quinta-feira, 10 de julho de 2014

3 anos de seca colocam famílias do sul de Angola em risco de carência alimentar




Seca afeta 6 das 18 províncias de Angola, em particular o Cunene, Namibe, Cuando Cubango, Huíla, Benguela e Kwanza Sul. Só nesta última foi registado um prejuízo de mais de 40% na produção agrícola em 2013-2014.

A informação foi avançada à imprensa pelo responsável provincial do Instituto de Desenvolvimento Agrário (IDA), Domingos Gonga, que adianta que das 200 toneladas de produtos diversos previstos foram colhidas apenas 125,5 toneladas, o que representa uma baixa de 40% precisamente devido à seca. Um quadro dramático, nas palavras do Padre Pio Wakussanga, da Paróquia dos Gambos na província angolana da Huíla.

“As populações que puderam cultivar nos locais que tiveram um pouco de chuva só cultivaram para uma reserva alimentar para esta estação de seca”, lembra o pároco, acrescentando que, depois, estas pessoas “estarão de novo na penúria alimentar”. Já as populações que não conseguiram cultivar, continua o padre, “não têm nada para comer, por isso estão a realizar trabalhos ocasionais, alguns biscates para poderem colher alguma coisa e alimentarem as suas famílias”. De acordo com Pio Wakussanga, os idosos e crianças suscitam uma maior preocupação, numa altura em que “a seca se prolonga pelo terceiro ano consecutivo”.

A produção do milho é a mais afetada a sul, por necessitar de chuvas para a sua rega. Contudo, o registo de uma boa safra de mandioca e batata-doce pode suprimir o déficit de outros produtos, dizem os especialistas.
Planos do Governo ainda no papel

As autoridades reconhecem a situação difícil vivida pelos camponeses daquelas províncias, onde já foram identificadas famílias em condições de risco alimentar devido à seca. O Governo angolano já anunciou, por isso, grandes planos para a criação de zonas com irrigação mas, segundo o Padre Pio Wakussanga, “até que estes projetos sejam postos em prática, a população já terá sofrido bastante”. O pároco chama ainda a atenção para a necessidade de uma “assistência adequada”, afirmando que “todas as famílias vulneráveis deveriam receber uma cesta básica, um pacote alimentar mensal até que se encontrem alternativas. Angola tem muito dinheiro e pode fazer isso”.

“Tem havido apoios ocasionais, mas não há um banco de dados concretos sobre as famílias afetadas, que permita criar um circuito de abastecimento regular”, lembra ainda o padre.

Pio Wakussanga insiste nas medidas que as autoridades angolanas têm que tomar o quanto antes, porque, caso contrário, as perspectivas a curto prazo são extremamente preocupantes. Isto porque, lembra, “em algumas zonas também não há água”. Por isso, defende uma ação “mais célere e de maior investimento”.

Apesar da situação de risco da população durar já há 3 anos, a ação do Governo angolano, para muitos, tem deixado a desejar. De acordo com Pio Wakussanga, isto deve-se não só ao facto de “muitos membros do Executivo não conhecerem o terreno”, mas também “a um pouco de má vontade”. “Pelo terceiro ano consecutivo não se consegue encontrar uma solução, porque não se conhece o terreno. E lá estão as igrejas e outras instituições que poderiam fornecer informações para se fazer uma intervenção muito mais orientada. Se isto não acontece, é também devido a uma certa má vontade, infelizmente”, conclui.

Elefantes e hipopótamos destroem culturas

Entretanto, e como forma de fazer frente à situação, os camponeses têm sido aconselhados pelo IDA a praticar a agricultura de regadio, sobretudo aqueles das regiões ribeirinhas. No entanto, a maioria ignorou a orientação e os que acataram os conselhos viram destruída a sua produção por elefantes e hipopótamos.

Com efeito, novos relatos de destruição de culturas por manadas de elefantes em Angola, estão a motivar o receio da população face à devastação provocada na agricultura . Citados pela imprensa angolana, os camponeses queixam-se de culturas destruídas por manadas constituídas por até 25 elefantes.

Nem meios artesanais para afastar os animais, como a queima de pneus, têm travado a devastação de culturas como banana, milho, feijão ou mandioca, entre outras.

As autoridades provinciais reconhecem a situação como um problema grave e complexo e por isso aguarda-se a intervenção dos ministérios da Agricultura e do Ambiente. Além do apoio direto aos camponeses afetados, localmente reclama-se a criação de uma reserva para elefantes, tendo em conta que estes ataques já se repetem regularmente há cerca de dois anos, nomeadamente quando os animais procuram por alimentação ou água, geralmente nas suas rotas de transumância. Estes casos terminam frequentemente com a morte de camponeses e ataques diretos da população às manadas.

Deutsche Welle - Autoria: António Rocha – Edição: Maria João Pinto

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