José António Lima. – Sol, opinião
Após
mais de duas décadas a liderar o BES, nas quais acumulou um imenso poder de
influência na sociedade portuguesa, Ricardo Salgado chegou ao fim do seu
consulado. E quem, por estes dias, ouviu muitos dos comentadores que analisaram
o significado da sua saída ou leu a sua carta de despedida até poderá ter-se
convencido que Salgado se afasta por limite de idade ou como prémio de carreira
a distinguir uma gestão brilhante e imaculada.
Mas
não. Não foi por nada disso. O até há pouco todo-poderoso líder do BES sai por
razões mais singelas e inconvenientes. Ricardo Salgado foi afastado
compulsivamente da gestão do BES após uma auditoria pedida pelo Banco de
Portugal ter descoberto, há cerca de seis meses, a ocultação de um ‘buraco’ de
1,3 mil milhões de euros, entres 2008 e 2013, na holding do grupo, a Espírito
Santo International (ESI).
A
esse facto pode juntar-se um ‘buraco’ de 5,7 mil milhões no BES Angola (BESA),
banco na dependência directa e maioritária de Salgado. Ou os prejuízos de 518
milhões que o BES apresentou em 2013. Ou os 1,4 mil milhões em imparidades de
crédito concedido. Ou as provisões extraordinárias de 700 milhões a que se viu
obrigado. Ou os aumentos de capital em desespero de causa dos últimos meses. Ou
os problemas com ‘actividades ilícitas’ do banco na Florida, em Espanha ou no
Luxemburgo.
Sem
esquecer os honorários pessoais de 8,5 milhões de euros que Salgado recebeu
através de uma offshore, descobertos no processo Monte Branco, ou as três
rectificações do seu IRS em 2013. E não é tudo. Apesar de já não ser pouco.
Prejuízos,
‘buracos’ ocultos, dívidas, irregularidades, contabilistas duvidosos,
imparidades, atrasos fiscais, etc. Não há idoneidade de banqueiro que resista a
esta sucessão de tropelias financeiras. E o que é preocupante para a sociedade
portuguesa no seu todo é que os banqueiros mais poderosos das últimas décadas,
Jardim Gonçalves e Ricardo Salgado, saíram dos seus cargos com processos e
irregularidades de cortar a respiração. Que se somam aos escândalos do BPN de
Oliveira Costa ou do BPP de João Rendeiro.
Salgado
bem pode aplicar a si próprio a frase que, em 2009, dirigiu a Filipe Pinhal do
BCP: «A lamentável comédia no seu banco pôs em causa a credibilidade do sector
e do país». Comprova-se: os banqueiros portugueses são pouco recomendáveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário