quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Timor-Leste: Decisão de Xanana demonstra confiança, mas comporta riscos - investigador

 


Lisboa, 09 jan (Lusa) - O investigador português Rui Feijó, que tem estudado a construção democrática timorense, afirmou hoje que a decisão de Xanana Gusmão de abandonar o cargo de primeiro-ministro demonstra confiança no sistema político de Timor-Leste, mas comporta riscos.
 
"Esta é uma atitude de confiança demonstrada por Xanana no sistema político timorense. De quem acha que a sua saída (...) não vai provocar nenhum colapso, nenhum rombo na democracia timorense", disse o especialista do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra em declarações à Lusa por telefone.
 
Depois de em novembro ter indicado que pretendia deixar o cargo até 2015, Xanana Gusmão, 67 anos, despediu-se hoje do Parlamento Nacional durante a discussão do Orçamento do Estado.
 
"É com todo o respeito que me dirijo, e pela última vez na qualidade de primeiro-ministro, a esta que é por excelência a casa mãe da nossa democracia", disse Xanana Gusmão aos deputados.
 
Rui Feijó, que foi assessor da presidência de Timor-Leste entre 2005 e 2006, quando Xanana Gusmão era Presidente, mostrou-se confiante num futuro sem Xanana na chefia do governo, mas alertou que existem riscos.
 
O investigador recordou que, além de ser um líder carismático, que tem "uma ligação afetiva poderosíssima com o povo timorense", o atual primeiro-ministro "foi um elemento crucial na escolha de uma via democrática" em Timor-Leste.
 
"Desaparecendo de cena, a questão é saber se as forças políticas timorenses mantêm essa adesão plena aos valores da democracia ou se, pelo contrário, podem ser tentadas a outras vias políticas que têm expressão significativa na região", disse Rui Feijó, lembrando que entre os 10 Estados-membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), a que Timor-Leste pretende aderir, "muito poucos são democracias".
 
Também a China, que "não é propriamente um farol de democracia e de liberdades no mundo", tem uma "presença fortíssima em Timor-Leste" e também tem um poder de influência cultural no país, alertou.
 
"Acho que Timor tem condições para resistir aos cantos de sereia de autoritarismos mais ou menos fortes, mais ou menos disfarçados, mas é um risco que Timor corre se Xanana, ao deixar de ser primeiro-ministro, também se apagar", disse o especialista, que foi observador nas eleições nacionais realizadas em Timor-Leste em 2012.
 
Rui Feijó mostrou-se no entanto confiante de que a ideia do primeiro-ministro "não é desaparecer completamente de cena, mas sim permanecer numa posição de senador da república, não havendo um senado formal, de um pai da pátria respeitado, mas tendo uma intervenção quotidiana apenas balizando as grandes opções".
 
FPA // JMR - Lusa

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