Díli,
21 jun (Lusa) - O linguista timorense Benjamim Corte Real afirmou hoje em
entrevista à agência Lusa que a presidência de Timor-Leste da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) vai impulsionar o interesse pela
aprendizagem da língua portuguesa no país.
"Penso
que é preciso dar uma nova dinâmica a todo o sistema e a presidência da CPLP
durante os dois próximos anos vai servir de propulsor para todos os componentes
da sociedade e as diversas instâncias do Estado fazerem da língua portuguesa
uma língua do dia-a-dia, uma língua não só falada, mas também dominada na
escrita e sobretudo nas escolas, torná-la um instrumento de trabalho eficaz
para não mais se invocar a ideia de que uma língua estrangeira está a ser
forçada às nossas crianças", afirmou.
Para
o diretor do Instituto Nacional de Linguística, a língua portuguesa "tem
de ser tida com uma língua própria dos timorenses e que as crianças devem
aprender com toda a naturalidade".
Questionado
pela Lusa sobre como classifica a atual situação da língua portuguesa em
Timor-Leste, o antigo reitor da Universidade Nacional de Timor-Leste afirmou
que o país "poderia ter andado mais rápido se tivesse escolhido as
políticas adequadas".
"Não
o fez porque no momento em que o país se começou a organizar outras prioridades
ganharam a atenção dos governantes e a parte da reintrodução da língua
portuguesa ficou um bocado marginal e à mercê de escolhas individuais das
escolas e dos diretores das escolas", salientou.
Para
Benjamim Corte Real, a política não foi implementada de forma nacional e
uniformizada, mas hoje as pessoas "começaram a ganhar consciência".
"Hoje
em dia parece que temos um sistema bem montado e falta acioná-lo. O facto de o
Estado vir assumir a presidência e de ter estabelecido uma comissão que começou
a disseminar o que é a CPLP na sociedade, sobretudo nos meios académicos, tudo
isso acabou por ser um argumento mais forte, mais alto do que propriamente uma
lei, uma legislação a obrigar as pessoas a falar a sua língua oficial",
explicou.
Segundo
o professor, a ideia de que Timor-Leste é "parte de uma comunidade,
assente numa plataforma de história comum, laços de amizade e de solidariedade
nos momentos mais difíceis" convence mais as pessoas a aprenderem a
língua.
Por
outro lado, Benjamim Corte Real salientou que as pessoas também já assumem com
"certa naturalidade que o Estado está a fazer andar aquilo que é de facto
constante dos desideratos mais consagrados na Constituição e na vida da Nação,
não é nada vindo de fora como antigamente se ouvia dizer pelos corredores de
muitas estruturas em Díli que a liderança política estava a tomar medidas
contraditórias com a realidade do país".
"Hoje
em dia a situação começou a inverter-se. As pessoas assumem por si, com lógica,
quando vivem o seu processo de luta pela libertação, vivem o sofrimento do povo
quando vivem a projeção que os líderes políticos estão a dar o país ai entendem
que afinal devem começar a aprender a língua", disse.
"Os
mais adultos, mais velhos talvez vão com pouca vontade, mas não vejo essa
atitude, quando se trata da educação dos filhos. Um taxista preocupa-se muito
em colocar o filho ou a filha numa escola que garanta a aprendizagem nas
línguas oficiais, incluindo a língua portuguesa", concluiu.
Timor-Leste
tem consagrado na Constituição como línguas oficiais o português e o tétum.
Segundo
o Ministério da Educação, no país apenas falam português cerca de 25 por cento
da população, ou seja, os mais velhos e alguma elite económica, política e
social.
Os
censos de 2010 revelam que, dos cerca de um milhão de timorenses, apenas 56,1
por cento fala, escreve e lê em tétum.
O
bahasa é falado por 45,3% da população. Só depois aparece o português, com
25,2%, e o inglês, com 14,6%.
Timor-Leste
vai assumir a presidência da CPLP durante a cimeira de chefes de Estado e de
Governo de Díli, que se vai realizar a 23 de julho.
MSE
// VM - Lusa
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