Andrei Fedyashin – Voz
da Rússia, ontem
O
presidente dos EUA, Barack Obama, passará o resto da semana na Europa. A visita
a Varsóvia nos dias 3 e 4 de junho será a parte da agenda mais agradável. Ali,
o prêmio Nobel de Paz terá um encontro com o presidente eleito da Ucrânia,
Piotr Poroshenko, e os líderes de quase todos os países da antiga União
Soviética que ingressaram na OTAN em 1999.
Obama
fará várias intervenções perante um auditório também agradável: os novos
membros do bloco gostam de ouvir seus discursos com muito entusiasmo e
exaltação. É assim que os vassalos costumam saudar o seu senhor.
A
viagem a Varsóvia, como se assinala num comunicado de imprensa, é dedicada ao
25º aniversário de primeiras eleições “parcialmente livres” na Polônia,
realizadas em 1989. Parece que o uso da palavra “parcialmente” será
indispensável nos discursos presidenciais programados no âmbito desta digressão
a Varsóvia, Bruxelas e Normandia. Ali, o chefe de Estado norte-americano
participará de solenidades alusivas ao 70º aniversário de desembarque das
tropas de aliados soviéticos em 1944.
Para
começar, vale ressalvar que a causa oficial da visita parece um pouco
artificial. Em Varsóvia, Obama irá celebrar não as eleições “parcialmente
livres”, mas sim o 15º aniversário de adesão à OTAN de novos membros, ou seja,
a primeira etapa da expansão da Aliança Atlântica para Leste: a entrada na OTAN
da Polônia, Hungria e da República Tcheca. Nem Washington, nem Varsóvia, se
atreveram a anunciar esta principal causa da atual visita de Obama. Tal seria
um gesto descarado em relação à Rússia. Na década de 90, a OTAN se desfez em
promessas de não se alargar ao Leste europeu. Ora, teria sido feio demais
organizar uma festa por causa da ampliação deste bloco político-militar.
Desta
vez, Obama, como o chefe da OTAN, chegou para demonstrar não a solidariedade,
mas, acima de tudo, o patrocínio americano dos países europeus. A visita deverá
ser encarada, pois, como uma “digressão de triunfador”. Todavia, devido ao
fracasso do projeto ucraniano, se conseguiu criar um efeito contrário, diz a
politóloga Elena Khotkova:
“A
crise na Ucrânia veio cristalizar a existência de problemas sérios, antes de
mais, estratégicos e muitos fracassos na política dos EUA. É que as inúmeras
tentativas de expandir as estruturas transatlânticas para Leste sofreram
fiasco. Os acontecimentos na Ucrânia comprovam-no”.
A
Casa Branca nem se deu ao luxo de calcular que, nos marcos de “apresentação”
apressada do “rei do chocolate” Poroshenko, Obama se encontraria “parcialmente”
com o presidente eleito e ainda não empossado. A investidura terá lugar apenas
no dia 7 de junho. Antes da data, ele continua sendo um presidente eleito.
Washington teve de explicar em que “condição” o presidente ucraniano seria
recebido por Barack Obama.
Washington
declarou que Obama se solidariza com Poroshenko e suas ações visando “a
manutenção da integridade territorial da Ucrânia e a estabilidade”. Ele deverá
examinar novos passos com vista a diminuir a escalada da tensão. Foi, talvez,
por essa razão que, em 2 de junho a Kiev chegou uma delegação do Pentágono para
consultar a junta militar sobre as vias de estabilização. A visita coincidiu
com novos ataques de mísseis a Lugansk e Donetsk, constata o diretor do
Instituto de Planejamento Estratégico, Alexander Gusev:
“Não
está bem claro por que é que o presidente dos EUA estará ensinando ao seu
homólogo de outro país as normas de comportamento em relação ao seu próprio
povo. Os EUA insistem em prosseguimento da operação punitiva. Como se pode
explicar isso? A Rússia considera inadmissível tal postura por estar violando
todos os aspectos do direito internacional”.
Cumpre
acentuar que a questão de sanções contra a Rússia constitui a tônica da visita
de Obama para o qual essa temática já se tornou uma “ideia fixa”. O tema será
debatido na cúpula do G7 em Bruxelas, onde Obama será “parcialmente” ouvido e
“parcialmente” apoiado. As principais empresas da Alemanha, França, Espanha,
Itália e Grécia anunciaram não aceitar um “terceiro pacote” de sanções contra a
Rússia. Tal cenário terá repercussões econômicas na Europa.
A
visita à Normandia, por motivo da abertura da Segunda Frente, coincide com uma
viagem análoga do presidente russo, Vladimir Putin. Ele se reunirá com o seu
homólogo da França, François Hollande, e o premie britânico, David Cameron. A
Casa Branca anunciou que conversações entre Obama e Putin não estão agendadas.
Apesar disso, ninguém exclui uma possibilidade de um “encontro ocasional”.
Foto: REUTERS/Kuba Atys
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