sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Portugal – PSD: OS CONGRESSOS DA COBARDIA



Daniel Oliveira – Expresso, opinião

Como se tornou habitual desde que os dois principais partidos instituíram as eleições diretas, não se vai passar nada no congresso do PSD. O único momento em que se pode decidir realmente alguma coisa acontece antes, com as eleição dos líderes. Que passou a fazer-se, de forma ainda mais descarada, através de sindicatos de voto, que o Estado pagará através de favores e nomeações. Já os congressos, onde antes podia haver algum debate e alteração de posições, passaram a ser comícios longo e chatos que a comunicação social só acompanha por hábito.

O Congresso que hoje começa será especialmente sintomático do grau de degradação do debate político interno nos dois principais partidos. Nunca um líder partidário português se afastou de forma tão radical da matriz ideológica original do seu partido. Nunca houve tantos autarcas a desobedecer às ordens centrais. Poucas vezes tantos dirigentes históricos desafiaram de forma tão evidente o seu presidente e o criticaram com tanta violência e acinte. Nunca foi tão difícil ouvir uma voz credível, dentro do PSD, em defesa de um governo por si liderado. E, no entanto, Pedro Passos Coelho foi reeleito sem oposição e com 88% dos votos.

Hoje e neste fim de semana talvez se venham a ouvir algumas vozes isoladas, de militantes mais ou menos anónimos, a fazerem algumas críticas. Mas nem uma figura de peso aparecerá no Coliseu dos Recreios para criticar o líder. Nem uma surgirá em defesa das posições do PSD tradicional. Nem uma repetirá ali as críticas que faz na televisão, nas rádios e nos jornais. Não estarão lá Manuela Ferreira Leite ou Pacheco Pereira.

Para quem, como eu, tem uma vida de militância partidária e participou em congressos, fosse eleito por listas maioritárias ou de oposição, com o sentido de dever repetir em frente aos militantes o que diz publicamente, esta cultura de cobardia é muitíssimo perturbante. E uma forma muitíssimo mais grave de desrespeito pelo colectivo partidário do que concorrer em listas independentes contra o seu próprio partido.

Nos PSD, como no PS, cada um espera pelo seu momento para governar o partido sem oposição e considera desprestigiante ir a um congresso para perder. Todos são "senadores" e todos são demasiado importantes para subirem a um palanque e não sairem de lá ovacionados. É uma cultura que molda um tipo de partido que forma um tipo de político que ajuda a construir um tipo de País. Um país que não compreende o papel fundamental da oposição (sem ser para abrilhantar pactos de regime) e do confronto entre alternativas. Mas, acima de tudo, um país que respeita mais o cálculo do sonso do que o risco do corajoso.

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