O
teólogo e escritor esteve ontem em Fortaleza e visitou O POVO. Apoiador de
Marina em 2010, ele explica o porquê de não estar mais ao lado da candidata e
defender a reeleição de Dilma, em quem não votou há quatro anos
Para
o teólogo Leonardo Boff, a política de Marina Silva não traz nada de nova. “Ela
reproduz as grandes teses do neoliberalismo”, critica o teólogo, que ontem
visitou O POVO.
Em
2010, Boff tinha opiniões diferentes sobre Marina: no primeiro turno, ela
contou com seu apoio e com o discurso de Boff no lançamento da sua candidatura
para presidente pelo Partido Verde. Mesmo sabendo, segundo ele, que ela não
ganharia, o apoio se deu por ela ser, então, a única que defendia a causa
ambiental.
Mas
em 2014, Boff apoia Dilma Rousseff (PT) e critica Marina. A diferença que
surgiu em quatro anos foi que, segundo o religioso, Marina “radicalizou a visão
de futuro dela” e se associou a interesses econômicos para compensar, segundo o
teólogo da Libertação, sua ausência de “base popular”. Entre os interesses
econômicos, ela cita o banco Itaú e a empresa de cosméticos Natura.
O
teólogo, porém, afirma que as divergências não surgiram agora. Elas já vêm
desde a eleição passada, conforme afirma. Boff é crítico da leitura que sua
igreja, a Assembleia de Deus, faz da Bíblia. Segundo ele, Marina é adepta de
uma leitura fundamentalista da fé cristã. E isso influenciou, em 2010, nas suas
opiniões sobre aborto e casamento gay.
Firmeza
nas posições
Na
opinião do teólogo, as posições religiosas de Marina apontam também falta de
firmeza. Ele cita a questão do casamento gay como exemplo. “Eu não a vejo como
tendo energia pessoal, energia política, para conduzir, durante uma crise, o
Brasil para um desfecho feliz”.
Propostas
da candidata também são criticadas. A independência do Banco Central é uma
delas, a qual ele classifica com inconstitucional. “Só existem três poderes
independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário”, declara. O BC, na opinião
de Boff, pode ter relativa autonomia, mas não independência. Em síntese, as
propostas de Marina alinhariam o Brasil a um projeto de globalização como sócio
menor.
Fé
e política
Boff
também comentou a relação entre fé e política, que tem sido uma polêmica
constante nas duas campanhas presidenciais de Marina. Para ele, “fé é algo
estritamente pessoal”, entretanto, o Estado laico permite que as pessoas
expressem suas opiniões e “se aceita o consenso dominante, porque assim se
fundamenta a democracia”.
Saiba
mais
1.
CONFUSÃO
Em
entrevista à radio O POVO/CBN, Boff brincou com as frequentes confusões que
fazem, trocando seu nome pelo de frei Betto. “Quando me chamam de Betto, eu
respondo. Quando chamam ele de Boff, ele responde”.
2.
CRIAÇÃO
Ao
fim da entrevista ao O POVO, Boff disse à equipe de reportagem que “o bom
jornalista escuta tudo isso e acrescenta um pouco mais. Ele cria”.
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