Os resultados do
concurso para bolseiros foram finalmente divulgados. 91% dos 3433 candidatos a
bolsas de doutoramento e 90% dos 2100 candidatos a bolsas pós-doutoramento
ficaram sem bolsa. Muitos dos candidatos viam neste concurso a última
oportunidade de permanecer no país, ainda que concorressem por um contrato a
prazo, mal pago e sem parte dos direitos consagrados a outros trabalhadores no
Código do Trabalho. O governo tratou de transformar este concurso numa lotaria,
de sorte pouco provável.
Sem dar mostras do
“inconseguimento frustracional” de Assunção Esteves, Pires de Lima repreendeu
os investigadores intimando-os a trabalhar debaixo da asa dos grandes grupos
económicos. Por outro lado, o ministério de Nuno Crato viu nos resultados uma
oportunidade para os azarados concorrerem a fundos comunitários sujeitando-se à
“livre concorrência”.
Contudo, aos
microfones da TSF, uma ex-bolseira lembrou, e bem, que por mais fantástico que
sejam os projectos de investigação, para concorrer a fundos comunitários é
preciso ter experiência, a tal, que deixaram de poder ter em Portugal.
Na verdade, o
asfixiamento de sectores estruturantes é um dos eixos fundamentais da
intervenção da troika em Portugal. Pretende-se que, a prazo, não seja produzido
conhecimento e investigação científica independente.
Com os cortes
realizados torna-se praticamente impossível instituições e bolseiros a
trabalhar em Portugal conseguirem construir projectos de investigação
financeiramente sustentáveis sem dependerem de privados, na verdade, das
grandes empresas. Por outro lado, cria-se uma oportunidade fantástica para
outros países virem buscar a Portugal os melhores profissionais a preços de
saldo. Não será por acaso que o governo alemão lançou o programa “the job of my
life”, cujo principal alvo são os cidadãos qualificados a trabalhar em países
como o nosso.
Escreve ao sábado
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