A China bloqueou
hoje as páginas de internet dos órgãos de comunicação social internacionais que
publicaram notícias sobre o alegado envolvimento de familiares de altos
dirigentes políticos de Pequim em paraísos fiscais nas Caraíbas.
Na China é
impossível aceder às páginas do jornal espanhol El Pais, do francês Le Monde,
do britânico Guardian e da publicação norte-americana Washington Post e a
emissão da BBC é censurada sempre que a televisão transmite a notícia sobre a
lista dos cidadãos chineses alegadamente envolvidos em paraísos fiscais.
O Consórcio
Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ na sigla em inglês) anunciou
hoje que vai publicar na quinta-feira os nomes de 37 mil cidadãos chineses que
têm ativos em paraísos fiscais, entre os quais familiares de dirigentes
políticos de Pequim.
«Apesar de termos
publicado pela primeira vez informações sobre paraísos fiscais em junho de
2013, decidimos não revelar os detalhes sobre a China, Hong Kong e Taiwan até
terminarmos a investigação», refere hoje o site do ICIJ.
A publicação
prevista para quinta-feira da lista com os nomes dos 37 mil cidadãos chineses
que utilizam os paraísos fiscais, acompanhada de pormenores de atividades,
representa a maior quantidade de informação secreta revelada sobre as relações
entre chineses e os paraísos fiscais, sublinha a organização de jornalistas,
que contou com a colaboração de órgãos de comunicação europeus e
norte-americanos.
Sobre o bloqueio de
páginas de internet de publicações internacionais, prática habitual na China
sempre que se verifica a publicação de reportagens comprometedoras para o
regime comunista, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês,
Qin Gang, limitou-se a afirmar que «os departamentos competentes gerem a
internet de acordo com as leis e os regulamentos».
Os dados referem o
envolvimento de pelo menos 13 familiares dos principais líderes chineses que
usam paraísos fiscais, entre eles do Presidente Xi Jinping e do
ex-primeiro-ministro Wen Jiabao.
Aos nomes dos
familiares dos políticos, juntam-se 15 grandes empresários e ainda companhias
estatais chinesas.
As pesquisas
referem também o papel de bancos e empresas financeiras ocidentais que
funcionaram como mediadores no estabelecimento de empresas chinesas nos
paraísos fiscais.
De acordo com
notícias publicadas hoje no Guardian sobre o assunto, calcula-se que desde o
ano 2000 saíram da China ativos no valor de quatro mil milhões de dólares.
O ICIJ é uma rede
internacional de jornalistas especializada em reportagens de investigação e que
funciona desde 1997 com o apoio do Centro para a Integridade Pública, uma
organização norte-americana sem fins lucrativos e que se dedica a temas
internacionais.
As últimas
investigações sobre paraísos fiscais já fizeram com que a Comissão Europeia e a
Irlanda tivessem solicitado aos jornalistas do ICIJ dados sobe os cidadãos da
União Europeia que figuram na lista das pessoas alegadamente envolvidas em
casos de evasão fiscal em 2013.
Desta vez, a
organização de jornalistas conseguiu aceder a mais de dois milhões de arquivos
digitais, fundamentalmente das Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Cook.
As investigações
incidem sobre 120 mil empresas e 130 mil pessoas, entre elas vários
multimilionários da Europa de Leste e Indonésia, executivos de empresas da
Rússia, médicos norte-americanos e traficantes de armas.
A quantidade de arquivos
é «160 vezes maior» do que a rede WikiLeaks conseguiu obter em 2010 a partir de
fontes no Departamento de Estado norte-americano.
Para a análise de
toda a informação, a organização contou com a participação de 86 jornalistas de
46 países e com a colaboração da BBC, e dos jornais Guardian, Le Monde, El Pais
e Washington Post.
TSF
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