terça-feira, 17 de junho de 2014

China deporta artista sino-australiano que recordou massacre de Tiananmen




Pequim, 16 jun (Lusa) - O Governo chinês deportou hoje o artista sino-australiano Guo Jian, depois deste passar duas semanas detido por manifestar a sua opinião sobre o massacre de Tiananmen no 25º aniversário do evento, a 4 de junho.

O artista de 52 anos foi hoje enviado de Pequim para Sydney num voo da companhia Air China, segundo disse no aeroporto a alguns jornalistas, e nas redes sociais, a sua amiga Melanie Wang.

Guo, que em 1989 participou nos protestos a favor da democracia na capital chinesa, que acabaram por causar a morte de centenas ou milhares de pessoas (o número exato de mortos nunca foi divulgado pelas autoridades chinesas), foi detido no dia 1 de junho na sua vivenda em Pequim, acusado de fraude no seu visto, de acordo com o Ministério dos Assuntos Exteriores chinês.

A detenção ocorreu dois dias depois de o diário britânico Financial Times ter publicado um texto em que Guo Jian contava a sua experiência nos protestos, e também depois da exposição de Guo no seu estúdio em Pequim, em que expunha uma maquete da praça Tiananmen coberta com pedaços de carne de porco crua.

O diário australiano The Sydney Morning Herald noticiou recentemente que as autoridades chinesas tinham destruído este e outros trabalhos no seu estúdio.

Ex-soldado, Guo tem toda a sua vida pessoal e profissional em Pequim, e ainda que estivesse consciente do risco que era pronunciar-se sobre Tiananmen, não esperava represálias deste tipo, de acordo com declarações de amigos do artista à agência espanhola EFE, que preferiram manter o anonimato.

Organizações de direitos humanos como a Human Rights Watch (HRW) ou a Chinese Human Rights Defenders (CHRD) dizem que a sua deportação é um dos expoentes mais radicais de uma campanha de repressão a grande escala que o Governo chinês tem levado a cabo este ano para silenciar a evocação do 25º aniversário do massacre de Tiananmen.

Desde que começou a campanha, em abril, a CHRD contabilizou até 50 pessoas que chegaram a estar desaparecidas, interrogadas ou detidas.

Ainda que muitos tenham sido libertados, há casos como o de Guo ou o do advogado Pu Zhiqiang (defensor do artista Ai Weiwei), que foi formalmente acusado sexta-feira de "criar distúrbios" e de "obter ilegalmente informação pessoal", depois de ter sido detido há mais de um mês quando assistia a uma comemoração privada sobre Tiananmen.

JZE // APN - Lusa

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