terça-feira, 10 de junho de 2014

Guebuza tenta passar a perna ao camarada e amigo Eduardo dos Santos



Com o apoio de Lisboa

Folha 8 – 07 junho 2014

Portugal está, cor­responden­do aos mais recentes estudos sobre me­lhores mercados para investir, a apostar forte em Moçambique. Dessa forma, comenta-se nos corredores do poder de Lisboa, procura ultrapas­sar o “veto” que Eduardo dos Santos impôs à cha­mada parceria estratégica. Armando Guebuza está receptivo e, tanto quanto parece, pouco preocupado com a reacção do seu ve­lho camarada e amigo Pre­sidente do MPLA, chefe do Governo e Presidente da República.

A Lisboa já chegaram, se­gundo o Folha 8 apurou junto do Executivo de Passos Coelho, alertas de desagrado remetidos de Luanda. Admitem essas fontes que, para tentar apaziguar a reacção an­golana, embora mantendo firme a aposta em Moçam­bique, o Governo portu­guês esteja a preparar uma deslocação de alto nível ao nosso país. Por outras pa­lavras, trata-se de apostar em diversos tabuleiros.

Importa, neste contexto, atentar que Portugal apre­sentou este ano 43 projec­tos orçados em mais de 150 milhões de euros, se­gundo dados do Centro de Promoção de Investimen­tos (CPI) moçambicano.

O investimento português aumentou 5,1% face ao ano passado, quando as em­presas portuguesas inves­tiram cerca de 124 milhões de euros em Moçambique, ficando atrás das sul-afri­canas (267,2 milhões de euros) e chinesas (168,1 milhões).

O Centro de Promoção de Investimentos de Moçam­bique aprovou 125 pro­jectos durante o primei­ro trimestre de 2014, no valor de 782,9 milhões de dólares, dos quais 359,07 milhões de dólares refe­rentes a investimentos es­trangeiros.

Dados da organização en­viados indicam que, no mesmo período, o inves­timento nacional atingiu o valor de 72,04 milhões de dólares, com os emprés­timos e suprimentos a re­presentarem 351,8 milhões de dólares do montante global apurado.

Com 204,2 milhões de dólares, relativos a 43 pro­jectos, Portugal foi o país que mais investiu em Mo­çambique durante os três primeiros meses do ano, seguido das ilhas Maurí­cias (46,7 milhões de dó­lares), África do Sul (36,1 milhões), China (21,4 mi­lhões), Bielorrússia (12,05 milhões), Singapura (7,2 milhões), Kuwait (6,6 mi­lhões), Índia (4,9 milhões), Reino Unido (3,5 milhões) e Emirados Árabes Uni­dos (3,3 milhões).

Dos 125 projectos apro­vados, 108 contaram com investimento estrangeiro com origem em 28 países, segundo informações do CPI, que revelam que o sector de Energia recebeu a grande fatia do investi­mento realizado, cerca de 421 milhões de dólares, que foi canalizada exclu­sivamente para a constru­ção da Central Termoeléc­trica de Búzi, na província meridional de Sofala.

Envolvendo 28 iniciati­vas, a Indústria foi o se­gundo maior destino dos investimentos, recebendo 138,2 milhões de dólares, sendo seguida pelas áreas de Construção e Obras Públicas (91,7 milhões de dólares), Serviços (66,7 milhões), Turismo e Hote­laria (41,1 milhões), Trans­portes e Comunicações (12,3 milhões), e Agricul­tura e Agro-indústria (11,6 milhões).

Em termos do investimen­to realizado por província, Sofala ocupa a liderança, com 474,05 milhões de dólares, estando atrás Ma­puto Cidade (110 milhões de dólares), Tete (102,1 milhões), Maputo Provín­cia (39,6 milhões), Cabo Delgado (21,9 milhões), Inhambane (13 milhões), Manica (12,1 milhões), Nampula (7 milhões), Zambézia (2,5 milhões) e Gaza (400 mil dólares).

Recorde-se que a con­sultora Pricewaterhouse Coopers (PwC) defende que as empresas portu­guesas devem intensifi­car os investimentos em Moçambique, que vai ter um “crescimento muito significativo”, acentuan­do sem meias palavras a necessidade de Portugal diversificar os destinos de investimento, contrarian­do a aposta em Angola.

“Moçambique vai ser dos países que vão crescer sig­nificativamente nos próxi­mos três a cinco anos em África”, diz Manuel Lopes da Costa, especialista da consultora, acrescentando que “as empresas portu­guesas preferiram transac­cionar com Angola, mais do que com Moçambique, por causa do atraso ainda maior nas infra-estruturas moçambicanas, e porque fariam negócios melhores e mais rapidamente, mas não podem descurar Mo­çambique”.

E não podem porque Mo­çambique “vai ser impor­tante para as empresas portuguesas diversifica­rem os investimentos, até porque há sempre riscos quando os investimentos estão concentrados no mesmo país”.

“Temos uma presença muito diminuta face ao que podíamos ter” em An­gola e em Moçambique, salientou o responsável da consultora, explicando que só 5% das importa­ções de Moçambique são provenientes de Portugal, e Portugal exporta apenas 2% das compras moçam­bicanas ao exterior.

No que diz respeito às áreas onde será mais ren­tável para as empresas portuguesas apostarem em Moçambique, Lopes da Costa salientou a agricul­tura, as pescas, a indústria extractiva, a construção, a energia, a hotelaria e turis­mo e as infra-estruturas.

Por outro lado, os maiores desafios passam pela “di­ficuldade na obtenção de crédito, acesso limitado à electricidade e atraso no início da exploração de blocos de GPL e reservas de carvão”.

Esta consultora não exclui, contudo, a a continuação do investimento no nosso país. Assim, no caso de Angola, as áreas preferen­ciais para investimento apontadas são a agricultu­ra, as pescas, o petróleo, a geologia, as infra-estrutu­ras, o comércio, a hotelaria e o turismo, e o ambiente.

Quanto às dificuldades dos empresários, elas pas­sam essencialmente pela falta de mão-de-obra qua­lificada, reduzida abertura da economia, uma forte estratégia proteccionista e pela dificuldade de repa­triamento de lucros.

VISITA A PORTUGAL

O Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, visita Portugal em Julho, no âmbito dos “encontros periódicos” entre os dois países, disse o mi­nistro da Planificação e Desenvolvimento moçambicano, Aiuba Cuereneia.

“A visita insere-se nos encontros periódicos, no âmbito da nossa relação bilateral estabeleceram-se as cimeiras e sendo este o último ano do mandato do Presiden­te, é dentro desse relacionamento que se estabeleceu que vem a Portugal para estabelecer contactos”, adiantou o governante moçambicano.

Todavia, Portugal e Moçambique “estão ainda a preparar a visita”, pelo que Aiu­ba Cuereneia considerou ”prematuro” avançar mais pormenores acerca desta deslocação.

Armando Guebuza visitou Portugal em 2010 e 2011, tendo recebido a visita de Passos Coelho em Março do ano passado.

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