"A Frelimo
saiu do nosso coração. Queremos ver o que vai fazer o MDM", gritava um
jovem à beira do improvisado perímetro de segurança do STAE nas presentes
eleições na Escola Primária Completa de Gurúè. "Aqui neste bairro não há
energia e nós queremos uma moageira, mas a Frelimo nunca nos quis dar",
concluiu.
As declarações dos
jovens tornavam-se mais vigorosas à medida que alguém de dentro vinha anunciar
os resultados de cada mesa que iam saindo. "Estamos aqui para controlar o
nosso voto", diziam sem manifestar preocupação em relação ao resultado
geral. Festejavam simplesmente a confirmação da convicção de que não traíram,
eles, a causa 'colectiva' de derrubar a Frelimo e colocar Orlando Janeiro e o
MDM no poder.
Efectivamente, os
temores de uma noite de violência, que levaram os jovens a manter uma distância
prudente das Assembleias de Voto não se consumaram. Tão só ocorreu uma
tentativa de enchimento de urnas que não degenerou em violência pela pronta e
conivente intervenção da polícia. A Frelimo, através dos seus militantes que
circulavam pelas mesas sem credencial logrou criar um ambiente de crispação nas
Assembleias de Voto, mas fracassou no seu intento de impedir que milhares de
guruenses exercessem o seu direito de cidadania e que o resultado reflectisse a
vontade destes. Este segundo pleito, que ficou conhecido, nas casas de pasto e
mercados, como "as eleições da vingança" teve maior adesão de
eleitores.
Orlando Janeiro
obteve 7812 (55%) contra 6385 (45%) de Jahanguir Jussub. A Frelimo 6551 (46%)
contra 7677 (54%) do MDM. Em relação aos resultados do dia 20 os papéis
invertem-se e a derrota, desta vez, cola-se à pele da Frelimo como um papel
aderente.
O discurso em voga,
no seio dos apoiantes da Frelimo apontava para inocência linguística de Orlando
Janeiro no que ao português diz respeito como um defeito. Esqueceram-se, porém,
que os votos eram pedidos na língua local e aí Janeiro revelou-se um exímio
orador e falou ao coração dos seus conterrâneos. O português polido de
Jahanguir e um discurso coerente não foram suficientes para convencer o
eleitorado.
A única coisa que
Janeiro prometeu e de forma atabalhoada foi resolver o problema de água.
Afirmou categoricamente que essa será a sua prioridade. Jahanguir prometeu
muito mais. Começou por falar de alargar o sistema de distribuição e
abastecimento de água, apetrechar e reabilitar as decrépitas escolas da cidade,
reabilitar o campo de futebol salão e do 11. Até prometeu baixar a taxa de uso
e ocupação do mercado.
Na verdade, Janeiro
tornado herói desde o roubo de 20 de Janeiro de que foi vítima não tinha
adversário em sede da vontade popular, apesar de ter prometido menos. O
desafio, como ficou provado, estava na fiscalização das Assembleias de Votação.
Só aí, na introdução de votos, é que o vendedor de lenha e carvão e quase
analfabeto quanto à educação formal poderia sucumbir.
Em todas escolas
Janeiro ganhou e a sua vitória foi e continua a ser celebrada graças ao apoio
que recebeu das populações da periferia e dos funcionários públicos.
Verdade (mz), em
Tema de Fundo
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