domingo, 21 de maio de 2023

Angola | A Loucura da Guerra e os Terroristas Domésticos – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

As autoridades prenderam na cidade de Cabinda o pastor João Graça, da marca dos padres excomungados Jorge Congo (morto) e Raul Tati (moribundo). É suspeito de praticar o negócio de auxílio à emigração ilegal ao balcão da Igreja Lassista (quem dá o alvará a estas espeluncas?) e foi apanhado numa acção criminosa convocada pelo Movimento Independentista de Cabinda (MIC). 

Os terroristas mandaram uma carta à governadora provincial, Mara Quiosa, para que “conceda a liberdade imediata e incondicional ao pastor João da Graça”. Estes ainda estão no tempo do colonialismo. Acham que quem governa pode interferir no Poder Judicial. Se um dia fossem governo, substituíam os magistrados judiciais e os titulares da investigação e acção penal por sipaios e capitas. Um dado importante. A “missiva” é assinada por Sebastião Macaia, “vice-presidente” dos terroristas. Ainda há poucos dias assassinaram dois trabalhadores brasileiros e soldados das FAA que protegiam as populações pacíficas. Aí têm um autor dos crimes.

 O terrorismo em Cabinda apresenta-se de várias formas e com várias roupagens mas vai tudo dar a uma entidade chamada FLEC que por sua vez tem tantas facções quantos donos os seus “dirigentes” servem. Objectivo: Roubar o petróleo e outras matérias-primas ao Povo Angolano. 

A permissividade das autoridades não tem fim. A paciência também não. A traição, a rebelião e a sedição são toleradas até na Assembleia Nacional. Os Media amplificam à vontade dos donos. O problema é que os terroristas matam pessoas inocentes. Algum dia estas acções criminosas vão acabar. Mas estratégia de fingir que nada se passa está a dar resultado. Apenas engorda os Danda, Congo, Tati, Macaia e outros terroristas disfarçados de cordeiros mansinhos.  

O Supremo Tribunal de Justiça extinguiu a Associação Mpalabanda porque era um disfarce dos terroristas da FLEC. Raul Tati fazia parte da quadrilha e quando foi proferido o acórdão ameaçou: “Esta decisão vai radicalizar as aspirações independentistas dos cabindas”. Raul Danda, porta-voz do gangue, também estrebuchou mas depois lembrou-se dos tachos e ficou-se por umas quantas ameaças. É evidente que este MIC não passa de uma Mplabanda raivosa. Por isso continuam a matar impunemente às ordens dos donos que querem roubar os recursos naturais do Povo Angolano.

Incontáveis: como milhões morreram invisíveis nas guerras americanas pós-9/11

Um novo relatório estima a perda de vidas do Afeganistão para o Iêmen em 4,5 milhões – a maior parte delas mulheres e crianças pobres que são vítimas de colapso econômico e trauma contínuo

Simão Tisdall | The Guardian | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Bdoulaye é uma criança perdida do mundo pós-9/11 – uma entre milhões. Nascido em uma comunidade de vilarejos deslocados pela violência islâmica, ele e sua família encontraram refúgio em uma escola abandonada perto de Ouagadougou, capital de Burkina Faso. Enfraquecido pela desnutrição e anemia, Abdoulaye, de 3 anos, contraiu malária. Apesar dos esforços frenéticos para salvá-lo, ele morreu, sem comentários e desconhecido para o mundo em geral.

"Abdoulaye é duplamente incontável: como uma pessoa deslocada e como uma morte de guerra", escreve Stephanie Savell, antropóloga cultural, recordando sua breve vida em um novo relatório perturbador que revela os vastos e não reconhecidos custos humanos da guerra global contemporânea. Embora esteja de luto por sua família e sua comunidade, oficialmente, ele nunca existiu. Sua história é emblemática de como esse tipo de morte, e sua omissão na contagem dos mortos, acontece em vários conflitos."

O relatório de Savell, How Death Outlives War: The Reverberating Impact of the Post-9/11 Wars on Human Health, publicado pelo projeto Costs of War do Watson Institute da Universidade Brown, se concentra no que ela chama de "mortes indiretas" – causadas não pela violência total, mas pelo consequente colapso econômico, perda de meios de subsistência, insegurança alimentar, destruição de serviços públicos de saúde, contaminação ambiental e trauma contínuo, incluindo problemas de saúde mental, abuso doméstico e sexual e deslocamento.

Revelado: alerta a ministros sobre água privatizada mantido em segredo desde 2002

Autor pede divulgação de seu relatório que "mostra por que o domínio do private equity na Inglaterra se mostrou tão desastroso"

Sandra Laville | The Guardian

Os ministros foram alertados sobre os perigos de o capital privado assumir o controle da indústria da água em um briefing que foi mantido em segredo por 20 anos, revelou o Guardian.

Os detalhes da análise ainda estão sendo retidos, já que a poluição por esgotos e o fracasso das empresas de água em investir em infraestrutura estão sob escrutínio nacional.

Na quinta-feira, a indústria da água - depois de mais de três décadas a gerir um modelo privatizado - pediu desculpa pelas suas falhas na gestão e investimento adequados em água e pela escala das descargas de esgoto bruto que alimentaram a enorme raiva pública.

Prometeu triplicar o financiamento em tubulações, obras de tratamento e infraestrutura na próxima década para 10 bilhões de libras e pediu desculpas por poluir praias e rios com esgoto bruto. Mas tudo isso será pago pelo aumento das contas dos clientes.

O QUE ESTÁ EM JOGO NA REVOLTA FRANCESA -- Negri

As ruas recuperam – e ressignificam – as consignas da Revolução. Podem ir adiante, em nome do Comum. Minoritário, Macron apela à brutalidade e escancara o fio que une o neoliberalismo à ultradireita. Algo se gesta em meio à primavera

Toni Negri e Marco Assennato, no CTXT | em Outras Palavras | Tradução: Rôney Rodrigues | # Publicado em português do Brasil

1. Em seu discurso à nação francesa em 17 de abril, o presidente Macron deu a si mesmo um trimestre para sair do atoleiro em que meteu seu Executivo após a aprovação forçada da reforma da previdência. No discurso, ele anunciou três “áreas de atuação” até o final de seu mandato de cinco anos: Trabalho, Segurança e Serviço Público. Depois das aposentadorias, é hora do Trabalho e, portanto, a educação — que provavelmente será adaptada definitivamente às necessidades do mercado (deste ponto de vista, é espantosa a reintrodução de formação profissional para empregos pouco qualificados); e, depois, para a Saúde, cuja “reforma” poderá ser trocada por algumas vagas adicionais nas emergências hospitalares. Não é possível dizer de outra forma: tudo isto se passa num quadro já declaradamente autoritário: “Renovar a ordem republicana”, diz Macron, porque “não há liberdade sem lei”! É por isso que o presidente prometeu solenemente recrutar “mais de 10 mil magistrados e polícias e criar 200 novas brigadas de polícia militar para as zonas rurais” e, claro, “reforçar o controle da imigração ilegal”. Isto leva-nos a pensar que as razões do conflito político generalizado em torno do aumento da idade de aposentadoria se confirmaram plenamente: o ato de força em relação às aposentadorias indicava claramente um horizonte mais amplo. Em outras palavras, serviu como o primeiro rolo compressor de uma ofensiva sistemática aos direitos sociais e civis, desafiando abertamente os sindicatos e sua capacidade de luta. Não surpreende que o discurso do presidente foi acompanhado pela eclosão imediata de panelaços, de manifestações selvagens e de confrontos com a polícia na maioria das áreas metropolitanas: de Paris a Nantes, Lyon, Bordeaux, Angers, Grenoble, Caen, Saint-Etienne, Estrasburgo. A noite francesa se iluminou-se com mil fogos que sinalizam o esgotamento da hipótese política neoliberal. Abriu-se, assim, um abismo político que corre o risco de roubar todo o espaço de quem, depois de Macron, almejava disputar terreno com a extrema direita no próximo pleito presidencial – e fazer ressurgir o enésimo projeto centrista. A partir de agora, entra na ordem do dia a consolidação de um perfil reacionário-autoritário, senão explicitamente neofascista, no grupo dirigente dos países da UE.

Portugal | O PÂNTANO INGOVERNAVEL

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Um país "governado aos solavancos", cortesia de um socialismo só de slogan, com o primeiro-ministro que acredita que tudo pode e em todos manda à cabeça do cortejo que nos conduz à falência das instituições e dos serviços públicos, ao derrube do Estado social e à degradação da própria democracia. O respeito, a dignidade e a vergonha já se foram há muito. E ajudaram a empurrar-nos para a rápida "trajetória de empobrecimento", que desagua no "cenário desastroso" que tem sido construído pela mão do governo de António Costa, instalado em cima de uma maioria absoluta exclusivamente justificada pelos desejos de estabilidade daqueles que traíram desde o primeiro dia. Num discurso duríssimo e absolutamente certeiro, Cavaco Silva resumiu a tragédia em que vivemos às mãos de uma governação pautada por aquilo que tão bem resume António Barreto como a "coreografia da mentira".

Os costureiros da narrativa corrente hão de desvalorizar as palavras do único português que tem créditos de recolher os votos que lhe renderam quatro maiorias absolutas, escarnecendo, como sempre fazem, quando expostos na sua lamentável incapacidade. Mas o país ouviu e registou as palavras do antigo primeiro-ministro - nos anos em que Portugal mais cresceu - e antigo Presidente. Palavras que não destoam do que disse Marcelo há apenas duas semanas - e que foi, aliás, confirmado à vírgula pelos mais recentes episódios do Galambagate, nesta triste novela em que todos os dias ficamos um passo mais perto de acordarmos, nas palavras de Marques Mendes, "num país ingovernável".

Ainda assim, a mediocridade permanece, os responsáveis aguentam mais um dia, impassíveis, a tocar a música de sempre - a do desinvestimento e da destruição de valor à custa de bandeiras ideológicas absurdas, a do confisco criminoso para financiar esmolas a troco de votos pela sobrevivência -, enquanto o navio português se afunda na podridão.

Portugal tem força e capacidade, tem um potencial imenso, tem pessoas e empresas que todos os dias remam contra a maré tóxica para afirmar a vontade de crescer. Tem gente de grande valor que cada vez mais se afasta daquilo em que não vislumbra solução feliz, que foge do que não se vê capaz de mudar. É este o enorme risco que se esconde no pântano que nos engole: o de um dia acordarmos e ser demasiado tarde para encontrar quem tenha capacidade e esteja disposto a empenhar-se em melhorar o país. De chegarmos a um nível em que o exercício de um cargo público não é currículo, é cadastro.

Portugal | "Especialista na mentira". Cavaco arrasa Governo e 'convida' Costa a sair

O ex-presidente Aníbal Cavaco Silva sugeriu que o chefe do Executivo, António Costa, fizesse "uma reflexão" e que se demitisse. Por outro lado, sublinhou que a alternativa só poderia surgir por parte dos sociais-democratas.

O ex-presidente da República Aníbal Cavaco Silva teceu, na tarde de sábado, duras críticas ao Governo, apontando o dedo ao chefe do Executivo, António Costa, e, por outro lado, enaltecendo a prestação de Luís Montenegro como presidente do Partido Social Democrata (PSD).

"Há que resgatar o debate político porque ele é importante em democracia. Segundo o que vemos, ouvimos e lemos, existem duas áreas em que o Governo socialista é especialista: na mentira, e na propaganda e truques", acusou o social-democrata durante a sua intervenção no 3.º Encontro dos Autarcas Sociais Democratas, em Lisboa. 

O antecessor de Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou que, "durante um mês", não houve um dia em que a imprensa - 'em cima' do Governo devido às sucessivas polémicas - não tivesse demonstrado que o Executivo não mente. "Perguntem aos vossos munícipes se ainda se pode acreditar em quem passa os dias a mentir", afirmou para os autarcas que o escutavam.

Na opinião de Cavaco Silva, "não tendo obra para apresentar", o Governo "considera que o importante é ter uma boa central de propaganda" com os objetivos de "desinformar, condicionar, iludir, anestesiar e enganar os cidadãos, procurando esconder a situação a que conduziu o país".

"Vemos, ouvimos e lemos sobre a desastrosa intervenção do Estado na TAP. Digo apenas, senhores autarcas, que perguntem aos portugueses se alguma vez imaginaram que seria possível um Governo descer tão baixo em matéria de ética política e desprezo pelos interesses nacionais", atirou.

Cavaco Silva afirmou que "da TAP tem-se falado em abuso de poder e dos milhões de desperdício dos governos públicos", acrescentando que "há, no entanto, por aí, muitos mais milhões desperdiçados".

Considerando como erradas as políticas do Governo que resultam em "salários baixos" e "empobrecimento", o ex-governante do PSD refere ainda que estas são resultado da "desarticulação e desnorte, da falta de rumo e visão estratégica". 

Urnas encerradas em Timor-Leste, Austrália e Coreia do Sul. Votação decorre na Europa

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM TIMOR-LESTE

As urnas para as maiores legislativas timorenses de sempre fecharam em Timor-Leste, na Coreia do Sul e na Austrália, ao mesmo tempo em que, devido à diferença horária, tem início a votação na Europa.

As votações na Austrália foram as primeiras a fechar, às 15:00 locais (06:00 em Lisboa), seguindo-se as da Coreia do Sul e de Timor-Leste, faltando ainda votar os eleitores que estavam, na hora marcada para o fecho, já na fila para votar.

No caso dos três centros de votação na Austrália, cujos resultados serão os primeiros a ser conhecidos, a taxa de participação foi de 43,22%, tendo votado 969 dos 1.442 eleitores recenseados.

Em Melbourne votaram 623 eleitores, tendo votado 173 eleitores cada nos centros de Sydney e Darwin.

No caso de Melbourne, muitos dos votantes ficaram, depois, na sala, a acompanhar o escrutínio dos votos, com os boletins a serem mostrados, um a um, aos presentes.

Não há ainda dados da participação nem na Coreia do Sul nem em Timor-Leste, onde arranca agora o complexo processo de contagem.

Timor-Leste precisa de liderança competente para não ser um estado falhado -- Horta

ELEIÇÕES LEGISLATIVAS EM TIMOR-LESTE

O Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje que o país precisa de lideranças competentes e corajosas para evitar que se torne um estado falhado, e, em vez disso, consolidar melhorias significativas da vida da população.

Um progresso, referiu num discurso por ocasião do 21.º aniversário da restauração da independência, que representaria a melhor forma de honrar os heróis nacionais que lutaram durante décadas pela independência de Timor-Leste.

“Progressos derivam de lideranças legítimas, competentes, corajosas, com visão e abertura ao mundo, com conhecimentos sólidos da economia, tudo enquadrado num plano estratégico de desenvolvimento moderadamente ambicioso, com políticas claras, que encorajam o investimento nacional e estrangeiro”, afirmou José Ramos-Horta.

José Ramos-Horta falava nas cerimónias oficiais no Palácio Presidencial, em Díli, na véspera das quintas eleições legislativas do país. Após apelar ao voto massivo, vincou os “grandes desafios, riscos, perigos”, mas também oportunidades para Timor-Leste.

“Líderes terão de saber identificar os grandes desafios, riscos e oportunidades. Líderes têm de saber definir as grandes prioridades nacionais, e permanecer focados”, afirmou.

CHINA E O EIXO DOS SANCIONADOS

O declínio da influência diplomática dos EUA no Oriente Médio reflete não apenas as iniciativas chinesas, escreve Juan Cole, mas a incompetência, a arrogância e o duplo trato de Washington ao longo de três décadas na região.

Juan Cole* | Tom Dispatch.com | em Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

Uma fotografia: Pequim soltou em 6 de março um choque sísmico em Washington.

Havia Wang Yi, um alto funcionário das Relações Exteriores da China, entre Ali Shamkhani, secretário do Conselho de Segurança Nacional do Irã, e o conselheiro de Segurança Nacional saudita, Musaad bin Mohammed al-Aiban. Eles estavam estranhamente apertando as mãos em um acordo para restabelecer os laços diplomáticos mútuos.

Essa foto deveria ter trazido à mente uma foto de 1993 do presidente Bill Clinton recebendo o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin e o chefe da OLP, Yasser Arafat, no gramado da Casa Branca enquanto concordavam com os Acordos de Oslo. E esse momento perdido foi em si mesmo um efeito secundário do ar de invencibilidade que os Estados Unidos ganharam na esteira do colapso da União Soviética e da esmagadora vitória americana na Guerra do Golfo de 1991.

Desta vez, os EUA foram retirados de cena, uma mudança radical que reflete não apenas as iniciativas chinesas, mas a incompetência, arrogância e duplo trato de Washington nas três décadas seguintes no Oriente Médio.

Um choque secundário ocorreu no início de maio, quando as preocupações tomaram conta do Congresso sobre a construção secreta de uma base naval chinesa nos Emirados Árabes Unidos, um aliado dos EUA que abriga milhares de soldados americanos. A instalação de Abu Dhabi seria um complemento à pequena base em Djibuti, na costa leste da África, usada pelo Exército-Marinha de Libertação Popular para combater a pirataria, evacuar não combatentes de zonas de conflito e, talvez, espionagem regional.

O interesse da China em esfriar as tensões entre os aiatolás iranianos e a monarquia saudita surgiu, no entanto, não de quaisquer ambições militares na região, mas porque importa quantidades significativas de petróleo de ambos os países. Outro impulso foi, sem dúvida, a ambiciosa Iniciativa Cinturão e Rota, ou BRI, de Xi, que visa expandir a infraestrutura econômica terrestre e marítima da Eurásia para um vasto crescimento do comércio regional – com a China, é claro, em seu centro.

A China já investiu bilhões em um corredor econômico China-Paquistão e no desenvolvimento do porto paquistanês de Gwadar, para facilitar a transmissão de petróleo do Golfo para suas províncias do noroeste.

Ter o Irã e a Arábia Saudita em pé de guerra colocou em risco os interesses econômicos chineses. Lembre-se que, em setembro de 2019, um representante do Irã ou o próprio Irã lançou um ataque com drone ao enorme complexo de refinaria em al-Abqaiq, derrubando brevemente 5 milhões de barris por dia da capacidade saudita.

Esse país agora exporta 1,7 milhão de barris de petróleo diariamente para a China e futuros ataques de drones (ou eventos semelhantes) ameaçam esses suprimentos. Acredita-se que a China também receba até 1,2 milhão de barris por dia do Irã, embora o faça sub-repticiamente por causa das sanções dos EUA.

Em dezembro de 2022, quando protestos em todo o país forçaram o fim das medidas de lockdown sem Covid de Xi, o apetite do país por petróleo foi mais uma vez desencadeado, com a demanda já subindo 22% em relação a 2022.

Portanto, qualquer nova instabilidade no Golfo é a última coisa de que o Partido Comunista Chinês precisa agora. É claro que a China também é líder global na transição para longe dos veículos movidos a petróleo, o que acabará tornando o Oriente Médio muito menos importante para Pequim. Esse dia, no entanto, ainda está a 15 ou 30 anos de distância.

O G7 TEM A ÁSIA CENTRAL NA MIRA -- Andrew Korybko

Nenhuma das ideias compartilhadas nesta análise deve ser interpretada erroneamente como prevendo o sucesso do compromisso estratégico planejado do G7 com a Ásia Central, mas simplesmente como uma conscientização sobre isso. Muita coisa pode acontecer para atrapalhar seus planos, então ninguém deve tomar seu sucesso em qualquer aspecto como garantido. No entanto, eles ainda devem estar muito preocupados com o que esse bloco de fato está tramando, uma vez que representa um grande jogo de poder contra a Entente Sino-Russa que pode ser difícil para eles frustrarem.

Andrew Korybko* | Substack | opinião | # Traduzido em português do Brasil

Nova Guerra Fria entre o Bilhão de Ouro do Ocidente liderado pelos EUA e a Entente Sino-Russa sobre a direção da transição sistêmica global afeta todas as regiões do mundo. A maioria dos observadores tende a se concentrar nas frentes Ásia-Pacífico e/ou Europa, já que essas são as que estão regularmente no noticiário, mas eles não devem se esquecer da Ásia Central, que está geoestrategicamente localizada no coração da Eurásia. Esta região acaba de ser abordada no parágrafo 61 do Comunicado dos Líderes do G7 de Hiroshima:

"Reafirmamos nosso compromisso com os países da Ásia Central para enfrentar vários desafios regionais, incluindo as consequências da guerra de agressão da Rússia, o efeito desestabilizador da situação no Afeganistão, a segurança alimentar e energética, o terrorismo e as mudanças climáticas. Estamos determinados a promover o comércio e as ligações energéticas, a conectividade sustentável e o transporte, incluindo o 'Corredor do Meio' e projetos associados para aumentar a prosperidade e a resiliência regionais".

A referência desse bloco de fato à Ásia Central vem após o último temor de seus representantes da mídia sobre as intenções da China lá, que eles afirmam que resultarão na submissão da Rússia para se tornar o parceiro júnior de Pequim ou competirão ferozmente com ela por influência nesses cinco países. Independentemente de esses cenários sombrios acontecerem ou não, o G7 não está sentado sobre seus louros, mas está conspirando ativamente para expandir a influência ocidental neste espaço estratégico entre essas duas grandes potências multipolares.

O pretexto de se envolver com a região para ajudá-la a enfrentar vários desafios serve para disfarçar seus motivos de divisão e domínio de soma zero. A guerra por procuração OTAN-Rússia na Ucrânia não teria, por si só, consequências para a Ásia Central se não fossem as sanções do Ocidente, que exigem que todos os países terceiros cumpram. De forma preocupante, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, expressou preocupação no início da semana passada de que algumas dessas ex-repúblicas soviéticas pudessem entrar nessa onda.

Marchando ao ritmo da máquina imperial: notas do limite da matriz narrativa

O problema que sustenta a maioria dos outros problemas nos tempos modernos é que as mentes humanas são altamente hackeáveis, e que a ciência de hackeá-las em grande escala vem avançando desde Bernays há mais de um século. É isso que mantém as pessoas consentindo com as agendas destrutivas e exploradoras dos poderosos contra seus próprios interesses.

Caitlin Johnstone* | Caitlin Johnstone.com | em Substack | # Traduzido em português do Brasil

O fato de que nossas mentes estão sendo manipuladas em grande escala em toda a nossa civilização é a coisa mais significativa que está acontecendo no mundo de longe, mas quase ninguém fala sobre isso, porque quase ninguém sabe que está acontecendo. E muita potência se esforça para mantê-lo assim.

O passo 1 é aprender que as mentes são muito hackeáveis e estão sendo hackeadas constantemente em grande escala.

O passo 2 é aprender que sua própria mente está incluída nisso.

O Passo 3 é desempacotar as implicações do Passo 2 (o Passo 3 nunca termina realmente).

O Passo 4 é ajudar outras pessoas a chegar aos Passos 1 e 2.

Funciona assim:

O maior número possível de pessoas é agrupado em duas facções políticas tradicionais que fingem se opor e, na realidade, trabalham juntas para promover os interesses dos poderosos.

Aqueles que não podem ser agrupados nas duas facções tradicionais são levados para facções "populistas" falsas, que então os agrupam nas facções tradicionais.

Aqueles que não podem ser agrupados em nenhuma das categorias são marginalizados na invisibilidade.

No momento em que você chega a esse nível inferior, seus números são tão inconsequentes que você pode impedi-los de ter qualquer impacto, simplesmente recusando-os na mídia tradicional e deixando a "democracia" fazer o resto, porque você tem a maioria exatamente onde você quer.

A maior parte da propaganda não vai para as mentiras gritantes e óbvias como a invasão do Iraque, mas para sistemas de controle mundanos como o funil de pastoreio ideológico que acabei de descrever. A propaganda é a exceção, não a regra no Ocidente; A maior parte das manipulações do império serve apenas para manter as pessoas marchando ao ritmo da máquina imperial.

"Nacionalidade israelita baseia-se na desumanização do palestino, do árabe" - Pappé

O historiador israelita diz que a chegada da extrema-direita ao poder em Israel era “inevitável” e que a radicalização do projeto colonial sionista vai alienar os israelitas mais liberais e judeus de todo o mundo. E garante que os palestinos não procuram vingança, apenas a descolonização.

ENTREVISTA, por João BIscaia em Setenta e Quatro

Na madrugada de terça-feira, 9 de maio, Israel voltou a bombardear Gaza. Numa operação apelidada “Escudo e Flecha”, mais de 40 caças israelitas sobrevoaram o território palestino (que tem menos de metade do tamanho da ilha da Madeira e mais de 2,3 milhões de habitantes) para levar a cabo um bombardeamento de “precisão”. O ataque matou 13 pessoas, incluindo três comandantes da Jihad Islâmica da Palestina — os alvos originais. Colateralmente, foram mortos dez civis: quatro crianças, quatro mulheres e um homem. No dia seguinte, quarta-feira, houve novos bombardeamentos. Morreram mais cinco palestinos, incluindo uma criança de dez anos.

A Jihad Islâmica é um dos grupos armados que se vem reorganizando na luta pela descolonização da Palestina desde a “intifada da unidade”, em maio de 2021. Khader Adnan, um dos seus porta-vozes, morreu numa prisão israelita no passado dia 2 de maio, após 87 dias de greve de fome contra a sua detenção sem direito a julgamento. As mortes causadas pela operação "Escudo e Flecha" já levaram os palestinos a retaliar.  Vários rockets foram disparados em direção a Tel Aviv. Não há qualquer notícia de vítimas.

Há dois anos que a situação em Gaza e na Cisjordânia se vem tornando cada vez mais tensa, repetindo-se as incursões armadas e os bombardeamentos israelitas. Um relatório das Nações Unidas contou 204 palestinos mortos pelas forças armadas israelitas em 2022. Foi o ano mais mortífero para o povo palestino desde 2006, mas nos primeiros três meses deste ano pelo menos 95 palestinos foram mortos só na Cisjordânia ocupada. Como retaliação, multiplicaram-se os ataques contra civis israelitas, com 20 mortos e vários feridos em 2022. Ao mesmo tempo, aumentou a violência letal de colonos israelitas contra palestinos. A mais recente vítima foi Dayar Omari, de 20 anos, morto a tiro no trânsito, na região da Galileia.

Para Illan Pappé, historiador israelita exilado no Reino Unido, Gaza está “a ser sitiada porque a sua população elegeu [em 2007] um governo que desagrada” a Israel. Na manutenção desse estado de sítio, o Estado israelita aplica “políticas genocidas” e obriga a população palestina a viver “em humilhação, sem dignidade, num medo constante da morte”. O diretor do Centro Europeu de Estudos Palestinos da Universidade de Exeter, e autor dos livros The Ethnic Cleansing of Palestine e Dez mitos sobre Israel (publicado em Portugal pela Edições 70), passou por Portugal e esteve à conversa com o Setenta e Quatro.

O professor nascido e crescido em Haifa, filho de refugiados judeus alemães, refletiu sobre a recente radicalização do governo e da sociedade civil israelitas, o possível futuro do sionismo e da luta anti-colonial palestina, a resistência das populações de Gaza e da Cisjordânia e o silêncio mundial em relação ao apartheid Israelita.

“Israel tem de perceber que onde houver palestinos haverá resistência”, afirma Pappé, considerando que a adesão das novas gerações palestinas à luta armada “é apenas o início”. E, a par e passo, a radicalização generalizada da juventude israelita também é um fator disruptivo: o sistema educativo de Israel tornou os jovens mais dispostos “a praticar atos brutais e cruéis contra os palestinos”.

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