Jornal de Notícias
O presidente da
Cáritas Portuguesa alertou, esta quinta-feira, que há cada vez mais pessoas em
situação de "pobreza extrema" em Portugal, porque lhes foi retirada a
"principal fonte de rendimento", o trabalho.
"Temos cada
vez mais pessoas a cair na pobreza extrema, na pobreza mais severa. Não só há
mais gente pobre, como mais gente muito, muito pobre", lamentou Eugénio
Fonseca no Dia Internacional da Erradicação da Pobreza.
Para esta situação,
têm contribuído as medidas de austeridade nos últimos anos, sublinhou.
"A forma de
retirar estas pessoas da pobreza é dar-lhes a oportunidade de acederem a um
novo posto de trabalho", mas "enquanto isso não acontece é
beneficiá-las com medidas compensatórias, as que estão relacionadas com a
proteção social", disse à agência Lusa Eugénio Fonseca.
Mas não é com a
redução das medidas de proteção social que se consegue atenuar a pobreza, antes
pelo contrário, advertiu o presidente da Cáritas, no Dia Internacional da
Erradicação da Pobreza.
Ressalvando que não
quer "ser derrotista", confessou ter "muito receio" de que,
"se não houver uma estratégia bem objetiva que tenha como fim as pessoas e
não o capital, muitas pessoas não voltem a encontrar o posto de trabalho que
perderam".
"Não sei o que
é que poderemos ganhar com isso, porque depois de superada a crise não sei se
teremos as pessoas animicamente preparadas e motivadas para contribuírem para o
desenvolvimento do país como todos desejamos", acrescentou.
Eugénio Fonseca
sublinhou que o desenvolvimento do país "não se faz apenas com euros,
faz-se com pessoas, porque são elas que fazem gerar os euros".
Por isso, defendeu,
é importante que "os políticos, enquanto servidores do bem comum e não
enquanto servidores de interesses pessoais ou corporativos, defendam as
populações e sobretudo os mais fragilizados entre as populações".
Para o presidente
da Assistência Médica Internacional (AMI), Fernando Nobre, "o fenómeno que
está em curso não tem solução há vista para os próximos cinco a 10 anos".
"É uma
situação de mudança da sociedade e o modelo que tínhamos conhecido após a
segunda guerra mundial está esgotado", disse Fernando Nobre, considerando
que "vai ser preciso reinventar novas formas de trabalho, porque as novas
tecnologias vão excluir muitos postos de trabalho".
O presidente da AMI
adiantou que, desde 2008, os 15 equipamentos de respostas sociais da
organização espalhados pelo país duplicaram o número de atendimentos.
"Isto quer
dizer que há muito mais pessoas a tentar obter recursos básicos, nomeadamente
alimentares, mas também para tentarem fazer face a outros encargos como a água,
a luz e o telefone", sublinhou.
Os centros sociais
da AMI estão a socorrer pessoas que "era impensável" que viessem
bater às suas portas: "Temos casais que pertenceram a uma classe média e a
uma classe média alta que estão hoje a beneficiar dos nossos serviços".
Estas pessoas,
devido ao "desvario e incompetência de governos que foram sucedendo na
governação do país, são forçadas, com muita vergonha, a virem bater à nossa
porta", lamentou.
"Não foi este
tipo de sociedade que eu defendi ao longo da minha vida e que me levou a
intervir e até entrar em alguns combates políticos", sublinhou.
Quase metade da
população portuguesa estava em risco de pobreza em 2011, segundo dados do
Instituto Nacional de Estatística, que mostram que, mesmo depois das
transferências sociais, quase 1,8 milhões de pessoas continuavam em risco.
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