segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Angola. A RIQUEZA ESTÁ NAS ÁREAS RURAIS



José Ribeiro – Jornal de Angola, editorial

O mundo rural é cada vez mais a chave do sucesso da economia nacional porque permite responder com eficácia ao combate à pobreza, mas também ter um papel determinante na criação de riqueza, sem necessidade de capitais de risco ou avultados investimentos financeiros.

A terra existe, as comunidades rurais estão disponíveis, os resultados são imediatos ou de muito curto prazo. Há produtos do campo que permitem duas colheitas anuais e no que diz respeito à pecuária, a reprodução faz-se em poucos anos.

Os factores mais importantes, a matéria-prima e os recursos humanos, estão à disposição dos investidores. Todas as províncias têm vastas áreas de terras férteis para a agricultura e há regiões do país com especiais aptidões para a criação de gado em pastagens naturais. Faltam projectos e investimentos privados, já que os públicos estão à vista. Quem quiser reproduzi-los só precisa de investir. Os estudos estão feitos, tal como o levantamento das necessidades.

A aposta na agricultura familiar está correcta e os resultados são muito positivos. Com créditos de campanha ou de colheita foi possível mudar a vida de milhões de famílias angolanas no mundo rural, que além de produzirem para a sua subsistência ainda têm excedentes que lhes garantem recursos financeiros. Neste sector, o PAPAGRO tem um papel fundamental a desempenhar, porque regula os preços e não deixa os agricultores e camponeses reféns dos intermediários. Hoje já pouca gente tem razão para vir falar em produtos do campo que ficaram na terra por falta de capacidade de escoamento. Os problemas subsistem apenas nas zonas onde não existe uma rede viária que permita livre circulação de pessoas e bens. Mas aí nem o PAPAGRO pode intervir. Compete aos Governos Provinciais e às Administrações Municipais dar a resposta adequada, construindo ou reparando as vias terciárias.

O que fica por fazer no mundo rural tem a ver com a fileira produtiva. Mas o Executivo acaba de dar a resposta há muito esperada pelas comunidades do mundo rural e pelos agricultores que investiram nas fazendas de alta produção: a industrialização. 

A partir de agora, com as indústrias rurais, uma porta imensa foi aberta para a entrada do progresso nas áreas angolanas mais deprimidas economicamente e onde a desertificação humana é preocupante. Angola é o terceiro país da SADC em termos de indústria, apenas ultrapassado pela África do Sul, a grande potência industrial africana, e Moçambique, que sempre beneficiou da influência do vizinho sul-africano.

Por muito que custe aos críticos dos projectos agro-industriais, a Aldeia Nova, na Cela, e o Complexo de Pungo Andongo, em Malanje, são “laboratórios” onde se fizeram e fazem experiências que podem ajudar à industrialização do mundo rural angolano, de uma forma segura e acelerada. Mais trabalho e menos conversa.

As comunidades do interior do país precisam cada vez mais que funcione a fileira dos produtos hortícolas, das frutas e dos cereais. As cooperativas e associações de camponeses e agricultores são chamadas a apoiar a criação de pequenas e médias unidades agro-industriais onde os produtos do campo ganham valor acrescentado. Os produtores de mandioca têm as suas colheitas valorizadas pelas moagens que fazem a fuba e pelos circuitos próprios de distribuição ou do PAPAGRO que vendem a farinha aos consumidores de todo o país.

Pequenas indústrias conserveiras dão valor acrescentado a frutas e hortícolas. Unidades de transformação e linhas de enchimento de sumos podem ajudar a criar e a aumentar a riqueza local e regional com marcas próprias. 

No passado, uma unidade agro-industrial do Cubal “inundou” o mercado angolano de sumo de abacaxi. Uma média unidade industrial do Lobito lançou no mercado vinho feito a partir do ananás. A grande Empresa de Lacticínios de Angola, na Cela, produzia leite e produtos lácteos que abasteceram durante muitos anos o mercado interno e exportava queijo e manteiga. A cooperativa dos criadores de gado de corte do Planalto de Camabatela abasteceu o mercado interno de carne, até à altura em que o exército do Zaire de Mobutu invadiu o Norte de Angola e o efectivo pecuário foi roubado ou abatido sem qualquer critério. 


É absurdo querer “descobrir a pólvora”. Olhar para o passado e analisar o que está a ser bem feito nas unidades agro-industriais e agro-pecuárias é o caminho certo e seguro, para que a decisão do Executivo tenha sucesso garantido em termos económicos e na promoção social das comunidades do mundo rural. É tempo de valorizar o que Angola tem de melhor: a sua gente, a terra e o clima favorável à produção agro-pecuária. A industrialização é o caminho do futuro. Por isso, há que continuar a valorizar os recursos humanos, apostando cada vez mais numa formação avançada.

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