quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Eleições europeias: O JULGAMENTO DE PASSOS, PORTAS E BARROSO

 


Achar que é o PS de Seguro que está a ser julgado é distorcer a análise
 
Eduardo Oliveira Silva – jornal i, opinião
 
Nos próximos tempos vão suceder-se sondagens, barómetros, debates, discursos e campanhas por causa das eleições europeias.
 
A esta distância já se assiste à tentativa de condicionar a análise da noite eleitoral, procurando que a avaliação do resultado do escrutínio seja feita com base na percentagem de votos que o PS obtenha.
 
O objectivo é claro e junta uma lista de aliados de circunstância contra Seguro. Desde logo os partidos do poder, que concorrem coligados, a que convém fazer um bom resultado, mas não ao ponto de o líder socialista ser humilhado, pois receiam que isso abra a porta a um sucessor como António Costa, eventualmente mais perigoso. No próprio PS há quem espere exactamente o mesmo, seja para apoiar Costa seja para se vingar pessoalmente de Seguro.
 
Mas não se pode cair no engodo de encarar as europeias como uma prova definitiva para Seguro. Verdadeiramente, o que está a ser testado nessas eleições é o governo e a coligação PSD/CDS que concorre ao acto eleitoral e cujos integrantes são parte do PPE (Partido Popular Europeu), o partido supranacional que mais tem influenciado a política europeia. Foi esta que sujeitou portugueses, gregos, irlandeses e outros povos de países da União fora do euro a uma política excessiva de austeridade, comandada por uma perspectiva ideológica que desrespeita os mais velhos e a classe média em benefício dos muito ricos e das franjas mais pobres, alimentadas pelos mínimos para não se revoltarem.
 
O que estará em causa é portanto a dupla avaliação das políticas nacionais e europeias e a popularidade de quem as executou. À frente de ambas estão dois ilustres membros do PSD, Passos Coelho e Durão Barroso, uma dupla de grande proximidade, como se viu nos últimos dias, a que se junta em Portugal o CDS de Paulo Portas.
 
Tentar inverter esta realidade de análise é cair na esparrela do discurso de um governo que se preocupa cada vez mais com fazer oposição à oposição, como acontecia com Sócrates (com algum sucesso diga-se), e é viciar a análise da realidade resultante das europeias.
 
O simples facto de haver uma coligação PSD/CDS constitui uma base solidária entre os dois partidos do PPE e do governo português, mas também uma forma de agregar para que a soma de ambos fique mais ou menos ao nível do PS, ao qual, entretanto, alguns dos seus militantes de renome chegam maquiavelicamente a exigir resultados de 11% acima dos da coligação.
 
Percebe-se a ideia, mas as contas não podem ser simplistas. Claro que os votos do PS contam, mas o que contará sobretudo é a soma dos que obtiverem os partidos da esquerda e o respectivo contraponto nos do governo.
 
Imagine-se, por hipótese, um resultado que dê 40% à coligação governamental, 39% ao PS e um total de 57% ou 58% ao conjunto da esquerda. Que tipo de discurso vitorioso poderá ter o governo?
 
Como se vê, há muito a discutir e extrair das eleições europeias, começando pela percentagem de votantes e de votos em branco, mas convém sublinhar que, tal como as autárquicas, elas são uma avaliação da governação interna e europeia e não da simpatia da oposição.
 

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