quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Jornais que publicaram contas da elite chinesa em paraísos fiscais estão bloqueados

 


A China bloqueou hoje as páginas de internet dos órgãos de comunicação social internacionais que publicaram notícias sobre o alegado envolvimento de familiares de altos dirigentes políticos de Pequim em paraísos fiscais nas Caraíbas.
 
Na China é impossível aceder às páginas do jornal espanhol El Pais, do francês Le Monde, do britânico Guardian e da publicação norte-americana Washington Post e a emissão da BBC é censurada sempre que a televisão transmite a notícia sobre a lista dos cidadãos chineses alegadamente envolvidos em paraísos fiscais.
 
O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ na sigla em inglês) anunciou hoje que vai publicar na quinta-feira os nomes de 37 mil cidadãos chineses que têm ativos em paraísos fiscais, entre os quais familiares de dirigentes políticos de Pequim.
 
«Apesar de termos publicado pela primeira vez informações sobre paraísos fiscais em junho de 2013, decidimos não revelar os detalhes sobre a China, Hong Kong e Taiwan até terminarmos a investigação», refere hoje o site do ICIJ.
 
A publicação prevista para quinta-feira da lista com os nomes dos 37 mil cidadãos chineses que utilizam os paraísos fiscais, acompanhada de pormenores de atividades, representa a maior quantidade de informação secreta revelada sobre as relações entre chineses e os paraísos fiscais, sublinha a organização de jornalistas, que contou com a colaboração de órgãos de comunicação europeus e norte-americanos.
 
Sobre o bloqueio de páginas de internet de publicações internacionais, prática habitual na China sempre que se verifica a publicação de reportagens comprometedoras para o regime comunista, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, limitou-se a afirmar que «os departamentos competentes gerem a internet de acordo com as leis e os regulamentos».
 
Os dados referem o envolvimento de pelo menos 13 familiares dos principais líderes chineses que usam paraísos fiscais, entre eles do Presidente Xi Jinping e do ex-primeiro-ministro Wen Jiabao.
 
Aos nomes dos familiares dos políticos, juntam-se 15 grandes empresários e ainda companhias estatais chinesas.
 
As pesquisas referem também o papel de bancos e empresas financeiras ocidentais que funcionaram como mediadores no estabelecimento de empresas chinesas nos paraísos fiscais.
 
De acordo com notícias publicadas hoje no Guardian sobre o assunto, calcula-se que desde o ano 2000 saíram da China ativos no valor de quatro mil milhões de dólares.
 
O ICIJ é uma rede internacional de jornalistas especializada em reportagens de investigação e que funciona desde 1997 com o apoio do Centro para a Integridade Pública, uma organização norte-americana sem fins lucrativos e que se dedica a temas internacionais.
 
As últimas investigações sobre paraísos fiscais já fizeram com que a Comissão Europeia e a Irlanda tivessem solicitado aos jornalistas do ICIJ dados sobe os cidadãos da União Europeia que figuram na lista das pessoas alegadamente envolvidas em casos de evasão fiscal em 2013.
 
Desta vez, a organização de jornalistas conseguiu aceder a mais de dois milhões de arquivos digitais, fundamentalmente das Ilhas Virgens Britânicas e Ilhas Cook.
 
As investigações incidem sobre 120 mil empresas e 130 mil pessoas, entre elas vários multimilionários da Europa de Leste e Indonésia, executivos de empresas da Rússia, médicos norte-americanos e traficantes de armas.
 
A quantidade de arquivos é «160 vezes maior» do que a rede WikiLeaks conseguiu obter em 2010 a partir de fontes no Departamento de Estado norte-americano.
 
Para a análise de toda a informação, a organização contou com a participação de 86 jornalistas de 46 países e com a colaboração da BBC, e dos jornais Guardian, Le Monde, El Pais e Washington Post.
 
TSF
 

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