A União Nacional
para a Independência Total de Angola (UNITA, oposição) acusou esta quinta-feira
em Luanda o partido no poder de estar a preparar uma contramanifestação, com
apoio da polícia, para contrariar a que convocou para sábado "contra a
repressão".
A denúncia foi
feita em conferência de imprensa pelo secretário-geral da UNITA, Vitorino
Nhany, que para o efeito leu na íntegra um documento que alegou provir do
gabinete do 1.º secretário da Comissão Executiva do Movimento Popular de
Libertação de Angola, e governador Provincial de Luanda, Bento Francisco Bento.
No documento, de
que Vitorino Nhany destacou a referência "Confidencial", refere-se
que é prioritário "responder vigorosamente" à iniciativa da UNITA,
classificada como "ato perigoso" para o MPLA.
"Uma equipa
devidamente instruída atuará em cada município com orientações já definidas e
que no momento oportuno vos será comunicado as ações de distração e contenção
que as mesmas irão efetuar contando com o total apoio da Polícia
Nacional", leu Vitorino Nhany, citando o documento.
O secretário-geral
da UNITA disse, a este respeito, que a questão vai ser levantada na reunião que
uma delegação do partido terá à tarde no Ministério do Interior.
Na conferência de
imprensa, Vitorino Nhany justificou a realização da manifestação com a
necessidade de se dizer "basta".
"Achamos que é
altura de nos manifestarmos e sair à rua e dizer basta, que é para amanhã não
haver mais nenhum outro angolano que seja eliminado só porque pensa
diferentemente seja de quem for", disse.
A convocação da
manifestação, anunciada logo no passado dia 15, pela UNITA, vem na sequência do
comunicado divulgado dois dias antes pela Procuradoria-Geral da República (PGR)
de Angola sobre quatro detenções relacionadas com o rapto e provável homicídio
de dois ex-militares.
Os dois
desaparecidos, presumivelmente mortos, como assumiu a PGR no comunicado, são os
ex-militares Isaías Cassule e Alves Kamulingue, raptados na via pública, em
Luanda, a 27 e 29 de maio de 2012, quando tentavam organizar uma manifestação
de veteranos e desmobilizados contra o Governo de José Eduardo dos Santos.
Também dois dias
depois do comunicado da PGR, o chefe do serviço de Inteligência e de Segurança
do Estado (SINSE) de Angola, Sebastião Martins, foi demitido do cargo por José
Eduardo dos Santos.
Sebastião Martins
acumulava aquele cargo com o de ministro do Interior quando os dois
ex-militares foram raptados.
Os motivos da
exoneração não foram revelados, mas presume-se que estejam relacionados com o
alegado envolvimento de agentes do SINSE na presumível morte de Isaías Cassule
e Alves Kamulingue.
Na conferência de
imprensa de hoje, Vitorino Nhany reiterou que o objetivo do protesto na rua é
exprimir "dor" e "repulsa" pelos "bárbaros
assassinatos" de Cassule e Kamulingue.
"Nenhum
Governo, eleito ou não, tem o direito de raptar e matar pessoas. Seja por que
motivo for. Queremos também dizer que queremos viver em paz, em liberdade e em
democracia. A ditadura tem de acabar e dar lugar à democracia como consagra a Constituição",
concluiu.
EL // VM – Lusa –
foto Paulo Novais
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