Der
Spiegel, Hamburgo – Presseurop – imagem Patrick
Chappatte
A chanceler parece
estar finalmente pronta para assumir o seu poder assim como as suas
responsabilidades na Europa. Mas uma vez que os seus projetos de reformas vão
no sentido dos sociais-democratas, Merkel precisa de um aliado: o presidente do
Parlamento Europeu Martin Schulz. Excertos.
Foi durante um
jantar organizado na sede do Conselho Europeu de Bruxelas. Tinham acabado de
servir a sobremesa, pouco antes da meia-noite, quando Angela Merkel fez o que
os chefes de governo europeus lhe pediam há meses: assumir
uma posição de líder. Os países da zona euro devem tornar-se mais
competitivos, insistiu a chanceler, o direito de vigilância exercido até à data
pela Comissão Europeia já não é suficiente, é preciso criar “um maior
compromisso”. O que não significa que a “dimensão social” deve ser ignorada,
considerou a líder da CDU. A Europa precisa de dar um “salto qualitativo”.
Angela Merkel está
determinada em assumir o cargo de chanceler europeia no decorrer do seu
terceiro mandato. Nas últimas eleições, os alemães concederam-lhe
mais votos do que alguma vez fizeram, passou a ser vista como “a dirigente
política mais poderosa da Europa” (The Economist), e presidirá em breve a uma
grande coligação com o segundo partido da Alemanha. Angela Merkel está
convencida de que está numa posição de força para promover um projeto que
deverá representar o seu legado político: a reforma
da União Europeia. No entanto, apesar de, por enquanto, não existir o risco
de a moeda europeia acabar, e de a conjuntura da zona euro começar finalmente a
dar sinais de vida, Angela Merkel sabe perfeitamente que a crise pode voltar a
qualquer momento. Desde a França à Itália, os partidos eurocéticos estão
a ganhar terreno, as reformas estão em ponto morto em vários países
endividados e os bancos não estão dispostos a conceder créditos.
Dinheiro em troca
de reformas
A chanceler decidiu
portanto preparar uma série de reformas europeias, e já sabe como impor o seu
projeto: com a ajuda dos seus futuros parceiros de coligação – os
sociais-democratas – tenciona promover o aspeto “social” da sua política
europeia. Trata-se de pôr em prática programas contra o desemprego juvenil,
contra a evasão fiscal, bem como um orçamento próprio para a zona euro para
relançar o crescimento. Em contrapartida, o direito de vigilância de Bruxelas
passará a abranger as políticas financeiras e económicas dos Estados-membros.
Dinheiro em troca
de reformas: Angela Merkel tenciona avançar com o seu programa controverso sob
uma forma “social-democratizada”. Para tal, arranjou um aliado de peso. Angela
Merkel quer fazer aprovar o seu projeto com o apoio do presidente do Parlamento
Europeu, Martin Schulz, que preside à delegação do SPD nas questões de política
europeia no quadro das negociações sobre a formação da coligação, e que tem já
em mente as próximas etapas da sua carreira: por enquanto, ambiciona ser o
cabeça de lista dos socialistas nas eleições europeias do próximo mês de maio.
Mais tarde, se conseguir angariar votos suficientes, irá candidatar-se ao cargo
de presidente da Comissão Europeia em Bruxelas.
Angela Merkel
livrar-se-á finalmente daquele que outrora defendeu, mas que caiu atualmente em
desgraça, o atual presidente da Comissão, José Manuel Durão Barroso. Este
desfecho permitir-lhe-ia realizar reformas favoráveis ao crescimento e à
competitividade em conjunto com Martin Schulz.
Uma estima recíproca
A linha do novo
Governo de Berlim é previsível: a ausência total de obrigações europeias, mais
dinheiro para os programas de recuperação e um escrutínio alargado a Bruxelas.
Para impor este novo rumo, Angela Merkel, apelidada de “Mutti” [mamã] nas suas
próprias fileiras, arranjou um novo favorito na pessoa do presidente do
Parlamento Europeu, Martin Schulz. Apesar do executivo do SPD declarar
publicamente que “Angela Merkel não é [a sua] melhor amiga”, cada um deles
exprime toda a consideração que tem pelo outro depois de os microfones estarem
desligados. Martin Schulz reúne-se de forma regular com a chanceler em Berlim,
trocam mensagens e elaboram compromissos, sendo o mais recente sobre o
orçamento adicional da UE. Ambos se opõem a uma resolução de todos os problemas
à escala europeia. E também partilham a mesma opinião quanto aos meios que
devem ser utilizados para reforçar a união monetária e económica.
Martin Schulz seria
um “elemento de ligação” essencial para a grande coligação. O facto de ser
próximo do líder do SPD, Sigmar Gabriel, pode acabar por ser vantajoso para
Angela Merkel no plano europeu. As eleições europeias do próximo ano serão as
primeiras realizadas de acordo com as condições estipuladas pelo Tratado de
Lisboa. Os resultados serão portanto tidos em consideração pelos chefes de
governo dos 28 Estados-membros para a nomeação do presidente da Comissão.
Martin Schulz, 57 anos, que formou alianças no passado, tem fortes
probabilidades de ser nomeado. Pode contar com um vasto apoio no Parlamento e
no Conselho Europeu, que supera amplamente os membros da sua família política.
Angela Merkel tem noção disso, e aceitaria sem qualquer problema a sua presença
à frente da Comissão, nomeadamente porque o social-democrata goza da confiança
do Presidente francês, François Hollande. O suficiente para relançar um motor
franco-alemão cansado.
Há um único
problema para Angela Merkel: enquanto presidente do CDU, não pode apoiar
abertamente um membro do SPD. Na campanha para as eleições europeias, os dois
futuros parceiros de coligação seguirão caminhos diferentes. No entanto, Angela
Merkel esforça-se para não criar novos conflitos inúteis com o
social-democrata. Na quinta-feira passada, a elite do Partido Popular Europeu
(direita) reuniu-se para debater as próximas eleições europeias. Muitos queriam
que o PPE colocasse o seu próprio cabeça de lista para enfrentar Martin Schulz.
Angela Merkel e o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy,
expressaram por seu lado fortes reservas. A chanceler quer reservar-se o
direito de divulgar o nome do seu favorito para o cargo de presidente da
Comissão após as eleições – talvez se trate do social-democrata Martin Schulz.
Uma coisa é clara:
toda a ajuda dos sociais-democratas alemães será bem vinda se Angela Merkel
pretender impor o seu programa na Europa.
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