Achar que é o PS de
Seguro que está a ser julgado é distorcer a análise
Eduardo Oliveira
Silva – jornal i, opinião
Nos próximos tempos
vão suceder-se sondagens, barómetros, debates, discursos e campanhas por causa
das eleições europeias.
A esta distância já
se assiste à tentativa de condicionar a análise da noite eleitoral, procurando
que a avaliação do resultado do escrutínio seja feita com base na percentagem
de votos que o PS obtenha.
O objectivo é claro
e junta uma lista de aliados de circunstância contra Seguro. Desde logo os
partidos do poder, que concorrem coligados, a que convém fazer um bom
resultado, mas não ao ponto de o líder socialista ser humilhado, pois receiam
que isso abra a porta a um sucessor como António Costa, eventualmente mais
perigoso. No próprio PS há quem espere exactamente o mesmo, seja para apoiar
Costa seja para se vingar pessoalmente de Seguro.
Mas não se pode
cair no engodo de encarar as europeias como uma prova definitiva para Seguro.
Verdadeiramente, o que está a ser testado nessas eleições é o governo e a
coligação PSD/CDS que concorre ao acto eleitoral e cujos integrantes são parte
do PPE (Partido Popular Europeu), o partido supranacional que mais tem
influenciado a política europeia. Foi esta que sujeitou portugueses, gregos,
irlandeses e outros povos de países da União fora do euro a uma política
excessiva de austeridade, comandada por uma perspectiva ideológica que
desrespeita os mais velhos e a classe média em benefício dos muito ricos e das
franjas mais pobres, alimentadas pelos mínimos para não se revoltarem.
O que estará em
causa é portanto a dupla avaliação das políticas nacionais e europeias e a
popularidade de quem as executou. À frente de ambas estão dois ilustres membros
do PSD, Passos Coelho e Durão Barroso, uma dupla de grande proximidade, como se
viu nos últimos dias, a que se junta em Portugal o CDS de Paulo Portas.
Tentar inverter
esta realidade de análise é cair na esparrela do discurso de um governo que se
preocupa cada vez mais com fazer oposição à oposição, como acontecia com
Sócrates (com algum sucesso diga-se), e é viciar a análise da realidade
resultante das europeias.
O simples facto de
haver uma coligação PSD/CDS constitui uma base solidária entre os dois partidos
do PPE e do governo português, mas também uma forma de agregar para que a soma
de ambos fique mais ou menos ao nível do PS, ao qual, entretanto, alguns dos
seus militantes de renome chegam maquiavelicamente a exigir resultados de 11%
acima dos da coligação.
Percebe-se a ideia,
mas as contas não podem ser simplistas. Claro que os votos do PS contam, mas o
que contará sobretudo é a soma dos que obtiverem os partidos da esquerda e o
respectivo contraponto nos do governo.
Imagine-se, por
hipótese, um resultado que dê 40% à coligação governamental, 39% ao PS e um
total de 57% ou 58% ao conjunto da esquerda. Que tipo de discurso vitorioso
poderá ter o governo?
Como se vê, há
muito a discutir e extrair das eleições europeias, começando pela percentagem
de votantes e de votos em branco, mas convém sublinhar que, tal como as
autárquicas, elas são uma avaliação da governação interna e europeia e não da
simpatia da oposição.
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