Diogo Vaz Pinto – jornal i
Vice-ministro dos
Negócios Estrangeiros do Zimbabué garante que o seu país não irá tolerar um
retorno à guerra civil em Moçambique
"A Renamo está
equivocada se julga que pode criar instabilidade e esperar que o Zimbabué se
limite a assistir de braços cruzados", afirmou ontem à BBC Christopher
Mutsvangwa, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Zimbabué. Na
segunda-feira, o movimento que lidera a oposição ao governo moçambicano - e que,
além dos 51 assentos que detém actualmente no parlamento, conta com um pequeno
exército de cerca de mil homens - rasgou o tratado de paz assinado em Roma em
1992, que pôs fim à guerra civil que assolou o país nos 16 anos que se seguiram
à independência, em 1975.
A denúncia do
acordo veio em resposta à operação do exército moçambicano, que, no mesmo dia,
tomou de assalto a base da Renamo na região montanhosa da Gorongosa, no centro
do país, onde o seu líder, Afonso Dhlakama, se encontrava aquartelado há mais
de um ano.
Na entrevista
concedida a um programa de rádio da cadeia britânica, Mutsvangwa dirigiu um
aviso claro a Dhlakama, acentuando que "nunca, nunca" lhe passe pela
cabeça um retorno à violência. "Os países no Sul de África não vão
permiti-lo. É algo que simplesmente a região não pode aguentar neste
momento", sublinhou, acrescentando que o dispositivo regional da
Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral estaria disposto a enviar
tropas para ajudar o governo de Moçambique na eventualidade de a segurança no
país se deteriorar.
A captura pelos
militares do principal quartel do antigo movimento de guerrilha, em
Sandjunjira, na província de Sofala, levou Afonso Dhlakama e o secretário-geral
da Renamo, Manuel Bissopo, a fugirem para local incerto. Entretanto, homens
armados retaliaram ao raiar do dia seguinte, abrindo fogo sobre uma esquadra da
polícia na vila de Marínguè, a cerca de 35 km daquela base. Na tarde do mesmo
dia, uma coluna militar na região de Muxúnguè, na mesma província, foi também
atacada pelos rebeldes.
Os acontecimentos
que estão a alimentar os receios de que Moçambique possa resvalar novamente
para um conflito civil coincidiram com o início da "presidência
aberta" de Armando Guebuza, actual líder do regime que detém o poder no
país desde 1975. A iniciativa presidencial era aguardada há muito como uma
oportunidade para um alívio na crescente tensão entre a Renamo e a Frelimo
(partido do poder) nos últimos meses.
Ontem Guebuza
defendeu a necessidade de manter o diálogo com a oposição, sublinhando que o
momento "não é apropriado para inimizades, pois o maior perdedor é o povo
moçambicano". "Este não é o tempo para perguntar o que está certo e
está errado. Se alguém pensa que está certo, então que traga a sua posição para
a mesa do diálogo."
Já o ministro da
Defesa de Moçambique, Filipe Nyusi, justificou ontem o ataque do exército à
base da Renamo com a necessidade de "desactivar núcleos do
terrorismo" no país, explicando que o acampamento poderá ser transformado
em quartel militar. "A perseguição era necessária para desactivar este
núcleo do terrorismo e vai continuar para manter a estabilidade no país",
disse.
Enquanto isso, um
conjunto de organizações moçambicanas acusou ontem Armando Guebuza de violar a
Constituição, pelo assalto militar conduzido com o pretexto de reposição da
ordem pública, uma vez que, dizem, constitucionalmente esta acção cabe à
polícia. Falando aos jornalistas, a presidente da Liga dos Direitos Humanos de
Moçambique, Alice Mabota, afirmou que para a sociedade civil moçambicana
"não está claro" o que aconteceu na Gorongosa nem a razão por que
aquele ataque foi perpetrado pelo exército.
Durante os anos da
guerra civil, a Renamo era apoiada pelo regime da minoria branca que controlava
o poder no Zimbabué, mas quando Robert Mugabe chegou ao poder trocou o sentido
da aliança, e desde então passou a ajudar o governo da Frelimo. O CanalMoz
(publicação diária online moçambicana) adiantou entretanto que o exército
moçambicano contou inclusivamente com apoio de tropas do Zimbabué na operação
que levou à captura da base da Renamo esta segunda-feira.
Com 54% da sua
população a viver com menos de um dólar por dia, Moçambique destaca-se como um
dos países mais pobres do mundo, mas a descoberta de enormes reservas de gás
natural na bacia do Rovuma, no Norte de Moçambique, aliada à exploração das
importantes reservas de carvão em terra, têm conduzido o país a um súbito
florescimento económico.
Sem comentários:
Enviar um comentário