terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2014, O ANO EM SE DEVE VARRER PORTUGAL... PARA SER UM BOM ANO

 


2014 deve ser o ano de varrer Portugal da escória que o tem traído e que na maior parte dos casos desempenham funções de elevados cargos diretivos, económico-financeiros e políticos. Alguns desses também pertencem à orda de corruptos que infestam o país, a União Europeia, o mundo.
 
2014 deve adquirir o significado de Abril de 1974 e que corresponde à libertação de Portugal e dos portugueses, à reposição da democracia, à abolição das injustiças. à expatriação daqueles que têm roubado o país e descaradamente chamam ao uso de dinheiros fáceis "aplicações", "investimentos", "poupanças". Um sem número de epítetos que se resumem em pouco de palavras: oportunismo, corrupção, roubo.
 
2014 deve ser o ano em que os portugueses, assim como os europeus (principalmente do sul da Europa) devem dizer BASTA! e agir de acordo com a palavra... Para que se acabe de vez com os abusos dos eurocratas neofascistas ou neoliberais (como queiram).
 
Melhor ano novo só será possível com esta receita ou outra do género.
 
Vamos varrer Portugal desta súcia de malfeitores que tomaram os poderes mentindo para serem eleitos.
 

Portugal: A SAÚDE PÚBLICA JÁ ACABOU

 

Pedro d'Anunciação – Sol, opinião
 
Ontem, a notícia era que o Ministério da Saúde vai penalizar financeiramente os hospitais que receitarem mais medicamentos no próximo ano. Pelo contrário, dará incentivos financeiros, caso essa despesa fique abaixo da média nacional. O que acontecerá portanto aos doentes que precisem de medicamentos, ainda por cima se forem caros? Já tivemos uma amostra quando um Hospital público do Norte se recusou a fornecer um medicamento caro, mas imprescindível para a sua sobrevivência, a um doente com artrite reumatóide. E temos visto o que sucede nos hospitais públicos aos doentes oncológicos que necessitam de medicamentos novos também mais caros.
 
Hoje, é que os hospitais públicos vão ter de reduzir o défice pelo menos para metade durante o próximo ano. Ainda por cima, sofrerão cortes nas receitas de 3,5%. Já se percebeu quem vai arcar com os cortes.
 
Portanto, é oficial: a saúde pública, honesta e com alguma eficácia, acabou em Portugal – por decisão do actual Governo. Vamos precisar de um novo pai do Serviço Nacional de Saúde – ou então abandonar-nos-emos à mentalidade dos americanos que não querem pagar impostos para a saúde dos mais fracos, o que vai contra os modelos europeus até agora vigentes.
 
Nos EUA, os impostos ainda vão para os grandes programas próprias de uma potência mundial. Cá acabarão por ficar apenas para as mordomias dos governantes e políticos, que continuam a não mostrar disposição de se sujeitarem à austeridade que impõem ao povo em geral – a começar pelos gabinetes governamentais absurdamente enormes, cheios de pessoal politico bem pago (cuja redução, segundo um estudo recente de um diário não suspeito, daria para solucionar todos os problemas de cortes em fosforação nacional e troikiana), ao arrepio do que se passa noutros países mais ricos ocidentais.
 

Portugal: O GOVERNO DOS TRÊS REIS MAGOS

 

Tomás Vasques – jornal i
 
O discurso do primeiro-ministro está recheado de falsidades. 2014 vai ser um ano cruel e a verdade é que meio milhão de portugueses nunca mais encontrará emprego
 
O que mais sobressaiu do discurso de balanço do ano, feito pelo senhor primeiro-ministro, na noite de Natal, foi o optimismo, um tanto leviano, com laivos de triunfalismo, num ou noutro passo. Não é de estranhar, já que se avizinha um novo ciclo eleitoral, com eleições europeias em Maio do próximo ano e legislativas no ano seguinte. O discurso de Passos Coelho fixou as traves mestras da ficção em que vai assentar o discurso político dos partidos que nos governam: o paraíso está, ali, ao voltar da esquina, ou seja, usando as palavras de Passos Coelho no seu discurso: “O povo sabe que os seus melhores anos ainda estão para vir”.
 
O retrato da situação em que a maioria dos portugueses vive e o negro futuro que lhe está reservado, nas próximas décadas, como resultado deste implacável empobrecimento, foi empurrado para debaixo do tapete, como convém ao logro em que as sociedades democráticas europeias estão a cair. Mas, sobre o que o líder do PSD é capaz de dizer, para ganhar votos, estamos conversados. Como diz o provérbio: à primeira todos caem, à segunda só cai quem quer.
 
Frases do discurso do senhor primeiro-ministro, como por exemplo: “A economia começou a crescer e acima do ritmo da Europa”, “Até ao terceiro trimestre foram criados 120 mil novos postos de trabalho”, “O desemprego jovem tem vindo a descer, mês após mês” ou “Na recuperação do nosso país ninguém pode ficar para trás” são todo um programa falacioso, feito de meias verdades e mentiras, que ocultam e manipulam a dura realidade. A recessão aumentou em relação ao ano passado, o número de empregos criados está muito longe dos anunciados; o flagelo da emigração disfarça o desemprego, e particularmente, o desemprego jovem; quase metade do meio milhão de desempregados de longa duração nunca mais terá emprego, ficando irremediavelmente “para trás”; e a miséria espalha-se por todo lado, atingindo cada vez mais famílias.
 
A “economia mais democrática” que este governo fez questão de nos dar, segundo as palavras do senhor primeiro-ministro, no seu discurso natalício, seguindo religiosamente as indicações dos três reis magos, invertidos, que nos visitam trimestralmente, para nos tirar o incenso, a mirra e o ouro, significa apenas salários mais baixos, mais horas de trabalho por menos dinheiro, menos direitos e protecção para quem trabalha, reformas mais baixas, menor acesso a cuidados de saúde para quem mais precisa, maiores desigualdades sociais. Como consequência, inevitável, deste povo a empobrecer, redimindo-se de ter vivido “acima das suas possibilidades”, as maiores fortunas aumentam, como no tempo em que Ary dos Santos escrevia “SARL, SARL, SARL, a pança do patrão não lhe cabe na pele”. A emigração voltou à hemorragia dos anos 60, quando o ditador de Santa Comba Dão nos pastoreava, sinal mais do que evidente de que pobreza nos assola, como nesses anos do século passado, enquanto os que por cá ficam na miséria que por aí crassa, uma grande parte dela submersa, aproxima-nos de A Comunidade, de Luiz Pacheco: “Somos cinco numa cama. Para a cabeceira, eu a rapariga, o bebé de dias; para os pés, o miúdo e a miúda mais pequena”.
 
2014 vai ser um ano crucial, independentemente da saída ou não da troika. O empobrecimento generalizado e os confrontos que este governo desencadeou, entre novos e velhos, empregados e desempregados, funcionários do Estado e trabalhadores do sector privado, pensionistas da segurança social e da caixa geral de aposentações, virão à tona de água, nas eleições para o parlamento europeu. Os partidos no poder, já em campanha eleitoral, vão afogar os portugueses, usando todos os meios, para fundamentar a velha rábula salazarista de “pobres, mas honrados”, enquanto irão acenando com amanhãs radiosos, do género: “O povo sabe que os seus melhores anos ainda estão para vir”. Mas, como gato escaldado de água fria tem medo, pode muito bem acontecer que Kundera tenha razão: “a luta do homem contra o poder é a luta da memória contra o esquecimento”.
 
Apesar das circunstâncias em que vivemos, desejo um bom ano a todos os meus leitores.
 
Jurista - Escreve à segunda-feira
 

Forças Armadas. Militares avisam que querem imitar heróis da revolta militar de 1891

 

Rosa Ramos – jornal i
 
Sargentos defendem que é preciso resgatar Portugal, país "de joelhos perante uma potência estrangeira"
 
No dia 31 de Janeiro de 1891, um grupo de militares protagonizou um levantamento revolucionário no Porto - que falhou, mas ficou para a história como a primeira grande tentativa republicana de derrubar o poder instalado. Mais de 120 anos depois, a Associação Nacional de Sargentos (ANS) diz que o país "está de joelhos perante uma potência estrangeira" e que por isso é "urgente recuperar o exemplo dos heróis" do 31 de Janeiro.
 
Numa nota enviada aos jornalistas, a ANS acusa Cavaco Silva - que optou por não pedir a fiscalização preventiva do Orçamento do Estado de 2014 - de "dar cobertura à eventual inconstitucionalidade" de algumas medidas e de preferir "dar satisfação às entidades estrangeiras que continuam a exigir a perda da nossa soberania, em detrimento da qualidade das condições de vida dos cidadãos portugueses". A ANS acrescenta, no entanto, que nada está perdido e garante que vai apelar ao Tribunal Constitucional, ao provedor da Justiça e "a todas as entidades e instâncias possíveis" que podem "defender os portugueses".
 
Leia o texto na íntegra no ionline e na edição em papel
 

CÉLULA DA NSA E DA CIA OPERA EM PORTUGAL

 

Luisa Meireles - Expresso
 
As agências de espionagem norte-americanas têm 80 escritórios espalhados pelo mundo, 19 dos quais na Europa, segundo o ex-espião da NSA, Edward Snowden.

Uma "célula" da Special Collection Service (SCS), uma agência conjunta da NSA e da CIA, estará a operar em Portugal, segundo um documento revelado por Edward Snowden e publicado pelo jornal holandês "NRC".
 
Haverá mais de 80 pontos semelhantes no mundo, 19 dos quais na Europa, assegura Snowden.
 
Leia mais na edição de 28 de dezembro do Expresso
 

EUA: NSA capta dados de cabos submarinos entre Europa e Ásia, diz revista alemã

 


Agência dos EUA obteve dados sobre as maiores redes de comunicação entre os dois continentes
 
Opera Mundi, São Paulo
 
A NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA) está envolvida em mais um escândalo de espionagem, dessa vez, monitorando dados captados de cabos submarinos entre os continentes europeu e asiático. A informação foi revelada na edição deste domingo (29/12) da revista semanal alemã Spiegel e republicada pela agência de notícias Deutsche Welle.
 
O sistema de cabos – na maior parte, submarinos – que liga as comunicações entre os dois continentes, tem 18 mil quilômetros de extensão. Completado em dezembro de 2005, ele se tornou o principal meio de conexão para internet e telefonia entre a Ásia e a Europa.

Segundo a revista, a NSA teria conseguido, por meio de uma unidade chamada TAO (Departamento de Operações Customizadas, em português), penetrar no site do consórcio que opera a rede e obter informações sobre o gerenciamento do sistema e sua infraestrutura técnica.

O sistema, chamado de SEA-ME-WE-4, vai da cidade portuária de Marselha, na França, atravessa o mar Mediterrâneo até o norte da África, passa pelo Golfo Pérsico até chegar ao subcontinente indiano e ao sudeste asiático. Ao longo do percurso existem 17 pontos de conexão onde os dados associados a cada região são conectados com o continente e a informação é ao mesmo tempo transmitida e recebida das redes locais.
 
 

UE: Conservadores alemães propõem regras rígidas contra imigrantes pobres

 


A CSU, partido que compõe a coalizão de governo de Merkel, afirma que imigrantes de países europeus pobres são atraídos por benefícios sociais alemães. Críticos acusam social-cristãos de fomentar ressentimentos.
 
A União Social Cristã (CSU), partido conservador da Baviera aliado à União Democrata Cristã (CDU) e que faz parte da coalizão de governo da chanceler federal Angela Merkel, quer criar dificuldades para a entrada na Alemanha de imigrantes de baixa renda vindos de países europeus mais pobres.
 
Entre as medidas que deverão ser discutidas durante encontro do partido, marcado para os dias 7 a 9 de janeiro, estão a completa suspensão dos benefícios sociais para imigrantes durante os três primeiros meses na Alemanha e punições mais rígidas contra quem fraudar o sistema, incluindo deportação e proibição de nova entrada no país. "Quem fraudar, cai fora", afirma um slogan do partido.
 
Pano de fundo da proposta é o livre fluxo, dentro da União Europeia, de trabalhadores vindos da Bulgária e da Romênia, válido a partir desta quarta-feira, 1º de janeiro. A CSU argumenta que o ingresso de imigrantes pobres vai sobrecarregar o sistema social alemão.
 
O Instituto de Pesquisa sobre Mercado de Trabalho e Emprego (IAB) prevê que, só no próximo ano, a Alemanha poderá receber entre 100 mil e 180 mil pessoas oriundas da Bulgária e da Romênia – onde se pagam os menores salários da UE, em média. Atualmente, há cerca de 370 mil cidadãos dos dois países em território alemão. Muitos deles são das etnias sinti e rom.
 
"Imigrantes da pobreza"
 
Os pesquisadores do instituto, no entanto, ressaltam no estudo que os números sobre emprego e pagamento de benefícios dos imigrantes da Bulgária e da Romênia não sustentam a tese de que estes seriam "imigrantes da pobreza". A taxa de ocupação dos imigrantes de países da UE é superior à dos alemães, afirmam.
 
As medidas sugeridas pela CSU seguem regras que já existem dentro da UE. Elas estabelecem que o país que recebe os imigrantes não é obrigado a garantir-lhes benefícios sociais nos primeiros três meses de residência. Também por receio de uma onda de imigração, o governo do Reino Unido estabeleceu leis restringindo direitos de imigrantes desempregados no país.
 
"Os contínuos abusos do livre fluxo na Europa pela imigração da pobreza ameaçam não apenas a aceitação desse livre fluxo por parte dos cidadãos, mas também leva municípios ao limite de suas capacidades financeiras", afirma a proposta da CSU. Por isso, o partido pretende "reduzir falsos estímulos à imigração".
 
Críticas à proposta
 
A proposta despertou críticas de várias outras legendas no país, inclusive de parceiros da coalizão. A secretária de Estado para Migração, Refugiados e Integração e vice-presidente do Partido Social-Democrata (SPD), Aydan Özoguz, alertou a CSU para não usar o encontro partidário para acirrar os ânimos na sociedade contra os mais pobres "por meio de falsas generalizações".
 
A primeira mulher de origem turca e muçulmana a assumir um cargo no gabinete de governo alemão pediu ainda que a CSU siga os preceitos estabelecidos no acordo de coalizão firmado entre o SPD e a CDU/CSU.
 
Já o Partido Verde e A Esquerda, de oposição, acusaram os social-cristãos de fomentar ressentimentos. "A CSU não deveria intoxicar o clima político interno", afirmou o deputado Volker Beck, do Partido Verde. A líder da bancada dos social-cristãos no Parlamento, Gerda Hasselfeldt, garante, porém, que o partido é favorável ao livre fluxo de trabalhadores na UE, mas rejeita uma imigração cujo único propósito seja o recebimento de benefícios sociais.
 
Deutsche Welle - MSB/dpa/epd/afp – Edição: Alexandre Schossler
 

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

MADAME MERKEL E OS SEUS “CONTRATOS”

 

Jacques Sapir
 
É característico, a bem dizer é sintomático, que Madame Merkel, a partir de agora a Chanceler à frente de um governo "de grande coligação" na Alemanha, tenha podido declarar no passado dia 19 de Dezembro, a propósito do euro, sem provocar uma emoção especial na imprensa que; "Mais tarde ou mais cedo, a moeda explodirá, sem a coesão necessária" [1] . À primeira vista, esta declaração é perfeitamente justa. Sem "coesão", ou seja, sem a existência de um sistema de transferências financeiras extremamente importantes, o euro não é viável. Isso já se sabe, e o cálculo do que seria necessário consagrar para que o sistema federal funcione já foi feito por vários autores. Pela minha parte, calculei o montante que a Alemanha deveria fornecer: entre 8% a 10% do seu PIB. [2] É perfeitamente óbvio que ela não pode fazer isso sem destruir o seu "modelo" económico e, desse ponto de vista, exigir da Alemanha uma "solidariedade" com os países da Europa do Sul no valor de 220 a 232 mil milhões de euros por ano (aos preços de 2010) é o mesmo que pedir-lhe que se suicide. [3]

Mas o que é muito mais interessante é a continuação desta declaração. Madame Merkel, perfeitamente consciente de que os países da zona euro estão relutantes perante novas cedências de soberania, propõe "contratos" entre estes últimos e a Alemanha. Vendo bem as coisas, isso levaria a construir, ao lado das instituições europeias, um outro sistema institucional, ou, visto que um contrato para os alemães tem o valor de uma lei, os diversos países ficariam ligados à Alemanha de modo vinculativo. Percebemos bem o interesse desta fórmula. Madame Merkel não alimenta quaisquer ilusões quanto a um "povo europeu" qualquer. Sabe muito bem o que pensa sobre isso o tribunal constitucional de Karlsruhe que, sobre esta matéria, foi muito claro no seu acórdão de 30 de Junho de 2009.
[4] É importante perceber que, para o tribunal de Karlsruhe, a UE é apenas uma organização internacional cuja ordem é derivada, porque são os Estados os donos dos tratados. [5] Deste ponto de vista, é óbvio que a Alemanha não partilha, e não partilhará num futuro próximo, da visão confusa de um "federalismo" europeu. Para os dirigentes alemães, não havendo um "povo" europeu, o que é lógico para o conceito germânico do que é um "povo", não pode haver um Estado supra-nacional. Em contrapartida, a União Europeia e a zona euro podem exercer um poder derivado. Mas, desse ponto de vista, a Alemanha também o pode fazer. E é esse o sentido dos "contratos" propostos por Madame Merkel aos seus parceiros. Em troca de uma garantia de soberania, porque aceitamos "livremente" estes "contratos", comprometemo-nos a respeitar certas regras vinculativas numa estrutura de contratos que nos ligam à Alemanha.

A questão da União bancária, saudada recentemente ao som de trombetas, confirma esta iniciativa. No Outono de 2012, os países do Sul da zona euro tinham, concertadamente com a França, conseguido o princípio de uma "União bancária" que devia ser simultaneamente um mecanismo de vigilância e de regulação dos bancos da zona euro, mas também um mecanismo que garantisse uma gestão concertada das crises bancárias. Ainda não havia secado a tinta deste acordo, já a Alemanha fazia tudo para o esvaziar de toda a substância. E, bem entendido, conseguiu os seus fins. O acordo que foi assinado na noite de 18 para 19 de Dezembro de 2013, e que foi saudado por alguns como "um passo decisivo para o euro"
[6] não regulamentou absolutamente nada. [7] O mecanismo de supervisão só abrange 128 bancos dos 6 000 que existem na zona euro. Quanto ao fundo de resolução das crises, só atingirá o montante de 60 mil milhões, uma soma que, de resto, é ridiculamente pobre, em… 2026!

O que concluir de tudo isto?

Primeiro que tudo, não vale a pena continuar a pôr qualquer esperança numa Europa "realmente" federal e é profundamente enganador continuar a apresentar essa possibilidade como uma alternativa à UE tal como ela funciona hoje. Este discurso é profundamente mentiroso e só pode contribuir para nos enterrar um pouco mais na desgraça. Não haverá Europa federal porque, na verdade, ninguém a deseja realmente e ninguém está disposto a fazê-la. Portanto, opor à situação actual uma "perspectiva federal", que de resto é perfeitamente hipotética e cuja probabilidade de realização é menor do que um desembarque de marcianos, já não faz qualquer sentido, a não ser enganar o incauto e dar-lhe a comer gato por lebre! O sonho federalista afinal era um pesadelo. Portanto, o melhor é acordar.

Em segundo lugar, a Alemanha está perfeitamente consciente de que é necessária uma forma de federalismo para a sobrevivência do euro, mas não quer – e isso é perfeitamente compreensível – pagar o seu preço. Portanto, o que propõe de facto aos seus parceiros são "contratos" que os levarão a suportar a totalidade dos custos de ajustamentos necessários para a sobrevivência do euro enquanto ela própria será a única a tirar proveito da moeda única. Mas esses "contratos" mergulharão o Sul da Europa e a França numa recessão histórica, de que esses países sairão retalhados social e industrialmente. Aceitar esses contratos será a morte rápida da França e dos países do Sul da Europa. Laurent Faibis e Olivier Passet acabam de publicar uma tribuna em Les Échos que convém ler com atenção.
[8] Explicam porque é que o euro só pode aproveitar a um país que se instalou no topo da cadeia industrial, e porque é que, em vez de pôr o euro ao serviço da economia, é a economia que é sacrificada em proveito do euro. Esta situação será eternizada se, por infelicidade, tivermos um governo que aceite submeter-se aos "contratos" de Madame Merkel.

Em terceiro lugar, é preciso ler nas entrelinhas, o que está implícito na declaração de Madame Merkel. Visto que não é possível uma Europa federal e na realidade nem sequer é concebível do ponto de vista alemão, e se não se conseguir uma "coerência", que mais não é que o aceitar a totalidade das condições alemãs, então a Alemanha está disposta a fazer o luto pelo euro. Madame Merkel gostaria de fazer desta alternativa uma ameaça para nos forçar a aceitar a ideia dos seus "contratos". Pelo contrário, devemos levá-la à letra e propor-lhe a dissolução da zona euro o mais depressa possível. Mas, para isso, seria necessário outro governo e outro primeiro-ministro, diferentes daqueles que temos.

Em certo sentido as declarações de Madame Merkel são inauditas. Talvez pela primeira vez, desde 1945, um dirigente alemão expõe assim tão cruamente o projecto de domínio da Europa pela Alemanha. Mas estas declarações têm, no entanto, a enorme vantagem de lançar uma luz crua sobre a nossa situação. Devíamos lembrar-nos disso e inspirarmo-nos nisso aquando das próximas eleições europeias. Não para obedecer a Madame Merkel, mas para levá-la à letra e dizer-lhe que, quanto ao seu euro, já não o queremos!
 
Notas
[1] P. Ricard, Le Monde, 21/12/2013/ URL: www.lemonde.fr/...
[2] J. Sapir, "Le coût du fédéralisme dans la zone Euro", in RussEurope, 10 novembre 2012,
russeurope.hypotheses.org/453
[3] Patrick Artus, "La solidarité avec les autres pays de la zone euro est-elle incompatible avec la stratégie fondamentale de l'Allemagne : rester compétitive au niveau mondial? La réponse est oui", NATIXIS, Flash-Économie, n°508, 17 juillet 2012.
[4]
etoile.touteleurope.eu/...
[5] M-L Basilien-Gainche, L'ALLEMAGNE ET L'EUROPE. REMARQUES SUR LA DECISION DE LA COUR CONSTITUTIONNELLE FEDERALE RELATIVE AU TRAITE DE LISBONNE, CERI-CNRS, novembre 2009,
www.sciencespo.fr/ceri/sites/sciencespo.fr.ceri/files/art_mbg.pdf
[6] Ver o editorial ridículo e enganador "Union bancaire: un bon accord qui corrige les failles de la zone euro" in Le Monde, 19/Dezembro/2013. URL:
www.lemonde.fr/...
[7] D. Plihon, "Union bancaire: une réforme en trompe l'œil", La Tribune, 23 décembre 2013,
www.latribune.fr/...
[8] L. Faibis et O. Passet, "L'euro pour tous et chacun pour soi: le nouveau débat interdit", Les Échos, 23 décembre 2013,
m.lesechos.fr/...

Ver também:
Perder as ilusões , Jorge Bateira, 26/Dez/13

O original encontra-se em russeurope.hypotheses.org/1862 . Tradução de Margarida Ferreira.

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/
 

PESQUISA APONTA DESENCANTO COM A POLÍTICA NO REINO UNIDO

 


Pesquisa publicada pelo The Guardian alerta sobre perigosa desconexão entre os eleitores britânicos e a democracia que está favorecendo a extrema-direita.
 
Marcelo Justo – Carta Maior
 
Londres - A pesquisa é uma contundente mensagem de fim de ano. A sondagem, que buscava analisar o aumento do número de eleitores britânicos, descobriu que a imensa maioria compreende a importância da política na vida cotidiana, mas estão “furiosos” com os políticos porque eles “não cumprem o que prometem”, “só querem beneficiar a si próprios”, “não dizem o que pensam” ou “todos dizem a mesma coisa”. O desencanto entre os jovens é ainda maior: quase 80% rechaçam a oferta política dominante.

A cinco meses das eleições para o parlamento europeu e a 16 meses das eleições gerais, a pesquisa publicada pelo jornal The Guardian alerta sobre uma perigosa desconexão entre os eleitores e a democracia que está favorecendo a extrema direita xenófoba do UKIP, que está perfilando-se como a terceira força política do Reino Unido.

O desencanto é patente ao comparar a participação do eleitorado na vitória do trabalhista Harold Wilson nos anos 60 com a situação meio século mais tarde. Cerca de 75% dos britânicos foram às urnas em 1964 com uma participação homogênea de todas as idades. Em 2010, os maiores de 65 anos mantiveram uma alta participação (76%) enquanto que, entre os jovens de 18 a 24 anos, só 46% se deram ao trabalho de votar.

Outra maneira de medir o desencanto. Desde os anos 60 até a eleição do trabalhista Tony Blair, em 1997, a participação era superior a 70%. Desta data até hoje, a participação tem ficado abaixo deste índice: em 2001 foi de 60%.

A mensagem foi reforçada em 2013 por figuras públicas como o ex-jogador de futebol do Liverpool e da seleção inglesa, Michael Owen, que reconheceu publicamente que jamais havia votado em sua vida e pelo humorista Russel Brand, de 38 anos, que disse que os políticos eram “tudo a mesma coisa” e que o problema era que “não mudavam nada”.

Segundo os cientistas políticos uma das razões deste fenômeno é que, desde o triunfo de Tony Blair, em 1997, os partidos buscam ocupar o mesmo espaço moderado e centrista. “Se os políticos não se apaixonam por sua mensagem, como vão transmitir algo? Quando os partidos se tornaram centristas muita gente abandonou a política. Quando começou o “Novo Trabalhismo” de Blair, os trabalhadores se desconectaram do trabalhismo”, disse ao The Guardian a cientista política Maria Grasso, da Universidade de Sheffield.

O fenômeno se torna alarmante entre os jovens da era de Twitter e Facebook. A deputada mais jovem da Câmara dos Comuns, a conservadora Chloe Smith, de 27 anos, reconheceu os riscos que isso traz para a democracia. “É um problema existencial para o futuro. Temos que demonstrar aos jovens para que serve a política, por que a eleição importa”, disse ela ao Guardian.

O programa de austeridade da coalizão conservadora-liberal democrata atingiu muito mais forte os jovens que os adultos. Enquanto os aposentados conseguiram manter a passagem grátis em ônibus e outras isenções, os menores de 25 anos são objeto de contínuos cortes dos benefícios sociais por desemprego.

Em meio a este panorama desalentador o ano se fecha com alguns sinais de mudança. O “centrismo” político serviu até o estouro da crise de 2008 porque a sociedade inteira estava surfando: enquanto o crédito fluía, as maiorias estavam mais ou menos satisfeitas. No Reino Unido da Austeridade e dos cortes, não houve maneira de disfarçar a queda do salário real pela disparidade entre um virtual congelamento dos ganhos e um aumento da inflação. Este novo panorama ficou claro quando, no final de setembro, o líder da oposição, o trabalhista Ed Miliband, prometeu congelar as tarifas de eletricidade e gás e obteve tamanho apoio popular que sua mensagem sobre a queda do nível de vida passou a dominar o debate público.

Entre os menores de 25 anos também há sinais de mudança desde 2008 como a mobilização dos estudantes em 2010 e 2011 contra a triplicação das taxas universitárias. Esta mobilização prosseguiu com ocupações de universidades e conflitos ignorados pela imprensa, mas recolhidos pelas redes sociais. Um dos poucos veículos a cobrir esses protestos, o Guardian registrou uma clara mensagem de um dos estudantes: “Estão tentando privatizar a educação e converter os estudantes em consumidores. É o thatcherismo na universidade”, afirmou.

Está claro que o consenso conservador que se seguiu à queda do muro de Berlim, dominado pelo endeusamento do setor privado e pelo consumismo, começa a ser questionado. Uma pesquisa recente mostra que a maioria dos britânicos está a favor de uma renacionalização dos trens, do gás e da eletricidade. O grande problema é que ninguém se atreveu a cultivar essa corrente de opinião com um discurso claro. Caberá ver se o notável êxito que teve Ed Miliband com sua modesta proposta de congelamento tarifário abre às portas a uma alternativa que permita uma reconexão do eleitorado com a democracia.

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer
 
Créditos da foto: The Guardian
 

UE: Tiros de fuzil atingem residência do embaixador alemão na Grécia

 


Desconhecidos abriram fogo contra a residência do embaixador, num subúrbio de Atenas. Governo grego chamou atentado de ato terrorista covarde.
 
Desconhecidos dispararam dezenas de tiros contra a residência do embaixador da Alemanha na Grécia, Wolfgang Dold, na madrugada desta segunda-feira (30/12).
 
Por volta das 3h30 (horário local), o prédio, localizado no subúrbio de Chalandri, ao norte de Atenas, foi atacado por disparos de fuzil do tipo Kalashnikov, segundo a polícia. Não houve feridos. Investigadores encontraram nos arredores cerca de 60 cartuchos de balas.
 
O guarda que vigiava a residência afirmou que viu quatro homens, em duas motocicletas, dispararem com armas do tipo Kalashnikov. Os autores dos disparos teriam evitado apontar as armas na direção do vigia. Eles conseguiram fugir. O policial afirmou que decidiu não revidar por causa das residências nas redondezas.
 
Uma grande área em torno do local foi isolada por unidades antiterrorismo. Seis pessoas foram detidas para interrogatório e posteriormente liberadas. Investigadores examinam vídeos de câmeras de segurança, assim como um carro roubado encontrado próximo ao local.
 
O governo grego chamou o atentado de "um ato terrorista covarde", destinado a manchar a reputação do país antes de ele assumir a presidência rotativa da União Europeia. Nenhum grupo se responsabilizou pelo ataque. O prédio já fora alvo de um atentado em 1999.
 
"Nada justifica um ataque a um representante do nosso país", afirmou o ministro alemão do Exterior, Frank-Walter Steinmeier. "Este é um incidente que levamos muito a sério", acrescentou, ressaltando estar aliviado por ninguém ter sido ferido.
 
Outro ataque em 1999
 
A residência do embaixador alemão já foi alvo de um ataque terrorista em maio de 1999. Naquela época, uma bazuca foi disparada contra a casa. O ataque foi reivindicado pela organização clandestina 17 de Novembro. O grupo esteve ativo de 1975 até ter sido desmantelado, em 2002, e reconheceu a autoria de 23 assassinatos e vários outros ataques.
 
Na Grécia, ataques contra instituições diplomáticas, bancos ou empresas estrangeiras são uma constante. Na maior parte das vezes, só são causados danos materiais. A polícia acusa extremistas de esquerda ou anarquistas pelos atentados.
 
Muitos gregos veem a Alemanha como principal responsável pelas duras medidas de austeridade impostas à Grécia pelos credores internacionais, depois da eclosão da crise da dívida, em 2010.
 
Deutsche Welle - MD/afp/ap/dpa – Edição: Alexandre Schossler
 

Alemanha: SCHAUBLE DIZ QUE EUROPA NÃO IRÁ VIRAR COSTAS À GRÉCIA

 


O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, afirmou hoje que a Europa não irá virar as costas à Grécia e que a rotação da presidência da União Europeia (UE) oferece a Atenas uma grande oportunidade.
 
Numa referência à entrevista dada ao Bild e que será publicada na terça-feira, Schäuble afirmou: "A presidência [da União Europeia] vai mostrar ao povo grego que a Europa é o seu futuro".
 
A responsabilidade de assumir a presidência da UE "gera identidade, autoconfiança, orgulho. A presidência grega da UE é uma grande oportunidade para o país e para a Europa", acrescentou o ministro das Finanças alemão, na entrevista que será divulgada no último dia do ano.
 
Schäuble rejeitou a ideia de que Atenas poderá utilizar o seu mandato na presidência da UE para aliviar a pressão sobre a ajuda externa e as reformas em curso no país.
 
A Grécia está sob ajuda externa da 'troika', composta pela Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
 
Sobre a possibilidade de Atenas vir a precisar de mais ajuda financeira, o ministro afirmou: "Decidiremos em meados do ano se teremos de ajudar mais a Grécia. Se o país mantiver o seu curso de reformas, se preencher as condições necessárias, não iremos virar as costas".
 
A atual ajuda financeira está prevista terminar em julho de 2014.
 
O ministro das Finanças grego, Yannis Stournaras, afirmou no domingo que o país não irá precisar de nova ajuda.
 
As declarações de Schäuble surgem depois de desconhecidos terem disparado tiros contra a residência do embaixador alemão em Atenas, sem causar feridos.
 
Notícias ao Minuto com Lusa
 

EUROCRATAS PROMOVEM O OBSCURANTISMO EXTINGUINDO O PRESSEUROP

 

Helder Semedo
 
Foi agora que mais sentimos o vazio sentido pela falta do Presseurop, quando recorremos à publicação online que habitualmente usámos para compilar este ou aquele artigo traduzido para português… Mas, nada. O Presseurop chegou ao fim. Acabou. Está lá mas sem as devidas atualizações, desde o passado dia 20 de dezembro. Os cidadãos europeus que não dominam outros idiomas para além do seu, do país de sua origem, foram atirados para o obscurantismo conveniente aos eurocratas e crápulas neoliberais da UE que rumam ao socialfascismo mercantilista da modernidade. Foi do Presseurop que retirámos isto:
 
“AOS NOSSOS LEITORES
 
O Presseurop deixará de ser atualizado a partir de 20 de dezembro, por causa do fim do contrato que ligava o nosso sítio à Comissão Europeia. Agradecemos a vossa fidelidade e o vosso apoio e estamos a estudar todas as hipóteses que nos permitam relançar o Presseurop o mais brevemente possível.”
 
Acabou o contrato e, alegadamente, não há verba na UE para patrocinar o trabalho meritório e dantesco de um grupo de profissionais que levavam a todos os países da UE a atualidade e a opinião diversa sobre a mais de duas dezenas de países da União. Era assim que sabíamos, percebiamos e formávamos opinião sobre o bem e o mal daquilo que na UE acontecia… Mas para isso não há verba. As verbas milionárias destinam-se a outras altas cavalarias e outros altos “cavalheiros” que talvez na sua maioria não vão a menos de tratantes que esbanjam a seu bel-prazer e em benefício próprio, dos amigalhaços e das suas famílias políticas e partidárias. Servem-se dizendo que estão servindo os cidadãos europeus.
 
Haverá quem considere esta nossa opinião contundente. Pois será para os não tratantes alojados na UE, mas não o é porque a eles não se destina o dito e escrito. Os visados são mesmo os tratantes e esses sabem melhor que ninguém que o são e que merecem ser abalrroados pelas verdades destas palavras. Para esses a contundência das palavras é insignificante se soubermos avaliar as suas atitudes e posturas de conspurcação de um ideal de Monet e de tantos outros europeístas honestos e de excelsa reputação. Mais que palavras uns quantos mereceriam a prisão depois de devidamente investigados e julgados. Mas isso é só outra das vertentes da UE que há muito se afastou dos objetivos por que foi formada para se transformar num clube de ricos e de pobres. Ricos que (cada vez mais ricos) tomam por missão explorar e dessoberanizar os países pobres (do sul). Muitas vezes era isso que se percebia nos artigos de Presseurop, além de outras enormes incongruências e desumanidades. Defacto convinha calar o Presseurop.
 
Do editorial do Presseurop compilámos o seu último fôlego, diplomático e esperançoso.
 
Até breve
 
Todos os dias, a redação escolhe, traduz em dez línguas e examina o que a imprensa europeia e mundial escreve de mais recente e original sobre a Europa. Não nos interessa a Europa institucional, já bem divulgada, mas a Europa como é vivida pelos homens e mulheres. Esta foi a profissão de fé que fizemos em 26 de maio de 2009, dia em que o Presseurop nasceu. Quatro anos e meio depois, “este sonho de jornalistas e de cidadãos” cumpriu-se, mas tem de parar, por falta de financiamento.
 
Durante este período, a Europa mudou de rosto. Em 2009, a questão estava em saber se José Manuel Durão Barroso seria reconduzido na chefia da Comissão Europeia e se os irlandeses iriam aprovar o Tratado de Lisboa num segundo referendo. Poucos meses depois, rebentava a crise grega e o cortejo de perigos inerentes para toda a zona euro. Da Irlanda a Portugal, do Fundo Europeu de Estabilização Financeira à união bancária, do “Merkozy” a milhões de jovens desempregados em busca de um futuro, o Presseurop adaptou-se às novas realidades da União Europeia, seguindo o quotidiano dos europeus e analisando os cenários que se apresentavam.
 
Este trabalho foi feito graças a uma equipa de jornalistas, correspondentes e tradutores – mais de 100 pessoas, ao longo dos anos, a que cabe aqui agradecer efusivamente – que conseguiu conjugar as diferenças de língua, de cultura e de visão do mundo. Numa época em que a União Europeia se dividia entre Norte e Sul, zona euro e exterior à zona euro, elites europeias e cidadãos, o Presseurop revelou-se um laboratório vivo do que pode ser o espaço público europeu.
 
Em mais nenhum lugar era possível ler editoriais gregos, destaques da imprensa húngara e reportagens retiradas de jornais bálticos, romenos ou alemães. Em mais nenhum lugar era possível comparar as análises dos jornalistas mais influentes da Europa. E sobretudo, em mais nenhum lugar era possível ler e escrever comentários em todos os idiomas, traduzidos automaticamente.
 
Numa altura em que muitos sites procuram desesperadamente aumentar os números das respetivas audiências, quisemos cultivar laços com uma audiência mais limitada, no sentido latino do termo: a daqueles que ouvem. Durante quatro anos e meio, o leitor ouviu a voz singular do Presseurop e replicou-a através de milhares de comentários e da assinatura da petição de apoio. Por isso, não é um adeus que lhe enviamos hoje, mas um “até já”. Apenas pelo tempo necessário para encontrar – por seu intermédio, quem sabe? – meios para retomarmos, o mais depressa possível, o nosso diálogo europeu.
 
Desde já, para não se cortar a ligação que nos liga a vocês e que vos junta a todos, convidamos-vos a continuarem o debate no blogue Friends of Presseurop, que criámos para este efeito. Venham todos!
 
*Imagem retirada de Presseurop
 

domingo, 29 de dezembro de 2013

QUANDO A EUROPA SE ESTREPOU?

 


O velho continente vive um retrocesso de dimensões civilizatórias, porque o Estado de bem estar social europeu foi uma referência em escala mundial.
 
Emir Sader – Carta Maior
 
Logo no começo da obra prima de Vargas Llosa, Conversas na Catedral, um peruano pergunta ao amigo:

- E quando se estrepou o Peru?

A conversa dá por estabelecido que o Peru se estrepou, está estrepado. Se trata de saber desde quando, a partir de quando, para tentar entender o porquê e o para quem.

Hoje se dá por estabelecido que a Europa está estrepada, que se estrepou. Há distintos diagnósticos, uns que se deve à preguiça dos do Sul, que o ar mediterrâneo e a sesta os teria feito viver acima das suas possibilidades (isso que nós escutamos durante tanto tempo na América Latina). Outros, pela rigidez do Banco Central da Alemanha, que domina a troika e se impõe às outras economias.


Os remédios se diferenciam um pouco, mas no fundo, são amargos todos. Porque todos aceitam que a Europa se estrepou.

O que é um fenômeno de imensas proporções, representa um retrocesso de dimensões civilizatórias, porque o Estado de bem estar social europeu foi uma construção solidária, que tinha se tornado uma referência em escala mundial.

Terminar com ele implica assim em um retorno aos tempos de exclusão social e de abandono, que a Europa havia deixado para trás.

Quando se estrepou a Europa? Seria possível localizar esse momento na explosão da chamada primeira guerra mundial, a guerra mais selvagem no meio do mundo que se considerada o mais civilizado, quando as contradições interburguesas que Lenin disse que comandariam a história mundial na entrada do novo século e sua visão se confirmou dramaticamente.

Seria possível também localizar esse momento na divisão da social democracia entre belicistas e pacificistas, com a IIª Internacional abandonando oficialmente o pacificismo e o internacionalismo que havia caracterizado a esquerda até aquele momento, abrindo feridas que não voltariam a cicatrizar-se.

Seria possível igualmente localizar o momento em que a Europa se estrepou quando gerou os monstruosos regimes fascistas e nazistas no seu seio e não foi capaz de derrotá-los, tendo que apelar para apoios externos.

Mas nada disso explicaria a virada atual, porque depois de tudo isso, a Europa ocidental foi capaz de construir Estados de bem estar social, que ao longo de três décadas, foi uma das mais generosas construções sociais que a humanidade tinha conhecido.

Foi então, depois desse momento, que é necessário encontrar o momento em que a Europa realizou a virada que a levou a estar estrepada. Eu localizaria esse momento na passagem do primeiro para o segundo ano do primeiro governo de François Mitterrand, na França. A vitória, finalmente tão comemorada, da esquerda francesa no segundo pós-guerra, propiciou a Mitterrand um primeiro ano de governo centrado nas nacionalizações, na consolidação dos direitos sociais, em uma política externa solidária e voltada para o Sul do mundo.

Mas o mundo tinha mudado, Teagan e Thatcher impunham um novo modelo e uma nova política internacional, com a França sofrendo em carne própria as consequências desse novo cenário. Uma possibilidade seria que a Franca estreitasse suas alianças com a periferia, com a América Latina, a África e a Ásia, liderando aos países que mais duramente sofriam as viradas da globalização. O outra, que foi a que predominou, foi a mudança radical de orientação do governo socialista francês, adaptando-se à nova onda neoliberal, à sua maneira, somando-se como aliado subordinado ao bloco liderado pelos EUA e pela Grã Bretanha.

Essa virada, que consolidou a nova hegemonia, de caráter neoliberal, em escala mundial, inaugurou a modalidade de governos e forças social democratas assimilados à hegemonia dos modelos centrados no mercado e no livre comercio.

A Espanha de Felipe Gonzalez não tardou em aderir a essa nova orientação social democrata, no que foi seguida por outros governos e abriu caminho a que, também na América Latina, essa via se estendesse a países como o Mexico, a Venezuela, o Chile e o Brasil, entre outros.

Essa nova linha política ja apontava para a condenação do Estado de bem estar social – um modelo contraditório com o Consenso de Washington, centrado nos direitos sociais -, que mais cedo ou mais tarde faria a Europa pagar o seu preço. A própria unificação europeia se deu já sob essa orientação, com as consultas nacionais centradas não na unificação política da Eurpa, mas na adesão à criação de uma moeda única, impondo um caráter basicamente monetário a essa unificação.

A crise iniciada em 2008 afetou a Europa absolutamente fragilizada, porque imersa nos consensos neoliberais, o que a impediu de reagir como fizeram governos latino-americanos, que atuaram inspirados exatamente nos modelos reguladores que tinham sido hegemônicos na Europa durante três décadas, reagindo positivamente diante da crise.

O resto é a fisionomia atual da Europa, de destruição do Estado de bem estar social, jogando álcool ao fogo, tomando remédios neoliberais para a crise neoliberal, que só se aprofunda e se prolonga.

Portugal: OUTRO CANTAR DA EMIGRAÇÃO

 


Pedro Marques Lopes – Diário de Notícias, opinião
 
Por iniciativa do Presidente da República, foi fundado em 2012 o Conselho da Diáspora. Segundo o site na internet, o objetivo é construir "uma rede de portugueses e lusodescendentes, que residem no exterior, com o propósito de elevar a reputação de Portugal no mundo". Estamos assim perante as melhores intenções.
 
A segunda reunião, realizada na semana passada, passou para os media como um encontro de emigrantes de sucesso que iam ajudar, nas palavras de Cavaco Silva, a "corrigir alguma desinformação que existe sobre o nosso país e assim ajudar a melhorar a credibilidade do País e a difundir as suas potencialidades".
 
Deixemos de lado a expressão emigrantes de sucesso, não nos preocupemos em perguntar o que é um emigrante malsucedido e se não seria mais importante dedicar algum tempo aos nossos compatriotas não bem-sucedidos, digamos assim. Também não vale a pena questionar de que tipo de desinformação Portugal está a ser alvo e quem são os promotores de tão vil manobra. Palavras tontas e teorias da conspiração não merecem muita prosa.
 
Não há registos, mas espero que, já que se falava de emigração, se tenha aproveitado para falar do que foi, a par do desemprego, uma das grandes catástrofes de 2013: a emigração de 120 mil portugueses. Temo que não. Temo que se tenha perdido o tempo todo na preparação de networking, em trocas de cartões para futuros negócios, em relatos das histórias de sucesso, em comentários sobre as maravilhas que os mercados internacionais dizem da nossa austeridade. É que não há manobra de charme junto das comunidades estrangeiras, não há ataque a desinformação que responda a esta pergunta: se o País é tão bom e tem tão boas condições, por que diabo fogem 120 mil pessoas, a esmagadora maioria na força da idade, bem formadas e qualificadas?
 
Portugal tem uma longa história de emigração. Uma história com demasiadas vertentes, demasiadas razões, demasiadas causas para que se possam analisar todas em meia dúzia de linhas. Mas é, sobretudo, uma história de falta de horizontes, de falta de perspetiva, de desespero, de miséria e, mais vezes do que imaginamos, de fome.
 
Aqueles 120 mil que saíram de Portugal não falharam em Portugal, Portugal é que lhes falhou. Saíram das faculdades, dos subúrbios das cidades. Desta vez não são os que fugiam da vida do campo, analfabetos ou semianalfabetos que passavam a salto a fronteira, nos anos 50 e 60. Tempos que nos prometeram que não voltariam a acontecer. Situações que seriam parte de uma má memória que a integração na Europa e a correção dos nossos endémicos problemas iriam resolver. De facto, já não se foge a salto, os que vão não são analfabetos, mas os nossos continuam a ter de partir.
 
Estes que agora saem são filhos e filhas de gente que se sacrificou para lhes dar cursos superiores. Que acreditou que estava a construir um futuro diferente para os filhos e para a comunidade. Alguns, filhos e filhas de gente que emigrou para que eles não tivessem de sair da nossa terra.
 
Acredito que a maioria destes 120 mil e de tantos outros que também partirão e de outros tantos que já partiram, aqueles que desperdiçamos, aqueles em quem tanto investimos, não serão os ocupantes de bidonviles das novas Franças. Muitos serão bem-sucedidos, não no léxico provinciano do Conselho da Diáspora, mas tão simplesmente assumindo que terão uma vida sem grandes problemas, que poderão criar sem sobressaltos de maior os seus filhos e poderão exercer a profissão para que foram formados. Farão, com certeza, muito pelos países onde viverão. Nem tudo se perdeu: pelo menos a nossa comunidade ajudou-os a prosperar noutro lado.
 
Para a nossa comunidade é mais uma catástrofe, repito. Ao desperdiçarmos tanta gente arrasamos o nosso potencial de crescimento, hipotecamos a próxima geração, criamos ainda de forma mais vincada um país de crianças e velhos, talvez mesmo só de velhos: um país sem futuro.
 
Era capaz de jurar que os promotores do Conselho da Diáspora ainda não perceberam isto, nem se maçaram sequer a levantar estas questões.
 
A nossa emigração é tantas vezes a história de grandes sucessos individuais, de aventuras, de feitos extraordinários, mas é sobretudo a prova de um enorme falhanço como comunidade. Um falhanço demasiadas vezes repetido.
 

Portugal: LIVRES, LIXEIRAS DE BELÉM E SÃO BENTO

 

Balneário Público
 
Cantoneiros em greve na cidade de Lisboa. Preocupação com o lixo espalhado pela cidade, sem que seja produzida a respetiva recolha. Cuidado com o lixo, transmite doenças. Recomenda a Direção Geral da Saúde, preocupada com a saúde pública. A Câmara Municipal de Lisboa recomenda que se guarde o lixo em casa. Anuncia hoje que já dispôs mais contentores na cidade para que os lisboetas se aliviem do lixo em casa e o coloquem nesses contentores. Mas qual quê! A cidade está toda a abarrotar de lixo! Curiosamente existem lixeiras acessiveis aos lisboetas que apesar de conterem bastante lixo ainda têm espaço para muito mais. Onde? Em Belém e em São Bento. Essa seria a recomendação que devia ser emitida pela CML e pela DGS. “Levem o lixo para as lixeiras disponíveis: Belém e São Bento.” Já se sabe que os portugueses, os lisboetas, até fariam excursões alegres transportando o lixo para esses locais que apesar de conterem tanto lixo ainda têm muito espaço para mais. Mas não, o que pedem é para que se guarde o lixo em casa e se contraiam doenças caseiras em vez de doenças contagiadas na via pública. Afinal por que não levar o lixo para as lixeiras de Belém e de São Bento? Os que lá estão e já são lixo agradecem e até são imunes às doenças do lixo. Não fosse assim e eles já teriam adoecido e morrido, habituados que estão às imundices de que fazem parte desde há tantos anos. Lixo onde não há dia em que não chafurdem. Lixo no lixo, em Belém e em São Bento. Salve-se a saúde pública e proporcione-se à javardaria mais matéria de seu gáudio e preferência. Belém e São Bento, as lixeiras disponíveis em Lisboa. Outras há. Juntem o lixo ao lixo, que é onde ele deve estar… para ser incinerado.
 
Manuel Tiago
 

Portugal: O PRIMEIRO-MINISTRO MENTIU

 


Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião
 
O discurso do poder banalizou a mentira. Não importa o dia seguinte, em que a mentira é desmascarada, o que importa é o momento e o modo como é dita. Com a voz bem colocada, em tom grave e afirmativo, olhando para a câmara aparentando olhar--nos nos olhos, a declaração é feita como se não houvesse amanhã.

Foram criados 120 mil novos empregos líquidos nos primeiros nove meses deste ano, disse Passos Coelho na sua mensagem de Natal. Conforme na edição de ontem do i se explica, segundo os dados oficiais do próprio governo, os empregos criados naquele período não foram mais de 21,8 mil. Não sendo de crer que o primeiro-ministro viva numa redoma de números falsos que lhe sejam transmitidos por assessores incompetentes ou que julgue que a sua afirmação falsa demore muito mais de umas horas a ser desmentida, importa perceber que também não há qualquer vontade de esclarecer ou rebater a informação de que o primeiro--ministro mentiu. Por um lado haverá quem nunca veja os números desmentidos, por outro quem desvalorize a mentira com o sempre redentor e desculpabilizante “são todos iguais”.

A maioria das pessoas que compõem este governo está firmemente convencida que está a fazer o que deve ser feito sentindo-se teoricamente alicerçada nas teses de Friedman. Quem as estudou sabe que o empobrecimento – a que Passos já aludiu –, as guerras ou mortes que provoca são tidos como efeitos colaterais de um ajustamento em que o Estado desaparece enquanto actor económico ou prestador de serviços. Este governo representa um momento de aceleração nesse caminho, que há muito está a ser trilhado na União Europeia e enquadrado no Tratado de Lisboa. Uma aceleração em que a mentira é um instrumento vital, sempre que se conseguir manter a ideia de que o caminho é inevitável e “eles” são todos iguais.

Escreve ao sábado
 

CHINA ENFRENTA CASO DE CORRUPÇÃO COM MAIS DE 500 DEPUTADOS REGIONAIS

 


Pequim, 29 dez (Lusa) -- A China está a enfrentar um novo escândalo de corrupção depois da agência Xinhua ter revelado sábado subornos de mais de 13,2 milhões de euros numa eleição na província central de Hunan.
 
O caso, de acordo com a Xinhua, envolve 512 dos 527 deputados do hemiciclo da cidade de Hengyang que terão sido subornados com um montante de 110 milhões de yuan (cerca de 13,2 milhões de euros) para escolherem 56 dos seus elementos para a assembleia legislativa provincial, o órgão imediatamente superior na hierarquia comunista.
 
Após a descoberta do caso, que aconteceu há um ano, os 512 deputados demitiram-se enquanto os 56 'eleitos' foram demitidos, refere uma nota da assembleia provincial de Hunan
 
A magnitude do escândalo leva hoje o Diário do Povo, o órgão oficial do partido, a escrever em editorial que o castigo aos deputados "mostram a determinação da China em lutar contra escândalos eleitorais e manter a confiança do povo".
 
"O número de implicados é enorme, o dinheiro é muito, o problema é grave, os efeitos são perniciosos", assegura o diário que apela a que o caso seja tratado com seriedade pelos órgãos de disciplina do partido.
 
"Castigar decididamente a corrupção, fazer-lhe frente é necessário para o Estado de Direito, e o caso de Hengyang deve elevar o alerta", acrescenta o comentário.
 
O Presidente chinês Xi Jinping assumiu que o combate à corrupção seria uma das bandeiras do seu Governo, tendo já sido condenados a penas de prisão perpétua nomes como Bo Xilai, antigo ministro do Comércio, e Liu Zhijun, líder do influente Ministério dos Transportes Ferroviários.
 
Xi Jinping fez saber que a luta contra a corrupção é dirigida a todos, "os tigres e as moscas", metáfora utilizada para salientar que todos os casos sejam investigados da mesma forma, sejam altos cargos ou simples funcionários.
 
JCS // JCS - Lusa
 

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