Sem-abrigo
de Marselha obrigados a andar com triângulo amarelo visível. Tal como os
judeus, há 70 anos
Expresso
Na segunda maior cidade
francesa as autoridades são criticadas pelo recurso a "esquemas
nazis" para identificarem os sem-abrigo. Estes são obrigados a exibir
"de forma visível" um triângulo amarelo, no qual figuram a sua
identificação bem como as doenças crónicas de que sofrem.
Associações de Direitos Humanos e mesmo a ministra francesa da Saúde, Marisol
Touraine, protestaram contra os triângulos que identificam os sem-abrigo de
Marselha. No mínimo, acham a iniciativa de muito mau gosto. Com efeito, estes
triângulos amarelos fazem recuar no tempo e lembrar um período negro da
história francesa, quando os judeus foram obrigados, durante o Holocausto, há
mais de 70 anos, a circular com uma estrela de David ao peito.
"É a estigmatização dos sem-abrigo, é um horroroso escandaloso",
exclamou um militante humanista no decorrer de uma manifestação realizada esta
quinta-feira em Marselha contra a iniciativa impulsionada pela delegação local
do SAMU (Serviço de Ajuda Médica Urgente).
No "badge", que os SDF (sem domicílio fixo) devem usar de forma
visível, está inscrita a sua identificação bem como as doenças crónicas de que
eventualmente eles sofrem.
"Há também um problema de confidencialidade porque o exercício da
medicina, mesmo na rua, tem de respeitar a ética e o sigilo médico", diz Raymond
Negren, responsável local da associação "Médecins du Monde" (Médicos
do Mundo).
Por seu lado, a ministra da Saúde pede que a medida seja imediatamente
suspensa. "Além de ser desagradável ver um triângulo amarelo colado nas
roupas de certos cidadãos, esta medida parece-me ir contra toda a ética",
aponta Marisol Touraine.
Na Câmara de Marselha, Xavier Mery, adjunto do presidente, defende a iniciativa
do SAMU. "É um simples cartão de socorro e permite aos bombeiros e aos
médicos agir com eficácia para salvarem a vida destas pessoas, dificilmente
identificáveis sem esse cartão", explica.
Na foto: Arnaud, um sem-abrigo de Marselha, com a estrela amarela que agora é
obrigado a exibir / ANNE-CHRISTINE POUJOULAT/AFP/Getty Images
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