Inauguração
da nova sede da entidade e debates sobre passaporte sul-americano estão na
pauta do encontro, voltado a retomar esforço de integração do subcontinente.
Cooperação política deve nortear trabalho da aliança.
O
novo despertar deve acontecer num espaço de 20 mil metros quadrados, de acordo
com o novo secretário-geral da Unasul, Ernesto Samper. A primeira sede da União
de Nações Sul-Americanas (Unasul), aliança que inclui todos os 12 países da
América do Sul, fica na periferia da capital do Equador, Quito, e deve se
tornar "um lugar emblemático" para a integração do subcontinente,
conforme Samper.
Nesta
sexta-feira (05/12) o imponente edifício será inaugurado. Em seguida inicia-se
a cúpula dos chefes de Estado da Unasul. O prédio impressiona por sua
arquitetura futurista. O presidente do Equador, Eduardo Correa, até mesmo
espera que em breve ele passe a atrair mais turistas à capital do Equador. Seu
país gastou 43,5 milhões de dólares na construção.
Concorrência
do Mercosul e Aliança do Pacífico
"A
inauguração da sede da Unasul é um ato simbólico", diz o especialista em
relações interamericanas Luis Fernando Ayerbe, da Universidade Estadual Paulista
(Unesp). A obra, segundo ele, deve mostrar que os países sul-americanos estão
se esforçando novamente por uma maior convergência.
Ele
vê da mesma forma os planos para um passaporte comum sul-americano, a ser
debatido mais detalhadamente na cúpula. O documento deverá permitir liberdade
de circulação na América do Sul a todos os cidadãos dos 12 países da Unasul,
mas segue indefinida a data a partir da qual deve entrará em vigor.
Várias
razões levaram a que pouco se falasse sobre a Unasul nos últimos anos. De um
lado, há inúmeras discussões paralelas dentro de outras alianças
latino-americanas, como o Mercosul e a Aliança do Pacífico. Por outro lado,
vários políticos para os quais a Unasul era um assunto importante já não estão
mais na arena política.
Não
é à toa que a nova sede também lembre uma das grandes perdas para a Unasul, ao
ser batizada com o nome do ex-presidente argentino Néstor Kirchner. Nomeado em
2010 como primeiro secretário-geral da entidade, ele morreu no mesmo ano.
O
novo secretário-geral, Ernesto Samper, quer retomar o trabalho de Kirchner. O
ex-presidente da Colômbia quer fazer de Quito a "nova capital da
integração sul-americana".
Proteção
da influência dos EUA
Um
dia antes da cúpula, Luiz Inácio da Silva se pronunciou em uma conferência em
Guayaquil, evento prévio ao encontro dos chefes de Estado da Unasul. O
ex-presidente brasileiro fez um apelo para que os parlamentos latino-americanos
criem mecanismos para concretizar acordos internacionais e acelerar a
integração regional. Segundo ele, esta deve ser acelerada especialmente em
momentos de crise.
"A
integração não é um problema e sim parte da solução”, frisou Lula. Ele
acrescentou que quanto mais os países se integram "melhores serão as
condições para se enfrentar e superar as crises". Por isso, reivindicou,
parlamentos "devem criar mecanismos especiais mais ágeis" para
concretizar os acordos internacionais.
"Uma
das principais intenções da Unasul é se proteger contra a influência exercida
por parte da Organização dos Estados Americanos (OEA), que também inclui os
EUA", comenta Detlef Nolte, diretor do Instituto de Estudos
Latino-Americanos do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em
Hamburgo.
"Há
um consenso entre todos os países da América do Sul: se há algum problema, eles
devem resolvê-lo entre si. Isso vinha funcionando geralmente bem no passado
recente, desde a fundação da Unasul, em 2008” , explica.
O
analista cita a intervenção diplomática da Unasul em conflitos no Paraguai,
assim como o papel da aliança no incidente com o presidente da Bolívia, Evo
Morales em 2013, quando seu avião ficou retido durante várias horas no
aeroporto de Viena, por suspeitas de que ele estivesse acobertando uma fuga do whistle-bloweramericano
Edward Snowden. "Juntos é possível conseguir mais. Essa ideia é
compartilhada pela maioria dos Estados sul-americanos", ressalta Nolte.
Muitas
vezes, a União de Nações Sul-Americanas é comparada à União Europeia. Mesmo
agora – antes da inauguração da nova sede – há discussões sobre o caminho que a
organização deve seguir.
"Mas
os países da Unasul não pretendem ceder competências nacionais a uma
instituição supranacional, como é o caso da UE", sublinha Luis Fernando
Ayerbe, completando: "A Unasul está mais preocupada com a cooperação
política e a intervenção em situações de crise." O historiador da Unesp
comenta que muitas vezes espera-se mais da Unasul do que ela realmente é. Nesta
cúpula deverá haver um "progresso realista e pragmático" – nada mais
do que isso, contudo.
Greta
Hamann (md) – Deutsche Welle
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