segunda-feira, 18 de novembro de 2013

BARROSO, O MORDOMO

 
 
Daniel Oliveira – Expresso, opinião
 
Quando João de Deus Pinheiro abandonou o cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros, sendo chutado para a Europa e terminando assim a sua carreira política nacional, o seu ambicioso secretário de Estado da Cooperação, entrado na política com o alto patrocínio de Santana Lopes, teve, na sombra, um papel decisivo. Chegou a ministro, uns anos mais tarde a líder do PSD e, graças à inesperada demissão de Guterres, a primeiro-ministro.
 
A história deu ao ex-maoista Durão Barroso uma dessas oportunidades históricas que muda a vida dum homem. George Bush precisava de exibir os seus aliados europeus na injustificável ocupação do Iraque que se preparava, baseada num conjunto de mentiras. Aznar e Blair foram os únicos que aceitaram participar numa encenação que pretendia esconder o quase absoluto isolamento dos EUA nesta aventura. Era necessário um palco longe do mais que seguro protesto popular - uma ilha era o ideia -, onde houvesse uma base militar americana que garantisse a segurança do presidente - as Lajes, perdidas no meio do Atlântico, eram excelentes -, num país com pouca relevância política e militar - Portugal encaixava - e com um governo disposto a oferecer a sua imagem a uma guerra absurda só para mostrar serviço. Para o primeiro-ministro português, era a oportunidade de aparecer na fotografia, mesmo que apenas como mordomo - na maioria das fotos publicadas nos principais jornais internacionais ele ficou de fora. E foi nesse momento, pela porta de serviço, que Barroso conseguiu o sonho de qualquer bom mordomo: ser igual aos senhores que bajula.
 
Quando foi preciso escolher um presidente para a Comissão Europeia, as potências europeias procuraram alguém que, pela sua irrelevância política, não viesse a ser um perigo para o poder alemão e francês. Como segunda ou terceira escolha, encontraram o primeiro-ministro que tão bem recebera nas Lajes. A posição que tivera sobre o Iraque era indiferente. O que contava era a sua disposição para moldar todas as suas convicções aos interesses de quem pudesse alimentar as suas ambições. Ao contrário doutros, Barroso aceitou interromper o seu mandato no governo português, entregando o poder ao seu companheiro Santana Lopes. Chegado a Bruxelas, não desiludiu. Até do apelido que sempre usara (Durão), por não ser de pronuncia conveniente, ele abdicou.
 
Em Portugal, muitos foram os que apelaram ao provincianismo nacional, dizendo que viria a ser benéfico para Portugal ter um português a presidir a Comissão. Isso dificilmente seria verdade, se o presidente cumprisse a sua função, que era a de zelar pelos interesses da Europa e não dum Estado em particular. Mas seguramente não aconteceria com Barroso. Ele trabalharia para quem tem poder e as suas origens seriam a ultima das suas preocupações. O mordomo interioriza os valores dos seus senhores e quase sempre se envergonha do lugar de onde vem. O seu orgulho é servir. Por isso mesmo Barroso foi o líder europeu mais arrojado (mais do que a própria troika ou FMI) na pressão ao Tribunal Constitucional português. Alguma vez Barroso se atreveria a dizer coisas semelhantes sobre o sempre ativo Tribunal Constitucional alemão?
 
A última vez que José Manuel Barroso mostrou a sua vontade de servir quem manda foi na semana passada. Perante a abertura de um processo de análise à Alemanha, obrigatório por esta ter ultrapassado os excedentes comerciais permitidos pelos tratados (6,5% em vez de 6%), o presidente da Comissão tentou diminuir o alcance daquilo que parecia um acontecimento interessante: as regras europeias também se aplicam à Alemanha, ideia peregrina que causou algum incómodo em Berlim. Barroso desfez-se em desculpas: "Isto não deve ser entendido como se a Europa estivesse contra a competitividade da Alemanha. Pelo contrário, é muito bom para a Alemanha e para a Europa, sendo a sua maior economia, que a Alemanha se mantenha como um país tão competitivo e níveis de exportação e crescimento destes. Se posso dizer, gostaríamos até de ter mais 'Alemanhas' na Europa".
 
Apesar da Alemanha fingir que não o compreende, ninguém terá de explicar a Barroso o absurdo deste desejo. Por um lado, os excedentes comerciais alemães, pelo menos na proporção dos últimos anos, criam uma pressão para a valorização do euro, o que é uma tragédia para muitos países europeus, impedindo qualquer ajustamento económico. Ou seja, são, para o euro, um problema tão grave como o oposto. Por outro, o mercado interno europeu não é compatível com excedentes nacionais destas dimensões. Por uma razão simples: para alguém vender é preciso que alguém compre. Como nenhum Estado europeu pode abdicar do enorme mercado em que está integrado, se todos decidirem que só vendem e poupam, a economia paralisa e ninguém vende nem poupa. Este excedente comercial alemão, é sabido, é, a par da absurda arquitetura do euro, um dos maiores problemas económicos atuais da Europa. Que, como avisaram já tantos economistas, ou é rapidamente resolvido (através do fim da política de contenção salarial, inibidora do consumo, há anos imposta aos trabalhadores alemães) ou destruirá o euro, a União Europeia e, por consequência, a própria Alemanha. Tratar, como Barroso tratou, esta questão como um mero pormenor técnico diz tudo sobre a forma como as instituições europeias há muito desistiram de representar os interesses de toda a Europa.
 
Esta vergonha em tentar que a Alemanha, por uma vez, cumpra os tratados que impõe aos outros, que em tudo contrastam com a vigorosa chantagem sobre os juízes do Constitucional português, são o retrato da Europa e das suas instituições. Barroso, pela sua fraqueza de princípios, pela ausência de coragem política e pela sua subordinação ao poder dos mais fortes é, ele mesmo, nas funções que ocupa, um retrato do estado da União. Diz-se que, depois de ter abandonado o País por um melhor emprego, quer regressar para ser eleito Presidente da República portuguesa. Tal desejo só me deixaria muito espantado se não olhasse para Belém e não encontrasse lá um dos poucos políticos que ultrapassa Barroso na subordinação de todos os valores à sua própria ambição pessoal. Mas, mesmo assim, até esta direita, deprimida com o estado em que os dois partidos que a representam estão a deixar o país, é capaz de encontrar melhor do que isto.
 

MDM TEM MAIS CULPA PORQUE FOI FAZER SHOWMÍCIO NA VARANDA DA FRELIMO

 

Gustavo Mavie – AIM, opinião

Maputo, 18 Nov (AIM) - Nos países onde os direitos e a privacidade dos outros são respeitados, a semelhança da Inglaterra onde vivi algum tempo, se alguém tem vizinhos muito próximos e quer fazer uma festa é imperioso que comunique à polícia.

Mais importante ainda, tem que pedir autorização aos seus vizinhos e, mesmo assim, a festa não pode exceder a hora previamente acordada.

Infelizmente, entre nós, talvez porque começamos a trilhar o caminho que leva ao civismo muito tarde demais, fazemos festas barulhentas pelas noites dentro, sem termos pedido aos nossos vizinhos que, até podem estar a padecer de doenças delicadas e sensíveis ao ruído, como é o caso da hipertensão.

Há quem diga que somos assim, porque a maioria de nós ainda não assimilou as boas práticas urbanas, razão pela qual até urinamos em tudo que é sítio.

Talvez porque só começamos a trilhar os tais caminhos do civismo em 1975, quando fomos libertados do diabólico colonialismo pela mesma Frelimo que, hoje, alguns odeiam com uma intensidade que nunca chegaram a odiar aqueles que nos dizimavam com as armas do apartheid, no caso vertente a Renamo, e alguns dos que agora nadam nas águas do MDM que, na óptica de alguns, é a Renamo apenas com outra roupagem.

Toda esta referência à imperiosidade de se pedir aos vizinhos antes de se fazer uma festa capaz de prejudicar o seu descanso, vem a propósito do showmício que o MDM, do Daviz Simango, realizou na Varanda da Frelimo, segundo as palavras de um colega da Beira que assistiu aos confrontos da Munhava. 

Ele considera o local onde o MDM fez o seu showmício de
Varanda da Frelimo, porque dista cerca de 200 a 300 metros da Sede da Frelimo, o que para ele é algo muito estranho e suspeito, porque era suposto que o MDM tivesse calculado à prior que, sendo um momento de campanha, a própria Frelimo precisaria dessa sua varanda para acomodar milhares de seus militantes e apoiantes que, obviamente, não podiam caber dentro do edifício da sua sede.

Aliás, pelos relatos que tive a oportunidade de acompanhar através da imprensa e de alguns colegas que estiveram a cobrir a campanha da Frelimo e do MDM, tudo começou quando a caravana da Frelimo estava a regressar de mais um giro pela cidade.

Ao tentar passar entre os participantes ao showmício do MDM para chegar à sua sede, a caravana da Frelimo deparou-se com a oposição de alguns dos simpatizantes do partido do Daviz Simango que participavam no showmício.

Para mim, é algo que não se pode explicar com simples palavras, quando se procura saber como é que a liderança do MDM decidiu organizar o seu showmício nas proximidades da sede da Frelimo, de quem essa mesma liderança do MDM encara não como adversário político mas sim como inimiga, daí que, desta vez, uma das acusações que voltou a fazer o próprio Daviz, foi de que os incidentes de sábado último na Munhava, tinham como principal objectivo assassiná-lo.

Será que o MDM não tinha outro lugar melhor na cidade da Beira para fazer o seu showmicio, a não ser nas proximidades do seu adversário político, aliás, inimigo?

Como é que o Daviz esperava que a Frelimo fosse dar à sua sede, se a sua varanda estava ocupada pelos seus shomicistas? Será que o Daviz Simango haveria de considerar normal se a Frelimo fosse fazer o seu showmicio na sua varanda ou mesmo nas imediações da sua sede?

Pior que tudo isto, como é que o MDM haveria de encarar esta decisão se ocorresse num dia em que o próprio MDM estivesse no último dia de uma campanha eleitoral como foi o caso da Frelimo, em que a sua sede na Munhava estava a conhecer um movimento desusado dos seus próprios membros, devido à campanha que estava a levar a cabo?

Não acha mesmo que a escolha do local pode ser vista como uma armadilha que visava o que acabou acontecendo? E que agora o Daviz está a expor a toda a força e a todo o mundo como mais uma prova de que a Frelimo é mesmo contra o MDM?

Mas se já sabe que a Frelimo é sua inimiga número 1 como o diz a todo o momento sem prova-lo convincentemente, porque é que não evita estar onde está e pior que isso, vai onde está? Não terá urdido e aplicado aqui, neste caso da Munhava, a estratégia do antigo político e multimilionário nigeriano, Moshodu Abiola, de que quando ser quer beijar uma mulher, há que se estar próximo dela, do mesmo modo que para se bater a um homem, há que se estar próximo dele? Não terá sido para bater a Frelimo que o levou a organizar o seu showmicio na sua varanda?

Levanto esta hipótese, porque não vejo porque é que foi fazer o seu showmicio nas proximidades da sede de um partido que mesmo que esteja untado pelo perfume mais bem odoroso do mundo, lhe enjoa! Ou era para mostrar à Frelimo que todos os beirenses estão morrendo de amores por si e pelo seu MDM. Mas se era esta a intenção, nos dias em que estamos, não precisava de ir mostrar in loco, porque as mágicas TV´s, agora com os plasmas, até se vê melhor em tempo real o que acontece pelo país e mundo fora, independentemente da nossa localização, e em melhores condições que algumas pessoas que até estão no terreno.

MUNHAVA FOI REPETIÇÃO APENAS DA VELHA ESTRATÉGIA DE CULPABILIZAR INOCENTES

Na verdade, para nós que como jornalistas temos a obrigação de acompanhar o que vai acontecendo como o que o MDM vai fazendo, o caso Munhava é apenas a repetição, com outras vestes de uma velha estratégia de urdir esquemas que possam induzir as pessoas menos informadas a acreditarem que A Frelimo é sempre o mau da fita.

O mesmo aconteceu nas eleições gerais de 2004, quando o MDM tentou culpar a Comissão Nacional de Eleições (CNE) de tê-lo excluído deliberadamente de sete dos 11 círculos eleitorais existentes em Moçambique.

Como sempre, alegaram que a sua exclusão teria sido urdida pela Frelimo, porque sabia que se concorressem em todas as províncias, o MDM iria ganhar em todas. Só que isso não era verdade porque apesar de o próprio Daviz Simango ter concorrido como candidato a Presidência da República teve de se conformar com o terceiro lugar, tendo Dhlakama caído no segundo e Guebuza no primeiro, com uma maioria esmagadora de 75 por cento dos votos validos.

Foi graças aos factos que nos foram providenciados pela CNE na altura, que ficamos a saber que o verdadeiro culpado dessa exclusão do MDM era a própria liderança daquele partido, que submeteu parte mínima dos processos referentes à inscrição dos seus candidatos às Assembleias Provinciais no último dia do prazo estabelecido e, pior que isso, quando faltavam apenas 15 minutos do término do horário de expediente.

Mesmo assim foi gritando aos quatro ventos que havia sido excluída deliberadamente a mando da Frelimo, porque temia a vitória do MDM. E veja que fez esta acusação apesar de que a própria liderança do MDM havia escrito uma carta à CNE, em que pedia encarecidamente a esta, que aceitasse receber à posterior, os processos que não havia submetido dentro do prazo.

Isto é grave quando se recorre a mentiras e acusações contra inocentes. É o que me parece que o MDM está a repetir no Caso Munhava, onde foi bloquear a Varanda da Frelimo, para criar condições de choques entre militantes de ambos os partidos e daí acusar a Frelimo de ser contra o seu partido.

(AIM) - SG
 

GOVERNO ADMITE PARTICIPAÇÃO DE OBSERVADORES NACIONAIS NO DIÁLOGO COM A RENAMO

 


Maputo, 18 Nov (AIM) O governo moçambicano admitiu hoje a possibilidade de participação de observadores nacionais no diálogo com a Renamo, partido militarizado com o qual tem estado em conversações há cerca de seis meses, mas sem nenhum consenso nas matérias em discussão.

A Renamo exige a presença de mediadores e observadores nacionais e internacionais para regressar à mesa do diálogo interrompido há algumas semanas.
 
Como que a provar a sua palavra, a delegação da Renamo faltou a ronda de hoje do diálogo, apesar da presença, no local, da delegação do governo.

Falando hoje, em Maputo, a jornalistas, o Chefe da delegação do governo e Ministro da Agricultura, José Pacheco, manifestou a abertura do governo quanto a participação de observadores nacionais no diálogo.

Como Governo, até admitimos a possibilidade de podermos contar com a presença de observadores nacionais, disse Pacheco, falando a imprensa no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, local onde têm acontecido os encontros com a Renamo.

Na ocasião, o governo convidou a Renamo a voltar à mesa do diálogo, por este fórum ser a sede de tratamento das suas preocupações.

O diálogo político entre o governo e a Renamo iniciou há cerca de seis meses, com três matérias submetidas pela Renamo, incluindo a revisão da legislação eleitoral; defesa e segurança; despartidarização do aparelho do estado; e questões económicas.

Contudo, as partes ainda não saíram do primeiro ponto de agenda devido a falta de consenso no que toca a exigência da Renamo de paridade na representação dos partidos políticos nos órgãos eleitorais.

Enquanto isso, a Renamo tem estado a intensificar os ataques armados a civis e militares na região centro e norte do país, tendo já causado dezenas de mortos e feridos e destruição de bens civis.

Diversas pessoas acreditam que a actual crise será ultrapassada com um frente-a-frenteentre o Chefe do Estado, Armando Guebuza, e o Presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, ora em parte incerta.

Na conferência de imprensa de hoje, José Pacheco disse ainda que o governo reitera a sua disponibilidade de manter o diálogo com a Renamo para, dentre várias matérias, preparar o encontro entre o Presidente da República e o líder deste partido.

Igualmente, Pacheco anunciou a disponibilidade da equipa técnica militar do governo para se encontrar com a sua contraparte da Renamo visando tratar de assuntos militares, que constituem o segundo ponto de agenda na mesa do diálogo.

(AIM) - MM/mz - foto em cache de Lusa

Angola: “DIPLOMACIA DO SILÊNCIO” PODE MELHORAR RELAÇÕES COM PORTUGAL

 


Angola está a exercer "a diplomacia do silêncio, ao invés da diplomacia pública" para resolver a crise nas relações com Portugal, disse hoje o adido de imprensa da embaixada angolana em Lisboa.
 
Convidado para participar numa conferência sobre "o estado actual das relações Portugal-Angola", na Universidade Lusíada, o embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, fez-se representar pelo adido de imprensa Estêvão Alberto, que usou da palavra apenas uns minutos e justificou que o convite para a sessão "chegou muito tardiamente".
 
Além disso, recordou, "todos os responsáveis" angolanos "já falaram" o que tinham a falar sobre o assunto e o ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, encontra-se a preparar uma "comunicação ao Estado português".
 
É preciso "deixar que evoluam com naturalidade" os "contactos diplomáticos" em curso, disse o adido de imprensa da embaixada de Angola. "Pretende-se a melhoria das relações entre Angola e Portugal", assegurou ainda.
 
Promovida pelo Centro Lusíada de Investigação em Política Internacional e Segurança, a conferência contou ainda com o embaixador português Martins da Cruz, que apontou as causas e os riscos da "recente turbulência" entre os dois países.
 
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros apontou algumas das razões que justificam "o mal-estar angolano", entre as quais as "fugas de informação" sobre casos envolvendo dirigentes angolanos em apreciação na justiça portuguesa, "que só podem ter partido do interior do Ministério Público" e que foram acompanhadas por "ruído" na comunicação social portuguesa.
 
Além disso, "Angola está a ser usada como arma de arremesso entre os partidos políticos portugueses", apontou, sublinhando que as relações bilaterais se processam "Estado a Estado e não partido a partido ou empresa a empresa".
 
Na opinião do embaixador, "o Governo português procedeu bem" no caso, ao manter uma diplomacia de 'low profile' [discreta] e encarando as relações com Angola com a mesma normalidade que tinham antes do discurso do Presidente angolano".
 
A 15 de Outubro, José Eduardo dos Santos anunciou, perante o Parlamento angolano, a suspensão da anunciada parceria estratégica com Portugal, alegando não estarem reunidas condições.
 
Também "Angola continuou a comportar-se da mesma forma do que antes", pois "não tinha interesse nenhum em levar mais longe" a tensão com Portugal, assinalou Martins da Cruz, reparando que Luanda "procurou desactivar a turbulência". Porém, o caso "dura há dois meses e ainda não se encerrou", lamentou, vincando que "a política externa não pode ter estados de alma".
 
Recordando que Angola é o quarto mercado de exportação para Portugal e que todas as empresas do índice bolsista PSI-20 estão representadas no país africano lusófono, onde 150 mil portugueses estão a trabalhar, o embaixador alertou ainda para "o risco" de desvalorização da política externa portuguesa, na qual "um dos activos" é "a relação privilegiada com os países africanos de língua portuguesa".
 
"Não estaremos num clima de Guerra Fria", mas é preciso "um desanuviamento", referiu, por seu lado, António Luvualu de Carvalho, professor na Universidade Lusíada de Angola, sublinhando que, "para que possa haver parceria, é necessário haver igualdade nas relações e respeito mútuo".
 
Porém, de acordo com os "estereótipos" em Portugal, a riqueza dos angolanos "implica corrupção e ilicitude", disse.
 
Considerando que os angolanos são alvo de "perseguição" em Portugal, o investigador questionou por que é que "só os angolanos são perseguidos pela justiça portuguesa" e "só os dinheiros angolanos são questionados".
 
Lusa
 

Angola: DIVERSIDADE DE IDEIAS

 


"A Terra não pode esquecer, nunca, as agressões contra Angola até 2002, porque elas foram alimentadas por nazis e defensores do apartheid, com o apoio político de forças políticas do “arco da governação”, em Portugal."*
 
Jornal de Angola, editorial
 
A tolerância em regimes democráticos está no centro do debate político. A democracia pressupõe a diferença e esta deve ser vista, não como um mal, mas como um factor gerador de progresso. A liberdade de expressão só nos conduz à consolidação do Estado Democrático e de Direito, pelo que deve ser incentivada, na medida em que estimula a participação dos cidadãos na vida política.
 
E é importante a participação, porque todos têm uma contribuição a dar na solução dos problemas. É na diferença de ideias que podemos encontrar as melhores soluções para os problemas das comunidades.

Angola vive num regime de multipartidarismo desde 1992 e a convivência entre as diferentes organizações políticas pode ser considerada positiva, apesar de alguns problemas que surgem aqui ali entre membros de diferentes partidos. Desde que foi instituído o multipartidarismo em Angola, tivemos um grave problema que pôs tudo em causa. Aconteceu uma guerra sangrenta, que fazia parte da estratégia de um partido para a tomada do poder. Convém lembrar sempre essa excepção desonrosa e que os angolanos condenaram no passado, rejeitam hoje e vão continuar a rejeitar no futuro. Há coisas que a Humanidade não poder esquecer. E nos tempos modernos tivemos três situações que nunca devem sair da memória dos povos, para que jamais se repitam: o Holocausto dos Nazis, o Apartheid em vários países, sobretudo EUA e África do Sul, e a Guerra Colonial que Portugal impôs aos povos de Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. Neste ponto entram duas guerras mais mortíferas e destruidoras, após as Independências Nacionais, em Angola e Moçambique. A Terra não pode esquecer, nunca, as agressões contra Angola até 2002, porque elas foram alimentadas por nazis e defensores do apartheid, com o apoio político de forças políticas do “arco da governação”, em Portugal.

Mas em Angola triunfou a tolerância que tem garantido a estabilidade e o normal funcionamento das instituições do Estado. Temos um Parlamento em que são discutidos os grandes problemas nacionais, apesar dos abandonos das sessões plenárias por algumas forças ainda pouco versadas nas regras da democracia. É preciso referir que mesmo durante a guerra levada a cabo por um partido representado no Parlamento, nunca se verificaram gestos de intolerância em relação aos políticos desse partido. Esse gesto magnânimo e de grandeza democrática está a ser interpretado pelos seus dirigentes, basicamente os mesmos que fizeram a guerra, como sinais de fraqueza da sociedade. Estão muito enganados. E só não compreendem a grandeza da tolerância democrática porque continuam com o dedo no gatilho e o pensamento na guerra. Nunca abandonaram o projecto de tomar o poder pela força das armas.

O MPLA, que ganhou as primeiras eleições multipartidárias em 1992, demonstrou um elevado sentido de Estado. Fez Governo com todas as forças que elegeram deputados e todos aceitaram conviver no Parlamento com um partido que fazia a guerra contra a soberania nacional e a democracia. Foi um gesto de tolerância, que suscitou a admiração de políticos de vários países do mundo. Houve até académicos que estudaram o “caso angolano”, pelas suas especificidades. Nunca no mundo tinha havido um caso tão flagrante de tolerância. Um partido estava ao mesmo tempo a destruir a democracia e a conviver no Parlamento, espaço democrático por excelência! A questão da tolerância continua na ordem do dia. Angola está num processo de reconciliação nacional e importa que os angolanos tenham a cultura do respeito pela diferença. O problema é que o líder da oposição actua como se não tivesse havido um acto eleitoral onde os vencedores tiveram mais de 72 por cento dos votos. Não respeita os vencedores. Não os cumprimentou pela sua brilhante vitória. Não tolera os vencedores. Semeia a discórdia e a intolerância. Quem não sabe perder jamais saberá ganhar. E quem demonstra publicamente falta de cultura democrática jamais conseguirá a confiança dos eleitores. Este é o problema.

Porque todos os outros derrotados imitam o líder da oposição. Todos fingem que não foram derrotados. Nenhum respeita os resultados eleitorais. Semeiam a discórdia e a intolerância. Faltam ao respeito à veneranda figura do Chefe de Estado. Porque para eles só existe o seu umbigo, quando muito o seu quintal. Haja paciência!

É preciso que cada pessoa saiba que uma ideia diferente não é um problema. Pode até ser uma contribuição para solucionar problemas que parecem de difícil solução. Temos de nos habituar a ouvir e a aceitar as ideias dos outros. Uma comunidade não vive da unanimidade. E é essa diferença que nos leva ao progresso. O Estado e a sociedade civil têm instituições em que essas diferenças podem ser manifestadas. Em democracia, todos os políticos devem contribuir com as suas ideias para o fortalecimento da democracia. Mas têm que aprender a ser democratas e isso começa dentro de casa. E convém que aprendam a perder, se é que defendem eleições.

*Destaque PG
 

Angola-Portugal: SEGREDO DE JUSTIÇA NO HUMOR ANGOLANO – cartoon

 


Fonte: Armando Pululo – Jornal de Angola, 30 0utubro 2013
 

Angola - Alexandre Neto: "Demissão de Sebastião Martins é para proteger o Presidente"

 

Voz da América - em Angola Fala Só
 
A demissão do director do Serviço de Inteligência e Segurança do Estado (SINSE) Sebastião Martins destina-se a proteger a Casa Militar da Presidência e o Presidente Eduardo dos Santos, disse o jornalista Alexandre Neto, Presidente em Angola do Instituto dos Media da Africa Austral, MISA – Angola.

Embora o Governo não tenha explicado as razões da demissão de Martins, ela é vista como decorrente das investigações ao desaparecimento e morte dos activistas Isaías Cassule e Alves Kamulingue, que estavam a tentar organizar manifestações a favor de antigos militares.

A Procuradoria-Geral da Republica anunciou a prisão de quatro pessoas em relação ao caso e, segundo outras fontes, pelo menos uma delas é um destacado funcionário do SINSE.

Falando no programa Angola Fala Só, Neto disse que Martins é “o elo mais fraco a quem se vai incutir responsabilidades”, fazendo notar que quando se deram os raptos de Kamulingue e Cassule, o director do SINSE “encontrava-se no estrangeiro”
“O objectivo (da demissão) é proteger a Casa Militar e o presidente,” disse.

Respondendo ao ouvinte Diniz Kanjole, de Benguela, que manifestou dúvidas quanto à possibilidade de ocorrerem mudanças em Angola, Neto disse que os angolanos “têm que se envolver na política”.

“Não vale a pena aos angolanos ficarem indiferentes”, disse, acrescentando que “compete aos angolanos envolverem-se” nas questões nacionais que os preocupam.

O jornalista concordou que em Angola “a democracia tarda em ser materializada”, mas isso, disse, não constitui desculpa para a indiferença.

“Há a necessidade dos angolanos tomarem a consciência de qe têm que tomar decisões,” disse.

Falando de Luanda, o ouvinte Paulo Kalunga queixou-se do facto de não ser possível ouvir emissões de rádios estrangeiras através de emissoras locais ou em FM, algo que Alexandre Neto disse ser mais uma indício de que “vivemos numa ditadura disfarçada” onde “ não há liberdade de imprensa”.

Neto fez notar que, de acordo com a própria lei de imprensa de 2006, essa legislação deveria ter sido regulamentada no espaço de 90 dias, mas tal nunca aconteceu.

“O chefe do Executivo não cumpre a lei”, disse Neto que descreveu essa situação como “um mau exemplo que vem de cima”.

O presidente da MISA-Angola defendeu a “diversificação” dos donos de estações de rádio para se impedir que sejam pessoas “ligadas à Radio Nacional de Angola” aquelas que tenham outras oportunidades.

O presidente da MISA-Angola disse que um dos objectivos do controlo da informação é impedir que o trabalho da oposição não seja divulgado.

“O propósito é fazer criar a imagem de que a oposição não trabalhada e não existe,” disse.

O ouvinte Justino Júlio, do Bié, abordou a questão do favoritismo partidário na função pública afirmando que no local onde vive os directores de escolas são militantes do partido no poder ,o MPLA.

Alexandre Neto afirmou que “o resultado da discriminação partidária é a incompetência”.

A oposição tem bons quadros que não são utilizados, disse Neto.

“A promoção pela militância tem consequências negativas, nomeadamente a incompetência”, afirmou o presidente da MISA – Angola que fez também notar um outro problema dessa política de “promoção pela militância”: o desemprego.

Audio: Clique aqui para ter acesso ao arquivo do programa
 

A semana registou mais um capítulo na famigerada novela Kassulo e Camullingue

 

 
Arão Ndipa Voz da América, 16 novembro 2013
 
LUANDA — A semana que hoje termina registou mais um capítulo na famigerada novela Isaías Kassulo e Alves Camullingue.

A este caso também juntou-se o jovem Nito Alves, o jovem activista de 17 anos, posto em liberdade na última sexta-feira, e submetido à apresentação do termo de identidade, residência pelos serviços de investigação criminal.

A classe politica em Angola, e em particular em Luanda afirma que o comunicado divulgado esta quarta-feira pela Procuradoria-Geral da Republica veio apenas confirmar as desconfianças há muito denunciadas por diversos círculos da oposição e da sociedade civil sobre o envolvimento de agentes da inteligência do regime angolano.

No comunicado divulgado esta semana a Procuradoria-Geral da Republica não descarta qualquer possibilidade de os cidadãos Isaías Kassulo e Alves Camullingue terem sido vítimas de homicídio.

A PGR acrescenta que até ao momento está por se apurar o paradeiro dos dois cidadãos, mas promete continuar com as investigações tendo revelado que em consequência dos factos já apurados foi ordenada a detenção de quatro suspeitos, capturados neste mesmo dia, mas não adianta a sua identidade e estatuto politico e social.
 
Na foto: Família de Alves Kamulingue, incluindo o seu primo, a sua mãe, a esposa, Elisa, o filho de 2 anos, e Tetê, esposa de Isaías Sebastião Cassule, raptado no Cazenga
 

EPIDEMIA DE CÓLERA EM ANGOLA PROVOCOU MAIS 19 MORTES

 


A epidemia de cólera em Angola, iniciada há cerca de um ano, provocou 19 mortes na última semana, indica um boletim do Ministério da Saúde enviado à agência Lusa.
 
No boletim, emitido pela Direção Nacional de Saúde Pública, refere-se que na semana de 11 a 17 deste mês foram registadas 19 mortes por cólera, uma subida de mais dez em relação à semana anterior, em 391 casos registados da epidemia, que afeta Angola desde dezembro de 2012.
 
A taxa de letalidade é de 4,8 por cento.
 
As mortes foram registadas na província do Cunene, nos municípios do Curoca (159 casos e nove óbitos), da Cahama (133 casos e sete óbitos) e de Ombandja (99 casos e três óbitos).
 
O Cunene, a província mais afetada do país pela epidemia de cólera, vive uma situação de seca há quase dois anos, a mais severa nos últimos 20 anos, o que tem contribuído sobremaneira para o aumento dos casos da doença.
 
Depois do Cunene, a província da Huíla, que esta semana registou 54 casos e nenhum óbito, é a mais preocupante, onde a situação tende a agravar-se com a chegada das chuvas.
 
O documento refere que comparativamente à semana anterior registou-se uma diminuição do número de casos, ou seja, menos dois, enquanto comparado com 2012 houve o aumento significativo de mais 286 casos.
 
A epidemia de cólera, registada desde dezembro de 2012, apresenta agora um total de 4.573 casos e 152 mortes.
 
NME // VM – Lusa – foto Pedro Inácio
 

Argentina: Retornará Cristina Fernández a funções com popularidade em alta

 


Buenos Aires, 17 nov (Prensa Latina) A presidenta argentina, Cristina Fernández, retornará amanhã as funções executivas com o respaldo de uma alta em sua popularidade, reflete um questionário do Centro de Estudos de Opinião Pública (CEOP) que divulga hoje a diário Página 12.
 
A mandatária, que regressa na segunda-feira às atividades de Governo depois de 40 dias de convalescência pós-operatória tem uma imagem positiva de uma maioria de 53 por cento da população, segundo a CEOP, e ainda mais em outras sondagens.

Esse apoio maioritário dá-se em todos os cortes de idade em ambos sexos, e principalmente entre os jovens, que lhe conferem 55 por cento de respaldo, precisa o CEOP que entrevistou a mais de mil pessoas durante os últimos dias.

Desde há meses, as opiniões favoráveis à dirigente mantêm-se altas e estáveis, segundo coincidem todos os pesquisadores, incluindo os que trabalham para o oficialismo e os que o fazem para candidatos opositores, assinala Página 12.

Em um ano, a imagem positiva da Presidenta, depois de cumprir um mandato e meio, e ante uma feroz campanha da oposição mediática, subiu oito pontos e essa melhora fez-se ainda mais notória após as eleições primárias e durante sua convalecencia depois da operação intracraneal do passado 8 de outubro, refere o diário. "A verdade é que a Presidenta volta à cena com um respaldo que terá peso nas decisões que adote", nos dois anos que lhe resta de mandato, assinala a publicação.

"Conseguir quórum próprio, assegurar a governabilidade, possuir um nivel de votos de 33 por cento e uma imagem positiva do 53 por cento não são dados menores nos tempos que correm", sintetiza.

Também, segundo o questionário, os apoios à Presidenta são maiores nos setores de menos poder econômico, em que a opinião positiva chega quase ao 60 por cento, enquanto no nível socioeconômico alto o respaldo atinge 39 por cento.

mgt/mh/cc

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MICHELLE BACHELET CONQUISTA PRIMEIRA VOLTA DAS PRESIDENCIAIS CHILENAS

 


Candidata socialista está na frente da corrida para voltar a ser Presidente do Chile, depois de ter ultrapassado largamente Evelyn Matthei.

Mariana Cabral – Expresso
 
As eleições presidenciais no Chile ainda terão de ser decididas em segunda volta, mas Michelle Bachelet já pode começar a cantar vitória. A candidata socialista conquistou 46,75% dos votos na votação de ontem, contra os 25,04% da conservadora Evelyn Matthei, a segunda mais votada, e contra os restantes sete candidatos, segundo os dados divulgados pelo serviço eleitoral chileno.
 
Apesar da vantagem de Bachelet, os resultados implicam a realização de uma segunda volta, a 15 de dezembro, entre as duas candidatas.
 
Mais preocupante foi a abstenção de 44%, criticada pelo atual Presidente, o conservador Sebastian Piñera. "Votaram pouco mais de 6,6 milhões de chilenos", entre um total de 13,5 milhões de eleitores", disse num discurso.
 
"Quanto maior for a participação, mais forte e legítima será a democracia", acrescentou Sebastian Piñera. "Espero que na próxima eleição, a 15 de dezembro, possamos ter uma participação maior".
 
Aos 62 anos, Michelle Bachelet, médica de formação, deve voltar a ser Presidente do Chile, depois de ter sido a primeira mulher eleita chefe de Estado num país da América do Sul, em 2006 (até 2010).
 
Nas eleições de domingo, os chilenos elegeram também senadores, deputados e, pela primeira vez na história do país, conselheiros regionais.
 

Brasil - Mensalão: Os movimentos de Joaquim Barbosa para ordenar prisões imediatas

 


No seu voto, Joaquim Barbosa defendeu a prisão imediata de todos os condenados, inclusive daqueles que têm direito aos embargos infringentes.
 
Najla Passos – Carta Maior
 
Brasília - Contrariando todas as expectativas, o Supremo Tribunal Federal (STF) não colocou em pauta, na sessão desta quinta (14), a discussão sobre os novos encaminhamentos da ação penal 470, o chamado “mensalão”, como havia informado que o faria, na sessão de quarta-feira (13), o presidente da corte e relator do processo, Joaquim Barbosa. A suspeita é que ele elabore sozinho, sem ouvir seus pares, a lista dos condenados que passarão a ter seus mandatos de prisão executados imediatamente. Corrobora para isso o fato do STF já ter publicado, na noite desta quinta (14), o resultado da última sessão.

Mesmo ciente que a legislação brasileira impede que prisões sejam realizadas durante a noite, os finais de semana e os feriados, parte da mídia continua em franca campanha para que coincidam com as comemorações da proclamação da República, nesta sexta (15). A Folha de S. Paulo informa, em manchete, que as prisões devem ficar para segunda (18). O Estadão dá o fato como certo. Já O Globo insiste que as prisões podem ocorrer a qualquer momento. E a Globonews vem anunciando que o esperado desenlace do julgamento seja realizado a partir desta sexta.

A sessão de julgamentos do STF de quinta se restringiu a análise de dois processos que tratam de outros temas, ambos de relatoria do ministro Luiz Fux, o melhor amigo do presidente da corte. Barbosa, se declarando impedido de participar do julgamento, se ausentou do plenário. Não houve nenhuma explicação sobre sua mudança de planos. Sequer um comunicado aos ministros que, na semana passada, foram oficiados de que as sessões de quarta e quinta seriam dedicadas à ação penal 470.

Os envolvidos na ação não ousam suspeitar que a decisão isolada de Barbosa possa servir de manobra para efetivar a prisão de réus que não deveriam estar neste primeiro rol de presos. Entretanto, são fortes as suspeitas de que a estratégia tenha o intuito de acelerar o desfecho do caso a qualquer custo, tecla em que ele vem batendo desde o início do julgamento. Além, é claro, de fazer um agrado à mídia, que terá a tão sonhada manchete para exibir no feriado da pátria.

No seu voto, Joaquim Barbosa defendeu a prisão imediata de todos os condenados, inclusive daqueles que têm direito aos embargos infringentes, recurso acessado pelos condenados com pelo menos votos divergentes. Entretanto, a maioria apoiou a tese do ministro Teori Zavascki, que recusou a autorizar a prisão dos réus que ainda podem ter suas penas revistas no futuro julgamento, que só deve ocorrer em 2014.

A divergência aberta por Teori provocou tanto tumulto e discussões que a sessão terminou sem que Barbosa tivesse proclamado o resultado da decisão do tribunal colegiado sobre a execução das prisões. Parte dos ministros acredita, portanto, que Barbosa só pode divulgar a lista após fazê-lo oficialmente em plenário, o que só seria possível na sessão da próxima quarta (20). Outros já defendem que, como presidente do tribunal e relator da ação, ele tem poderes para fazê-lo monocraticamente.
 

Brasil – A OPERAÇÃO JOAQUIM BARBOSA: DE OLHO EM 2014

 


Por que Barbosa suspendeu a sessão, em que o colegiado do STF avaliaria a decisão do dia anterior? Porque era preciso que ele faturasse sozinho as prisões.
 
Rodrigo Vianna – Carta Maior
 
Ficou evidente a manobra eleitoral embutida na decisão do STF, de antecipar a prisão dos condenados no “Mensalão” nesse 15 de novembro. A maior parte dos juristas concorda que o normal seria esperar o “trânsito em julgado”; ou seja, só depois dos embargos infringentes (que devem ser julgados no fim do primeiro semestre de 2014) é que as prisões deveriam ser executadas.

Pimenta Neves, assassino confesso, só foi para a prisão depois de todos os recursos esgotados. Para os líderes petistas, a regra não valeu.

Por que a pressa? Por que mais esse atropelo? Já não bastava o fato de lideranças do PT terem sido condenadas sem prova, como afirmou Ives Gandra Martins (que não tem nada de petista) sobre a condenação de Dirceu? Há quem diga que o governo Dilma teria se empenhado na aceleração do processo: interessaria a ela “liquidar’ agora esse assunto, para não criar “embaraços” durante o período eleitoral. Não descarto essa possibilidade (ainda mais num PT e num governo absolutamente dominados pelo pragmatismo). Mas há outras hipóteses.

Por que Barbosa suspendeu a sessão de quinta (14/11), em que o colegiado do STF avaliaria a decisão do dia anterior? Ora, porque era preciso que Barbosa faturasse sozinho as prisões.

Executadas em 2014, as prisões poderiam gerar algum alvoroço eleitoral – sim. Mas talvez surgissem tarde demais, do ponto de vistade uma oposição que precisa de um terceiro candidato para levar o pleito presidencial ao segundo turno. Está claro, claríssimo, que Joaquim Barbosa (e seus aliados midiáticos) contam com essa hipótese. Juizes têm a prerrogativa de se filiar a partido político até seis meses antes da eleição (abril/maio de 2014, portanto).

Se as prisões ocorressem em julho/agosto de 2014, haveria duas possibilidades: ou Barbosa estaria nesse momento vinculado ao STF, sem poder “faturar” as prisões. Ou já se teria lançado candidato em abril/maio, perdendo a chance de usar politicamente o espetáculo judicial/midiático. As prisões agora dão-lhe o tempo necessário para faturar e avaliar politicamente o quadro.

Hoje, com Aécio e Eduardo Campos, a oposição não conseguiria levar a eleição ao segundo turno. Ah, mas Marina pelo PSB seria candidata forte, e poderia encampar o discurso moralista (Aécio não pode, pelos telhados de vidro mineiros). Ok. Só que há um risco em contar com isso: Eduardo controla o partido, e mesmo com 10% ou 15% nas pesquisas (contra 20% ou 25% de Marina) pode forçar uma candidatura, deixando Marina de fora. Eduardo não se importa em ganhar ou perder agora; precisa é nacionalizar seu nome, pensando em 2018.

Por isso, a opção Joaquim Barbosa ganha força. Não tenham dúvida: ele estará nas próximas pesquisas (especialmente no DataFolha) como opção… Barbosa pode fazer o discurso do moralismo, e tem a imagem do “homem negro que veio de baixo e venceu o preconceito”. Talvez tire votos de Aécio, mas tira algo de Dilma também.

Não creio (e certamente os tucanos e seus aliados midiáticos também não acreditam) que Barbosa tenha capacidade para ir a um segundo turno. Mas se conquistar algo em torno de 10% ou 15% dos votos (Aécio deve obter algo em torno de 20% ou 25%, e Eduardo cerca de 15%) , Barbosa pode significar o empurrão de que os tucanos precisam para conseguir um segundo turno.

Ah, mas Barbosa não tem estrutura nem palanques regionais. Não precisa. Basta um partido médio ou pequeno (PTB ou PPS), que lhe garanta dois a 3 minutos no horário eleitoral. O discurso - com um pé no janismo e outro no autoritarismo a la Eneas – é o que basta nesse país onde as identidades partidárias se dissolvem.

A operação Barbosa foi lançada nesse 15 de novembro. Pode não vingar, a depender dos telhados de vidro miamescos, e das lembranças de contextos familiares tumultuados e algo violentos no passado. Mas o juiz que condena sem provas ficará no banco de reservas – para atender aos apelos de uma classe média sedenta por superheróis do falso moralismo.

Pode-se dar ao luxo de esperar. A depender das pesquisas, sobe mais o tom ali por abril ou maio. E aí sim vem – oficialmente – para a disputa política, onde já ocupa lugar de destaque usando (e abusando) da tribuna judicial.

(*) Publicado originalmente no blog Escrevinhador
 
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BRINCAR AO FAZ DE CONTA

 

Tomás Vasques – jornal i, opinião
 
Começam a aparecer sinais de que estamos a chegar ao ponto em que a esperança dos maltratados pela "crise" já não vem de uma Europa solidária, mas de soluções antidemocráticas
 
Chegámos ao extremo-limite do perigo, como escreveu Mário de Cesariny. A União Europeia está a caminhar, a passos largos, pela via-sacra que a levará até ao Calvário, onde vai ser crucificada às mãos da senhora Merkel e dos interesses da Alemanha. A Europa alemã é de novo uma realidade - uma dura realidade -, mas andam todos, especialmente os responsáveis políticos de países como a França, a Itália e a Espanha a querer passar pelos pingos da chuva sem se molharem, na ilusão de que o anunciado desmoronamento seja apenas uma miragem de gente pessimista. Neste momento, já poucos, por essa Europa fora, acreditam na bondade do ambicioso "projecto" europeu ou nas vantagens da moeda única. As políticas de austeridade gizada pela Alemanha, nestes últimos três anos, para os países endividados, como Portugal, conduzem à destruição das economias locais e a um maior endividamento externo e, consequentemente, a mais e mais austeridade (o FMI já "aconselha" cortes drásticos para 2015 e 2016), a maior destruição da economia e a mais empobrecimento, seguindo um ciclo vicioso. O que é bom para a Alemanha que enriquece cada vez mais, como os números comprovam. Mas o mais preocupante, é que começam a aparecer sinais de que estamos a chegar ao ponto em que a esperança dos maltratados por esta "crise" já não vem de uma Europa democrática e solidária, mas de soluções antidemocráticas. Já não falo da Hungria, mas da França - a pátria de revoluções e da comuna de Paris.
 
Por cá, neste cantinho milenar, mas cada vez mais patético, os nossos governantes, reverentes e submissos aos ditames alemães, vivem uma "história de fadas", um faz de conta à medida da nossa enlevada mediocridade governativa. O ministro da Economia, Pires de Lima, considera que os vários indicadores que têm sido divulgados, sobre crescimento e emprego, indiciam que estamos num "momento de viragem", exactamente no momento em que foi aprovado o orçamento de Estado para 2014, o qual só poupa quem não precisava de ser poupado, apertando ainda mais o torniquete ao rendimento das famílias e, em consequência, estrangulando uma economia e um mercado interno cada vez mais debilitado. Por sua vez, o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, já está a preparar o "programa" eleitoral do seu partido, antecipando-se ao seu parceiro de coligação. Desta vez, prometeu baixar o IRS em 2015, com a mesma desfaçatez com que, no parlamento, enquanto deputado da oposição, prometeu baixar impostos, ou nas feiras e romarias, se armava em "provedor do contribuinte". Pelo andar da carruagem, adivinha-se que o logro da última campanha eleitoral se vá repetir na próxima. Como diz o ditado: à primeira todos caem, à segunda só cai quem quer.
 
Este gigantesco teatro de embustes, encenado pelo neoliberalismo dominante, em que a Europa e as democracias europeias ardem, e a ditadura financeira se impõe, tem a conivência de uma social-democracia amorfa e sem soluções alternativas. Os sociais-democratas alemães preparam-se para ajudar a senhora Merkel a dar a machada final na União Europeia; os socialistas franceses, chefiados por Hollande, andam a tirar água à nora; na Grécia, os socialistas quase desapareceram; em Espanha e Portugal, e mesmo na Inglaterra, os socialistas deixam-se rebocar pelos acontecimentos, sem soluções, nem rupturas, à espera que o poder lhes caia nas mãos. Estamos entregues aos "mercados" e o futuro não é promissor. Mas podemos continuar a fazer de conta, como todos os dirigentes políticos europeus fazem, à espera que os "mercados" não se zanguem e nos maltratem. Só que o resultado vai ser tenebroso.
 
PS - Rui Tavares, o deputado europeu eleito pelo Bloco, e do qual se divorciou, está empenhado em criar um novo partido "no meio da esquerda". Já tem um nome - Livre -, e um símbolo - uma papoila vermelha. É de louvar o romantismo político, mas dificilmente a "esquerda" aguenta ter mais uma paixão.
 
Jurista. Escreve à segunda-feira
 

Portugal: CRISE ATINGIU ATÉ CLASSE SOCIAL “IMPENSÁVEL”

 

Jornal de Notícias
 
A Cáritas Portuguesa registou no último ano um aumento de 20% nos pedidos de ajuda de famílias portuguesas afetadas pela crise económica, que atingiu "uma faixa da classe média que era impensável, que é a faixa da classe média alta".
 
"Nós sabíamos que em Portugal qualquer problema deste tipo atingiria sempre a classe média porque era das mais vulneráveis, mas esta crise até atingiu uma faixa da classe média que era impensável, que é a faixa da classe média alta", disse o presidente da Cáritas Portuguesa.
 
"Há pessoas que auferiam rendimentos consideráveis porque trabalhavam por conta própria e que a crise, por força da impossibilidade de fazerem escoar o resultado das produções que tinham, as afundou. Muitos deles tentaram por tudo salvar esses empreendimentos que tinham e endividaram-se. Muitas dessas pessoas entraram numa espiral de endividamento que as atirou para uma situação de pobreza de que dificilmente se vão libertar nos próximos tempos", acrescentou Eugénio Fonseca.
 
Eugénio Fonseca falava à Lusa no final do Conselho Geral da Cáritas Portuguesa, que se realizou este fim de semana em Fátima.
 
Segundo o responsável, entre outubro de 2012 e outubro de 2013 foi registado um aumento de 20% do atendimento a famílias nas dioceses.
 
Afirmando que esses dados são uma média nacional que não contemplam o atendimento nas paróquias, o presidente da Cáritas Portuguesa frisou que há dioceses em que "aumento foi na ordem dos 65%, concretamente em Braga".
 
Se as paróquias estivessem incluídas nessas contas, "estaríamos a falar de outros valores" porque existem no país 4350 paróquias, das quais cerca de 2000 fazem atendimentos regulares.
 
Também aquilo que as pessoas pedem mudou com esta crise, enquanto dantes pediam trabalho, hoje "as necessidades são tantas que o que pedem é alimentação e sobretudo duas coisas: ajuda para não perder a casa e aquilo que é o conforto para a casa - eletricidade, água e gás, ajuda para despesas de saúde e, nalguns casos que já são bastantes, ajuda para que os filhos continuem a estudar, sobretudo aqueles que estão no ensino universitário", disse.
 
Para conseguirem dar resposta a estes novos casos de pobreza, o Conselho Geral da Cáritas Portuguesa aprovou na reunião deste fim de semana o plano estratégico para os próximos dois anos, onde a grande preocupação é dotar as paróquias de meios que respondam às atuais necessidades.
 
Segundo Eugénio Fonseca, cada paróquia tem de "dispor de um grupo de ação social devidamente organizado e formado por pessoas capacitadas para responder aos desafios que, cada vez mais, são complexos em termos da realidade social e económica do nosso país".
 
"Esta crise trouxe uma mudança do perfil da pobreza em Portugal, portanto é preciso que os agentes sociais estejam, devidamente preparados para responder a esses novos desafios. Essa foi a grande linha estratégica", sublinhou.
 
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Portugal: ATIRAR UM PARTIDO PARA O MEIO DA ESQUERDA

 

Ana Sá Lopes – jornal i, opinião
 
Avançar para um novo partido é um projecto difícil e corajoso
 
Rui Tavares foi corajoso quando decidiu avançar com a formação de um novo partido. A acusação feita ao eurodeputado de que está a construir uma nova formação eleitoral só para ser reeleito para o Parlamento Europeu devia ter terminado no dia em que se soube que Tavares recusou integrar as listas do PS. Convenhamos que se o objectivo de Rui Tavares fosse estritamente pessoal, seria cumprido com muito maior eficácia com um simples "sim" à proposta de acolhimento nas listas europeias dos socialistas. Rui Tavares teria o seu problema pessoal resolvido - continuaria tranquilamente a ser deputado europeu, com as facilidades inerentes à integração numa lista do partido que previsivelmente sairá vencedor das eleições europeias.
 
Mas Rui Tavares não queria, afinal, simplesmente continuar deputado europeu. Ao avançar para a constituição de um partido, ao atirar qualquer coisa para "o meio da esquerda", optou pela intervenção dura e de alto risco. Ao trocar a certeza de uma eleição fácil nas listas do PS pela disponibilidade para trazer um novo protagonista ao sistema (com todos os riscos de insucesso que a ideia comporta), Rui Tavares mostra que defende algo maior do que "o seu lugar em Estrasburgo", o mimo que lhe tem sido dirigido pelos opositores - de esquerda, claro.
 
Avançar para a constituição de um novo partido de esquerda é um projecto difícil e corajoso - num tempo em que o antipartidarismo floresce - embora a desagregação do Bloco de Esquerda possa facilitar a tarefa. Se se juntar parte da "esquerda alegre" que se foi desiludindo com o PS e com o Bloco de Esquerda, à vez, pode haver eleitorado disponível para ser captado por um novo partido.
 
No entanto, o partido Livre ainda não tem programa e não pode ficar sustentado única e exclusivamente na figura de Rui Tavares e mais duas ou três antigas figuras do Bloco ou do PS. Da reunião deste fim-de-semana ainda não se pode extrair grandes conclusões, com a excepção de que o novo partido vai optar por fórmulas mais abertas de organização (em contra- -ponto com os restantes partidos cada vez mais fechados) e que é "europeísta", seja lá o que isso for hoje em dia, e que recusa firmemente sair do euro. Mas isto ainda não é um programa para chegar às massas. Os fundadores do partido Livre têm ainda de descobrir respostas para perguntas que o eleitorado lhes vai fazer - como podemos lutar contra a austeridade sem ser através de slogans? O caminho é duro, mas a coragem é de assinalar.
 

Portugal: NOVO PARTIDO DE RUI TAVARES NÃO AGRADA À ESQUERDA

 

Luís Claro – jornal i
 
BE vê no novo partido mais um factor de divisão da esquerda
 
A criação de um novo partido não foi bem recebida pela esquerda. A coordenadora do BE, Catarina Martins, defendeu que, nesta altura, não faz sentido discutir o aparecimento de mais uma força partidária. "No BE discutimos projectos de sociedade, discutimos a construção de maiorias sociais para a alternativa. Estar agora a discutir outras coisas não nos parece que faça sentido", defendeu Catarina Martins, um dia depois de Rui Tavares, que há quatro anos concorreu às eleições europeias nas listas do BE, ter anunciado que vai fazer um partido chamado LIVRE.
 
Questionada sobre se o novo partido poderá captar votos ao BE, Catarina Martins foi evasiva na resposta: "A política faz- -se por propostas, faz-se por projectos de sociedade, não se faz por uma ideia de concorrência, isso não tem sentido."
 
João Semedo já tinha reagido com desagrado à ideia de criar mais um partido de esquerda. Em Novembro, quando Rui Tavares admitiu em entrevista ao i criar uma nova força política, Semedo defendeu que "qualquer solução desse tipo, só vem dividir, não vem ajudar a juntar forças". "Não creio que seja esse o caminho. A esquerda tem é de se entender", disse João Semedo.
 
A ideia não mereceu grandes comentários ao líder do PCP. "Mais ao meio ou mais ao lado, eu não sei. Enfim, não quero comentar. Tal como não comentei o surgimento de vários partidos", disse Jerónimo de Sousa na cidade de Évora.
 
Mais crítico foi o deputado comunista Miguel Tiago que, no Facebook, preferiu encarar com humor o aparecimento de mais uma força política em Portugal. "O BE viu-se LIVRE do Rui Tavares. Mas os portugueses não têm a mesma sorte", escreveu o deputado comunista. com Lusa
 
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Ministro português vai tentar abrir novas portas às relações luso-russas

 


Paulo Portas, vice-primeiro-ministro do Governo Português, inicia na segunda-feira uma importante visita à Rússia com vista a dar um novo impulso às relações económicas e políticas luso-russas.
 
Tendo a seu cargo a coordenação económica do Governo Português, Portas irá acompanhado de uma importante comitiva empresarial: cerca de 50 representantes de homens de negócios de vários ramos do comércio e da indústria.
 
Esta visita ocorre num momento em que as exportações portuguesas para o mercado russo aumentam a bom ritmo. No terceiro trimestre deste ano, elas sofreram um aumento de 50% em comparação com o período homólogo do ano passado. No fundamental, essa subida deve-se ao aumento de exportações para a Rússia de produtos tradicionais portugueses como o vinho e o azeite, mas também se regista um crescimento na venda de calçado, têxteis, maquinaria portuguesa no mercado russo.
 
O número de turistas russos que visita Portugal deverá, este ano, registar também um aumento de 30% a 40% em comparação com 2012, quando Portugal recebeu mais de 100 mil russos.
 
Quanto às exportações russas para Portugal, elas reduzem-se, fundamentalmente, aos combustíveis, principalmente ao petróleo.
 
Em todos estes campos, há um longo caminho a percorrer (as exportações portuguesas para o mercado russo são apenas de 200 milhões de euros anuais e a Rússia ocupa agora o 22º lugar no destino das exportações portuguesas), mas resultados reais só aparecerão se forem desenvolvidos esforços constantes e as visitas oficiais deixarem de se reduzir a pomposos encontros, corridas na Praça Vermelha ou estadias no Kremlin. Até agora, o desenvolvimento das relações económicas bilaterais parece dever-se mais aos esforços de homens de negócios portugueses e russos do que à ação das autoridades oficiais.
 
Neste momento em que Portugal atravessa uma grave crise económica, seria importante que o Governo de Lisboa e os empresários portugueses levassem consigo propostas concretas interessantes para atrair o investimento russo.
 
Atualmente, os investimentos russos limitam-se praticamente ao sector do turismo, mais precisamente à aquisição de hotéis na região de Lisboa e na Madeira, bem como à obtenção de Autorização de Residência para a Atividade de Investimento (ARI). Segundo números oficiais, dos 318 estrangeiros que receberam o ARI, 15 são russos.
 
Este número tenderá a aumentar tendo em conta o número de russos que já falam ou que estudam a língua de Camões. Este é um dos “filões” que as autoridades lusas não souberam ainda explorar na Rússia.
 
Por isso, é urgente alargar o leque de propostas de investimento ao capital russo sem qualquer tipo de complexos. Nesse sentido, o processo de privatização dos Estaleiros de Viana do Castelo, em que empresas ligadas ao magnata russo Andrei Kissilov foram afastadas duas vezes do concurso de forma pouco transparente, não é um bom sinal para os investidores.
 
Porém, esperemos que este exemplo vá de encontro ao provérbio russo que diz que “a primeira panqueca sai sempre mal” e que os capitais russos sejam bem-vindos a Portugal.
 
No campo político, espera-se um incentivo de contatos ao mais alto nível. Por exemplo, ainda não se concretizou uma visita oficial a Portugal dos atuais presidente e primeiro-ministro russo, respetivamente Vladimir Putin e Dmitri Medvedev.
 
José Milhazes – Voz da Rússia – foto EPA
 
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