terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Moçambique: GURÚÈ, MAIS UMA “ZONA LIBERTADA” PELO MDM

 


"A Frelimo saiu do nosso coração. Queremos ver o que vai fazer o MDM", gritava um jovem à beira do improvisado perímetro de segurança do STAE nas presentes eleições na Escola Primária Completa de Gurúè. "Aqui neste bairro não há energia e nós queremos uma moageira, mas a Frelimo nunca nos quis dar", concluiu.
 
As declarações dos jovens tornavam-se mais vigorosas à medida que alguém de dentro vinha anunciar os resultados de cada mesa que iam saindo. "Estamos aqui para controlar o nosso voto", diziam sem manifestar preocupação em relação ao resultado geral. Festejavam simplesmente a confirmação da convicção de que não traíram, eles, a causa 'colectiva' de derrubar a Frelimo e colocar Orlando Janeiro e o MDM no poder.
 
Efectivamente, os temores de uma noite de violência, que levaram os jovens a manter uma distância prudente das Assembleias de Voto não se consumaram. Tão só ocorreu uma tentativa de enchimento de urnas que não degenerou em violência pela pronta e conivente intervenção da polícia. A Frelimo, através dos seus militantes que circulavam pelas mesas sem credencial logrou criar um ambiente de crispação nas Assembleias de Voto, mas fracassou no seu intento de impedir que milhares de guruenses exercessem o seu direito de cidadania e que o resultado reflectisse a vontade destes. Este segundo pleito, que ficou conhecido, nas casas de pasto e mercados, como "as eleições da vingança" teve maior adesão de eleitores.
 
Orlando Janeiro obteve 7812 (55%) contra 6385 (45%) de Jahanguir Jussub. A Frelimo 6551 (46%) contra 7677 (54%) do MDM. Em relação aos resultados do dia 20 os papéis invertem-se e a derrota, desta vez, cola-se à pele da Frelimo como um papel aderente.
 
O discurso em voga, no seio dos apoiantes da Frelimo apontava para inocência linguística de Orlando Janeiro no que ao português diz respeito como um defeito. Esqueceram-se, porém, que os votos eram pedidos na língua local e aí Janeiro revelou-se um exímio orador e falou ao coração dos seus conterrâneos. O português polido de Jahanguir e um discurso coerente não foram suficientes para convencer o eleitorado.
 
A única coisa que Janeiro prometeu e de forma atabalhoada foi resolver o problema de água. Afirmou categoricamente que essa será a sua prioridade. Jahanguir prometeu muito mais. Começou por falar de alargar o sistema de distribuição e abastecimento de água, apetrechar e reabilitar as decrépitas escolas da cidade, reabilitar o campo de futebol salão e do 11. Até prometeu baixar a taxa de uso e ocupação do mercado.
 
Na verdade, Janeiro tornado herói desde o roubo de 20 de Janeiro de que foi vítima não tinha adversário em sede da vontade popular, apesar de ter prometido menos. O desafio, como ficou provado, estava na fiscalização das Assembleias de Votação. Só aí, na introdução de votos, é que o vendedor de lenha e carvão e quase analfabeto quanto à educação formal poderia sucumbir.
 
Em todas escolas Janeiro ganhou e a sua vitória foi e continua a ser celebrada graças ao apoio que recebeu das populações da periferia e dos funcionários públicos.
 
Verdade (mz), em Tema de Fundo
 

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