Artur Queiroz*, Luanda
A fogueira está pegada e não vou atirar com gasolina para as chamas se agigantarem. Mas tudo leva a crer que o aumento do preço do combustível não foi devidamente preparado por quem tomou a decisão ao nível do Executivo. Mais uma vez funcionou o princípio Angola é Luanda e o resto mera paisagem que ninguém quer ver quanto mais desfrutar. Notícias fidedignas garantem que há protestos em várias províncias porque fornecedores de transportes públicos (legais ou candongueiros) não receberam o cartão que permite comprar o combustível ao preço anterior.
O Patrício Bicudo da Dona Vera é verdadeiramente um cretino esférico. Não tem bico por onde se lhe pegue. Mais uma vez falo sem números exactos mas vou ter o cuidado de pecar por excesso. Por isso afirmo que mais de 90 por cento da população de Luanda que tem carro precisa dele para trabalho ou ir trabalhar. E esses milhões de Luandenses não andam de Lexus. Isso é para os acomodados e os deputados eleitos pelo povo.
Um aumento de 100 por cento no litro da gasolina está a criar muitas dificuldades a quem precisa de carro para ir todos os dias trabalhar. Simplesmente porque a oferta de transportes públicos em Luanda é irrisória. E vai continuar a ser. As empresas que prestam esse serviço essencial são geridas como se a capital tivesse os mesmos habitantes que tinha no dia da Independência Nacional.
Os arautos da Dona Vera dizem que a gasolina não pode ser ao preço da chuva. Pode sim. Pelo menos enquanto os salários rastejarem pela poeira e o carro dos trabalhadores for um bem de primeira necessidade, para se deslocarem de casa até ao local de trabalho.
Salários pagos ao custo da poeira e uma rede de transportes públicos altamente deficitária exigem gasolina barata. Até digo mais. As entidades patronais, nomeadamente o Estado, deviam pagar um suplemento salarial com senhas para os transportes públicos e talões de combustíveis. Isto em Luanda.
No interior do país o problema é muito mais grave. O aumento cego da gasolina deitou por terra sonhos e esperanças que nasceram quando o mundo rural foi inundado de motorizadas e triciclos kawezeki. Quando via governadores provinciais ou membros do Executivo distribuir motorizadas e triciclos nas nossas aldeias ficava mais feliz do que os contemplados.