Pedro
Bacelar de Vasconcelos – Jornal de Notícias, opinião
Bem
procurei pelas páginas dos jornais um título, uma notícia, uma imagem
inspiradora de outros temas que nos transportassem para longe do pântano em que
se transformou a atualidade governativa, mas foi em vão! Não se encontra
remédio eficaz para este fastio. A náusea persiste mas o Governo resiste a
todos os empurrões. Caíram os administradores do Novo Banco. Demitiu-se um
diretor-geral no Ministério da Educação. Foi demitido o Conselho de
Administração da Fundação do Côa Parque, nomeado no início da legislatura.
Caem, um a um, sucessivos administradores da PT que foi, outrora, uma empresa
exemplar do setor das telecomunicações e para cujo sucesso, como clientes ou
contribuintes, todos tínhamos contribuído. Embora tudo se desmorone à sua
volta, o Governo não mexe e até acredita que vai conseguir chegar ao fim do
mandato em ponto-morto, embalado pelos credores da dívida soberana a quem
"serviu" incondicionalmente!
Quando
- já lá vão alguns meses! - vieram a público os primeiros sinais da crise da
família Espírito Santo, a reação do primeiro-ministro foi rápida e perentória,
e remeteu o delicado assunto para a esfera da exclusiva responsabilidade do
Banco de Portugal - assim colocando o Governo a salvo das previsíveis
recriminações - e mais garantiu que em nenhuma circunstância seriam os
contribuintes chamados a suportar os eventuais prejuízos da intervenção. Tudo
fizeram para fingir que não estavam a repetir os dispendiosos erros cometidos
nas falências do BPP e do BPN. Tudo fizeram para dissimular as manobras de
bastidores com o fim de apressar a venda do Novo Banco por meros intuitos
eleitoralistas. Porém, foi o próprio Governo, pela voz do primeiro-ministro e
da sua ministra das Finanças, que veio ontem reconhecer que afinal não era bem
assim... e que os contribuintes poderão ser chamados a responder pela herança
falida da família BES, apesar das promessas feitas.
Em
condições normais, num país normal, o caos instalado na Educação e os
continuados "transtornos" da Justiça, teriam já provocado, pelo
menos, a demissão dos titulares das respetivas pastas ministeriais. Mas, para
além da vantagem óbvia de criar um bode expiatório para os erros comuns de uma
tão atribulada governação, não estariam dessa forma os governantes a dar razão
aos que reclamam há muito a demissão de um deles e aos que não perdoam as
desastrosas consequências da imprudência de outro? Por que haveria agora o
Governo de acorrer aos danos da paralisação da Justiça, às crianças que estão
sem aulas, aos professores que aguardam colocação, quando o primeiro-ministro
não dá sinais de preocupação nem com a defesa do seu bom nome nem com a
degradação da dignidade das funções que desempenha?
A Fundação
incumbida de cuidar das gravuras rupestres do Vale do Côa - Património da
Humanidade reconhecido pela UNESCO - e de gerir o seu magnífico museu, foi
concebida pelo Governo anterior e instituída pelo atual que nomeou o Conselho
de Administração agora demitido. A nova Administração é transitória e foi
nomeada com o encargo de elaborar um diagnóstico da fundação e fazer propostas
para melhorar o modelo de gestão do Museu do Côa e do Parque Arqueológico que
devem ser entregues à Secretaria de Estado da Cultura no prazo de dois meses.
Como refere Luís Miguel Queirós na edição do "Público" de terça-feira,
o presidente da Câmara de Vila Nova de Foz Côa - que transita da Administração
cessante para a nova -, refutando acusações de salários em atraso, afirmou que
"sempre se deu prioridade ao pagamento dos salários" e que "não
havia era dinheiro para mais nada". Exatamente! O estudo, a valorização e
a promoção de um acervo artístico único no Mundo ficaram a aguardar, embora a
fragilidade do modelo institucional adotado fosse patente desde a criação da
Fundação do Côa Parque. Por que foram precisos três anos para reconhecer o
óbvio? Estavam à espera que as gravuras aprendessem a nadar?
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