sábado, 10 de janeiro de 2015

Angola: ELES COMPRAM PARA “ASSASSINAR” A LIBERDADE DE IMPRENSA



Folha 8 Digital (ao), 10 dezembro 2015

Depois de um tempo em obras ditas de reestrutu­ração e a pe­dido daqueles que sempre que ouvem falar de liberdade puxam da pistola, o Semaná­rio Angolense foi assassina­do. Os donos disto tudo não brincam em serviço.

Como revelou a Voz da América, o antigo director de Informação, Agostinho Rodrigues, confirma o en­cerramento do Angolense, mas diz desconhecer quem são os novos proprietários do espólio nem que destino terá.

Outro jornalista que fica no desemprego com o encer­ramento do jornal é Makuta Nkondo, que conta como soube da notícia: “Dois dias antes do Natal comunica­ram-nos o fecho definitivo do jornal, com o formato actual, e pagaram-nos três meses de salários contra os demais que nos deviam e sem o décimo terceiro”.

Makuta Nkondo disse à VOA que o salário base de um jornalista no jornal era de 48 mil cuanzas, o equi­valente a 480 dólares, e não houve qualquer negociação para efeitos de indemniza­ção.

O jornalista acredita que esta é mais uma medida para silenciar a imprensa no país. E é mesmo. Aliás, corresponde à suprema es­tratégia do regime, que pre­tende uniformizar a forma de os angolanos pensarem. E como os jornalistas (não confundir com os sipaios e mercenários que trabalham em meios de comunicação social) pensam, a melhor forma de os reeducar é pelo desemprego ou, ainda, por os levar a chocar com algu­mas balas perdidas.

Makuta Nkondo diz: “Sig­nifica que neste momento o único jornal privado e in­dependente que sobrou é o Folha 8, de William Tonet. O MPLA pretende impor­-nos o Jornal de Angola, que eu considero de Pravda, a Radio Nacional de Angola, que é a rádio Moscovo, e a TPA, autêntica televisão so­viética”.

Segundo Nkondo, “os ditos privados como a rádio Des­pertar, da UNITA, e rádio Eclésia, da Igreja Católica, fazem a mesma coisa com listas de pessoas proibidas de falar, como eu próprio que estou proibido de falar na Despertar e na Eclésia”.

Por sua vez, Teixeira Cân­dido, porta-voz do Sindicato dos Jornalistas Angolanos, diz que o foram apanhados de surpresa.

“Não acredito que alguém compre um título para ex­tingui-lo um ano depois, isto deixa o Sindicato surpreso e estupefacto com isto de comprarem jornal e depois guardar na gaveta, não é uma situação normal”, con­sidera Teixeira Cândido, para quem “de certo modo é um ambiente de intran­quilidade para a classe jor­nalística e para o próprio jornalismo”.

Um dos directores do refe­rido jornal, Joaquim Maciel, assegurou à VOA que não conhece quem são os no­vos donos e nem sabe que futuro reserva a publicação reestruturada.

A verdade é que o regime gizou, nos últimos anos, uma estratégia para “assas­sinar” a imprensa privada, cuja pujança assentava em títulos de vários proprietá­rios. Pensava-se então que Angola caminhava para a democracia e para ser um Estado de Direito.

Preocupado com a diver­sidade de opinião, muitas descomprometidas com as amarras do poder, o go­verno/MPLA nada mais fez do que estabelecer uma OPAC (Oferta Pública de Aquisição Coerciva) sobre os meios de comunicação sociais privados.

Ou seja, Semanário Ango­lense (com uma cláusula, impedindo os seus jornalis­tas de voltarem a escrever, durante um longo período); A Capital; Agora; Indepen­dente e Factual (ambos li­gados a agentes da Seguran­ça de Estado); Angolense; Novo Jornal; Continente.

Com a aquisição destes ór­gãos e o controlo absoluto, total e inequívoco dos meios de comunicação sociais públicos: Rádio Nacional, Jornal de Angola, Televisão de Angola (canal II e TPA Internacional, entregues sem concurso público a dois filhos do Presidente da Re­pública, Tchizé dos Santos, também deputada, e Zédu dos Santos) e ANGOP – Agência de Notícias, o regi­me deixou de ter na impren­sa um elemento fiscalizador e de denúncia, porquanto agora tudo é a voz do dono.

Nesta selva a única excep­ção é o Folha 8, alvo de to­das as perseguições e chan­tagens, destacando-se os 98 processos judiciais conheci­dos contra o nosso director, William Tonet. Conhecidos porque deverão haver mui­tos outros, assinados em branco, prontos a saltarem da gaveta dos donos do país.

Com esta estratégia que contraria a Lei de Imprensa e das sociedades comerciais, que proíbem a existência de monopólios, foram criados, com um toque de mágica, vários grupos empresariais de homens do poder, sem qualquer capital financei­ro, mas munidos apenas de capital partidocrata, como arma bastante para escan­carar as portas do Banco Es­pirito Santo e de lá tirarem os milhões de dólares para corromper jornalistas e ad­quirir os seus jornais.

Milhões esses que também se estenderam a Portugal, onde são cada vez mais as empresas de comunicação social que estão nas mãos de homens do regime e que, como outras, também aju­dam a branquear o que for necessário.

Todos nos recordamos que uma legião de gestores e jornalistas portugueses, fo­ram então desembarcando por cá para dirigir as novas pérolas dos dirigentes ango­lanos, com salários choru­dos, nunca antes praticados no mercado, tudo visando matar a liberdade de im­prensa e de expressão e as­sim amordaçar a incipiente democracia.

Porquê os Jornalistas? Por­que a verdade é incómoda.

Em Angola, mas não só, ape­sar da guerra que o Gover­no-regime move aos Jorna­listas, não faltam ministros, deputados e políticos em geral (todos de pistola no bolso) a dizer que a liberda­de de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim desde que não toque nos interes­ses instalados, desde que só diga a verdade oficial.

No tempo em que existiam Jornalistas, dizia-se que se o jornalistas não procura saber o que se passa é um imbecil, e que se sabe o que se passa e se cala é um cri­minoso.

Hoje, o “jornalista” que não procura saber o que se pas­sa é inteligente, e o que sabe o que se passa e se cala é um óptimo assessor, depu­tado, administrador ou até ministro.

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