domingo, 23 de fevereiro de 2014

CPLP: UMA COMUNIDADE MAIS FORTE



José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião

Na campanha descabelada contra a adesão da Guiné Equatorial à CPLP, os críticos do costume chamaram “canibal” ao Presidente Teodoro Obiang Nguema.

Os argumentos dos bem-falantes políticos e intelectuais portugueses são de um racismo chocante. E até já começam a revelar uma tendência inquietante para o “apartheid”. Quando as forças democráticas daquele país se preparam para comemorar o seu 25 de Abril é, no mínimo, doloroso, ouvir e ver esses exercícios de racismo. Mas os povos sobrevivem sempre à intolerância ideológica, ao obscurantismo e à indignidade.

Na reunião de Maputo, os ministros dos Negócios Estrangeiros da comunidade dos países que têm o português como sua língua oficial, aprovaram por unanimidade a entrada de mais um Estado membro que nos tempos idos até foi colónia de Portugal. O passado pesou muito para que as autoridades da Guiné Equatorial tomassem a sábia decisão de adoptar o português como língua oficial. Tal como pesou o facto de não existir a pena de morte em nenhum Estado membro da CPLP para o Governo de Malabo suspender a lei que condena à pena capital, até ser aprovada legislação que vai abolir para sempre essa prática, mais própria da barbárie do que de gente civilizada.

Quando o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Rui Machete, disse aos seus pares em Maputo, que Portugal se sente confortável com a decisão do Governo do Presidente Obiang Nguema e, por isso, votou a favor da adesão da Guiné Equatorial à CPLP, estava a repor a racionalidade que se exige em questões de Estado.

Actualmente a diplomacia é usada demasiadas vezes para manipular as opiniões públicas ao sabor de interesses egoístas e quase sempre ilegítimos de alguns países. Largos sectores em Portugal fizeram o mesmo em relação à adesão da Guiné Equatorial à CPLP. Figuras da cultura e da política, que apenas atingiram esse estatuto por distracção do acaso, atacaram o Presidente Obiang, chamaram-lhe todos os nomes, mas pelos vistos não deram argumentos que fossem validados pelos sensatos ministros da CPLP.

A CPLP é um espaço de encontro de povos e culturas. Quanto mais forte for, mais êxito tem na defesa dos direitos humanos, no aprofundar da democracia, no desenvolvimento da economia. É evidente que a adesão da Guiné Equatorial fortalece a comunidade em todos os aspectos. E é ainda mais evidente que nesse espaço, o novo Estado membro vai convergir com as políticas que visam promover a democracia e o Estado de Direito e Democrático. Uma prova disso foi a alteração legislativa que suspende a pena de morte. Mas outros progressos podem vir da sua adesão à CPLP.

A diplomacia não pode estar ao serviço da guerra, da agressão, da exclusão e muito menos da asfixia de países e povos. Angola está empenhada na diplomacia da paz e os resultados na África Austral estão à vista. Todos desejamos que o mesmo êxito se repita nos Grandes Lagos. Se Angola e a comunidade internacional conseguirem influenciar todos os Governos para adoptarem políticas de tolerância e de defesa dos direitos humanos, então os esforços actuais valem a pena. Os problemas sociais e as divergências políticas não se resolvem com exclusões nem com guerras. É apenas a diplomacia da paz que cria terreno fértil ao desenvolvimento social e económico.

A CPLP, a partir da reunião de Díli, fica muito mais forte com a inclusão da Guiné Equatorial. E este país vai seguramente registar mais avanços na via democrática ao emparceirar com países como o Brasil, peça fundamental do grupo BRICS, com Angola, uma potência emergente e um Estado cada vez mais influente em África, com Portugal, um Estado membro da União Europeia que nenhum parceiro da comunidade quer ver em crise, quanto mais não seja pela sua rica História e Cultura, Moçambique, com a sua posição estratégica nas rotas marítimas, autêntica ponte entre o Atlântico e o Índico, a Guiné-Bissau, um pilar importante na África Central, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe, as ilhas da comunidade, que alargam a zona económica exclusiva, e Timor-Leste, a fortaleza que guarda a Língua Portuguesa do outro lado do mundo. A Guiné Equatorial dá-nos ainda mais força. Que seja bem-vinda!

Os hipócritas que desrespeitaram o Presidente Obiang e o povo da Guiné Equatorial são os mesmos que atacam Mugabe por se recusar a ceder a pressões externas extremamente violentas e injustas. Quem não está com eles, é ditador, canibal, corrupto ou coisa pior. Estamos a chegar a um ponto em que se repetem todos os tiques da corrente herdeira do regime do “apartheid” que se espalhou pelo mundo e influencia hoje a política em relação a África. Alguns não conseguem perceber a dimensão do ridículo em que caem.

Ao aceitarem a entrada da Guiné Equatorial  na CPLP, os ministros dos Negócios Estrangeiros sinalizam uma atitude positiva, que não é muito usual na linha de ruptura, alta pressão e confronto aberto que marca a diplomacia de muitos países e organizações ocidentais nos nossos dias. O Presidente da Ucrânia, eleito em eleições democráticas tão legítimas como as que ocorrem em Portugal e em todos os países da União Europeia, passou a ser mais um ditador porque não assinou um acordo com a União Europeia. Se o tivesse feito, era um intocável e recebia uma choruda ajuda financeira. 

Esta maneira de usar e abusar da democracia para pressionar governos eleitos, obter supremacia estratégica e militar e vantagens económicas e comerciais, não me parece própria de gente civilizada.
Os verdadeiros regimes democráticos não fecham a porta ao diálogo e à inclusão. A diplomacia é a arte de criar amigos e tem de ser usada a favor da compreensão.

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