente, os EUA estão furiosos com eles por isso, especialmente porque a China mediou o acordo.

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A recém-publicada Iniciativa de Segurança Global (GSI) da China acaba de obter seu primeiro sucesso após a publicação de uma declaração trilateral na sexta-feira entre aquele país, o Irã e a Arábia Saudita sobre a retomada dos laços diplomáticos entre esses dois países da Ásia Ocidental. Pequim ajudou a mediar o acordo entre Teerã e Riad, pelo qual eles concordaram em não interferir nos assuntos um do outro e respeitar a soberania de suas contrapartes, cujos dois princípios formam alguns dos principais pilares do GSI.

Este desenvolvimento notável remove um dos fatores mais desestabilizadores na segurança regional por décadas, a rivalidade iraniana-saudita, que foi explorada pelos EUA para dividir e governar a Ásia Ocidental. Washington ainda pode tentar sabotar sua reaproximação, mas é improvável que consiga algo a esse respeito, especialmente porque Teerã e Riad provavelmente estão cientes de suas intenções. Embora nunca admita isso publicamente, os EUA estão furiosos com eles por isso, especialmente porque a China mediou o acordo.

Afinal, o Irã e a Arábia Saudita não estão apenas se alinhando com a Entente Sino-Russo antes da trifurcação iminente das Relações Internacionais entre o bloco de fato da Nova Guerra Fria, o Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA e o Sul Global, mas também estão avançando no cenário “petroyuan”. Esse último resultado mencionado poderia desferir um golpe mortal no petrodólar e, assim, acelerar sem precedentes a transição sistêmica global para a multipolaridade complexa (“multiplexidade”).

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