Pequim, 16 jun
(Lusa) - O Governo chinês deportou hoje o artista sino-australiano Guo Jian,
depois deste passar duas semanas detido por manifestar a sua opinião sobre o
massacre de Tiananmen no 25º aniversário do evento, a 4 de junho.
O artista de 52
anos foi hoje enviado de Pequim para Sydney num voo da companhia Air China,
segundo disse no aeroporto a alguns jornalistas, e nas redes sociais, a sua
amiga Melanie Wang.
Guo, que em 1989
participou nos protestos a favor da democracia na capital chinesa, que acabaram
por causar a morte de centenas ou milhares de pessoas (o número exato de mortos
nunca foi divulgado pelas autoridades chinesas), foi detido no dia 1 de junho
na sua vivenda em Pequim, acusado de fraude no seu visto, de acordo com o
Ministério dos Assuntos Exteriores chinês.
A detenção ocorreu
dois dias depois de o diário britânico Financial Times ter publicado um texto em que Guo Jian contava
a sua experiência nos protestos, e também depois da exposição de Guo no seu
estúdio em Pequim, em que expunha uma maquete da praça Tiananmen coberta com
pedaços de carne de porco crua.
O diário
australiano The Sydney Morning Herald noticiou recentemente que as autoridades
chinesas tinham destruído este e outros trabalhos no seu estúdio.
Ex-soldado, Guo tem
toda a sua vida pessoal e profissional em Pequim, e ainda que estivesse
consciente do risco que era pronunciar-se sobre Tiananmen, não esperava
represálias deste tipo, de acordo com declarações de amigos do artista à
agência espanhola EFE, que preferiram manter o anonimato.
Organizações de
direitos humanos como a Human Rights Watch (HRW) ou a Chinese Human Rights
Defenders (CHRD) dizem que a sua deportação é um dos expoentes mais radicais de
uma campanha de repressão a grande escala que o Governo chinês tem levado a
cabo este ano para silenciar a evocação do 25º aniversário do massacre de
Tiananmen.
Desde que começou a
campanha, em abril, a CHRD contabilizou até 50 pessoas que chegaram a estar
desaparecidas, interrogadas ou detidas.
Ainda que muitos
tenham sido libertados, há casos como o de Guo ou o do advogado Pu
Zhiqiang (defensor do artista Ai Weiwei), que foi formalmente acusado
sexta-feira de "criar distúrbios" e de "obter ilegalmente
informação pessoal", depois de ter sido detido há mais de um mês quando
assistia a uma comemoração privada sobre Tiananmen.
JZE // APN - Lusa
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