Deutsche Welle
Há um ano que Alves
Kamulingue e Isaías Kassule desapareceram. As famílias, os amigos, a sociedade
civil angolana e organizações internacionais continuam à espera que as
autoridades expliquem o que aconteceu.
Os ativistas
angolanos Alves Kamulingue e Isaías Kassule foram raptados a 27 e a 29 de maio
de 2012. No entanto, apesar de inúmeras diligências feitas pelos familiares e
amigos, o caso continua sem resposta.
O Estado angolano
já fez algumas promessas de investigação, mas as autoridades ainda não divulgaram
quaisquer resultados dessa averiguação.
"Não há
nenhuma informação", conta Jang Nomada, da Central Angola 7311. "Não
é possível os jovens desaparecerem durante um ano e não poderem estar em
contacto com a família, porque eles têm uma responsabilidade, têm mulher e
filhos. Eles não desapareceram do nada. Isso só demonstra que eles estão sob
tutela ou sob controlo do regime. Podem estar vivos ou eles estão a ocultar o
seu cadáver."
No último relatório
da Amnistia Internacional, publicado na passada quinta-feira (23.05), a
organização também diz estar preocupada. A Amnistia cita o desaparecimento de
Alves Kamulingue e Isaías Kassule como o pior caso de violação dos direitos
humanos em Angola no ano passado.
Em entrevista à DW
África, a investigadora da Amnistia Internacional Muluka-Anne Miti voltou a
sublinhar que, até hoje, ainda "não há informação sobre o paradeiro"
dos ativistas, que estavam a organizar uma manifestação em Angola. Miti
condenou também o uso da força pelas autoridades angolanas para reprimir
manifestações organizadas pelos jovens.
Nova manifestação
Para que os nomes
de Alves Kamulingue e Isaías Kassule não caiam no esquecimento, os jovens
angolanos, que pertencem à "geração da mudança", continuam a mostrar
periódica e publicamente o seu repúdio pelo que consideram ser "um crime
de Estado", diz um comunicado da Central Angola 7311.
No documento, o
grupo anuncia a realização de uma vigília em Luanda, esta segunda-feira (27.05).
Mbanza Hamza, rapper e apoiante do chamado Movimento dos Jovens
Revolucionários, que organiza esta vigília, disse à DW África que a iniciativa
é uma forma de fazer pressão.
"Não nos vamos
calar. Nós percebemos logo que esta era uma estratégia do regime. Começaram com
eles para ver como é que nós iríamos reagir", referiu. "Mas nós
estamos determinados. Quando falo em nós digo todas aquelas pessoas, jovens,
velhos e crianças que se reveem nesta causa, na defesa dos direitos humanos, e
que não querem ver este caso simplesmente atirado para as gavetas."
Mbanza Hamza
garante que os jovens vão continuar a protestar até que as autoridades prestem
esclarecimentos sobre o que aconteceu a Alves Kamulingue e Isaías Kassule.
"Não podemos continuar esta indeterminação, para saber se eles estão
mortos, vivos, retidos..."
"Deixem-nos em
paz"
A vigília desta
segunda-feira em Luanda terá o lema "Deixem-nos em paz": palavras de
ordem dirigidas às autoridades, diz o ativista angolano. "Sempre que
saímos à rua para exercer os direitos e as liberdades garantidos na nossa
Constituição tem havido uma constante brutalidade contra nós. Agridem-nos,
batem-nos, prendem-nos. [Este lema] serve para chamar a atenção de que
simplesmente queremos pensar nos nossos amigos e exigir dos decisores que nos
prestem esclarecimentos de uma vez por todas."
Foi só em dezembro
do ano passado, na véspera de mais uma manifestação de amigos e familiares dos
desaparecidos, em Luanda, que o ministro do Interior angolano admitiu ter
conhecimento do caso, numa reunião com uma delegação dos promotores do
protesto.
No fim da reunião,
o Procurador-Geral adjunto prometeu uma rápida investigação. Mas passados todos
esses meses a família nunca mais foi contactada.
A manifestação de
dezembro acabou por se realizar e a polícia voltou a impedi-la violentamente,
com bastonadas, gás lacrimogéneo e disparo de balas. Seis manifestantes foram
presos e libertados uma semana depois, após o primeiro julgamento.
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