Público - Lusa
O que os
portugueses estão a passar “é inaceitável”, entende o prémio Nobel da Economia.
O economista Paul
Krugman considera que Portugal vive um “pesadelo” económico-financeiro e
questiona como será possível ultrapassar problemas estruturais “condenando ao
desemprego” milhares de trabalhadores.
“Não me digam que
Portugal tem tido más políticas no passado e que tem profundos problemas
estruturais. Claro que tem, e todos têm, mas, sendo que em Portugal a situação
é mais grave do que noutros países, como é que faz sentido que se consiga lidar
com estes problemas condenando ao desemprego um grande número de trabalhadores
disponíveis?”, frisa Paul Krugman num artigo
publicado nesta segunda-feira no seu blogue do New York Times,
intitulado Consciência de Um Liberal.
O Nobel da Economia
de 2008 debruça-se sobre a situação portuguesa partindo de um artigo
publicado no jornal Financial Times. Para o economista, se a Europa
avançasse no sentido da política monetária e orçamental expansionista, ou seja,
se aumentasse a circulação de dinheiro na economia, Portugal encontraria aí a
resposta para os seus problemas, “conhecidos há muitas décadas”.
O economista
reconhece que, nesse campo, “Portugal não pode fazer as coisas por conta
própria, porque já não tem moeda própria”. Mas contrapõe: “OK então: ou o euro
deve acabar ou algo deve ser feito para fazê-lo funcionar, porque aquilo a que
estamos a assistir (e os portugueses a experimentar) é inaceitável”, sublinha.
Krugman insiste,
por isso, numa expansão “mais forte na zona do euro como um todo”, “uma
inflação mais elevada no núcleo europeu”, tendo em mente que o Banco Central
Europeu (BCE), assim como a Reserva Federal Americana, são contra taxas de juro
próximas de zero.
“Pode e deve
tentar-se aplicar políticas não convencionais, mas é preciso tanta ajuda quanto
possível ao nível da política orçamental e não uma situação em que a
austeridade na periferia é reforçada pela austeridade no núcleo”, frisou. Mas
pelo contrário, reforçou, aquilo a que se tem assistido nos últimos três anos é
a uma política europeia “focada quase que inteiramente nos supostos perigos da
dívida pública”. “O importante agora é mudar as políticas que estão a criar
esse pesadelo”, concluiu.
Memórias com Silva
Lopes e Miguel Beleza
Num outro texto no seu blogue, Krugman lembra como, em 1975, o então governador
do Banco de Portugal, José da Silva Lopes, que veio a ser ministro das
Finanças, pediu aconselhamento especializado ao Massachusetts Institute of Technology
(MIT). Depois de uma primeira visita de professores da conhecida faculdade
norte-americana, Portugal contou no Verão de 1976 com a ajuda de cinco
estudantes do MIT, entre eles Miguel Beleza, mais tarde governador do Banco de
Portugal e ministro das Finanças, assim como o próprio Krugman.
“A julgar pela
reputação académica de que [estes responsáveis] viriam a gozar mais tarde, eles
[portugueses] tiveram um grande grupo. Um ano depois, chegariam David Germany,
Jeremy Bulow e, imaginem quem, Ken Rogoff”, conta Krugman, referindo-se a um
dos dois autores do polémico estudo sobre o impacto da dívida pública no
crescimento, citado por vários governantes na defesa da austeridade, mas posto
em causa por três economistas norte-americanos que detectaram erros de
cálculo no trabalho.
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