domingo, 22 de fevereiro de 2015

Indonésia. Autoridades islâmicas preocupadas com radicalização islâmica no país




Jacarta, 21 fev (Lusa) - A radicalização que antecede a filiação em organizações terroristas na Indonésia piorou desde 2002, quando ocorreu o ataque mais mortífero do Sudeste Asiático, segundo a Agência Nacional de Contraterrorismo (BNPT, na sigla indonésia).

"Eles fazem lavagens cerebrais com um discurso de ódio. Este é o primeiro passo e o segundo passo é tornarem-nos terroristas. Isto está mais sofisticado do que em 2002. Em 2002, conseguíamos identificá-los facilmente, mas agora é bastante difícil", disse à Lusa o porta-voz da BNPT, Irfan Idris.

O também diretor do programa de desradicalização da instituição que luta contra o terrorismo no maior país muçulmano do mundo acrescentou que "a "mentalidade radical tende a apoiar a ideologia do Estado Islâmico [ISIS na sigla inglesa], o que é muito perigoso".

O mesmo responsável deu o exemplo de um campo de treino descoberto na terça-feira em Tangerang, na Java Ocidental, onde jovens "confusos e sem emprego" eram alvo de uma "lavagem cerebral" que nada tem a ver com religião.

Irfan Idris considera que o risco de ataques terroristas de grande dimensão na Indonésia é menor do que antes do ataque de 2002 em Bali, que fez 202 mortos, existindo antes um desejo predominante de ir combater na Síria.

Contudo, advertiu, "o que quer que seja que eles possam fazer facilmente, eles vão fazê-lo, porque não percebem exatamente qual a missão do ISIS".

Existe uma preocupação crescente na sociedade de que os jiadistas indonésios que regressem ao país organizem atividades terroristas em solo indonésio.

Desde os atentados terroristas de 2002 e 2005, a Indonésia tem registado ataques de menor dimensão, especialmente contra as autoridades policiais, organizados por pequenas células terroristas, à semelhança do que acontece na Europa.

Porém, o campo de treino descoberto em Aceh em 2012, que reunia centenas de combatentes de diversos grupos terroristas, mostrou que o terrorismo não diminuiu no quarto país mais populoso do mundo.

Chairul Fahmi, diretor executivo do Instituto de Aceh, a única província indonésia onde vigora a lei islâmica, entende que hoje em dia não existe qualquer perigo de encontrar campos de treino de jiadistas na região, uma visão partilhada pelas autoridades locais.

O especialista disse à Lusa que a bandeira do ISIS encontrada recentemente em Aceh não significa que haja uma célula do ISIS no local e realçou que os militantes que treinavam no campo de Aceh eram sobretudo oriundos de Java e "seguidores de Abu Bakar Ba'asyir", o líder espiritual mais influente entre os jiadistas indonésios.

Chairul Fahmi recordou que, na altura, a população de Aceh denunciou a existência do campo de treino e sublinhou que os líderes religiosos indonésios já se demarcaram do ISIS.
"Em alguma circunstância, o ISIS foi produzido pelos Estados Unidos durante a guerra no Iraque. Infelizmente, eles não conseguiram controlá-los na altura", opinou.

Abu Bakar Ba'asyir, que se encontra detido pelo seu envolvimento no campo de treino em Aceh, já apelou aos seus seguidores para apoiarem o ISIS com fundos e com treino para enviar combatentes para a Síria e para o Iraque.

As prisões indonésias têm sido indicadas como locais de radicalização e de promoção da ideologia do ISIS, sendo que recentemente também um guarda prisional foi apanhado nas teias do terrorismo jiadista, segundo Irfan Idris.

O diretor do programa de desradicalização da BNPT confessou que é cada vez mais difícil enfrentar o fenómeno, porque a radicalização ocorre em vários locais, desde escolas a mesquitas, tendo uma "agenda escondida" por trás de ensinamentos.

Daí que o especialista defenda que a aposta atual contra o terrorismo deve passar pela prevenção e pela formação a fim de evitar a "lavagem cerebral" levada a cabo por jiadistas indonésios ligados ao ISIS.

"Estamos muito limitados, especialmente em recursos humanos", alertou, defendendo mais formação entre os guardas prisionais e mais fundos para a desradicalização.

De acordo com a BNTP, existem cerca de 500 indonésios ligados ao ISIS e 30 dos 200 indonésios que foram libertados após cumprirem penas por atos terroristas estão novamente ligados a grupos terroristas.

Irfan Idris espera ainda que o governo indonésio aprove novas leis contra o terrorismo, sobretudo depois de Chep Hernawan, o autoproclamado líder do ISIS na Indonésia que disse ter supervisionado pessoalmente a saída de dezenas de combatentes para a Síria, ter sido libertado, porque as autoridades foram incapazes de acusá-lo de qualquer crime.

AYN// PJA

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