1914 – 2014:
Paralelos
Milena Cmiljanic –
Voz da Rússia
Este ano marca o
centenário do início da Primeira Guerra Mundial. Muitos especialistas notam a
semelhança da situação atual com aquele período, e não só na economia mas
também em termos políticos. Aqui estão apenas alguns dos paralelos.
A Primeira Guerra Mundial
foi se formando ao longo de décadas. No Congresso de Berlim de 1878, de facto
se dissolveu a união dos três imperadores – russo, alemão e austro-húngaro. Nos
anos 90 do século XIX o mundo estava dividido entre as “antigas” potências
europeias – Grã-Bretanha, França, Portugal, Holanda, Bélgica.
Quanto às outras
grandes potências, a Rússia estava ocupada a explorar o Oriente, e os
norte-americanos estavam conquistando o Oeste Selvagem. A Alemanha ficou de
fora e os alemães, insatisfeitos com o estado de coisas, começaram a falar
abertamente de uma nova reorganização do mundo, o que posteriormente levou à
guerra.
A reorientação na
década de 1890 da atividade política externa do Império Russo para o Extremo
Oriente, bem como a pressão econômica e política alemã, enfraqueceram a posição
da Rússia na Europa e no Oriente Médio. Em 1904, no Extremo Oriente eclodiu a
guerra russo-japonesa. Por trás do Japão estavam os governos norte-americano e
britânico, cujos bancos financiaram os preparativos militares de Tóquio. Após a
derrota naquela guerra, a Rússia intensificou sua política externa na Europa. E
a Grã-Bretanha, aspirando à hegemonia na Europa, tentava desempenhar o papel de
árbitro internacional.
Hoje, são os
Estados Unidos em vez da Grã-Bretanha que assumem o papel de árbitro
internacional, e à Alemanha, apesar de se ter tornado um colosso econômico
europeu, falta independência na política. Tal como há 100 anos, não está
determinado o seu lugar no “tabuleiro de xadrez” mundial. Isto se manifestou de
forma especialmente clara na declaração do primeiro-ministro polonês Donald
Tusk, que repreendeu a Alemanha por seus laços com a Rússia no setor
energético: “Precisamos ajustar a estratégia energética e a independência da
Rússia para que Moscou não possa, através da energia, influenciar as políticas
da União Europeia”.
Nenhum político
polonês falaria assim com a chanceler alemã se não tivesse os Estados Unidos
por trás. O Parlamento Europeu até proibiu de todo ao antigo chanceler
Schroeder de fazer quaisquer declarações públicas sobre a Rússia. Mas por
quanto tempo os EUA conseguirão manter a Alemanha em sua esfera de influência?
Afinal ela não é uma Polônia, Romênia ou Albânia.
No século XXI
surgiram novos jogadores. São os países BRICS, entre os quais está também a
Rússia. Depois de 2000 Moscou voltou à arena internacional. Apostando na
formação de uma nova ordem mundial, no exemplo da Síria, a Rússia mostrou que a
segurança no mundo pode ser garantida somente junto com a Rússia.
No entanto, a ideia
proposta pela Rússia de criar, do Atlântico ao Pacífico, um espaço econômico e
humanitário unido, não agrada a todos. Segundo observou Vladimir Putin no seu
discurso ao Conselho da Federação, “A notória política de contenção da Rússia
continua até hoje, estão constantemente tentando encurralar-nos”.
Ora, ainda em 1898
o imperador russo Nicolau II exortou os governos a convocar uma conferência
internacional para discutir os problemas do desarmamento total. E tal
conferência foi convocada em 1899, em Haia, e foi adotada uma convenção sobre
meios pacíficos de resolução de litígios internacionais. Mas sobre a questão
principal – a de redução das forças armadas – a conferência não tomou nenhuma
decisão por causa de desacordos entre os países. A ideia de desarmamento era
utópica.
Direta ou
indiretamente, mas também no século XXI a corrida armamentista não virou
passado. Há um acordo sobre a redução de armas estratégicas ofensivas, mas há
também sérias dúvidas sobre o quanto ele está sendo respeitado.
Falando de
economia, antes da Primeira Guerra Mundial, em 1907, eclodiu uma
crise financeira nos Estados Unidos. Caiu o mercado de ações em Nova York, o
país entrou em recessão. Dos Estados Unidos e Inglaterra, a crise se espalhou
para a França, Itália e outros países. A crise que o mundo está vivendo hoje
também começou nos EUA em 2007. Há já sete anos que ninguém consegue estimar
sua profundidade e ninguém sabe quando ela vai acabar.
É difícil avaliar o
quanto podem ser justificados tais paralelos. Uma coisa é clara – no século passado
as crises internacionais, complicadas por disputas territoriais, deram um
impulso ao fortalecimento de alianças político-militares e à aceleração dos
preparativos para a guerra. A situação na arena mundial é hoje muito semelhante
àquele tempo, e os clássicos do marxismo afirmavam que a história se desenvolve
em espiral.
Foto: RIA Novosti
*Título PG
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