segunda-feira, 27 de maio de 2013

DESAPARECIMENTO DE ATIVISTAS EM ANGOLA COMPLETA UM ANO



Deutsche Welle

Há um ano que Alves Kamulingue e Isaías Kassule desapareceram. As famílias, os amigos, a sociedade civil angolana e organizações internacionais continuam à espera que as autoridades expliquem o que aconteceu.

Os ativistas angolanos Alves Kamulingue e Isaías Kassule foram raptados a 27 e a 29 de maio de 2012. No entanto, apesar de inúmeras diligências feitas pelos familiares e amigos, o caso continua sem resposta.

O Estado angolano já fez algumas promessas de investigação, mas as autoridades ainda não divulgaram quaisquer resultados dessa averiguação.

"Não há nenhuma informação", conta Jang Nomada, da Central Angola 7311. "Não é possível os jovens desaparecerem durante um ano e não poderem estar em contacto com a família, porque eles têm uma responsabilidade, têm mulher e filhos. Eles não desapareceram do nada. Isso só demonstra que eles estão sob tutela ou sob controlo do regime. Podem estar vivos ou eles estão a ocultar o seu cadáver."

No último relatório da Amnistia Internacional, publicado na passada quinta-feira (23.05), a organização também diz estar preocupada. A Amnistia cita o desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Kassule como o pior caso de violação dos direitos humanos em Angola no ano passado.

Em entrevista à DW África, a investigadora da Amnistia Internacional Muluka-Anne Miti voltou a sublinhar que, até hoje, ainda "não há informação sobre o paradeiro" dos ativistas, que estavam a organizar uma manifestação em Angola. Miti condenou também o uso da força pelas autoridades angolanas para reprimir manifestações organizadas pelos jovens.

Nova manifestação

Para que os nomes de Alves Kamulingue e Isaías Kassule não caiam no esquecimento, os jovens angolanos, que pertencem à "geração da mudança", continuam a mostrar periódica e publicamente o seu repúdio pelo que consideram ser "um crime de Estado", diz um comunicado da Central Angola 7311.

No documento, o grupo anuncia a realização de uma vigília em Luanda, esta segunda-feira (27.05). Mbanza Hamza, rapper e apoiante do chamado Movimento dos Jovens Revolucionários, que organiza esta vigília, disse à DW África que a iniciativa é uma forma de fazer pressão.

"Não nos vamos calar. Nós percebemos logo que esta era uma estratégia do regime. Começaram com eles para ver como é que nós iríamos reagir", referiu. "Mas nós estamos determinados. Quando falo em nós digo todas aquelas pessoas, jovens, velhos e crianças que se reveem nesta causa, na defesa dos direitos humanos, e que não querem ver este caso simplesmente atirado para as gavetas."

Mbanza Hamza garante que os jovens vão continuar a protestar até que as autoridades prestem esclarecimentos sobre o que aconteceu a Alves Kamulingue e Isaías Kassule. "Não podemos continuar esta indeterminação, para saber se eles estão mortos, vivos, retidos..."

"Deixem-nos em paz"

A vigília desta segunda-feira em Luanda terá o lema "Deixem-nos em paz": palavras de ordem dirigidas às autoridades, diz o ativista angolano. "Sempre que saímos à rua para exercer os direitos e as liberdades garantidos na nossa Constituição tem havido uma constante brutalidade contra nós. Agridem-nos, batem-nos, prendem-nos. [Este lema] serve para chamar a atenção de que simplesmente queremos pensar nos nossos amigos e exigir dos decisores que nos prestem esclarecimentos de uma vez por todas."

Foi só em dezembro do ano passado, na véspera de mais uma manifestação de amigos e familiares dos desaparecidos, em Luanda, que o ministro do Interior angolano admitiu ter conhecimento do caso, numa reunião com uma delegação dos promotores do protesto.

No fim da reunião, o Procurador-Geral adjunto prometeu uma rápida investigação. Mas passados todos esses meses a família nunca mais foi contactada.

A manifestação de dezembro acabou por se realizar e a polícia voltou a impedi-la violentamente, com bastonadas, gás lacrimogéneo e disparo de balas. Seis manifestantes foram presos e libertados uma semana depois, após o primeiro julgamento.

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