Folha
8 (ao)
Os
“danos” que provocaria a Timor-Leste um veto de Portugal à adesão da Guiné
Equatorial à CPLP é uma das justificações apresentadas pelo Presidente da
República portuguesa, Cavaco Silva, para o voto favorável português.
No
prefácio do “Roteiros IX”, publicação que reúne as suas principais intervenções
do último ano, Cavaco Silva retoma o tema da adesão da Guiné Equatorial,
explicando seis meses depois com mais detalhes as razões que levaram Portugal a
não ter vetado o pedido na X Cimeira da CPLP, que decorreu em Julho em Díli.
Lembrando
a “forte hostilidade” que o assunto suscitava em Portugal, com muitos a
reclamarem que Portugal vetasse a adesão, Cavaco Silva refere que “Portugal
apresentou-se em Díli, como se impõe em política externa, com uma posição
concertada entre o Presidente da República e o Governo”.
“Sendo
a adesão fortemente apoiada pelos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa, pertencentes ao mesmo espaço regional que a Guiné Equatorial, a que
se juntava o Brasil e Timor-Leste, um veto de Portugal poderia, no limite, pôr
em causa a própria sobrevivência da CPLP”, sublinha, considerando que se
Portugal se isolasse face à vontade conjugada de todos os outros
Estados-membros, “numa comunidade em que o multilateralismo deve prevalecer
sobre o unilateralismo, Portugal veria ainda a sua posição dificultada pelo
facto de ser o antigo poder colonial europeu”.
Por
outro lado, continua, Portugal não podia deixar de ter presente que a cimeira
de Díli marcava o início da presidência timorense da CPLP, a primeira vez que
Timor-Leste era chamado a desempenhar uma tarefa de tal dimensão internacional.
“Tendo
existido um grande empenho das autoridades timorenses na adesão da Guiné
Equatorial, um veto português significaria o fracasso da cimeira, com elevados
danos reputacionais para Timor- Leste”, frisa, recordando que a cimeira era
também vista como um teste à capacidade de Timor-Leste para satisfazer as
exigências da participação na ASEAN, a que era candidato.
Por
isso, sustenta Cavaco Silva, “o insucesso da cimeira seria um golpe nos
esforços de Timor-Leste para reforçar a sua credibilidade internacional”.
“Neste
quadro, uma questão não podia deixar de ser colocada: como reagiria Timor-Leste
em relação a Portugal, encarado como o responsável pelo fracasso da Cimeira?
Qual o efeito que isso teria sobre a difusão da língua portuguesa em Timor?”,
questiona o Presidente da República, manifestando-se surpreendido com o que
facto de que muitos dos que defenderam activamente o veto de Portugal à adesão
da Guiné Equatorial tivessem “ignorado os danos para Timor-Leste de uma tal
decisão”.
“A
estratégia de Portugal para a Cimeira de Díli não podia ser a de isolamento em
relação a todos os outros Estados-membros. A contestação organizada por alguns
sectores da sociedade portuguesa contra a adesão da Guiné-Equatorial devia ser
relativizada, porque contrária aos superiores interesses do País e pelos danos
que provocaria a Timor-Leste, país a que nos ligam profundos laços de amizade e
que temos o dever de apoiar nos seus esforços de promoção do desenvolvimento
económico e social”, acrescenta.
No
prefácio dos “Roteiros IX”, divulgado esta noite no ‘site’ da Presidência da
República, o chefe de Estado recorda ainda outras deslocações ao estrangeiro,
como as visitas oficiais à China, Coreia do Sul e Emirados Árabes Unidos e a
sua participação na Cimeira Ibero-americana, no México.
Sem comentários:
Enviar um comentário