MENTIRAS
INSTITUCIONAIS
Folha
8, 26 julho 2014
Executivo
pretende criar “mais de um milhão de empregos directos” até 2017 com
“legislação que facilite” o acesso dos jovens ao mercado de trabalho, disse o
chefe da nossa diplomacia. “Um milhão” é, aliás, a imagem de marca do regime.
Em 2008 também era prometida a criação de um milhão de casas, bem como a
construção ou reconstrução de 1.500 pontes e a reabilitação de mais de 12 mil
quilómetros da rede nacional de estradas até… 2012.
O
anúncio do tal “mais de um milhão de empregos directos” foi feito em Nairobi,
no Kénia, pelo ministro das Relações Exteriores, Georges Chikoti, durante a
intervenção na Cimeira sobre a Juventude e Emprego da Conferência Internacional
da Região dos Grandes Lagos (CIRGL), presidida por Angola.
“O
Governo angolano espera criar até 2017, à luz do Plano Nacional de
Desenvolvimento da Juventude [PNDJ], mais de 1.000.000 de empregos directos,
com a definição de legislação que facilite que os jovens sejam beneficiários,
sem constrangimentos de nenhuma ordem, pelos empregadores no acesso ao
primeiro emprego”, disse o governante.
Georges
Chikoti sublinhou que estas iniciativas estão apoiadas no Fórum Nacional de Auscultação
à Juventude, lançado (como não poderia deixar de ser no âmbito do culto ao chefe)
pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, “para abordar e
facilitar os processos” que visam a “inserção” dos jovens na sociedade.
Uma
iniciativa alicerçada pelo PNDJ 2014/2017, instrumento que envolve 30
ministérios, 312 programas, 325 medidas de políticas, que se encontram distribuídas
em 39 programas de âmbito nacional, 26 programas de âmbito provincial e 24 programas
de âmbito municipal.
Fruto
da execução deste plano, afirmou Georges Chikoti, foram criados em 2014 um
total de 141.294 empregos para jovens dos 18 aos 35 anos, nomeadamente nos
sectores da economia e da administração pública. Em termos de formação
Profissional, disse ainda, estão em funcionamento 541 centros públicos e
privados e foram matriculados, também este ano, 30.802 jovens.
“No
mesmo período, foram formadas cerca de 212 microempresas nas comunidades, em
matéria de empreendedorismo e gestão básica de pequenos negócios”, acrescentou
o ministro, durante a intervenção nesta conferência dedicada aos assuntos da juventude
no seio da CIRGL, que envolve doze países africanos.
Sublinhando
os “vários anos de conflito armado” que se viveram no país, o Executivo
angolano garante que o tempo é agora de “estimular” os jovens “a promover a
paz, segurança, estabilidade e desenvolvimento sustentável”.
Há
dois anos, o Presidente disse, em Luanda, ter chegado a hora de “crescer mais
e distribuir melhor”. Falando no Comité Central do MPLA, José Eduardo dos
Santos recuou até às promessas para as eleições de 2008, confortavelmente
vencidas (até com os votos dos mortos) pelo MPLA, considerando que o balanço é
positivo, dando como exemplo as “realizações e os empreendimentos inaugurados
quase todas as semanas”.
“O
país está de facto a mudar para melhor e há avanços e crescimento em todos os
domínios”, mas para o MPLA, defendeu, importa que “o desenvolvimento social
seja tão dinâmico como tem sido o crescimento económico”.
Embalado,
Eduardo dos Santos disse que “muito ainda estava por fazer”, mas mostrou-se
convicto da “nova Angola” que está a surgir, “pronta para iniciar uma nova
etapa da sua história, na qual todos os nossos esforços estarão voltados para
os mais desfavorecidos, aqueles que mais sofrem porque têm pouco ou quase
nada”.
Sem
se comprometer com metas, como sucedeu nas promessas de criação de empregos
ou a construção de um milhão de casas, feitas em 2008, José Eduardo dos Santos
passou para algo mais vago mas dentro das bitolas dos estados de direito
(coisa que Angola não é). Isto é, o futuro passa por um Programa de
Estabilidade, Crescimento e Emprego.
“Através
dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativas destinadas a garantir mais
empregos, aumentar a oferta de água e energia, melhorar os serviços de Educação
e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o
fortalecimento das micro, pequenas e médias empresas angolanas”, explicou
Eduardo dos Santos.
E,
como não poderia deixar de ser, o presidente garantiu que o MPLA “fará a sua
parte para a manutenção de um clima de paz, tolerância, harmonia e confiança”.
José
Eduardo dos Santos disse no dia 6 de Outubro de... 2008 que o Governo ia
aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que
incluiria a construção de um milhão de casas.
O
Presidente admitia, modesto como é, que “não seria um exercício fácil”, tendo
em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil
dólares. Apesar de tudo assegurou que “já se estava a trabalhar” nesse
sentido.
No
seu discurso de então, Eduardo dos Santos observou que a escolha de Luanda para
acolher o acto central do Dia Mundial do Habitat tinha a ver com o
reconhecimento pela mais alta instância internacional (ONU) da filosofia e
estratégias definidas pelo Governo angolano no seu programa habitacional para
o período 2000/2012 e que já estava, disse, a ser aplicado.
“O
objectivo dessa estratégia é proporcionar melhor habitação para todos,
progressivamente, num ambiente cada vez mais saudável”, disse Eduardo dos
Santos. Não se sabe se ainda alguém se recorda disso... Mas se não se recorda,
aí está agora a mesma história.
Nesta
perspectiva considerou que o executivo de Luanda estava em “sintonia” com as
preocupações e a “visão” da organização das Nações Unidas, quando coloca como
questão central, como necessidade básica do ser humano, fundamental para a
construção de cidades e sociedades justas e democráticas, a questão da
habitação.
Segundo
Eduardo dos Santos, “em Angola, como em quase todo o mundo, o fenómeno da
urbanização veio acompanhado de grandes problemas ambientais, tais como a
produção de resíduos domésticos e industriais, a poluição, o aumento do
consumo da energia e água e o surgimento de águas residuais”.
“Para
evitar ou minimizar-se esses problemas impõe-se a adopção de uma política ambiental
rigorosa e abrangente”, apontou o Presidente, garantindo que o combate ao caos
urbanístico que se instalou nas cidades e no território em consequência da
prolongada guerra civil, está a ser feito através de modelos integradores, geográficos,
económicos e ambientais.
A
atenção estava, ainda segundo o Presidente da República, centrada na
“construção ilegal e não autorizada” e também numa política que procura “evitar
assimetrias regionais e o abandono do interior”.
Eduardo
dos Santos frisou ainda que as “linhas de força” traçadas pelo Governo estavam
orientadas para uma “cooperação activa” entre a administração central e local
do Estado, entre o sector público e o privado, com vista à execução de uma nova
política que contribua para “a geração de empregos, para o desenvolvimento
harmonioso dos centros urbanos, para a eliminação da pobreza e da insegurança,
e para a eliminação também das zonas degradadas e suburbanas”.
O
presidente anunciou igualmente na altura (2008) que seria “cada vez mais
acentuada” a preocupação com a urbanização das cidades angolanas e que serão
“incentivadas políticas que diminuam a circulação automóvel nos centros dos
grandes aglomerados urbanos”.
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