O
presidente do MPLA, partido no poder desde 1975, o também presidente da
República (sem nunca ter sido nominalmente eleito) desde 1979, e também chefe
do Governo, o também dono de Angola, disse hoje em Luanda que o seu partido
“continua a ser o principal instrumento de acção política nacional”.
Orlando
Castro – Folha 8 Diário
José
Eduardo dos Santos defendeu no discurso de abertura do V Congresso
Extraordinário do MPLA, que é devido ao seu partido que “milhões de angolanos
participam na vida política do país, expressando os seus anseios e opiniões,
que são depois convertidos nos programas de Governo submetidos à vontade
popular nos diferentes pleitos eleitorais”.
Por
outras palavras, sem o MPLA Angola não existiria. E se calhar nem África. E
quando Eduardo dos Santos fala de milhões de angolanos, refere-se
exclusivamente aos que são do MPLA, ou seja – segundo dados do anos passado –
21 milhões.
Nesse
sentido, o líder do MPLA, também conhecido por “querido líder” ou “o escolhido
de Deus”, sublinha que o MPLA não pode perder de vista o seu papel mobilizador
e formador de consciência política. Daí a institucionalização da (re)educação
patriótica, do culto ao chefe, da valorização dada aos que pensam de maneira
diferente e que, cada vez mais, também têm valorizado a cadeia alimentar dos
jacarés.
Para
melhor mobilizar, para conseguir ter mais militantes do que o total de
angolanos, José Eduardo dos Santos sublinhou que o MPLA deve saber tirar
proveito das novas tecnologias de informação e comunicação, para fazer chegar
as suas mensagens aos cidadãos. Nada como dar um telemóvel a quem, e são mais
de metade da população, é obrigado a pensar com a barriga… vazia.
“Através
destes meios devemos aumentar e consolidar a consciência dos que nos apoiam,
conquistar os indecisos, e, acima de tudo, formar os nossos militantes para que
tenham mais e melhor participação na vida política nacional”, frisou o “querido
líder”.
Só
mesmo a sua reputada benevolência e modéstia fazem com que o Presidente de tudo
o que é poder no país fale de indecisos. Isto porque em Angola ser indeciso é
estar desempregado, não ter casa, viver na miséria.
Lembrando
que o MPLA tem na essência do partido a independência e a unidade da nação, a
justiça social, a manutenção da paz entre outros, José Eduardo dos Santos disse
que no contexto actual estes princípios “exigem” que o partido “estreite as
suas relações com o povo angolano, cimente e consolide os laços que o unem aos
diferentes sectores, estratos e camadas da sociedade angolana”.
Na
essência o MPLA teve esses princípios. Teve. Agostinho Neto bem dizia que o
importante era resolver os problemas do Povo. Foi tempo. Quando Eduardo dos
Santos chegou ao poder, o importante passou a ser resolver os problemas do seu
clã.
“O
MPLA deve, por isso, adoptar políticas concretas que levam a maioria da
população a rever-se nelas ou a identificar-se com as mesmas, porque traduzem
os seus anseios e contêm a solução dois seus problemas, quer imediatos, quer a
médio e longo prazo”, realçou.
Para
isso o MPLA não precisa de inovar. Basta ser o que sempre foi. Basta continuar
a pôr a razão da força acima da força da razão. Basta avisar os eventuais
indecisos que ou se portam bem ou haverá uma nova purga, um novo 27 de Maio de
1977.
A
inserção do MPLA na sociedade angolana é uma das teses do V Congresso Extraordinário
do partido, que analisa igualmente os desafios eleitorais e a vida interna da
formação política. Inserido já está. Todos por cá sabem que o MPLA é Angola e
que Angola é o MPLA. Também sabem que em matéria eleitoral está tudo controlado.
Os angolanos, vivos ou mortos, nem precisam de ir votar. Os votos vão por eles.
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