Jacarta,
21 fev (Lusa) - A radicalização que antecede a filiação em organizações
terroristas na Indonésia piorou desde 2002, quando ocorreu o ataque mais
mortífero do Sudeste Asiático, segundo a Agência Nacional de Contraterrorismo
(BNPT, na sigla indonésia).
"Eles
fazem lavagens cerebrais com um discurso de ódio. Este é o primeiro passo e o
segundo passo é tornarem-nos terroristas. Isto está mais sofisticado do que em
2002. Em 2002, conseguíamos identificá-los facilmente, mas agora é bastante
difícil", disse à Lusa o porta-voz da BNPT, Irfan Idris.
O
também diretor do programa de desradicalização da instituição que luta contra o
terrorismo no maior país muçulmano do mundo acrescentou que "a
"mentalidade radical tende a apoiar a ideologia do Estado Islâmico [ISIS
na sigla inglesa], o que é muito perigoso".
O
mesmo responsável deu o exemplo de um campo de treino descoberto na terça-feira
em Tangerang, na Java Ocidental, onde jovens "confusos e sem emprego"
eram alvo de uma "lavagem cerebral" que nada tem a ver com religião.
Irfan
Idris considera que o risco de ataques terroristas de grande dimensão na
Indonésia é menor do que antes do ataque de 2002 em Bali, que fez 202 mortos,
existindo antes um desejo predominante de ir combater na Síria.
Contudo,
advertiu, "o que quer que seja que eles possam fazer facilmente, eles vão
fazê-lo, porque não percebem exatamente qual a missão do ISIS".
Existe
uma preocupação crescente na sociedade de que os jiadistas indonésios que
regressem ao país organizem atividades terroristas em solo indonésio.
Desde
os atentados terroristas de 2002 e 2005, a Indonésia tem registado ataques de
menor dimensão, especialmente contra as autoridades policiais, organizados por
pequenas células terroristas, à semelhança do que acontece na Europa.
Porém,
o campo de treino descoberto em Aceh em 2012, que reunia centenas de
combatentes de diversos grupos terroristas, mostrou que o terrorismo não diminuiu
no quarto país mais populoso do mundo.
Chairul
Fahmi, diretor executivo do Instituto de Aceh, a única província indonésia onde
vigora a lei islâmica, entende que hoje em dia não existe qualquer perigo de
encontrar campos de treino de jiadistas na região, uma visão partilhada pelas
autoridades locais.
O
especialista disse à Lusa que a bandeira do ISIS encontrada recentemente em
Aceh não significa que haja uma célula do ISIS no local e realçou que os
militantes que treinavam no campo de Aceh eram sobretudo oriundos de Java e
"seguidores de Abu Bakar Ba'asyir", o líder espiritual mais influente
entre os jiadistas indonésios.
Chairul
Fahmi recordou que, na altura, a população de Aceh denunciou a existência do
campo de treino e sublinhou que os líderes religiosos indonésios já se
demarcaram do ISIS.
"Em
alguma circunstância, o ISIS foi produzido pelos Estados Unidos durante a
guerra no Iraque. Infelizmente, eles não conseguiram controlá-los na
altura", opinou.
Abu
Bakar Ba'asyir, que se encontra detido pelo seu envolvimento no campo de treino
em Aceh, já apelou aos seus seguidores para apoiarem o ISIS com fundos e com
treino para enviar combatentes para a Síria e para o Iraque.
As
prisões indonésias têm sido indicadas como locais de radicalização e de
promoção da ideologia do ISIS, sendo que recentemente também um guarda
prisional foi apanhado nas teias do terrorismo jiadista, segundo Irfan Idris.
O
diretor do programa de desradicalização da BNPT confessou que é cada vez mais
difícil enfrentar o fenómeno, porque a radicalização ocorre em vários locais,
desde escolas a mesquitas, tendo uma "agenda escondida" por trás de
ensinamentos.
Daí
que o especialista defenda que a aposta atual contra o terrorismo deve passar
pela prevenção e pela formação a fim de evitar a "lavagem cerebral"
levada a cabo por jiadistas indonésios ligados ao ISIS.
"Estamos
muito limitados, especialmente em recursos humanos", alertou, defendendo
mais formação entre os guardas prisionais e mais fundos para a
desradicalização.
De
acordo com a BNTP, existem cerca de 500 indonésios ligados ao ISIS e 30 dos 200
indonésios que foram libertados após cumprirem penas por atos terroristas estão
novamente ligados a grupos terroristas.
Irfan
Idris espera ainda que o governo indonésio aprove novas leis contra o
terrorismo, sobretudo depois de Chep Hernawan, o autoproclamado líder do ISIS
na Indonésia que disse ter supervisionado pessoalmente a saída de dezenas de
combatentes para a Síria, ter sido libertado, porque as autoridades foram
incapazes de acusá-lo de qualquer crime.
AYN//
PJA
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