terça-feira, 24 de junho de 2014

Moçambique foi o segundo país africano que mais beneficiou do investimento estrangeiro




O investimento estrangeiro em África cresceu quatro por cento em 2013, para um valor total de 57 mil milhões. Moçambique, em particular, foi o segundo país em todo o continente a beneficiar mais com o aumento.

A atração pelos recursos naturais é o motivo do investimento. Os dados são do Relatório de Investimento Mundial de 2014, publicado pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (CNUCED).

Apesar do investimento em África ter crescido 4 por cento, os 57 mil milhões de dólares aplicados neste continente não chegam a representar 4 por cento do total do investimento mundial.

A aposta na infra-estrutura e as expetativas de crescimento da classe média nos mercados das indústrias orientadas para o consumidor - como a alimentação, nova tecnologias e retalho - parecem ser as áreas que mais captam investimento África.

De acordo com os dados do último relatório da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, Moçambique e África do Sul surgem como os dois países que mais gozaram de investimento externo.

No total, a quantidade absorvida pelos dois países mais que duplicou para os 13 mil milhões. Só em Moçambique, esse valor ronda os 5,8 mil milhões.

Gás atrai investimentos

Masataka Fujita, especialista das Nações Unidas para a região, explica o aumento:

“Houve alguns grandes investimentos em Moçambique. Um foi feito pela Finlândia, os outros pela África do Sul. A África do Sul continua a ser um dos maiores investidores em Moçambique. Ambos os países investiram à volta de dois mil milhões de dólares cada um. No caso da Finlândia, foi na área das florestas. No caso da África do Sul, o investimento foi feito na área do petróleo e do carvão.”

O setor do gás natural não foi, em 2013, um dos que mais gerou investimento externo, mesmo depois da entrada da China no setor.

De acordo com Masataka Fujita “no ano passado, as instalações da italiana ENI em Moçambique foram em parte compradas por empresas chinesas. Tratou-se de um investimento da China para adquirir bens já existentes em Moçambique."

O especialista lembra entretanto, que "não é um novo investimento, é apenas uma mudança na propriedade, que deixou em parte de ser da Itália para ser também da China”.

Vários relatórios recentes têm revelado um crescimento interesse em Moçambique, sobretudo por causa dos recursos naturais. Por outro lado, há uma combinação de fatores que atrai os investidores, como explica o especialista das Nações Unidas.

Fatores atrativos em Moçambique

Masataka Fujita recorda também que “Moçambique tem muitos recursos naturais, é muito rico em recursos naturais. Por outro lado, o país tem sido bem sucedido em atrair investimentos privados em conjunto com programas de assistência oficial ao desenvolvimento, os chamados ODA, como por exemplo do Japão."

Para o especialista da ONU refere auinda que "os investimentos do Japão, que não são pequenos, são em conjunto com programas de assistência oficial. De facto, em países pobres esta combinação entre o setor privado (que são o investimento estrangeiro) e o setor público (os ODA) é fundamental porque ambas têm papéis diferentes”.

Globalmente, o investimento estrangeiro aumentou em todo o mundo cerca de 9 por cento. Cinco pontos percentuais acima do crescimento verificado em África. Os Estados Unidos da América, a China e a Rússia são os países onde mais se investe.

Por outro lado, são os Estados Unidos Japão e a China também os que mais aplicam dinheiro no estrangeiro.

Olhando para a distribuição do investimento no mundo inteiro, percebe-se que é nos países desenvolvidos que este sobretudo se fixa. Regiões como a Europa e os Estados Unidos absorvem, em conjunto, 566 mil milhões de dólares.

A Ásia e a América Latina surgem depois como as mais atrativas com 426 mil milhões e 292 mil milhões de dólares respetivamente.

Norte de África em declínio

Por outro lado, o Norte de África e o Sudoeste da Ásia foram as regiões que mais sofreram uma redução no investimento. Masataka Fujita aponta os motivos: “O região do Sudoeste da Ásia foi a que mais viu um declínio do investimento por motivos políticos. Na verdade, o investimento nesta região tem caído nos últimos cinco anos."

Mas o fenómeno não aconteceu só no Sudoeste da Ásia, Fujita diz que "também no Norte de África, aconteceu o mesmo. Mas quando as restrições ao investimento são por motivos políticos, assim que esses problemas são resolvidos o investimento privado estrangeiro regressa.”

Ainda assim, a Ásia é uma das regiões mais atraentes para os investidores. O especialista revela que enquanto “a Ásia capta cerca de 30 por cento do total de investimento estrangeiro, enquanto a África consegue apenas 4 por cento. Essa é a grande diferença entre as duas regiões.”

Quanto ao futuro, Masataka Fujita aponta que os países desenvolvidos continuarão a ser os preferidos: “O investimento nos países europeus vai continuar e aumenta. E eu acho que especialmente nos próximos anos, em 2015 e 2016, o investimento nos países desenvolvidos vai estar em destaque.”

Deutsche Welle / Autoria: Nuno de Noronha / Edição: Nádia Issufo / António Rocha

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