quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Presidente do parlamento timorense quer transmissão direta do seu julgamento




Díli, 14 jan (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional de Timor-Leste, acusado de participação económica em negócios e de corrupção, quer que o Tribunal de Díli, onde o seu julgamento começa no final deste mês, permita a transmissão em direto das audiências.

"Sou acusado de participação económica em negócios e de corrupção pela compra de viaturas para os deputados em 2008", disse Vicente da Silva Guterres em entrevista à Lusa.

"Só digo uma coisa: quem não deve não teme. Estou disposto a ir a tribunal. Tenho a consciência mais que tranquila e gostava que o meu julgamento fosse transmitido pela televisão e rádio", disse.

Segundo explicou os seus advogados fizeram um pedido ao tribunal para que o julgamento - marcado para os dias 26 e 26 e 29 e 30 de janeiro possa ser transmitido pela televisão e radio.

"Mas o tribunal negou argumentando com a privacidade e segurança dos juízes. Para minha salvaguarda mas também para salvaguarda dos juízes era bom não só que a radio e televisão estivessem presentes mas também que esses críticos nacionais e internacionais pudessem acompanhar o julgamento do princípio ao fim", afirmou.

"Para ver a verdade dos factos. Para que se porventura, a sentença vier a ser, por exemplo, de absolvição, não dizerem que fui absolvido porque os juízes estavam com medo e sob pressão política. Ou para não dizerem que o Parlamento Nacional fez aquelas resoluções (que levaram a expulsão dos magistrados internacionais) e agora, quer sejam inocentes ou não, são condenados. Quero justiça", afirmou.

Segundo Vicente Guterres todo o processo é algo "surrealista" porque está a ser acusado de participação num negócio que nunca se chegou a realizar.

Nomeadamente é acusado de ter aprovado o ajuste direto para a compra de viaturas para uso pelas várias comissões parlamentares sem realizar concurso e quando havia viaturas mais baratas no mercado o que, considera a acusação, teria lesado financeiramente o Estado.

O caso remonta ao período conturbado do início de 2008, depois do atentado contra José Ramos-Horta, então Presidente da República que é substituído interinamente, em funções, pelo então presidente do parlamento, Fernando La Sama de Araújo (hoje vice-primeiro-ministro).

Segundo fonte do parlamento timorense, Vicente Guterres - então vice-presidente e interinamente nas funções de presidente parlamentar -, recebe um pedido urgente dos serviços do parlamento para a compra de viaturas para uso pelos deputados para visitar os distritos - numa altura de grande tensão em todo o país.

Vicente Guterres dá parecer positivo à proposta de compra de carros de uma marca, explicando no seu parecer que autorizava o ajuste direto "desde que se verifiquem os procedimentos legais exigidos".

A compra, porém, nunca chegou a ser realizada tendo sido substituída por outro contrato de compra assinado, posteriormente, pelo presidente Fernando La Sama de Araújo (que entretanto regressou ao cargo) que optou por outra marca.

Fonte parlamentar timorense disse à Lusa que apesar disso o Ministério Público considerou que Vicente Guterres devia ser julgado pelo negócio que nunca se realizou tendo a acusação sido feita pela procuradora portuguesa Gloria Alves, um dos magistrados expulsos em novembro do ano passado de Timor-Leste.

Para Vicente Guterres este caso é um exemplo do que diz ser uma intenção clara de "criar instabilidade" com uma "campanha a nível internacional contra os órgãos de soberania, contra os membros de Governo e contra o parlamento".

"É uma campanha concertada. Não nego que possa haver algum caso de corrupção em Timor-Leste. Mas também não posso é dizer que somos todos corruptos, desde o primeiro-ministro até aos seus ministros e secretários de Estado, do presidente do Parlamento aos deputados", afirmou.

"Felizmente o sistema não permite que haja acusações ao presidente da República, sem ser através do parlamento. Se não se calhar também já teria sido acusado", afirmou.

O presidente do parlamento disse esperar que não esteja montada "uma máfia para atingir cada um dos líderes" timorenses que, a verificar-se no setor judicial, representaria "a subversão total de valores, seria antipatriótico e contra a soberania" do país.

ASP // FV

Sem comentários:

Mais lidas da semana