Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
Afinal não havia
esperança nem mudança para os Estados Unidos
Quando Lou Reed
soube do escândalo do novo grande irmão americano, disse isto: “É tão chocante
ser Obama a fazer aquela coisa... Foi o nosso homem que fez isto. E isso é
muito perturbador”.
Lou Reed morreu ontem e novos dados sobre a guerra da espionagem liderada a partir da Casa Branca vieram a público. Obama sabia de tudo. De resto, era impossível um presidente dos Estados Unidos não saber.
Lou Reed tinha razão: é extremamente perturbador que seja “o nosso homem” o mentor do maior escândalo de espionagem desde o famoso “Watergate” que derrubou Richard Nixon. De resto, o escândalo “Watergate” é uma brincadeira de crianças comparado com os feitos da Autoridade para a Segurança Nacional dos Estados Unidos. Nixon tinha espiado os democratas, Obama espiou os seus principais aliados. Se depois de tudo o que se sabe sobre a espionagem a Merkel e a outros governos europeus, nada de politicamente substancial acontecer nas relações Europa-Estados Unidos temos a prova acabada de que a Europa é um ente politicamente morto.
Lou Reed tinha evidentemente já constatado que “uma data de coisas que Bush
tinha feito, Obama continuou. Como é que isto foi acontecer?”. Infelizmente
para todos os seus admiradores a priori (eu incluída), Barack Obama é um
sucedâneo de George Bush com o dom do discurso. O resto do edifício americano
legado ficou intacto – a vergonha de Guantánamo, cujo fecho era uma das
promessas do então jovem candidato a presidente.
A Europa geriu pior a crise financeira do que os Estados Unidos, mas essa
gestão iniciou-se com George Bush. A economia americana está hoje melhor do que
a europeia, mas não é líquido que não tivesse acontecido o mesmo se George Bush
estivesse no poder. No dia em que matou Bin Laden, Barack Obama discursou como
George Bush teria feito. Os valores, infelizmente, são exactamente os mesmos.
A ordem para a espionagem aos líderes europeus foi dada por George Bush, mas Barack Obama, tal como tinha feito com o resto das políticas que em nome do combate ao terrorismo servem também para a guerra comercial, renovou a licença para espiar.
É terrível pensar que “o nosso homem” é isto, sempre foi isto e mentiu ao mundo
quando prometeu que seria uma coisa diferente. Não havia esperança nem mudança
para os Estados Unidos – se a Europa aceitar agora o tratado de comércio livre
, é porque está enlouquecida.
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