domingo, 30 de outubro de 2011

ANGOLA – A “QUESTÃO LUNDA” CONTINUA POR RESOLVER




Protectorado Lunda

FACTOS NA HISTÓRIA NUA E CRUA SOBRE A LUNDA

REPRESENTANTES PORTUGUESES E BELGAS QUE A FIZERAM

A História , que significa "pesquisa", "conhecimento advindo da investigação" é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, concomitante à análise de processos e eventos ocorridos no passado, é o estudo do passado e dos seus acontecimentos.

Concepção Psicológico-social - Apóia-se na teoriade que os acontecimentos históricos são resultantes, especialmente, de manifestações espirituais produzidas pela vida em comunidade. Segundo seus defensores, que geralmente se baseiam em Wilhelm Wundt ("Elementos de Psicologia das Multidões"), os factos históricos são sempre o reflexo do estado psicológico reinante em determinado agrupamento social.

O estudo do passado não pode ser feito directamente, mas de forma mediada através dos vestígios da actividade humana, a que é dado o nome genérico de fontes históricas.

E A QUESTÃO DA LUNDA exactamente tem estas fontes históricas verdadeiras que hoje vamos transcrever para o conhecimento do público.

REPRESENTANTES PORTUGUESES NA HISTÓRIA DA LUNDA

1.- Marquez de Penafiel, par do reino, oficial mor da sua casa, gran-cruz da ordem de nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa, commendador da ordem de Nosso Senhor Jesus Christo, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário  do Rei de Portugal junto a Sua Magestade o Imperador da Allemanha e Rei da Prússia, foi o Chefe da Delegação Portuguesa a Conferência de Berlim 1884-1885, celebrou o acordo de 14 de Fevereiro de 1885entre Portugal e o Estado Independente do Congo, sobre as fronteiras na região da LUNDA.

2.- Henrique Augusto Dias de Carvalho, major do exercito, Cavalleiro das ordens militares de Nossa Senhora da Conceição de Villa Viçosa e de S.Bento de Aviz, chefe da Expedição Portugueza (1885-1888) a MUASSUMBA,  capital económica, centro estratégico e ciêntifico da época do Imperio do MUATIANVUA e delegado do Governo de Sua Magestade Fidelíssima, celebrou os tratados de protectorado com Muana Samba-Capenda, com Xá-Muteba Caungula, comMuatchissengue, com Suana Mujinga Calenga e com o Muatiânvua Mucanza XVII. Entre1895 – 1906 foi o primeiro Governador/Representante de Portugal no Estado da Lunda.

3.- Jayme Lobo de Brito Godins,  Governador Geral Interino da província de Angola entre 1892 – 1893, foi o Chefe da Delegação Portuguesa do grupo técnico Internacional de limites de fronteiras na Lunda e assinou a actada ractificação das fronteiras na Lunda em nome de Portugal em 1893.

4.- Carlos Roma du Bocage, deputado, major do estado maior de engenharia, ajudante de campo honorário, cavaleiro da ordem de S. Tiago, foi Chefe da Delegação Portuguesa na Convenção de Lisboa de 1891 sobre o conflito entre a Bélgica e Portugal de 1890 da QUESTÃO DA LUNDA, assinou o Acordo de 24 de Março de 1894 do reconhecimento Internacional da Questão da Lunda, ractificada a 1 de Agosto do mesmo ano emBruxelas, ou seja a PROTECÇÃO INTERNACIONAL DA LUNDA POR PORTUGAL.

"A História com o registro consiste em três estados, tão habilmente misturados que parecem será penas um. O primeiro é o conjunto dos factos. O segundo é a organização dos factos para que formem um padrão coerente. E a terceira é a interpretação dos factos e do padrão".

É essa história do nosso passado presente que o povo Lunda Tchokwe esta a reivindicar a sua “Autonomia Administrativo, Económico e Jurídico”.

REPRESENTANTES BELGAS NA HISTÓRIA DA LUNDA

1.- Edouard de Grelle Rogier, enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de Sua Magestade o Rei dos Belga, Soberano do Estado Independente do Congo, oficial daordem de Leopoldo, etc., etc., etc., . Celebrou o acordo de 14 de Fevereiro de 1885 entre Portugal e o Estado Independente do Congo, sobre as fronteiras na região da LUNDA.

2.- George Grenfell, Missionario da Missão inglesa baptiste, Chefe da Delegação BELGA do grupo técnico Internacional de limites de fronteiras na Lunda e assinou a actada ractificação das fronteiras na Lunda em nome da Belgica em 1893

QUEM FOI DUMBA WATEMBO

Régulo do Tchiboco, Rei da Lunda Tchokwe entre 1860 – 1880, primo da Rainha Nhakatolo, tio materno do Tchissengue ou Muatchissengue, personalidade aristocrática da corte do Muatiânvua dos mesmos anos.

Muene N’Dumba-Tembo ou Dumba Watembo, é homem elegante, da figura distinta, tipo inteligente, ar nobre e maneira delicada. Trajava um pano de riscado preso á cinta por uma correia, tendo suspensa adiante pequena pele de antílope. Casaco de fazenda escura, coberto de quadradinhos bordados a cassungo completava a sua modesta mas esquisita «toilette».

Uma coroa de latão, como a dos monarcas da Europa, singular cópia de que nunca podemos conhecer a proveniência, cingia-lhe a frente, tendo na parte inferior uma fila bordada a missanga de cores. Pendia-lhe no pescoço exótico colar, onde figurava dois búzios (Cyprea Moneta) e um pequeno chifre de antílope.

Os seus dedos guarnecidos de anéis de latão, terminavam por longas unhas do mesmo metal, dificultando os movimentos, e não lhe permitindo segurar o bordão que muitas vezes lhe caía por terra. Em extremo industrioso, segundo nos afiançaram, anéis, unhas e coroa, tudo era obra sua nos momentos roubados à governação do Estado.

ENCONTRO COM EXPLORADORES CAPELO E IVENS, CAMERON E LEVINGSTONE

Assim descreveram os exploradores portugueses Capelo e Ivens a figura de Dumba Watembo, quando no dia 11 de Julho do ano já distante de 1878 ou 1874, entravam em contacto com ele, no CUCHIQUE, sanza-capital dos Tchokwes daquela época (...) a sanza-capital cuchique situava-se um pouco a oeste das nascentes do rio Cuango e do rio Cassai. O rio cuchique, que difere frequentemente de nome, de mapa para mapa, é afluente norte do rio Luando, subafluente do rio Cuanza (...).

Na primeira das paginas citadas dão-nos os autores um muito curioso retrato do antigo Rei do Tchiboco, instruindo com ele a propósito, as páginas em que o descrevem. É sem dúvida um documento interessante e o único identificado que conhecemos, não apenas do referido Rei nativo dos Tchokwes como dos seus antecessores e sucessores.

Isolados nas extensas e formosas florestas hiemisilva dos seus territórios do TCHIBOCO, país do mel e do embriagante hidromel, os Dumba Watembo, e os seus irrequietos tchokwes, encheram aquelas espessuras duma reputação temerosa que afastou, prudentemente, os viajantes, até porque as suas comitivas indiginas se negavam penetrar naqueles amedrontadores dominios dos «demonios silviculas do Tchiboco», segundo a expressão de CAMERON que se desviou daqueles caminhos na sua travessia Zanzibar-Benguela, em 1875.

Já anteriormente, em 1854, o mesmo fizera LEVINGSTONE. Para mais, tivera ele a má ideia de retribuir um soba Tchokwe daquelas proximidades com um boi vivo ao qual faltava o rabo. Valeu-lhe, e dificilmente, a forte escolta dos seus Makokolos que aliás, o tornaram afoito para entregar boi incompleto, em tão exigentes paragens.

O Tchiboco foi, na verdade, e durante longo tempo, um país ensombrado de florestas e de atemorizantes lendas, e por isso sistemáticamente evitado pelos exploradores europeus, como bem o confirmam as primeiras palavras do Rei Dumba Watembo aos exploradores: «NUNCA POR AQUI SE VÊM OS HOMENS BRANCOS»...

Isto explica a raridade de notícias e de documentos iconograficos dos antigos régulos daquela região ou estado e o interesse histórico da gravura citada.

Não há dúvida nenhuma que Dumba Watembo provinha das estirpes aristocráticas dos Muatiânvuas, criadores e governantes do Império LUNDA, constituido nos finais do Século XV ou XVI, na Katanga Ocidental.

Á margem de dessidentes familiares e politicas, que inimizaram e dividiram LUNDAS e TCHOKWES, os altos chefes Tchokwes eram de etnia Lunda e das familias aparentadas aos Muatiânvuas. O próprio Dumba Watembo, historiando a sua genealogia, descreveu a Capelo e Ivens a existência, na Lunda de além-Cassai ou seja na Mussumba, duma mulher denominada Lukokessa mãe de três chefes Tembos, um deles ele próprio (Dumba).

Podemos esclarecer que a Lukokessa (algumas vezes sob a forma gráfica de Lucoqueça) era um alto dignatário feminino da corte dos LUNDAS.

Dumba era filho da Tembo irmã de Yala ya Muaka ou (Iala Maku deturpação), tia da Lueji, mãe ou avô de Muatiânvua Ianvo que foi o primeiro Muatiânvua eleito.

Provavelmente, a data do colapso e da separação das dinastias com o tabú da Lueji, fixa-se entre os anos de 1595 – 1650, a contar da presença do Tchinguri em Luanda.

Trata-se, neste caso, do antepassado de Dumba Watembo que conduziu a invasão dos tchokwes da Mussumba, atráves do rio Luau, e seguidamente ao longo do Cassai superior, em épocas que fixamos no primeiro quartel do século XV ou XVII, seja uns dois e meio século antes da vista dos exploradores Europeus, ao Dumba Watembo, no Tchiboco.

Se atribuíssemos 20 anos a cada Reinado, o Dumba Watembo em questão seria o 12º ou 13º Rei do Tchiboco.

Dumba significa Leão, Tembo sua mãe, significa que Leão da Tembo. Trata-se de uma hierarquia nobre, apoiada no prestigio de nome ou de familia e um titulo da governação no reino, tal igual o nome do Muatchissengue.

Encontram-se os nomes Tembo junto ao Lucala e a Massangano. Na língua de Matamba, o local onde se guardava os idolos era designado Tembo. Há notícias dum nome Tembo-Ndumba, da mulher do Jaga Zimbo, e na Jinga venerava-se a memória de Tem-Bam-Dumba. Aliás, vários etnógráfos e historiadores têm encontrado correlações entre os Tchokwes e os Jagas.

Desse facto, e das ramificações do nome Tembo em Angola, o próprio Dumba Watembo deu elementos, nas conversas com os exploradores europeus, ao referir como parentes Muzumbo Tembo dos Songos ou Massongos, e Cassange Tembo, que se institui Jaga do Quembo-Songo e Holo.

O Dumba Watembo, da época de Capelo e Ivens, ainda se empenhou no alargamento de domínio, e blasonava do seu poderio, em arengas como esta: - Os meus domínios são tão grandes que estendem daqui a catende para lá do norte; neles só eu mando, a mim tudo obedece.

Mantinha, também hábitos de grande corte Africana, com a sua guarda pessoal do comando dum seu sobrinho, «armado até aos dentes», um corpo de tamborileiros e xilofonistas para festas e recepção, e um estado-maior de notáveis de conselho e de guerra.

Esta actividade bélica e praxe da corte, estão de acordo com as ambições dos primeiros Dumba Watembo, que imaginaram a criação no Tchiboco dum Estado poderoso e organizado, nos moldes do estado dos LUNDAS da Katanga (do qual, aliás, foram dissidentes, para se eximirem ao seu poder nascente, aliado ao dos Balubas do II Império, nos finais do século XVI).

Aquela tentativa do Tchiboco, porém, foi uma concepção de classes aristocráticas, a que a massa tchokwe, irrequieta e nómada, de perfeito acordo com a sua ancestralidade de caçadores savanicos, se não prestou.

Á volta dos anos 1857 a 1878 ou 1879 já os tchokwes imigravam através dos Lutchazes, atacavam os povos matabas no norte da lunda e alcançavam com os seus primeiros bandos os territórios dos Batchilangues, por altura do quinto grau de latitude sul. O estado de Tchiboco entrava em rarefação.

Ao Dumba Watembo da época do Capelo e Ivens, outros se seguiram até a passagem do trono ao Tchissengue ou Muatchissengue, decerto mais decadentes, até que uma terrível época de fome assolou o Tchiboco, haverá pouco mais de meio século, levando as populações a um êxodo que baixou extraordináriamente os efectivos demográficos do Estado de Tchiboco. Uma epidemia de varíola elevou a alto grau o índice de mortalidade. Esta catástrofe, que ficou conhecido por “Muaka ua kapunga ou Muaka ua Nzala (Época da fome), terá sido a grande responsável pelo desaparecimento do Estado do Tchiboco.


1 comentário:

zeca andrade disse...

Nyakatolo não é prima do Ndumba Watembu,a Nyakatolo, este nome não é sua propria graça, o seu povo luena foi que a atribuiu devido ela gostar muito de comer uce(katolu), então a partir da sua comida de preferencia foi atribuida o nome de Nyakatolo.A sua origem vamos aqui saber um pouco o que a Brochura CAPITULU NONO AO SUL DO KWANZA:
Brochura o “ Capitulo Nono ao Sul do Kwanza, – O Moxico
“A História dos Povos de Nana Kandundo, que engloba duma forma geral a de todo o Luvale, legaram-no-la o comandante de Nana-Kandundo, Manuel de Melo Lindo, no seu relatório de 31 de Julho de 1907 e o capitão Frederico Teixeira de Azevedo, no seu relatório de 25 de Fevereiro de 1908.

Não fujo a tentação de reproduzi-la na integra pelo seu real valor:
Em época que não é fácil precisar, a soba Liavongo, mãe da Nyakatolo, sai de Malanje donde era natural e fazendo-se acompanhar de todos os seus parentes, interna-se por esse vasto sertão e vem assentar arraial nas margens do rio Lwena e próximo do soba Kakengi com quem não foi difícil relacionar-se e até se vera esta fama sobre quem passou a exercer algum poder, devido ao arsenal bélico de que ela dispunha o qual na sua maior parte era composto de espingardas e pólvoras, ao passo que o dele resumia-se a dardos e flechas.
Em 1855 nasce a sua Nyakatolu Nyachikeka.
Durante alguns anos de permanência ali a soba Liavongo empregou toda a sua actividade em praticar razias, única forma porque todos os sobas nesse tempo idos enriqueciam, e assim conseguiu não só criar prestígios, mas também obter afeiçoados a quem patrocinava e escravos dos quais: alguns eram mandados vender a Kalumbu e Golungo Alto por espingardas, pólvora e outras mercadorias, quando o grupo de escravos chegava ao destino, faziam leilão para não demora, e levados de navios para os países de destino. Fazendo da guerra um negocio lucrativo tanto para os vitoriosos como para os derrotados. Portanto a condição de escravidão dessas pessoas comoveu os espíritos dos Lundas e a sociabilidade de vizinhança recíproca entre parentes, teve o fracasso até ao nosso momento.
Este negocio segundo os narradores, “veio a perder as suas vantagens a partir dos anos 1887, porque nos países em que os levavam para os venderem, os Estados Unidos em 1888 reduziu esta actividade.

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