Ana Sá Lopes –
jornal i, opinião
António Costa tem o
caminho aberto para Belém enfeitado com flores
O anúncio da
desistência de Marcelo Rebelo de Sousa de se candidatar a Presidente da
República - que já tinha pré-anunciado várias vezes e que não era segredo para
ninguém nem dentro nem fora do PSD - é a consequência inevitável de Pedro
Passos Coelho, através de uma frase atabalhoada inscrita na sua moção ao
congresso, ter resolvido excluir Marcelo.
É verdade que
Marcelo Rebelo de Sousa já disse "nem que Cristo desça à terra" no
ano glorioso de 1996. As circunstâncias podem mudar - e até Passos pode ser
afastado do PSD mais depressa do que se pode julgar e todo o processo voltar à
estaca zero. Mas não deixa de ser incompreensível que Passos Coelho tenha
decidido entregar o Palácio de Belém à esquerda. Se a sua aposta é repescar
Durão Barroso para candidato do PSD, bem pode tirar o cavalinho da chuva - a
"fuga" de Durão para a Comissão Europeia e a subsequente incapacidade
de lidar com as crises dos países periféricos como a daquele em que nasceu (e
que na altura a propaganda selvagem e irracional se encarregou de transformar
em "oportunidade única para o país") tornaram-no incapaz de vencer qualquer
eleição nos próximos tempos. A memória é curta em política, mas há questões
"fracturantes" e o ano de 2004 é inesquecível.
Passos decidiu,
assim, abrir o caminho à esquerda para uma vitória nas presidenciais. Tendo em
conta o que tem sido a história recente em Portugal nas eleições para Belém, é
pura verdade que esta seria a vez da esquerda ganhar. Mas desperdiçar desta
maneira o candidato da direita mais bem colocado nas sondagens - à direita,
lidera o barómetro i/Pitagórica há mais de um ano consecutivo - é um erro de
alucinado. Marcelo foi ultrapassado por António Costa no posto de "melhor
candidato", embora tenha aí estado nos primeiros meses de existência do
barómetro. Agora, sim, para António Costa há um "caminho aberto" -
título do último livro de intervenções políticas do presidente da câmara de
Lisboa. Com a liderança do PS a ficar mais longe, tendo em conta que as coisas
são como são, depois da desistência de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa,
António Costa tem o caminho aberto para Belém enfeitado com flores, ameno,
aprazível e provavelmente invencível. Existem outros possíveis candidatos de
esquerda - nomeadamente o ex-reitor Sampaio da Nóvoa - ou mesmo Carvalho da
Silva que podem ter ontem sentido uma luz. É verdade que agora era a vez da
esquerda ganhar Belém, mas não se previa que fosse tão simples.
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