quarta-feira, 18 de junho de 2014

"O Grupo Espírito Santo está para o BES como a SLN estava para o BPN"



Carlos Diogo Santos - jornal i

A eurodeputada Ana Gomes disse ontem que o BES recusou o financiamento da troika para "não ter de abrir as contas do banco à supervisão do Estado". BE defende que Salgado não tem idoneidade

A eurodeputada socialista Ana Gomes comparou ontem o Banco Espírito Santo (BES) ao BPN, afirmando que ambos são ou foram instrumentos de actividade criminosa. Ana Gomes disse ainda, em declarações à Antena 1, que "ninguém, chame-se Salgado ou Espírito Santo, pode ser demasiado Santo para ir preso". 

A reacção surge dias após ter sido tornado público que o antigo contabilista da Espírito Santo International (ESI) Francisco Machado da Cruz acusou o presidente executivo do BES, Ricardo Salgado, de ter autorizado a manipulação das contas daquela holding. Na prática, foi ocultado um passivo de 1,3 mil milhões de euros. 

A razão de ser do sistema A eurodeputada do PS fez um ataque violento a Ricardo Salgado aos microfones da Antena 1. "Estas revelações recentes sobre o Grupo Espírito Santo" (GES) "confirmam que a fraude e a criminalidade financeira não são a excepção. Eram e são a razão de ser do sistema de economia de casino em que continuamos a viver. Estas revelações confirmaram também o que toda a gente sabia: que o banqueiro Salgado não queria o financiamento do Estado para não ter de abrir as contas do banco e do grupo à supervisão do Estado", afirmou a ex-diplomata. 

Para a Ana Gomes, o Estado está "na mão de governantes tão atreitos a recorrer ao GES/BES para contratos ruinosos. Das PPP ao sobreiros, dos swaps aos submarinos e outros contratos de defesa corruptos. À conta de tudo isso e de mecenato suficiente para capturar políticos, Ricardo Salgado conseguiu o cognome de DDT - o Dono de Tudo Isto. E conseguiu paralisar as tentativas de investigação judicial sobre os casos submarinos, Furacão, Monte Branco e até recorrer às amnistias fiscais oferecidas pelo governo", concluiu.

O i noticiou ontem que o facto de a ESI estar a ser investigada no Luxemburgo não impede o Ministério Público de abrir um inquérito em Portugal para investigar a ocultação de parte do passivo desta holding de controlo do GES. 

Tal como o i noticiou em 2013, Ricardo Salgado foi obrigado a rectificar a sua declaração de IRS em 8,5 milhões de euros - valor recebido em Angola -, 11 dias antes de ir depor no inquérito do Monte Branco.

A eurodeputada lembra que perante tudo isto os reguladores, o Banco de Portugal (BdP) e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, nem pestanejaram. Só "a mudança das regras e dos rácios bancários que foram determinados por pressão e co-decisão do Parlamento Europeu obrigaram o BdP a ter mesmo de ir analisar as contas do GES. A contragosto, claro, e com muito jeitinho", criticou a socialista. 

BE reafirma falta de idoneidade de Salgado Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do Bloco de Esquerda, reafirmou ao i o que já tinha reafirmado a Carlos Costa, governador do Banco de Portugal, na última audição no parlamento ocorrida no final de Maio: "Ricardo Salgado não tem idoneidade para continuar à frente do BES." Uma crítica que ainda teve eco no regulador do sector bancário. 

Contactados igualmente pelo i, os restantes partidos parlamentares recusaram comentar o caso BES e as declarações de Machado da Cruz. 

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