Martinho Júnior,
Luanda
Em simultâneo à jogada geo estratégica dos Americanos do “lobby” do petróleo,
tirando partido da aristocracia financeira mundial de que faz parte integrante,
no Cáucaso, não passou despercebida a situação de “volte face” do presidente
russo Vladimir Putin em relação à quinta maior empresa petrolífera do mundo, a
“Yukos”, que levou à prisão, a 25 de Outubro de 2003, do seu Director Executivo
Mikhail Khodorkovsky, com várias acusações, entre elas as de fraude e fuga ao
fisco.
A decisão que no entanto tem também carácter político, pois Mikhail
Khodorkovsky apoia partidos de oposição a Vladimir Putin que utilizam as bases
de apoio externas do poder hegemónico e por dentro dos processos e interesses da
aristocracia financeira mundial no quadro da “globalização”, era um sinal de
que o presidente russo procura parar a fragilização dos interesses nacionais
num sector vital para o seu país, fragilização essa que havia influenciado
negativamente, segundo a visão geo estratégica do estado da Rússia, na crítica
Região do Cáucaso.
De facto, a 3 de Novembro de 2003 a “BBC” publicava o perfil de Mikhail
Khodorkovsky, um magnata Russo do petróleo com uma riqueza estimada em 8 mil
milhões de USD, apoiante dos partidos “Yabloco” e o “União das Forças de
Direita” (“SPS”), incluindo com apoios de carácter financeiro, qualquer deles
de tendência liberal , que participaram nas eleições russas de princípios deste
mês, não fazendo alguma vez segredo disso.
A “BBC” referia também que o apoio financeiro fornecido àqueles partidos por
parte da empresa petrolífera, feria o seu papel na sociedade.
Por outro lado Vladimir Putin, que parece pautar as suas opções por uma visão
multi polar do poder económico em contraste com as pretensões que a
aristocracia financeira mundial sustenta ao concentrar seus interesses num
poder hegemónico uni polar, punha em guarda a elite muito estrita dos “novos”
oligarcas russos, cujo papel é similar ao de “um cavalo de Tróia” ao serviço
desses interesses, numa altura em que na Rússia, tal como na Geórgia, se
aproximava a atmosfera das eleições.
A CNN foi dando imediatos sinais do desacordo das “elites globais” à decisão do
presidente russo:
A 4 de Novembro de 2003 evidenciava que o senador John McCain considerava que
“o governo russo sob as ordens de Vladimir Putin estava-se rapidamente a mover
na direcção errada”, pois interpretava a prisão de Khodorkovsky como uma
amostra do que “aos olhos do Kremlin havia o pior dos crimes – o apoio à oposição
política do presidente Putin e um centro de poder alternativo que era
interpretado como uma ameaça ao controlo político supremo do Kremlin”.
O Senador John McCaina concluía: “é tempo de enviar um sinal ao Governo do
Presidente Putin que uma atitude não democrática, excluirá a Rússia da
companhia das democracias Ocidentais”.
O Departamento de Estado, encetando contactos com os Russos , obteve a
confirmação do ponto de vista Russo:
“É evidente que há um factor político aqui que se tornou no factor crítico, de
acordo com o nosso ponto de vista e explica as razões da aplicação da lei
efectivamente em relação a um oligarca e não em relação a qualquer outro, pelo
menos por agora”.
Desse modo ficava implícito que Khodorkovsky, ao apoiar “actividades muito abertas
e agressivas” incluindo apoios a partidos políticos e a direcção duma fundação
de apoio à democracia e à sociedade civil , representou “uma ameaça à
autoridade do estado”, apesar do estado russo pretender manter o quadro dos
seus relacionamentos estratégicos com os Estados Unidos, continuando a
implementar uma economia de mercado e tendo em conta os “dossiers” mais
quentes, entre eles os que se prendem com a evolução da situação no Cáucaso.
As acusações de fraude, fuga ao fisco e “lavagem de dinheiro” tornaram-se
extensivas, para além da “Yukos” sob a direcção de Mikhail Khodorkovsky, a
bancos como o “Menatep” (que foi por si fundado em 1987), conforme
acompanhamento do caso por parte do “The Rússia Daily Journal” de 10 de
Novembro de 2003 e com base em provas que estão a ser divulgadas até hoje,
implicando idênticas acções no exterior, como na Suiça, no Luxemburgo, nas
ilhas Virgens Britânicas, nas Seychelles, no Panamá e nas Bahamas, em benefício
de bancos como o “J. P. Morgan Chase”, o “Banco de Nova York”, o “Citibank” , o
“Finter Bank”, o “Banque LEU”, o “Lombard Odier”, o “Danier”, o “Ruegg SG”, ou
o “Helenic Bank”, entre outros.
A 28 de Novembro o mesmo jornal noticiava que na Suiça fora feita uma “acusação
de crime contra Mikhail Khodorkovsky, Platon Lebedev e Alexei Golubovich”, com
base em “lavagem de dinheiro e apoio a organizações criminosas”, a partir de
investigações levadas a cabo pela polícia sobre Delegações na Suiça do “Menatep
SA”, “Menatep Finances SA & Valmet” e “Banco LEU”.
Platon Lebedev já se encontra preso na Rússia desde Julho do corrente ano sob a
acusação de sonegar interesses do estado durante a privatização levada a cabo
em 1994 duma empresa de fertilizantes, o que abriu caminho para a prisão de
Milhail Khodorkovsky.
Ao estado russo por outro lado, tornou-se evidente que o papel de Mikhail
Khodorkovsky era muito mais de que o dum Director Executivo duma empresa
estratégica com as dimensões da “Yukos”, até por que ele não procurou evitar o
choque com Vladimir Putin ao comprar o jornal “Moskovskiye Novosti” que colocou
sob a direcção dum jornalista investigador que é crítico do Presidente.
De facto, parece ser com uma “Yukos” respondendo à geo estratégia do poder
hegemónico, tendo ao comando um homem como Mikhail Khodorkovsky, que os
interesses estratégicos no sentido da multi polarização do poder económico
“global” ficavam em causa na Rússia (até por que a “Exxon Móbil” se preparava
para comprar a “Yukos”), contrariando a estratégia do presidente Vladimir Putin
e fragilizando a estratégia russa no Cáucaso, com a única vantagem de melhor se
esclarecerem em rescaldo os papeis e o sinal da aliança de James Baker com
George Soros, tendo como dinâmica os interesses do poder hegemónico em relação
ao petróleo no leste da Europa e no Cáucaso.
Desde que se registou a prisão de Mikhail Khodorkovsky e com isso se
inviabilizou a compra da “Yukos” pela “Exxon Mobil”, que as suas cotações na
Bolsa desceram 20 %, de acordo com uma apreciação da BBC a 12 de Novembro de
2003 (imagine-se quanto não terá deixado de ganhar George Soros através dos
seus “negócios de especulação” pela via dos seus expeditos processos de
ingerência).
A comprovar o papel de Mikhail Khodorkovsky como um homem completamente
alinhado com os interesses da aristocracia financeira mundial, (que é
determinante na nova revolução capitalista, como o é do exercício do poder
hegemónico norte americano), está também o facto de ele, à imagem, semelhança e
inspiração de George Soros, que concebeu a “Open Society” para camuflar as suas
jogadas de mega especulador (muito provavelmente também com derivas para algum
dos casos do “Menatep”), fundou em nome da “Yukos” a “Open Rússia Foundation”
em 2001, “uma Organização Internacional, Independente e de caridade, operando
como doadora privada” e “apoiando Instituições Académicas e as Organizações não
lucrativas”.
A “Open Russia Foundation” é uma Organização que está a captar a fina flor dos
cérebros russos em todas as disciplinas de actividade, aparentemente com
objectivos filantrópicos, o que pode ser uma perfeita “cortina” para se
alcançarem outro tipo de fins, se levarmos em consideração o facto dos países
desenvolvidos continuarem a atrair gente com capacidade e conhecimento, para
engrossar o caudal investigativo das indústrias de ponta, incluindo as
tecnologias militares (e a Rússia nesse aspecto é bem reconhecida).
É sintomático que para além de Milhail Khodorkovsky o “board of trustees” da
“Open Rússia Foundation” seja formado por personalidades como Henry Kissinger,
ou Lord Jacob Rothschild, este último o decano da poderosa família que gravita
acima de George Soros, entre outros.
Parece não ter havido surpresa por parte das autoridades russas quando George
Soros, precisamente em entrevista ao “Moskovskiye Novosti” em princípios de Novembro
de 2003, (entrevista citada pela “BBC” a 7 de Novembro de 2003), criticou a
prisão de Mikhail Khodorkovsky:
“Está-se agora a entrar numa fase de capitalismo de estado, em que todos os
detentores de capital terão de ficar dependentes do estado”…
… E parece não ter havido surpresa por que, de acordo com a “BBC” e o “The St.
Petersburg Times” de 11 de Novembro de 2003, “homens vestidos de camuflado
invadiram os escritórios da Open Society do bilionário George Soros, não
deixando sair os seus funcionários e levando todo o equipamento e documentos
num camião fechado , de acordo com um advogado da Instituição” (Pavel Kuzman).
Os referidos homens, mais de 50, teriam agido por conta e risco da empresa
proprietária do edifício, a “Sektor – 1”, que confiscava todo o recheio por
causa de alegadas falhas de compromisso da “Open Society” em relação ao regime
de aluguer e de compra acordados para o nº 8 Ozerkovskaya Naberetzhnaya em
pleno centro de Moscovo.
Se George Soros estava por dentro do “afastamento” de Eduard Chevardnadze pela
via da “Revolução das Rosas”, saindo-se com ganhos e em ascensão nas eleições
da Geórgia, as perdas pré eleitorais na Rússia em oposição a Vladimir Putin com
“módulos” de actuação em tudo similares foram aparentemente muito importantes,
mesmo que não sejam apresentadas, a público, estimativas financeiras.
Artigo publicado a 12 de Dezembro de 2003 no nº 376 do semanário ACTUAL, em
Luanda.
Foto: Página do ACTUAL onde foi publicado o artigo.
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