A ONG Oxfam avaliou
a situação alimentar de 125 países e colocou Angola entre os três países com
maior índice de subnutrição do mundo. Moçambique e a Guiné-Bissau também se
encontram entre os 30 piores colocados.
Um em cada oito
cidadãos do mundo "vai para a cama com fome todas as noites, apesar de
existir comida suficiente para toda a gente". Esta é a ideia que o
relatório da organização não-governamental Oxfam quer sublinhar, garantindo que
é o consumo excessivo, a má utilização dos recursos e o desperdício que
contribuem para que centenas de milhões de pessoas fiquem sem alimento. O
índice "Good Enough to Eat" ("Suficientemente bom para
comer") coloca os europeus Holanda, França e Suíça como os três países com
melhor nutrição no mundo, enquanto paralelamente, entre os 30 piores países
cotados, há 26 africanos, neles incluídos Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.
Chade, Etiópia e
Angola são os três piores classificados
No caso angolano,
que é considerado o terceiro país com maiores problemas de nutrição no mundo,
Deborah Hardoon, pesquisadora da Oxfam, diz que não é a falta de comida que
atira o país para o fim da tabela mas são essencialmente os preços elevados que
se praticam sobre os produtos alimentares.
"Nos dados
relativos à fome e à qualidade da comida, que contem a diversidade nutricional
e acesso a água potável, Angola atingiu maus resultados". Contudo, destaca
a pesquisadora que "é o factor da volatilidade dos preços da comida que atira
Angola para as piores posições". Ela explica que em Angola assistimos a
"valores muito altos de venda de comida e um recorde de instabilidade no
preço dos alimentos".
75% do rendimento
individual é gasto em comida
A Oxfam alerta que
os preços elevados dos alimentos impõem um enorme custo, equivalendo até 75% do
rendimento individual em comida. A organização acrescenta que a classificação
de Angola reflete a inflação elevada e instável que tem afetado toda a economia
do país na última década, tornando difícil aos angolanos a tarefa de poupar e
pagar as suas necessidades básicas. Hoje encontra-se no país 16% das crianças
abaixo do peso ideal e 24% da população subnutrida. Para Deborah, o combate à
fome tem que ser encarado como uma prioridade real dos executivos dos países,
particularmente africanos, onde os índices de fome atingem maiores proporções.
"Eu penso que
quando as crianças estão abaixo do peso e subnutridas, que o combate à fome se
deve tornar uma total prioridade para os Governos. Não só para o combate do
dia-a-dia, onde as pessoas são incapazes de se alimentar, mas por um futuro a
longo termo do país, pela produtividade das pessoas e pela prosperidade das
crianças". Para Deborah, é urgente que esta luta se torne "uma
prioridade absoluta".
Quase metade da
população angolana sem acesso a água potável
No que diz respeito
à qualidade dos alimentos, a Oxfam explica que 60% da dieta dos angolanos se
baseiam em simples hidratos de carbono e quase metade da população não tem
acesso a água potável para preparar os seus alimentos em segurança e com
condições mínimas de higiene. Moçambique e a Guiné-Bissau também se encontram
entre os últimos colocados da tabela (em 118.º e 88.º posição respetivamente)
sobretudo devido à falta de diversidade nutricional e ao reduzido acesso a água
potável.
"O sistema
alimentar está corrompido"
A comida parece
continuar a não chegar onde ela é mais necessária e Marita Hutjes, assessora
política da Oxfam, pensa que isso acontece porque "a maneira como o
sistema está estruturado não permite uma distribuição justa da comida".
Contudo, a assessora sublinha que os problemas não ficam por aqui. "Por
exemplo, é preciso tomar uma atitude perante as mudanças climáticas. Por agora
há comida suficiente mas as mudanças de temperatura vão afetar a quantidade de
produção alimentar. Outro problema é a especulação do preço da comida que pode
ter um impacto enorme na capacidade de compra das pessoas ".
A organização
garante que há produção de comida suficiente para alimentar a população
mundial... então porquê continuam a registar-se índices severos de subnutrição
em tantas regiões do mundo? Para Deborah Hardoon "essa é a pergunta que
precisamos fazer a todos os Governos".
Deutsche Welle – Autoria:
Francisca Bicho – Edição: António Rocha
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