Carlos
Diogo Santos e Luís Rosa – jornal i
Obrigações
do Espírito Santo Finantial Group desvalorizaram mais de 80%
A
desvalorização dos títulos de dívida do Espírito Santo Financial Group (ESFG)
atingiu níveis que diversos analistas de mercado estão a equiparar ao default
(incumprimento). Na prática, os investidores olham para a dívida da holding da
área financeira do Grupo Espírito Santo que controla 25% do BES como um
"activo de elevado risco", afirmou um dos analistas ouvidos pelo i.
De
acordo com informações de mercado a que o i teve acesso, há
obrigações do ESFG que estão a ser transaccionadas a níveis que os analistas
equiparam ao incumprimento. Uma dessas obrigações, subscrita em 2013 a 99,74 euros por
título, valia ontem às 16h09m apenas 46,22 euros. Se os investidores quisessem
vender para evitar o risco de incumprimento, perderiam mais de metade do valor
aplicado. E não é caso único. Outra obrigação, comprada em 2009, por 99,78
euros estava ontem a 17,84 euros nos mercados secundários - uma desvalorização
superior a 80%.
A
Moody's anunciou ontem a descida do rating do ESFG para a nota Caa2, apenas
três níveis acima do incumprimento. A descida de rating penaliza todos os
títulos de dívida do ESFG, sociedade com sede no Luxemburgo mas cotada em
Lisboa.
FALTA
DE TRANSPARÊNCIA PENALIZA RATING A Moody's justificou a decisão com o
aumento da exposição da holding financeira que controla 25% do capital do BES
aos negócios não financeiros do grupo. Essa exposição subiu de 1,27 mil milhões
de euros no final de 2013 para 2,35 mil milhões de euros no final de Junho,
devido a financiamentos directos à Espírito Santo Internacional (ESI),
sociedade que está tecnicamente falida, e à Rio Forte.
A
agência de rating teme que a exposição a empresas em dificuldade financeira
aumente nos próximos meses, à medida que o papel comercial emitido por estas
sociedades chega à maturidade e estas não consigam refinanciar-se. Este cenário
pode obrigar o ESFG a aumentar o financiamento directo e assumir mais perdas,
para além dos 700 milhões de euros já provisionados para proteger os clientes
que compraram papel comercial das empresas aos balcões do BES.
Estas
preocupações são agravadas pela falta de transparência acerca da situação
financeira da ESI e pela ausência de informação sobre o GES no que diz respeito
às ligações intragrupo, incluindo a exposição directa e indirecta do ESFG.
O
rating da dívida do ESFG continua em revisão para um novo downgrade, numa
tentativa de reacção à opacidade e para obter a informação necessária sobre a
extensão total e potencial do ESFG a outras áreas do GES. A ESI está a propor
aos seus financiadores a conversão dos créditos em capital e dívida de longo
prazo. Os accionistas da sociedade com sede no Luxemburgo vão votar um plano de
reestruturação a 29 de Julho.
INCUMPRIMENTO
DA ESI A ESI está desde o fim do mês passado a negociar um acordo com os
investidores de uma obrigação já vencida. De acordo com o "Expresso
Diário", a empresa está em incumprimento desde 26 de Junho de 2014. O
jornal deu mesmo um exemplo de um cliente do Banque Privée, mostrando o cupão
subscrito, que investiu 150 mil euros em papel comercial que vale 0 euros ao
dia de hoje. O banco suíço da família Espírito Santo reagiu, alegando que em
causa está apenas um atraso.
O
cenário é cada vez mais preocupante para os investidores, sobretudo os
institucionais, como a Portugal Telecom (PT). A operadora portuguesa, liderada
por Henrique Granadeiro, investiu cerca de 900 milhões de euros em papel
comercial da ESI, tendo trocado em Abril estes títulos de dívida por um produto
financeiro idêntico da Rio Forte. Os títulos adquiridos pela PT vencem a 15 e a
17 de Julho próximos, altura em que a Rio Forte terá de reembolsar o capital
mais juros contratualizados. O risco deste investimento da PT tem provocado
fortes quedas em bolsa e está a prejudicar o projecto de fusão com a brasileira
Oi.
Ontem
foi tornado público que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários já terá
aberto uma investigação a esta aplicação de tesouraria da PT para averiguar se
existia favorecimento accionista, uma vez que o GES detém 10,05% da operadora
de telecomunicações. Ainda assim, oficialmente, o regulador do mercado não
confirma a informação.
Com
Ana Suspiro - foto Dora Nogueira
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