quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Moçambique: SAÍDA DE CENA DE ARMANDO GUEBUZA NÃO SERÁ COMPLETA




Continuará Armando Guebuza a ter influência no Governo quando terminar o seu segundo mandato? “Todos os quadros têm influência sobre o partido”, admitiu esta quinta-feira o Presidente moçambicano, em visita à Itália.

Armando Guebuza prepara-se para deixar a cadeira da presidência depois de dez anos à frente do país. A data da passagem do comando ao Presidente eleito, Filipe Nyusi, não foi ainda definida. “É preciso respeitar os prazos”, disse Armando Guebuza.

Filipe Nyusi, o candidato à presidência da FRELIMO, foi eleito à primeira volta nas eleições de 15 de outubro, com 57,03% dos votos, para a sucessão de Guebuza.

Contudo, a saída de cena do Presidente cessante não será completa. “Eu sou um quadro da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO). Todos os quadros têm influência sobre o partido”, respondeu Armando Guebuza quando questionado sobre o que irá fazer na presidência da FRELIMO no fim do seu segundo e último mandato como Presidente da República e se continuará a ter influência no Governo.

“E por que é que eu vou resistir? Por que é que todos os outros podem ter menos eu?”, questionou ainda o chefe de Estado cessante numa breve entrevista ao correspondente da DW África em Roma.

Investimentos polémicos

Armando Guebuza comentou ainda a contestação em Moçambique em torno dos investimentos internacionais na área dos recursos naturais. “Diz-se que há muita controvérsia. Obviamente, é uma coisa nova. Em Moçambique nós não tínhamos visto ainda uma mina a céu aberto.”

Recentemente, o braço moçambicano da brasileira Vale, que explora as minas de carvão em Moatize, divulgou um balanço negativo de 44 milhões de dólares. O chefe de Estado moçambicano, no entanto, destacou a presença da Vale, muito criticada pela falta de políticas para a exploração sustentável do carvão.

“No princípio, a Vale, que é a que produz mais carvão, transportava o carvão que poderia transportar apenas para a Beira. Saímos de dois milhões de toneladas no início para seis milhões de toneladas, mas isso é muito pouco comparado com aquilo que a Vale pode produzir”, afirmou Guebuza, lembrando que “a área do carvão tem limitações”, como a exploração, o transporte e o manuseamento portuário.

Entretanto, sublinha, abriu-se um outro caminho que vai até Nacala. “Este mês, vamos ter o porto de Nacala que vai receber o carvão que vem de Moatize. E Nacala pode manusear mais do que 30 milhões de toneladas. Mas, mesmo assim, continuaremos com o problema do transporte do carvão em Moçambique”, reconheceu.

Guebuza em Itália

Esta quinta-feira (04.12), Armando Guebuza esteve reunido com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e com o Presidente da Itália, Georgio Napolitano, e no final da manhã foi recebido pelo papa Francisco no Vaticano.

O Presidente da República de Moçambique esteve também reunido com o diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), José Graziano.

Durante a visita, iniciada na terça-feira (02.12), o chefe de Estado também se reuniu com o diretor da petrolífera italiana ENI, que lidera um dos dois blocos de exploração de gás natural na bacia de Rovuma, no norte de Moçambique.

Esta é a segunda visita a Itália de Armando Guebuza. A Itália, que coopera com Moçambique em várias áreas, é um dos maiores investidores estrangeiros neste país africano.

Rafael Belincanta (Roma) – Deutsche Welle

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